Dormir está longe de ser perda de tempo. Muito pelo contrário, quem dorme pouco pode estar negligenciando tempo de vida. A presença de distúrbios de sono é frequentemente observada na população mundial. No Brasil, a qualidade de sono ruim é uma realidade para muitos. Dados extraídos recentemente de base populacional mostram que cerca de dois terços dos brasileiros apresentam uma qualidade do sono prejudicada.
A pandemia de Covid-19 e situações como a guerra podem prejudicar ainda mais o sono. A Pesquisa Resmed Global 2022, recentemente concluída, confirma que 64% dos brasileiros relataram que o estresse gerou um impacto no sono desde o início da pandemia. Realizada em parceria com a Atomik Research, do Reino Unido, a pesquisa contou com mais de 17 mil entrevistas de jovens, adultos e idosos no Brasil, Japão, China, Coreia, Índia e México.
Além disso, em outro estudo recente, foi identificada uma maior prevalência de má qualidade do sono entre a população mais jovem, o que não era notado em estudos anteriores, conforme explica Luciano Drager, presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS), professor associado do Departamento de Clínica Médica da FMUSP e um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.
Múltiplos fatores contribuem para este cenário, incluindo os maus hábitos de sono, o excesso de exposição à luz e interação com a Internet, além de problemas pessoais, familiares e financeiros. A qualidade do sono pode ser comprometida por uma série de distúrbios. A privação dele, insônia e distúrbios respiratórios, como a chamada apneia do sono, são alguns deles.
O médico especialista poderá definir qual o mais adequado para cada caso. Além disso, o estudo aponta que há um longo caminho a ser percorrido a respeito da importância da conscientização entre as pessoas de uma boa noite de sono e dos indicativos de que o indivíduo não está tendo um sono restaurador.
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Apneia do sono: como diagnosticar
Na semana em que se celebra o Dia Mundial do Sono (19 de março), a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a ABS alertam para a estreita relação entre uma rotina de sono de qualidade e a incidência de doenças cardiovasculares.
O sono pode ser prejudicado por diversos fatores, conforme traz a pesquisa, e um deles é a apneia obstrutiva do sono, onde um de seus indicativos pode justamente, ser o ronco. O diagnóstico é feito por meio de um exame que mostra a quantidade e a gravidade das pausas respiratórias durante o sono, que pode ser realizado em casa ou no laboratório de sono.
As consequências vão além do desconforto de não ter um sono restaurador e estão relacionados a problemas cardiovasculares. Evidências científicas apontam que estes distúrbios podem induzir arritmias, contribuir para aumentar a pressão arterial, envelhecimento dos vasos e o risco para a ocorrência do infarto e do derrame. Além disso, os problemas com o sono podem contribuir para o surgimento do diabetes, de alterações no colesterol e promover comprometimento na memória e no humor.
“Dormir mal acaba ocasionando múltiplas consequências, principalmente a longo prazo”, enfatiza Drager. Entre os motivos pelos quais isto pode ocorrer estão o aumento da produção de hormônios de alerta e estresse, como a adrenalina e cortisol, e a alteração dos hormônios que controlam a fome e saciedade, contribuindo para o ganho de peso e alterações no açúcar. Outro agravante é o comprometimento dos vasos sanguíneos.
Necessidade de sono depende de cada um
Em relação ao que pode ser considerado hoje “saudável” do ponto de vista de sono não só olhando para o coração, mas de uma maneira geral, não existe uma regra geral e sim de indivíduo para indivíduo. É preciso entender as necessidades pessoais com relação à quantidade de horas diárias de repouso para de fato sentir-se descansado.
“Adotar uma rotina de regularidade, estabelecendo horários para dormir sempre no mesmo horário, além de outras medidas, como a prática regular de atividade física, evitar o uso exagerado de substâncias estimulantes a exemplo da cafeína, refeições mais leves antes de dormir, também fazem parte das recomendações. Estar atento à incidência de roncos, por exemplo, que podem indicar a da apneia do sono, e reduzir a exposição ao excesso de luz, incluindo a proveniente das telas dos celulares, em especial pelo uso de internet e interações com as redes sociais, são também pontos de atenção.
“Temos que fazer o máximo possível para respeitar o número de horas do sono a manter esta regularidade. E, os pacientes que vivenciam uma qualidade de sono ruim podem começar a apresentar batedeiras no coração e aumentos da pressão arterial. Esses sinais vitais também precisam ser acompanhados. Valorizar estes quadros e procurar ajuda médica podem ser um ótimo início para a tentativa de recuperar este sono de má qualidade, finaliza Drager.
Com Assessorias de Imprensa