O Brasil registrou quase 80 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes por dia, entre os anos de 2015 e 2021, de acordo com o Ministério da Saúde. Foram registrados 202.948 casos no período, sendo 83.571 contra crianças e 119.377 contra adolescentes. Atualmente, menos de 10% dos casos chegam às instâncias da saúde e da justiça, especialmente os envolvendo meninos, onde o preconceito é ainda maior.

Os números já alarmantes são ainda subnotificados devido à complexidade da situação, ao medo, à vergonha e ao pacto de silêncio que envolve as vítimas e suas famílias. Uma questão debatida neste dia 18 de maio, quando voltamos nossa atenção para a campanha nacional de combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes.

“Por acontecerem repetidas vezes e, na maioria das vezes, nos ambientes onde as crianças deveriam se sentir mais acolhidas e protegidas, como em casa ou com a família, essas violências provocam na vítima uma sensação de impotência, insegurança e de desvalor”, explica a  psicanalista Fabiana Guntovitch (foto), especialista em Comportamento.

Quanto aos possíveis traumas deixados pelo abuso, Fabiana destaca consequências profundas da falta de tratamento e amparo das vítimas.

“O abuso sexual transforma a criança em um objeto, desconsiderando sua existência como ser humano com sentimentos, direitos e uma necessidade de uma infância segura. Esse trauma deixa marcas profundas, levando a vítima a acreditar que não merece ser protegida e que sua voz não é ouvida. As consequências incluem dificuldades de relacionamento, problemas de confiança, ansiedade extrema, episódios de depressão e transtornos de personalidade”, diz.

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Consequências que vítimas podem enfrentar

Em estudos levantados pela psicanalista com base na pesquisa Abuso sexual infantil e consequências na vida adulta: uma revisão sistemática”, ainda é possível dizer que as vítimas de abuso também podem vir a enfrentar:

dificuldades para dormir,

mudanças alimentares,

pensamentos e tentativas de suicídio,

autoflagelação,

hiperatividade,

depressão,

baixa autoestima,

ansiedade,

isolamento social,

masturbação compulsiva,

problemas de identidade sexual,

uso de álcool e drogas e

dificuldades em desenvolver vínculos saudáveis.

Além dos distúrbios do sono e do apetite, a Comissão da Criança e do Adolescentes da Alerj cita outros sinais, como dificuldade de aprendizagem e concentração; fuga ou relutância em voltar para casa; comportamento inapropriado para a idade; medo de adulto ou medo constante; fantasias excessivas e pesadelos; agressividade, dor ou inchaço nas áreas genital e anal e até mesmo infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

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É preciso romper o pacto de silêncio

A campanha Maio Laranja orienta a não se calar diante dos sinais emitidos por crianças e adolescentes que sofrem com violações físicas e psíquicas diante do abuso sexual. Fique atento se uma criança ou adolescente a apresentar algum desses sinais acima.

Para Fabiana, é responsabilidade de toda a sociedade proteger nossas crianças e adolescentes. “Precisamos criar coragem para olhar para esse problema de frente, ainda que isso seja desconfortável. Seguir fazendo de conta que não acontece é omissão, é compartilhar e replicar o pacto de silêncio promovido pelo abusador”, afirma ela.

“As vítimas precisam poder falar abertamente sobre as violências que sofrem sem se sentirem julgadas ou envergonhadas. A sociedade precisa acolher, escutar com amor e conscientizar-se da gravidade deste problema para, assim, salvar vidas”, completa a especialista.

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Oficina conscientiza jovens sobre denúncia

Para especialistas, é preciso provocar conversas sobre o tema para buscar mudar esse cenário e prevenir casos, principal objetivo da campanha Maio Laranja, para enfrentamento ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes.

“A informação é uma ferramenta primordial para a prevenção e o combate.  Cabe ressaltar que talvez o adolescente não esteja passando por isso, mas pode conhecer alguém que esteja e poderá oferecer apoio. O conhecimento sobre o tema vai ajudar ele a procurar ajuda”, conta a psicóloga Gabriela Marques, responsável pelo programa.

Para reforçar o combate, os participantes da oficina ‘Meu Mundo, Minhas Emoções’, do programa Transforma, promovido pelo Instituto Algar, vão entrar no movimento. Ao longo do mês de maio, serão promovidas diversas atividades, com o propósito de que os jovens participantes tenham mais consciência sobre o assunto.

psicóloga explica que a conscientização vai além da orientação sobre aspectos que caracterizam um caso de abuso, aconselhando também sobre formatos de denúncia. O objetivo também é zelar pelo cumprimento dos direitos da criança, do adolescente e ao mesmo tempo identificar possíveis situações de risco.

“Durante os encontros da oficina nas organizações sociais parceiras ao longo do mês de maio, vamos debater com os participantes sobre prevenção, os tipos de violência sexual mais comuns, sinais e quais atitudes tomar nesses casos. Além de incentivar a denúncia, oferecendo informações sobre os canais, como o Conselho Tutelar ou Disque Direitos Humanos (Disque 100), outro ponto fundamental que será abordado é em relação ao uso de redes sociais sem um olhar cuidadoso do adulto devido a casos de exploração sexual que tendem a acontecer online”, diz a psicóloga.

Oficina ‘Meu Mundo, Minhas Emoções’

A oficina ‘Meu Mundo, Minhas Emoções’ foi iniciada em 2023, com o propósito de difundir o conhecimento sobre as emoções e ensinar os jovens a lidarem com elas.  Em 2024, cerca de 100 jovens entre 11 e 14 anos, nas organizações sociais parceiras, Creches Comunitárias Associadas de Uberlândia (CCAU), Associação Desenvolvendo Vida e Missão (ADVEM), Lar Espírita Maria Lobato e Estação Vida, localizadas em Uberlândia (MG), participam da oficina e dos debates sobre a violência sexual.

Durante a oficina são promovidas atividades como rodas de conversa, dinâmicas em grupo, brincadeiras, jogos, questionários de investigação das emoções e pensamentos, criação de estratégias de resolução de conflitos e até mesmo técnicas de respiração, para contribuir que os jovens sejam saudáveis emocionalmente e facilitar seu processo de autoconhecimento.

Promotora pública faz palestra em escola do Rio

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial da área Santa Cruz, realizou na terça-feira (7/5), palestra sobre educação e prevenção ao abuso sexual infantil para alunos do CIEP Hildebrando de Araújo Góes, em Guaratiba, zona oeste do Rio.

A ação marca o Maio Laranja, mês que estimula a reflexão sobre o papel da sociedade civil no combate a esse tipo de crime. A palestra foi proferida pela promotora de Justiça Mônica Martino Pinheiro Marques, titular da Promotoria, e faz parte do projeto “Educar é Proteger”, que já percorreu várias escolas de Guaratiba, Santa Cruz e outros bairros da Zona Oeste para conscientizar e mobilizar a rede de proteção e as famílias no enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes.

Com Assessorias

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