A notícia da morte do ator e diretor Paulo José, de 84 anos, que lutava há 28 contra o Parkinson, e da licença do senador José Serra, 79, para se tratar da mesma doença, acenderam novamente o alerta para o problema. Esta é a segunda patologia neurodegenerativa, crônica e progressiva do sistema nervoso central mais frequente no mundo, atrás apenas do Alzheimer.
O Parkinson é mais comum do que se imagina na terceira idade. Estima-se que há aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo vivendo com a enfermidade, o que representa 1% da população mundial a partir dos 65 anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Dados do IBGE estimam que existam hoje, no Brasil, cerca de 200 mil pessoas com a doença, o que corresponde a um aumento de 16% nos últimos 5 anos. Com o crescimento na expectativa de vida, este número pode dobrar até 2040.
‘Meu Parkinson de diversões’
Era assim que Paulo José se referia à doença com a qual conviveu por longos 28 anos. Em 2014, quando participava da novela Em Família, de Manoel Carlos, em que viveu Benjamin, um paciente que tinha a mesma doença sua, o ator escreveu uma longa carta à jornalista Cristina Padiglione, em que relatava, de forma corajosa e bem humorada, a luta contra a enfermidade – veja aqui.
Paulo José considerava a doença um “coadjuvante de peso”, mas não um protagonista. De fato: o ator e diretor morreu nesta quarta-feira (11) de pneumonia, após 20 dias internado no Rio de Janeiro. Aliás, como ele mesmo dizia, ninguém morre de Parkinson, morre-se com Parkinson. E assim ele viveu 28 anos tentando reduzir os sintomas da doença.
Chegou a fazer tratamento em Nova York, onde aprendeu mais sobre a doença. Mas cura mesmo, sabia que não teria, apenas controle. E teve a sorte de estar cercado de cuidados de familiares e amigos. Apesar de não haver cura, é possível ter um bom tratamento e conquistar mais qualidade de vida para encarar os sintomas, que vão além do típico tremor das mãos. A doença também causa alteração do movimento com rigidez muscular; desequilíbrio e alterações cognitivas, como falhas na memória.
- Aos 79 anos, o senador José Serra descobriu o Parkinson no estágio inicial depois de fazer exames neurológicos. O parlamentar já fez tratamento para um câncer na próstata e, no mês passado, passou por um cateterismo para desobstruir uma artéria do coração. Ele pediu licença do Senado Federal na terça-feira (10).
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8 orientações para evitar melhorar a qualidade de vida do paciente
De acordo com Tawani Sanches Suzuki, coordenadora do núcleo de fisioterapia do Centro de Excelência em Recuperação Neurológica (Cerne), a doença de Parkinson atinge o sistema nervoso central, causando a diminuição intensa e gradativa da produção de dopamina, que é um neurotransmissor que ajuda na transmissão de mensagens entre as células nervosas, causando os tremores.
Atualmente existem vários tratamentos que ajudam na contenção da doença, como atividades para minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente – como as que que ela descreveu abaixo. A especialista lembra da importância de um profissional qualificado para o tratamento da doença: “Procure ajuda de profissionais especializados para que você ou seu familiar não corram nenhum risco. Você pode encontrá-lo no site da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (Abrafin).
1) Inicie o tratamento o mais rápido possível, mesmo que os sintomas ainda sejam leves. Lembre-se que além de melhorar os sintomas já estabelecidos, a fisioterapia também atua de forma preventiva, minimizando a evolução da doença.
2) Retire de casa todos os objetos que possam causar acidentes e quedas, como tapetes, brinquedos de crianças e dos animais de estimação. Evite também caminhar em lugares escorregadios e terrenos irregulares e tome sempre muito cuidado com os degraus.
3) Realize adaptações nos ambientes para te ajudar a evitar acidentes como, por exemplo, a instalação de barras de apoio nos banheiros, corrimão nas escadas e pisos antiderrapantes. Acenda as luzes e coloque os óculos ao se levantar a noite para ir ao banheiro ou à cozinha. Nunca se levante no escuro.
4) Procure manter o comprimento dos passos durante a caminhada, evitando que eles se tornem muito pequenos, e no momento do passo tente tocar o chão sempre com o calcanhar primeiramente.
5) Tente se concentrar em dar o passo tocando o chão com o calcanhar ou imaginar uma linha no chão a ser ultrapassada – quando se sentir preso ao chão (congelamento da marcha).
6) Evite realizar outra atividade enquanto caminha como, por exemplo, utilizar o celular. Concentre-se no que está fazendo para não tropeçar e cair.
7) Realize diariamente atividades cognitivas para estimular a memória e a concentração – como leitura, caça-palavras, palavras cruzadas, sudoku etc.
8) Realize atividades físicas de forma regular, porém faça essas atividades com segurança e supervisão, se for necessário.
Parkinson: 6 dicas para facilitar as tarefas diárias
Uma das grandes dificuldades no enfrentamento do Parkinson está na necessidade de maior apoio de familiares e cuidadores, assim como ocorre com o Alzheimer. Para as famílias que já convivem com entes nesta condição, a equipe de profissionais da Home Angels, rede de franquias de cuidadores da América Latina, preparou algumas dicas para facilitar as tarefas diárias. Confira:
- 1. Antes de iniciar uma atividade, peça que o idoso faça o planejamento mental do que será realizado. Desta maneira, ele terá maior segurança no movimento que irá fazer. Vale ressaltar que esta organização não será tão eficaz se o ambiente sofrer com mudanças contínuas, por isso, deve-se evitar a troca de móveis, por exemplo.
- 2. Quando a atividade apresentar certo risco ou esforço para o idoso, evite conversar com ele pois, assim, a atenção não é dividida e o foco fica apenas no que está sendo feito. Lembre-se, no Parkinson, os movimentos deixam de ser automáticos e passam a ser pensados antes de serem realizados. Este entendimento ajuda a compreender porque as atividades são realizadas uma a uma e não duas ao mesmo tempo.
- 3. Durante as refeições, evite deixar a televisão ligada. O idoso precisa estar em uma posição confortável e o ambiente deve contar com uma boa iluminação. Os utensílios usados para a refeição podem ser adaptados.
- 4. Tenha sempre por perto uma cadeira, pois em casos de fadiga extrema, o idoso tem onde descansar. A cadeira, em um determinado estágio da doença, se torna um item importante para o idoso que já apresenta instabilidade postural.
- 5. Priorize roupas confortáveis, evitando botões ou zíper; caso tenha, deixe o idoso sentado para abri-los e fechá-los. Pode ser que sejam necessários comandos verbais para ajudar na construção do movimento que será realizado, portanto, observe o idoso para ver se este já é o caso.
- 6. A fadiga é uma característica muito comum e é até mesmo esperada na doença, que causa muito impacto na condição geral do enfermo. Existem técnicas para o gerenciamento desse estágio e os profissionais de saúde envolvidos nos cuidados podem te ajudar. Além das técnicas, uma boa noite de sono e um cochilo, 40 minutos no máximo, no meio da tarde, pode ajudar bastante.
Com Assessorias e agências
Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional