No Brasil, três crianças são vítimas de abuso sexual a cada hora. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, nos 4 primeiros meses deste ano, 17.500 violações sexuais contra crianças ou adolescentes foram registradas pelo Disque 100. Os dados indicam um aumento de quase 70% em relação ao mesmo período de 2022.

Somente em 2023, o hospital pediátrico Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), realizou 745 atendimentos por suspeita de abuso e maus-tratos. A violência sexual continua sendo predominante, representando 58% desses casos. A pouca idade das crianças atendidas  também é alarmante, pois 70% delas estavam na primeira infância, ou seja, tinham até 6 anos.

Mas, afinal, é possível falar de um assunto tão delicado com leveza? Dá para falar sobre abuso sexual infantil com um linguagem fácil e empática capaz de prevenir o assédio? Dois livros lançados recentemente em campanhas de conscientização sobre o tema provam que sim.

A Campanha Pra Toda Vida – A Violência não Pode Marcar o Futuro das Crianças, realizada desde 2006 pelo Pequeno Príncipe, traz este ano ao Brasil, de forma gratuita, a tradução dos livros alemães Nenhum Beijinho à Força e Nenhum Carinho à Força, da escritora Marion Mebes e da ilustradora Lydia Sandrock.

Já a escritora, compositora e influenciadora brasileira Elisa Gatti, conhecida nas redes sociais como a “Mãe Musical”, lança “Carinho não pode ser segredo”. O título do livro marca a campanha de mesmo nome, composta também por uma canção, um videoclipe e um mini-documentário sobre o tema.

Os dois lançamentos vêm com força total para ajudar as gerações que estão crescendo e que precisam ser cada vez mais protegidas. E marcam também o Maio Laranja– mês dedicado a ações de prevenção e combate à violência, ao abuso e à exploração sexual infantojuvenil.

 

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‘Carinho não pode ser segredo’: consciência em livro e música

Lutar por um mundo mais seguro para as crianças. Esse é o compromisso da compositora e escritora Elisa Gatti, conhecida nas redes sociais como a “Mãe Musical”, que aborda a temática no livro Carinho não pode ser segredo.

Resultado de uma música criada pela influenciadora digital, a obra é uma nova ferramenta para auxiliar pais, responsáveis e educadores a conversarem sobre segurança pessoal com os pequenos e proporcionar conhecimento de uma forma singela.

Publicado pela editora multilíngue Tudo! Editora, o lançamento literário conta com ilustrações coloridas e vibrantes de Rita Silva. Entre as páginas, há vários personagens que representam as diferentes realidades dos leitores: pessoas brancas e negras, com vitiligo e com deficiência física, além de famílias multirraciais. Essas imagens repletas de diversidade se unem à linguagem acessível para conscientizar crianças sobre o tema sensível – abuso infantil –  sem tirar a ludicidade e a leveza das contações de histórias.

Toda criança tem que aprender que o seu corpinho é muito precioso.
Mas, com algumas partes, a gente tem que ser ainda mais atento e mais
cuidadoso. Carinho não pode ser segredo. Carinho não pode te dar medo.
(Carinho não pode ser segredo, pgs. 4 a 12)

No final da obra, há sete orientações importantes para ensinar adultos a conversarem sobre segurança pessoal com os pequenos. As instruções, elaboradas pela psicóloga infantil Marcela Ondei, atravessam questões como a importância de nomear as partes do corpo, criar ambientes seguros para que a criança sinta-se confortável em relatar experiências desconfortáveis e buscar orientação de especialistas quando necessário.

‘Mãe Musical’ lança campanha contra o abuso infantil

Chegou às plataformas digitais, no último dia 15 de maio, a campanha icônica idealizada pela artista Elisa Gatti, em parceria com a Nação Valquírias. A canção “Carinho não pode ser segredo” que já era um hit nas redes da Mãe Musical, com mais de 6 milhões de visualizações, agora ganhou um videoclipe com arranjo e voz para dar ainda mais potência para a mensagem.

As vozes são de 60 crianças da Nação Valquírias, organização não governamental que acolhe mulheres e seus filhos em situação de vulnerabilidade social. O projeto também tem endosso de Luciana Temer, diretora presidente do Instituto Liberta, que combate à violência sexual contra jovens.

“No ano passado, quando essa canção viralizou, comecei a receber inúmeros vídeos de escolas usando a música na sala de aula. Ver crianças falando para crianças foi algo muito impactante. A maioria das campanhas que vemos, sempre mostra o adulto como interlocutor, adultos que infelizmente não tiveram a oportunidade de fugir das situações de abuso“, afirma a compositora.

Agora com o livro, tornou-se um movimento. Um movimento que pode conscientizar a sociedade sobre o abuso e assédio infantil de um jeito leve. “As ilustrações vibrantes, o texto em versos que fala a língua da criança e um QR code para a música no Spotify no final transformam esse livro numa oportunidade de troca entre adultos e crianças ao redor desse tema tão necessário”, explica Elisa Gatti.

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O refrão da música que virou o tema da campanha, não é por acaso. Carinho não pode ser segredo, porque esse é um dos argumentos mais usados pelos abusadores e também pelo silenciamento das vítimas.

“Sabemos que em muitos casos, as pessoas que sofreram assédio e abuso não compartilham o ocorrido com ninguém. Então, falar abertamente do assunto é um grande passo para a prevenção. Por isso, quando recebemos o convite da Elisa, fizemos questão de colocar o maior número de crianças para participar com ela”, diz Amanda Oliveira, fundadora e CEO das Valquírias.

Além do clipe, a campanha conta com dois depoimentos impactantes de adultas que foram abusadas na infância e também um livro lançado pela editora Tudo!

“A gente entendeu que o livro ‘Carinho não pode ser segredo’ tem um papel social extremamente importante. Assim como minha primeira publicação, ele também é um livro pra cantar. A letra da música foi toda ilustrada pela Rita Silva e ao final dele há um QR code que leva para a música nas plataformas de streaming. Meu sonho é que ele invada as escolas e chegue ao maior número de pessoas possível.” aponta a autora Elisa.

Sobre a autora – a mãe musical

Quando se tornou mãe em 2019, Elisa Gatti começou a compor músicas para a filha Chiara. O afeto pela composição era um hábito antigo, que atravessou toda a vida dela. Apesar disso, profissionalizou-se nas áreas de Administração de Empresas e Publicidade até que a maternidade a conduziu para o meio das artes.

Deste processo de reconexão, surgiu o “Mãe Musical”, com a proposta de conversar sobre temas importantes com crianças e pais, além de defender a diversidade e a representatividade. Agora mãe, compositora, artista, jurada do programa “Canta Comigo Teen” na Rede Record e influenciadora digital reúne mais de 600 mil seguidores nas redes sociais.

Ficha técnica

Título: Carinho não pode ser segredo
Autora: Elisa Gatti
Editora: Tudo! Editora
Páginas: 28
Preço: R$ 32,90
Onde encontrar: Amazon

Redes sociais da autora:
Instagram: @maemusical
TikTok: @maemusical_oficial
Youtube: /maemusical

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Respeito sim. Violência não! Hospital lança dois livros gratuitos

Capa do livro lançado pelo Hospital Pequeno Príncipe (Foto: Lucas Amorim)

Com muita sensibilidade e poesia, a escritora Marion Mebes e a ilustradora Lydia Sandrock falam sobre o quanto é gostoso receber um beijo e um carinho quando queremos. Mas reforçam: é você quem decide se quer ou não! É seu direito escolher e dizer NÃO!

Nenhum Beijinho à Força e Nenhum Carinho à Força foram lançados no último dia 30 de abril, no Jardim dos Sonhos do Pequeno Príncipe, com distribuição gratuita de exemplares. Além disso, o projeto realizou duas palestras, sobre direitos da infância e adolescência, para professores e educadores, e contações de histórias para pacientes do Hospital.

Os lançamentos fazem parte da Campanha Pra Toda Vida – A Violência não Pode Marcar o Futuro das Crianças, para dar visibilidade às ações de combate à violência promovidas no Pequeno Príncipe. Nessa trajetória, o hospital entendeu que é necessário também empoderar as crianças e fortalecê-las para que possam reconhecer abusos, consigam pedir ajuda e possam dizer NÃO.

Por meio de manuais e palestras educativas voltadas a profissionais de saúde e da educação, livros sobre autoproteção direcionados ao público infantojuvenil, e mobilização da comunidade por meio de vídeos, posts em redes sociais, divulgação na imprensa e apoio de influenciadores digitais desde 2019, a campanha busca dar destaque ao tema, seja ajudando os profissionais a identificar os sinais de violência, seja incentivando as pessoas a fazer denúncias.

A campanha do hospital deste ano ganhou reforço por meio de um projeto viabilizado pela Lei Rouanet – Pronac 223456.  Com o intuito de engajar o máximo de pessoas nessa causa, os livros também ganharam versões em animação, disponíveis no canal do Hospital Pequeno Príncipe no YouTube, por meio do Link.  Assista aos vídeos ou leia os livros com uma criança, fique atento aos sinais e denuncie a suspeita de violência. Respeito sim. Violência não!

Sobre as autoras

Essa é a primeira tradução desses livros publicada em português. Mas é importante destacar que o trabalho das autoras vem sendo desenvolvido desde a década de 1980, principalmente na Alemanha, seu país de origem.

Marion Mebes – autora

Empresária, assistente social e autora literária, nasceu em 1954 em Berlim. Também é cofundadora do Wildwasser Berlin – um grupo de trabalho contra o abuso sexual de meninas em que trabalhou com adultos e crianças até meados dos anos 1980. Cofundadora da Associação Federal para a Prevenção do Abuso Sexual de Meninas e Meninos e da N.I.N.A. e.V. Como editora e livreira, ela está comprometida em proteger meninos e meninas há mais de 30 anos.

Lydia Sandrock – ilustradora

Nascida na Alemanha, é psicóloga e, por mais de três décadas, vem acolhendo vítimas de abuso sexual e estupro, abuso sexual infantil, violência doméstica e perseguição. Ela combate a violência em diversos níveis, incluindo o treinamento de profissionais múltiplos, criação de redes de contato e relações públicas, e organizando campanhas e conferências sobre o tema. Já atuou como coordenadora de abrigos de mulheres e é chamada constantemente como conselheira nos municípios, estados e até em nível nacional na Alemanha.

Com Assessorias

 

 

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