Do Portal Solidário, com Redação

Essa é a história de um ‘cara’ vencedor. Três prêmios de Direitos Humanos, dois internacionais. Uma carreira vitoriosa de 27 anos que incluiu passagens pelo jornalismo impresso, televisão, portais na internet, revista, Uuniversidade, assessorias de imprensa. Poeta, é detentor de vários prêmios literários, criou dois festivais de Poesia e Artes e é autor de 25 livros publicados na Amazon.

Mas algo estava errado. E a descoberta aconteceu em 2016, após sofrer, por mais de um ano, uma ‘surra’ de assédio moral, agressões e humilhações profissionais e psicológicas quando trabalhava em órgãos públicos do Estado do Rio de Janeiro. Esses ‘gatilhos’ dispararam a face mais crônica da doença.

Após ter sido afastado do trabalho, passar por uma série de clínicas psiquiátricas e internações em casas de tratamento, o diagnóstico psiquiátrico, enfim, deu seu veredicto: o jornalista carioca Ricardo França de Gusmão, hoje com 53 anos, era portador do Transtorno Bipolar Afetivo (ABTB), mais conhecido como bipolaridade. Sem cura, progressivo e incapacitante. Em 2018, o INSS o aposentou.

O relato inicial é necessário para contextualizar e enfatizar a reviravolta do jornalista que, assim como 140 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sofrem com um mal que não tem cura, que é progressivo e que incapacita, mas ainda é cercado por muitos estigmas.

Jornalista Ricardo França usa máquina de escrever em uma das clínicas de tratamento, onde computadores e celulares são proibidos. (Foto: Arquivo pessoal)

Método simples foi criado dentro de casa

Ainda sob cuidados médicos multidisciplinares, França rascunhou e organizou, em casa, o seu próprio método de tratamento. Fundamentado numa planilha com metas, objetivos, ações monitoradas diariamente e cronogramas estabelecidos, a disciplina e o foco o têm levado a vários níveis sucessivos de superação. Para isso, o jornalista criou uma agenda “empreendedora” de propósitos a bem da própria saúde física e mental, com metas a serem atingidas.

“Organizei a minha agenda mantendo foco em atividades mais complexas, como a pós-graduação, e tarefas mais simples, como escrever uma crônica, um conto, uma poesia e namorar. Focar no meu projeto acadêmico que une Educação voltada aos povos indígenas da Bacia Amazônica, onde pretendo morar. Coisas que antes de junho deste ano eram impossíveis para mim estão fazendo com que eu volte à superfície e supere, também, o trauma do assédio moral no trabalho que me levou à aposentadoria precoce.

Como um ‘atleta’ em busca de superação e de resultados, desde junho de 2021 ele segue à risca um ‘roteiro’ que inclui, entre outras atividades: cursar uma pós-graduação; escrever livros de literatura; participar de cursos, simpósios, congressos sobre Jornalismo, Meio Ambiente e Educação. Em sete meses, somou 30 certificações, além de pintar quadros, desenhar, escrever poemas, crônicas, contos e ler livros.

Premiação nacional em concurso de educação científica

O esforço é grande, em meio às oscilações de humor e dos ‘gatilhos’ que levam a novas crises, França persiste. A superação foi premiada, recentemente, com o 1º lugar no ‘Prêmio Nacional de Contos Que Ensinam 2021’ (Educação Científica), promovido pela Editora Memnon Edições Científicas (SP), um dos mais respeitados no segmento.

Ricardo França dedicou a conquista ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia — Campus Avançado São Miguel do Guaporé, onde cursa Pós-Graduação Lato Sensu em Educação de Jovens e Adultos na Diversidade e Inclusão Social — EaD.

O título do conto foi: “A SÍNDROME DO APOCALIPSE DA FALA E O NOVO SCRIPT DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA”. E relata, em estilo de realismo fantástico, as dificuldades de aprendizagem de crianças dos ciclos Infantil e Fundamental, quanto a questão da comunicabilidade: a fala. Entre os transtornos, estão a dislexia e problemas causados por transtornos mentais.

‘Já pensei várias vezes em suicídio’

Para o jornalista, vencer um concurso nacional de Educação disputado pela elite de educadores e de pesquisadores do Brasil é a coroação do seu esforço. “Eu tenho que me vencer, já que a bipolaridade é para sempre. Com ela tenho que aprender a conviver. Já cheguei a pensar várias vezes em suicídio. E eu tenho que calar esse cachorro”, relata o jornalista Ricardo França.

De acordo com o jornalista, os psicólogos que o assistiram tinham dificuldades em entender as peculiaridades do transtorno. Confundiam diagnósticos e não emitiam prontuários ou laudos, o que é obrigatório segundo o Conselho Federal de Psicologia.
.
“Quando eu entrava em um consultório parecia que estava ingressando em um táxi, com o taxímetro já acionado. Nunca tive retorno. Sequer testes psicológicos eles aplicavam, pois passava do tempo de 30 minutos de atendimento. Isso piorava meu estado emocional. Não havia evolução após um ou dois anos de tratamento. Mas a ‘agenda de metas’, em Excel, é a minha ‘personal-psi’, estou conseguindo vencer o meu emocional.”

Van Gogh foi ‘diagnosticado’ com transtorno bipolar após a morte

Esta semana foi comemorado o Dia Mundial do Transtorno Bipolar, 30 de março, aniversário do pintor holandês Vincent Van Gogh, diagnosticado postumamente pela OMS como portador do transtorno. A data foi idealizada para conscientizar a população sobre o problema e combater a discriminação.
.
Segundo o Dr. Dráuzio Varella e a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos do Humor (ABRATA), em matéria publicada no Blog da Saúde do Ministério da Saúde, não há uma causa única conhecida e descrita para o transtorno afetivo bipolar. Fatores genéticos, associados a alterações em áreas do cérebro e nos níveis de neurotransmissores agravam o problema, como sintomas maníacos e depressivos.

Os sintomas mais comuns, são humor disfórico; aceleração do pensamento; grandiosidade; ideação suicida; delírios persecutórios; alucinação auditiva; insônia; agitação psicomotora; pouco controle de temperamento; falta de autocontrole consumo excessivo de álcool ou drogas, aumento do sexo de risco, jogo e gastos, humor muito irritado, pensamentos precipitados, falar muito e ter falsas crenças sobre você ou suas habilidades.

Ainda segundo descrição do Dr. Dráuzio Varella, esse desequilíbrio reflete uma base genética ou hereditária para o transtorno, que tem como principais características episódios depressivos alternados com episódios de euforia (também chamada de mania ou hipomania, dependendo da intensidade e da duração) e casos em que há uma mescla dos episódios depressivos com os de euforia.

Principais sintomas

Os sintomas característicos da fase de euforia da bipolaridade são: sensação de extremo bem-estar; aceleração do pensamento e da fala; agitação e hiperatividade; diminuição da necessidade de sono; aumento da energia; diminuição da concentração; euforia ou irritabilidade; desinibição; impulsividade; ideias de grandiosidade e sensação de “poder”.

Os sintomas característicos da fase de depressão: alterações de apetite com perda ou ganho de peso; humor deprimido na maior parte dos dias; fadiga ou perda de energia; apatia, perda de interesse ou prazer; pensamentos recorrentes de morte ou suicídio; agitação ou retardo psicomotor; sentimentos de culpa ou inutilidade; desânimo e cansaço mental; tendência ao isolamento tanto social como familiar; ansiedade e irritabilidade.

Leia mais

Como identificar os sinais de quem sofre com transtorno bipolar?
Transtorno bipolar do humor pode levar ao suicídio, alerta psiquiatra
Entre a euforia e a depressão: 8 milhões de brasileiros são bipolares

 

Shares:

Posts Relacionados

2 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *