A morte do fisiculturista alemão Jo Lindner na última sexta-feira (30/6) acendeu o alerta para uma relação perigosa: o uso indevido de anabolizantes e os problemas cardiovasculares. Jo foi vítima de um aneurisma cerebral, segundo relatou a namorada do influenciador, que tinha 9,3 milhões de seguidores em sua conta do Instagram (@joesthetics), onde compartilhava sua rotina de treinos intensos.

O fisiculturista também era um usuário assumido de anabolizantes, as chamadas ‘bombas’, como os produtos são popularmente conhecidos. Especialistas afirmam que o uso prolongado de anabolizantes aumenta a incidência de acidente vascular cerebral (AVC), tanto isquêmico quanto hemorrágico – este último, pode ser provocado por um aneurisma.

O aneurisma cerebral é um um ponto fraco e anormal na parede de um vaso sanguíneo do cérebro, que dilata em formato de uma bolha, com elevado risco de rompimento, em diversas situações, levando a um AVC hemorrágico. Apresenta uma fortíssima dor de cabeça como principal sintoma, seguido de perda de consciência, coma ou até mesmo morte.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10 a 15 pessoas em cada grupo de 100 mil habitantes no mundo são acometidas por aneurisma cerebral –  a doença acomete de 2% a 4% da população mundial. Em muitos pacientes, o aneurisma não-roto pode ser totalmente assintomático e pode ser tratado sem deixar nenhuma sequela.

“Como a doença é silenciosa, somente um exame de imagem pode identificar o aneurisma cerebral. A angiotomografia computadorizada e a angiorressonância têm sido grandes aliadas no combate a essa enfermidade por permitir o diagnóstico antes do rompimento e, a partir da detecção, definir o melhor tratamento”, afirma Luís Antônio Tobaru Tibana, especialista da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI).

Segundo a Sociedade Brasileira de Neurorradiologia Diagnóstica e Terapêutica, é estimado que 98% dos pacientes com aneurisma cerebral detectado antes do rompimento quando passam pela cirurgia ou embolização têm suas vidas preservadas. A doença pode ser tratada com procedimentos minimamente invasivos, por meio de uma espécie de cateterismo.

Abuso de anabolizantes: Jo tentava parar

Jo Lindner chegou a interromper o uso dessas substâncias por um ano para cuidar da saúde, pois descobriu ter doença muscular de Rippling, condição rara que deixa os músculos altamente sensíveis e irritáveis.

No entanto, ele voltou a aplicar testosterona. “”Acredite em mim, tentei parar, mas esteja ciente de que isso [usar anabolizantes] pode ter efeitos de longo prazo em sua vida. TRT (testosterona) é um grande comprometimento, tenha isso em mente”, afirmou Jo, em um de seus posts.

Em seu último post no Instagram, o fisiculturista comparou seu corpo de quando usava esteroides com seu físico após um ano sem anabolizantes. Ele também disse que voltou a utilizar testosterona – a justificativa é que seu nível hormonal ficou abaixo do normal quando deixou de usar a substância.

Diferenças entre aneurisma e AVC

Muitas pessoas confundem AVC com aneurisma. Ambos são doenças graves que atingem o sistema nervoso central e, muitas vezes, seus sintomas causam confusão entre a população.

O aneurisma cerebral é caracterizado pela dilatação anormal de uma das artérias que irrigam o cérebro. Com a parede do vaso fragilizada, o aneurisma pode vazar ou estourar a qualquer momento, causando sangramento e gerando uma hemorragia séria com grave risco de vida.

Já o Acidente Vascular Cerebral (AVC), que voltou a ser uma das principais causas de morte no país após a pandemia de Covid-19, ocorre quando os vasos que levam sangue ao cérebro se entopem ou se rompem, podendo provocar paralisia da área que ficou sem circulação de sangue. A doença pode ser classificada em dois tipos:

1 – Acidente vascular isquêmico: responsável por 80% dos casos e podendo ocorrer devido a uma trombose ou embolia.

2 – Acidente vascular hemorrágico: considerado mais grave, surge quando acontece o rompimento dos vasos sanguíneos do cérebro, denominada hemorragia intracerebral. Neste tipo há aumento da pressão intracraniana, que pode resultar em maior dificuldade para a chegada de sangue em outras áreas e causar a lesão.

A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia ressalta que quanto mais rápido o atendimento for realizado, menores são os danos e maiores as chances de recuperação.

“Tanto o aneurisma cerebral quanto o AVC são duas das maiores causas de morte em todo o mundo. Mesmo que o paciente acometido por uma das doenças sobreviva, o prejuízo na qualidade de vida pode perdurar durante muitos anos ou toda a vida”, comenta Vanessa Milanese, diretora da SBN.

Sintomas do aneurisma x AVC

O aneurisma cerebral é considerado uma doença silenciosa então vale a pena prestar atenção nos seguintes sintomas: dor de cabeça súbita, náuseas, vômitos, confusão mental, dor de cabeça extrema e perda de consciência.

Os sintomas do AVC são diversos por isso atenção redobrada aos primeiros sinais da doença que podem ser: dificuldade em andar, falar e compreender, paralisia ou dormência da face, da perna ou braço; perda temporária da visão, tontura, vertigem, confusão mental e dor de cabeça forte e persistente.

O acidente vascular cerebral pode ser isquêmico (quando alguma área do cérebro deixa de receber suprimento sanguíneo) ou hemorrágico (quando há extravasamento de sangue para o tecido cerebral ou áreas adjacentes).

Diferenças no diagnóstico e no tratamento

Vanessa comenta que o diagnóstico precoce de ambas as doenças é fundamental para o tratamento e qualquer sintoma atípico deve ser investigado por um especialista.

“O tratamento para o aneurisma cerebral pode ser realizado através do controle da pressão arterial e por abordagens cirúrgicas, como a clipagem e embolização, reduzindo o risco de AVC hemorrágico decorrente desse aneurisma. Já o tratamento do AVC isquêmico é feito com o uso do trombolítico (medicamento com a função de desfazer o coágulo sanguíneo)”, finaliza a neurocirurgiã.

Ter um estilo de vida mais saudável, praticar atividade física, não fazer uso de tabaco, evitar uso de drogas e controlar a diabetes pode ajudar a reduzir muito as chances de um problema nesse sentido.

Com Assessorias

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