Conhecido por seus papeis em novelas da TV Globo que cativaram o público ao longo das últimas décadas, o ator Tony Ramos, de 75 anos, recebeu alta nesta sexta-feira (24) após passar oito dias internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, por conta de um hematoma subdural, que causa um acúmulo de sangue entre o crânio e o cérebro.

O ator – que chegou inconsciente ao hospital – teve que ser submetido a duas cirurgias de emergência em um intervalo de três dias para tratar esse tipo de sangramento intracraniano. A primeira, no dia 16, foi para drenagem do sangramento e a segunda, no dia 19, foi feita após ele ter apresentado “distúrbios de coagulação que resultaram na formação de novos hematomas intracranianos”, segundo o boletim médico.

O neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, um dos mais renomados do país, que operou o ator, disse que ele deve voltar às atividades normais em 30 dias. Tony Ramos estava em cartaz com a peça ‘O que só sabemos juntos’ e participando do final das gravações do filme ‘A Lista’ (saiba mais ao final do texto). O médico descartou possíveis sequelas. “Ele está ótimo, não teve nenhum problema, teve recuperação plena”, disse.

‘Achava que era algum problema de coluna’

Neste domingo (27), em entrevista exclusiva no Fantástico, da TV Globo, o ator – que sempre foi muito reservado – recebeu a reportagem em sua casa, e contou detalhes sobre o ocorrido. “Eu achava até que eu vinha com algum problema de coluna. Me pressionando. Daí aquela dor”, relata Tony, que teve uma dor intensa de cabeça.

Já eram os sinais do hematoma pressionando o cérebro do ator. Mas ele não se lembra de nenhuma queda ou trauma que pudesse ter atingido a cabeça e causado o hematoma. Tony contou se sentiu mal em casa e foi socorrido pela mulher, Lidiane Barbosa, 72, sendo levado imediatamente ao hospital.

Durante a entrevista ao jornalista Helter Duarte no sábado (26), dia seguinte à alta médica, Tony Ramos também fez uma declaração de amor à esposa. “Somos um só corpo”, ele disse. Os dois são casados há 58 anos e têm dois filhos – a advogada Andréa, de 51 anos, e o cirurgião cardiovascular Rodrigo, de 53.

‘Mesmo com tudo isso, medo de ir embora não tive’

Com a mesma simplicidade e calma de sempre, Tony Ramos – que tem 60 anos de carreira, 47 deles, na Globo, interpretando papeis importantes, muitos deles como galã – disse que nada muda em sua vida a partir desse episódio.

“Eu não me transformarei em outra pessoa […] Continuo sendo aquela pessoa empática, tolerante, não preconceituosa. Que vai apenas reafirmar aquilo que eu sempre imaginei na minha vida. Sempre imaginei ser um homem justo, principalmente um democrata, principalmente um homem que acredita na ciência, que acredita no próximo até prova em contrário”, disse.

Tony revelou ainda que não teve medo da morte. “Mesmo com tudo isso, medo de ir embora, não. Este homem é um homem de força”, afirmou, emocionado. ‘Sempre valorizei a vida e, agora, valorizo muito mais’, disse.

O ator – que não tem redes sociais – ainda fez um agradecimento a todos que torceram pela sua recuperação: “Obrigado, companheiros queridos, companheiras, por tantas manifestações que ainda não pude, de viva voz, agradecer, mas faço agora”.

Hematoma subdural: o que aconteceu com o ator Tony Ramos?

Aos 75 anos, o ator Tony Ramos passou por duas cirurgias para conter sangramento intracraniano (Foto: Divulgação TV Globo)

Mas afinal, o que significa esse sangramento e o que causou isso? O Portal ViDA & Ação ouviu especialistas sobre a condição do ator, que tem mobilizado as redes sociais nos últimos dias. Confira!

A equipe médica do Hospital Samaritano não informou o que provocou o problema com o ator de 75 anos, porém, as causas mais comuns o sangramento intracraniano, de acordo com a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), são:

traumatismo craniano, geralmente decorrente de quedas ou acidentes;

uso de anticoagulantes pode aumentar os riscos de hemorragia;

idade avançada – o envelhecimento provoca a atrofia natural do cérebro, esticando os vasos sanguíneos e tornando o local mais suscetível a rupturas,

abuso de álcool, que aumenta o risco de quedas e problemas de coagulação.

O exagero em bebidas alcoólicas é outro motivo que leva ao sangramento intracraniano, porque pode atrofiar o cérebro com o tempo, levando à vulnerabilidade dos vasos sanguíneos”, informa a neurocirurgiã Danielle de Lara, que atua no Hospital Santa Isabel (Blumenau/SC). Já o uso de anticoagulantes em pessoas saudáveis aumenta os riscos, “mas eles são mínimos”.

Hematoma subdural pode causar danos cerebrais

Wuilker Knoner, presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), explica que o hematoma subdural é um acúmulo de sangue entre a superfície do cérebro e a dura-máter, que é a camada externa das meninges, as membranas que envolvem e protegem o cérebro e a medula espinhal

“Esta condição é frequentemente o resultado de uma lesão na cabeça e pode ser grave, pois o sangue acumulado pode aumentar a pressão intracraniana, causando danos cerebrais”, explica o neurocirurgião.

Segundo o especialista, essa compressão pode causar sintomas como cefaleia, paralisia de metade do corpo, convulsão, confusão mental e até coma a depender de cada caso.

Quando a causa é uma queda, muitas vezes o paciente não apresenta sintomas imediatamente. Isso é chamado de intervalo lúcido. Eles desenvolvem sintomas dias depois.

“Por isso, sempre que sentir sintomas neurológicos, como perda de memória, tontura ou fraqueza muscular, as pessoas precisam consultar um médico e tentar fornecer o máximo de informações possível sobre quando e como os sintomas começaram”, destaca Wuilker Knoner.

Ainda de acordo com o especialista, o tempo que leva para se recuperar de um hematoma subdural varia de paciente para paciente. “Somente o médico pode dizer o que esperar com base na sua situação específica. Algumas pessoas sentem-se melhor algumas semanas após o tratamento, enquanto outras podem nunca se recuperar totalmente”, finaliza.

Entenda os dois tipos de hematoma subdural

A neurocirurgiã Danielle de Lara, que atua no Hospital Santa Isabel (Blumenau/SC), diz que o hematoma subdural pode ser classificado de duas formas.

“Quando é descoberto logo que aparece, é chamado de hematoma subdural agudo. Nos casos em que o sangue no local é proveniente de hemorragias antigas e os sintomas evoluem de forma gradual, o hematoma é considerado crônico.”

O neurocirurgião do Hospital Edmundo Vasconcelos, Otavio Braga, explica que hematomas agudos geralmente são decorrentes de traumas mais graves, como atropelamentos e acidentes, por exemplo. Já os crônicos são decorrentes de traumas mais leves como quedas e pequenas batidas que muitos pacientes até mesmo podem não lembrar.

“Os crônicos são provenientes de pequenos sangramentos de veias que vão aumentando com o tempo. Só após 15 ou 20 dias começam a dar sintomas neurológicos. São mais frequentes em pacientes mais idosos e na maioria dos casos demandam a necessidade de uma cirurgia, já que vão aumentando progressivamente e podem comprimir o cérebro”, afirma ele.

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Os principais sintomas do sangramento intracraniano

Danielle ainda alerta que os sintomas que o sangramento no cérebro apresenta nos pacientes são dores de cabeça intensas, confusão mental, alterações de memória, vômitos, dificuldade de fala, tonturas, fraquezas e problemas na visão.

De acordo com a SBN, os sintomas mais comuns são:

Dor de cabeça forte e que não passa

Náusea e vômito

Fala arrastada (disartria)

Mudanças em sua visão

Tontura

Problemas de equilíbrio ou dificuldade para caminhar

Fraqueza em um lado do corpo

Desorientação

Por que fazer a cirurgia de drenagem? 

O tratamento cirúrgico consiste na drenagem desse sangramento através de um orifício no crânio e a lavagem exaustiva com soro para retirar todo sangramento.

Danielle explica que o procedimento realizado tem como objetivo remover o acúmulo de sangue que acontece entre a superfície do cérebro e a dura-máter, que é a camada externa das meninges, e são rígidas, espessas e fibrosas, pois atuam na proteção do cérebro e da medula espinhal.

“A cirurgia de drenagem de hematoma subdural atua na remoção desse coágulo intracraniano. Esta intervenção faz com que a pressão que existe no local do hematoma seja reduzida”, descreve a neurocirurgiã.

Para os quadros crônicos, especialmente em que o paciente não sente sintomas, a indicação de cirurgia dependerá da localização e tamanho do hematoma. “Em alguns casos é possível adotar um modelo mais conservador, com observação e exames de imagem frequentes”, conclui a especialista.

“A evolução geralmente é satisfatória mas pode depender muito de acordo com o paciente. Após a operação, o paciente sai com um dreno para que o cérebro aos poucos volte ao lugar. É muito importante a cirurgia ser realizada rapidamente para evitar complicações que podem até mesmo trazer riscos de morte”, afirma Otavio Braga.

O tratamento tem como objetivo minimizar o dano cerebral e tratar a causa subjacente do sangramento. Para o Dr. Wuilker, uma das principais preocupações é o atendimento de emergência.

Quanto antes for possível estabilizar o paciente, controlando os seus sinais vitais, menores serão os danos. Para hematomas subdurais grandes ou graves, geralmente é necessária cirurgia para ajudar a drenar o sangue.

Filme e peça com Tony Ramos são suspensos

Antes dos procedimentos, o artista estava em gravação do filme ‘A Lista’, adaptação da peça homônima de Gustavo Pinheiro, onde vive par com Lília Cabral. Tony Ramos já teria gravado 95% de suas cenas e estava escalado para rodar cenas na semana passada, no Rio. Por conta do estado de saúde do ator, as gravações do longa estão momentaneamente suspensas.

Além do trabalho no cinema, Tony Ramos estava em cartaz nos palcos de São Paulo com a peça “O que só sabemos juntos”, ao lado de Denise Fraga, que estreou no final de abril no Teatro Tuca e ficaria em cartaz até julho. O espetáculo, segundo um comunicado emitido pelo teatro, ficará suspenso durante todo o mês de junho. As informações são do site Metrópoles.

Com informações da SBN (atualizado em  26/5/24)

 

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