Durante anos, foi comum ouvir que cada criança tem seu tempo, seja porque está demorando para falar/andar ou até por ter seletividade alimentar. A ciência indica que não são normais os atrasos no desenvolvimento e que a demora pode ser um sinal de alerta para um transtorno do neurodesenvolvimento.
O neurodesenvolvimento de cada ser humano é uma jornada que varia muito de pessoa para pessoa, já que crianças, sejam neurodivergentes ou neurotípicas, possuem necessidades diferentes, déficits diferentes e desafios diferentes.
Os transtornos do neurodesenvolvimento são condições que começam durante a infância, afetando o desenvolvimento de habilidades em várias áreas, como linguagem, comunicação, habilidades motoras, sensoriais e socioemocionais.
O neurologista infantil da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI), Hélio van der Linden Júnior, alerta para a importância dos pais prestarem atenção no desenvolvimento das crianças.
Hoje em dia, a sociedade está mais atenta a isso do que há alguns anos em que se admitia que ‘toda criança tem seu tempo’ e com isso se perdia um tempo precioso de oportunidade para o diagnóstico e intervenção precoce. Quanto mais precoce for o apoio clínico, melhor o resultado. Então, se há alguma dúvida, alguma suspeita de algum atraso, procure um especialista para fazer uma boa avaliação e, eventualmente, começar o tratamento adequado”.
O diagnóstico precoce tem um papel fundamental nas estratégias de intervenção e tratamento. Identificar um transtorno do neurodesenvolvimento o mais cedo possível permite o início imediato de terapias, a busca por programas educacionais adaptados e apoio psicológico tanto para a criança quanto para sua família. Essas intervenções minimizam os impactos do transtorno, promovendo um desenvolvimento mais saudável.
Dentro dos transtornos do neurodesenvolvimento, há o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtornos de Aprendizagem, Transtorno no Desenvolvimento da Linguagem, entre outros”, explica o neurologista infantil da SBNI,
Cada um desses transtornos tem características específicas, mas todos compartilham um impacto significativo na vida da criança e de sua família. Atrasos no marco do desenvolvimento, dificuldades persistentes de comunicação ou interação social, comportamentos repetitivos ou estereotipados, impulsividade extrema, problemas de atenção ou dificuldades de aprendizagem podem ser indicadores de um cenário que requer investigação clínica.
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Como compreender os Transtornos do Neurodesenvolvimento
Segundo Mara Duarte, neuropedagoga, psicopedagoga, psicomotricista, além de diretora do Grupo Rhema Neuroeducação, há diversas questões que podem ser observadas com relação a essas diferenças. Entre elas, a função sensorial, ou seja, como a criança percebe os estímulos; a função motora, relacionada à coordenação e controle dos movimentos; e a capacidade de aprendizado”, explica.
Outras avaliações, de acordo com Mara Duarte, podem vir da capacidade de armazenar e recuperar informações que a criança tem, do gerenciamento da emoção e da ansiedade; do planejamento e tomada de decisões; e da habilidade social.
São todos aspectos fundamentais para o desenvolvimento e podem ser desafiadores para todas as crianças. Conhecê-los é o primeiro passo para adaptar nossas práticas pedagógicas e criar um ambiente inclusivo que apoie o sucesso de todos os alunos”, afirma.
Segundo ela, o Grupo Rhema Neuroeducação atua com o objetivo de oferecer conhecimento para profissionais da educação e pessoas envolvidas no processo do neurodesenvolvimento e da neuroeducação infantil, tanto nas áreas cognitivas e comportamentais, quanto nas áreas afetivas, sociais e familiares.
Alguns transtornos do desenvolvimento e seus sinais
Confira alguns transtornos do desenvolvimento e sinais que podem ajudar a identificá-los:
Deficiências intelectuais: São condições que envolvem limitações significativas na função intelectual e no funcionamento adaptativo. Entre os sinais estão o atraso no desenvolvimento cognitivo e dificuldades na aprendizagem. “Uma avaliação clínica abrangente, incluindo testes de QI e avaliação do funcionamento adaptativo pode ajudar a traçar um diagnóstico”, explica Mara Duarte.
Transtornos da comunicação: São transtornos como gagueira e afasia, que podem ser identificados através de avaliação com fonoaudiólogo e terapeutas da fala. “Nesses casos, podemos usar terapia da fala e terapia de linguagem como estratégias de intervenção”, diz a neuropedagoga.
Transtorno do espectro autista (TEA): É um transtorno que afeta a comunicação social, a interação social e o comportamento. “Uma avaliação clínica com base em critérios do DSM pode identificar dificuldades na comunicação e déficit na interação social, entre outros pontos”, diz a diretora do Grupo Rhema Neuroeducação.
Transtorno do Déficit de atenção com hiperatividade (TDAH): Transtorno caracterizado por déficit de atenção, inquietação, hiperatividade e impulsividade. “Nestes casos é possível usar terapia comportamental, psicoeducação, estratégias de organização e até medicação em alguns casos”, esclarece Mara Duarte.
Transtornos específicos de aprendizagem: Podem ser identificados através de dificuldades persistentes em áreas acadêmicas específicas, abaixo do esperado para a idade e nível de inteligência. Segundo a especialista, uma avaliação psicológica e educacional é necessária, além de testes de habilidades.
Transtornos motores: São dificuldades na coordenação motora que afetam habilidades diárias e motoras. “A avaliação é feita por terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas e podem ser utilizadas atividades específicas com as crianças, além de, em muitos casos, ser necessário apoio escolar adaptado”, finaliza Mara Duarte.
Você entende o significado dos termos neuroatípico e neurodiversidade?
Cada cérebro é único e entender diversidade é fundamental para um mundo mais inclusivo
Muitos conceitos são usados para definir o mundo relacionado à neurodiversidade, por isso é importante entender o que eles significam. Tratam-se de conceitos essenciais para compreender melhor as diversas maneiras pelas quais as pessoas experimentam e interagem com o mundo ao seu redor.
Segundo Mara Duarte, utilizar os termos corretos demonstra respeito pela diversidade de experiências e identidades.
Além disso, é importante compreender que a diversidade neurológica é fundamental para abraçar a inclusão e a compreensão em nossas comunidades e ambientes educacionais. Cada cérebro é único, e esta singularidade traz uma riqueza incrível para o nosso mundo. Ao reconhecer e valorizar essas diferenças, podemos criar espaços mais acolhedores e inclusivos”, afirma.
Mara acredita que qualquer pessoa, sendo professor, pai, profissional da saúde ou simplesmente alguém interessado em aprender mais sobre neurodiversidade, deve tentar entender os conceitos que fazem parte deste mundo. “Utilizar terminologias corretas e não estigmatizantes contribui para diminuir preconceitos e estigmas associados a condições neurodiversas”, diz.
Confira o significado de alguns termos:
- Neurotípico: Refere-se a indivíduos cujo desenvolvimento e funcionamento neurológico são considerados dentro dos padrões sociais e estatísticos predominantes.
- Neuroatípico: Usado para descrever pessoas cujo desenvolvimento neurológico difere do neurotípico, incluindo aqueles com autismo, TDAH, dislexia, etc.
- Neurodiversidade: É o conceito que reconhece e valoriza a diversidade dos cérebros humanos e os diferentes modos de interagir e perceber o mundo, incluindo variações, como TDAH, autismo, dislexia, entre outros.
Com Assessorias