Mais do que um tapa na cara da sociedade gordofóbica, racista e misógina, o ouro conquistado nos tatames por Bia Souza coroa a dedicação da atleta e o amor de uma família inteira ao esporte. Ela comoveu o país com seu choro de alegria depois de vencer a favorita israelense Raz Hershko e dedicar a medalha à avó, que morreu há menos de dois meses – tem como não se emocionar com essa cena?
Estreante em Olimpíadas – Beatriz chegou a ir para Tóquio 2020, mas ficou no banco de reservas. Boa é cria de um projeto social voltado a crianças em situação de vulnerabilidade social e uma das centenas de competidores brasileiros beneficiados pelo programa Bolsa Atleta, do governo federal. E, claro, é motivo de orgulho para a família.
Ela sempre foi muito determinada nas competições. Abriu mão de muitas coisas, de churrascos, aniversários e outros passeios para estar sempre nos campeonatos”, conta, orgulhosa, Solange Rodrigues Silva Souza, mãe de Beatriz. “A gente contava as moedas pra poder acompanhá-la nas competições em quase todo final de semana”, disse ela ao Fantástico neste domingo (4).
A disciplina de Beatriz Souza no esporte veio do pai, Poseidonio José de Souza Neto, judoca por 15 anos. Ele foi o primeiro aluno de uma academia em Peruíbe. Depois da primeira aula, Bia não quis mais tirar mais o quimono.
“Ela se interessou pelo judô e já quis treinar. E não parou mais”, o ex-judoca Poseidonio José de Souza Neto. A filha começou muito nova e conquistou sua primeira medalha aos 7 anos, representando a Associação Budokan de Peruíbe.
Apesar da influência do pai, Beatriz chegou a flertar com a natação, mas seu amor pelo tatame falou mais alto. Aos 15 anos, vendo o avanço da sua carreira, se mudou para São Paulo, onde representou o Palmeiras e logo em seguida o Pinheiros.
Bia teve seu primeiro grande resultado em campeonatos mundiais conquistado em 2017, com a prata em Budapeste no torneio de equipes mistas. No mesmo local, já em 2021, conquistou o bronze no torneio individual.
O empenho de Bia pelo esporte não era novidade para Samuel Lopes Bastos, o primeiro treinador da campeã olímpica. “Era fácil trabalhar com ela. Não precisava falar duas vezes, ela estava sempre um passo à frente da molecada”.
Além do incentivo dos pais e até pouco tempo, da avó, Bia tem em casa um grande fã. Ela é casada desde 2023 com o jogador de basquete Daniel Souza. Eles se conheceram em 2019, quando Daniel treinava no Clube Pinheiros, onde ela é atleta do judô. Daniel viralizou depois de postar um vídeo assim que Bia garantiu a vaga na final olímpica.
Minha perna tremia, parecia que eu ia cair sentado no chão a qualquer momento. Era o sonho dela. Foi o dia mais feliz da minha vida”, se emocionou Daniel.
A tímida Bia, que gosta de se vestir de forma confortável e também comanda uma marca de roupas plus size, se tornou a atleta de judô mais popular do mundo no Instagram, onde já alcançou 2,7 milhões de seguidores segundo informou o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Antes da medalha de ouro, ela tinha apenas 14 mil.
“Mulherada, pretos e pretas do mundo todo, acreditem: é possível”, disse Beatriz Souza sobre a explosão de números do seu perfil. Recado dado. Invisibilidade nunca mais!