Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que, neste ano, serão diagnosticados 10.800 casos novos de leucemia no Brasil, sendo 5.920 em homens e 4.890 em mulheres. Atualmente, essa doença ocupa a nona posição nos tipos de câncer mais comuns em homens e a 11ª em mulheres. E para chamar atenção para essa enfermidade, fevereiro ganha a cor laranja.
A campanha Fevereiro Laranja tem como objetivo conscientizar a população sobre a leucemia aguda, doença maligna dos glóbulos brancos do sangue, os leucócitos. A enfermidade progride rapidamente, quando ocorre a proliferação de células anormais e a formação de células saudáveis é substituída pelas cancerígenas. O tratamento deve ser imediato e pode incluir desde a quimioterapia, imunoterapia e/ou terapias alvo até o transplante de medula óssea, que é indicado em casos de alto risco.
“A campanha Fevereiro Laranja alerta sobre possíveis sinais e sintomas e a importância da doação da medula óssea, que pode salvar uma vida. É necessário reforçar que o diagnóstico precoce pode elevar as possibilidades de cura.”, pontua Adrienne Moreno, oncohematologista da UFRJ e da Oncologia D’Or.
Entre os principais sintomas da doença estão anemia, cansaço e fadiga, queda de imunidade, diminuição das plaquetas, infecção, febre, hematomas e sangramentos espontâneos. Dores nas articulações e nos ossos, fadiga e cansaço também são comuns. “A leucemia afeta o Sistema Nervoso Central (SNC), podendo ocasionar dores de cabeça, náuseas, vômitos, visão dupla e desorientação”, acrescenta Dra. Adrienne.
Mas o que é mesmo a leucemia?
A leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos, geralmente, de origem desconhecida e acontece quando há o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. Esse câncer no sangue pode atingir qualquer pessoa, de qualquer idade, sendo mais comum em crianças.
“Ela se origina dentro da fábrica do sangue, na medula óssea, que fica localizada dentro dos ossos, naquela parte que a gente chama de tutano”, explica a hematologista e hemoterapeuta pelo Inca, Maria Cunha Ribeiro Amorelli, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia (GO).
Marina Barcelos, médica do Grupo de Hematologia e Transplante de Niterói (GHTN), afirma que a doença ocorre quando há uma transformação maligna de células precursoras da medula óssea. “Essa transformação resulta em células anormais que se proliferam, porém não podem se desenvolver ou funcionar normalmente. Entretanto não há um mecanismo eficaz capaz de inibir sua proliferação. Não se sabe exatamente o que causa esse primeiro dano celular”, afirma.
Fatores de risco incluem agrotóxicos
De acordo com a Dra Marina, alguns fatores de risco são sabidamente conhecidos, porém, sabe-se que esses não são, de forma alguma, determinantes para o desenvolvimento da leucemia. Entre os fatores de risco para a doença, estão a exposição prévia à quimioterapia ou radioterapia; desordens genéticas como neurofibromatose ou Síndrome de Down; além de exposição ocupacional à substâncias tóxicas como benzeno.
“A exposição ao benzeno, formaldeído, agrotóxicos e solventes pode provocar a doença e também se a pessoa já foi submetida a quimioterapia ou radioterapia. Quando existem casos na família e quem nasceu com alguma síndrome genética, como a síndrome de down, pode ter a predisposição. Algumas infecções virais também podem ser fatores de risco para o desenvolvimento de leucemia”, detalha a Dra Maria.
A especialista também desfaz um mal entendido feito por muitos. “Não é qualquer anemia que pode causar leucemia, ao contrário do que a população pensa, apenas quem tem anemia secundária, que é uma doença chamada mielodisplasia”, explica a médica de Goiânia.
Leia mais
Fevereiro Laranja: campanha alerta sobre a leucemia
Anemia: quando pode ser sintoma da Covid, leucemia ou outra doença?
Leucemia de Susana Vieira se descobre em simples exame de sangue
Especialistas explicam detalhes sobre a doença
Tipos de leucemia
Existem pelo menos 12 tipos de leucemia. Têm as agudas, que são as leucemias mais graves, que precisam das quimioterapias mais pesadas, e existem as leucemias crônicas, em que o tratamento é mais lento. Não existe cura para essas leucemias, mas remissão e controle a longo prazo com tratamentos menos agressivos”, completa.
Certos grupos de pessoas são mais propensos a adquirir a doença. “As leucemias linfóides agudas são muito mais comuns nas crianças até os 10 anos, enquanto que as leucemias mieloides nos mais velhos, sendo maior o seu risco”, conta Maria Amorelli.
Sintomas
Os principais sintomas da leucemia podem variar bastante e decorrem do acúmulo de células defeituosas na medula óssea. De um modo geral, alguns sinais como sangramento, desmaios, vômitos, manchas no corpo, dores ósseas e perda de peso podem significar que um diagnóstico adequado é necessário.
A diminuição dos glóbulos vermelhos ocasiona anemia, que provoca fadiga, falta de ar, palpitação e dor de cabeça. A redução dos glóbulos brancos provoca baixa da imunidade, deixando o organismo mais sujeito a infecções, muitas vezes graves ou recorrentes. A diminuição das plaquetas ocasiona sangramentos, sendo os mais comuns das gengivas e pelo nariz, e manchas roxas na pele.
Diagnóstico
O diagnóstico é dado quando as taxas dos leucócitos, plaquetas ou glóbulos vermelhos estão muito alteradas. Um dos exames realizados que pode dar indícios da doença é o hemograma completo, realizado por meio da coleta de sangue do paciente.
“Em termos de prevenção é ter uma vida saudável. Evitar o tabagismo, fazer exercício físico e uma boa alimentação são os fatores que a gente, em geral, utiliza para prevenir o desenvolvimento de uma célula cancerígena”.
Tratamento
Após o diagnóstico e classificação da leucemia, detectados através de exames, o tratamento deve ser começado imediatamente e pode incluir a quimioterapia, imunoterapia e/ou terapias alvo e o transplante de medula óssea, que é indicado em casos de alto risco.
Os cuidados são feitos com quimioterapia e algumas medicações direcionadas para marcadores celulares específicas são acrescentadas após a identificação do subtipo de leucemia. “Em alguns casos há a necessidade da realização do transplante alogênico de medula óssea, para aumentar a chance de recuperação do paciente”, afirma Dra Adrienne.
“Para as leucemias agudas são as quimioterapias mais agressivas, aquelas que aplicamos na veia, que normalmente levam a queda de cabelo e sintomas mais intensos. Já as leucemias crônicas, algumas vezes, são tratadas até com comprimido, com o paciente em casa”, complementa a Dra Mariana.
Como fazer para doar medula óssea
Para o transplante de medula óssea, em um primeiro momento, são examinados os familiares de primeiro grau do paciente em busca de compatibilidade. Caso não ocorra, é registrada a necessidade em um banco de doadores de medula. Por isso o cadastro no banco é muito importante, pois a chance de encontrar doadores compatíveis é relativamente baixa.
Maria Amorelli ressalta que é o cadastro para a doação de medula óssea é bem simples. “Você vai a qualquer hemocentro na sua cidade e faz um cadastro. Deve-se ter entre 18 e 35 anos, estar saudável e não ter nenhuma doença infecciosa ou autoimune”. Em relação ao processo de doação em si ela também explica.
“Pode ser feito de duas maneiras: uma em que a pessoa vai para o centro cirúrgico e é coletada a medula óssea, porém não existe corte, não existe ponto, apenas uma punção em que a pessoa vai estar dormindo. Na outra possibilidade o paciente pode fazer uso de um medicamento que faz as células-tronco saírem da medula óssea, circularem pelo sangue e então, como numa doação de plaquetas, essas células são recolhidas. O método de doar é definido pelo centro que faz o transplante”, esclarece a hematologista.
Com assessorias
Leia ainda – casos de superação
‘O câncer não espera’, diz mãe que salvou o filho da leucemia
Pai do Luccas, de 2 anos, faz alerta: ‘Fiquem atentos aos sinais da leucemia’
Menina em tratamento de leucemia sonha ser médica para tratar dos pequenos
Menino de 15 anos conta em livro como venceu a leucemia