Cerca de 250 milhões de pessoas no mundo sofrem com alergia a algum tipo de alimento, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A condição alérgica atinge, principalmente, a faixa etária infantil entre 0 e 6 anos, em torno de 5% a 10% dessa população. A intolerância alimentar é mais prevalente e os números apontam que até 20% da população sejam afetados.

Essa tendência mundial se repete no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, a alergia é mais comum em crianças, com prevalência de aproximadamente 6% em menores de três anos. Em adultos, a incidência é de 3,5%, sendo que 2,2% se referem à alergia à proteína do leite de vaca. Outras alergias alimentares mais comuns são em relação aos ovos, amendoim, nozes, castanhas, trigo, soja e frutos do mar. 

Possíveis fatores de aumento de casos: o fenômeno epigenético

Nos últimos anos, tanto os casos de alergia quanto os de intolerância alimentar vêm apresentando crescimento em escala global. Segundo especialistas, esse aumento está relacionado não apenas a mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares, mas também ao maior acesso a diagnósticos e ao avanço do conhecimento médico sobre o tema.

A exposição à poluição e o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e de antibióticos, por exemplo, respondem em parte pelo aumento da incidência de alergias e intolerâncias alimentares nos últimos 20 anos.

Nas crianças, especialmente, há outros dois fatores que levam ao aumento de casos: número elevado de partos cesarianas, que pode afetar o sistema imunológico e aumentar o risco de desenvolvimento de doenças alérgicas, e redução do aleitamento materno, já que ele contém anticorpos que ajudam a proteger contra alergias.

Esse cenário tem levado os médicos a utilizarem o termo “fenômeno epigenético” para explicar como o ambiente e os comportamentos podem influenciar a expressão genética. No caso das alergias e intolerâncias, essas alterações epigenéticas tornam o organismo mais vulnerável a reagir negativamente a certos alimentos, algo que pode se manifestar ao longo da vida ou, até mesmo, ser transmitido para as próximas gerações.

Alergia ou intolerância alimentar: qual a diferença?

As alergias alimentares vêm ganhando cada vez mais atenção entre pais e profissionais da saúde.  Embora muitas vezes confundidas, intolerância e alergia alimentar não são a mesma coisa e os sintomas também são diferentes.

As alergias costumam causar reações na pele, coceiras e até anafilaxia – esta última, o tema da Semana Mundial de Alergia 2025 – mesmo com o mínimo contato com o alérgeno. Já a intolerância aos alimentos pode provocar dor abdominal, gases e enjoos. A intensidade dos sintomas pode variar de acordo com a quantidade do alimento ingerido.

Apesar de provocarem reações semelhantes, alergia e intolerância alimentar têm causas bem distintas e entender essa diferença é essencial para um tratamento eficaz. Enquanto a alergia alimentar envolve uma resposta do sistema imunológico a determinados alimentos, com maior frequência entre crianças pequenas, a intolerância alimentar está relacionada à dificuldade do organismo em digerir certas substâncias, afetando principalmente adultos.

A alergia é uma reação do sistema imunológico, que pode desencadear sintomas imediatos e graves. A intolerância é uma resposta do sistema digestivo, geralmente relacionada à dificuldade em processar certos componentes, como lactose, glúten ou frutose”, explica Moacir Augusto Dias, gastroenterologista do Seconci-SP (Serviço Social da Construção).

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Alergia ao leite de vaca: sintomas, diagnóstico e tratamento

Para ilustrar a diferença entre alergia e intolerância alimentar, Yara Mello, médica alergologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo, explica.

Quando falamos de alergia ao leite de vaca, por exemplo, estamos diante de uma sensibilidade alérgica específica às proteínas do leite. Já no caso da intolerância, o problema está na deficiência da enzima lactase, responsável por digerir a lactose, o açúcar presente nesse alimento”.

Os sintomas nos dois casos são muito semelhantes e a procura pelo médico é preponderante para identificar o que afeta o paciente e assim prescrever os medicamentos e as condutas a serem adotadas. Desconforto gástrico, dor abdominal, vômitos, diarreia são sinais de que algo não vai bem e está na hora de entender o que se passa.

Dra. Yara Mello lembra ainda que “a alergia alimentar pode apresentar sintomas mais graves, acometendo outros órgãos, com lesões cutâneas (urticária), respiratório (falta de ar) e até mesmo choque anafilático.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é feito por meio da anamnese (coleta de informações sobre o histórico de saúde do paciente) e exames específicos. Segundo Dr Moacir, é  importante realizar exames para confirmar a existência de alergias ou intolerância alimentar, já que não existe medicamento específico de prevenção. A melhor conduta é estar atento aos rótulos dos produtos industrializados, além de evitar comidas responsáveis pela alergia.

Para o tratamento, “o mais importante é realizar diagnóstico preciso para estabelecer a conduta mais adequada”, esclarece a médica. Ela ainda destaca que “no caso da alergia alimentar, identificar o alimento e realizar a sua exclusão é o primeiro passo”.

Mas esse alimento pode ser reintroduzido, em alguns casos, com a realização da técnica da indução de tolerância, tentativa que pode ser bem-sucedida”, afirma a alergologista. A médica também explica que se houver intolerância por falta de alguma enzima o tratamento pode se resumir em sua reposição.

O planejamento nutricional para o tratamento das alergias e intolerâncias alimentares deve sempre ser seguido, “uma vez que a exclusão de alimentos pode implicar na não ingesta de nutrientes importantes, revela a alergologista.

Com o acompanhamento adequado e um olhar atento dos pais, é possível identificar precocemente sinais de alergia alimentar, evitando agravamentos e promovendo qualidade de vida desde os primeiros anos.

Alergias alimentares na infância: como identificar, tratar e prevenir

Para a pediatra Mariana Bolonhezi, o aumento na prevalência de casos exige atenção especial desde a introdução alimentar e acompanhamento pediátrico próximo. Segundo a especialista, existem três tipos principais de alergia alimentar na infância.

A mais comum é a alergia imediata, mediada por imunoglobulina E (IgE), que provoca reações de poucos minutos até algumas horas após a ingestão do alimento. Os sintomas vão desde urticária e inchaço na pele até vômitos, chiado no peito e, em casos graves, anafilaxia – uma emergência médica.

Há ainda a alergia alimentar não mediada por IgE, mais frequente nas crianças, mas menos conhecida. Ela costuma se manifestar horas ou até dias após o consumo do alimento e está associada a sintomas como sangue ou muco nas fezes, refluxo severo, diarreia persistente e dermatite. O terceiro tipo é o misto, que reúne características das duas formas anteriores.

A introdução alimentar é uma fase crucial. Se após a ingestão de um novo alimento a criança apresentar vermelhidão, coceira, vômito ou alterações intestinais, os pais devem procurar o pediatra para investigação. Em muitos casos, optamos por excluir temporariamente o alimento e, mais tarde, fazer um teste de provocação oral, sempre com supervisão médica”, explica a médica.

A Dra. Mariana destaca ainda a importância da janela imunológica, período entre 6 e 12 meses de vida. “Nesse intervalo, a introdução controlada e orientada de alimentos potencialmente alergênicos pode ajudar o organismo da criança a desenvolver tolerância, o que diminui o risco de alergias futuras”, orienta.

Como evitar alergia alimentar comendo fora de casa?

Estudos apontam que 7 em cada 10 reações alérgicas graves ocorrem quando pessoas se alimentam fora de casa. Os alimentos mais envolvidos nas alergias alimentares são: leite de vaca, ovo, amendoim, castanhas, peixes, camarão e crustáceos, soja, trigo e gergelim. Entretanto, qualquer alimento pode causar alergia.

Para apoiar restaurantes a oferecer um atendimento mais seguro, consciente e acolhedor a pacientes com alergia alimentar, a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) acaba de lançar o Guia Prático para Restaurantes: Como Lidar com Alergia Alimentar”.

No Guia são abordados tópicos como:

  • ·       Como treinar sua equipe para prevenir reações alérgicas;
  • ·       Como evitar o contato cruzado na cozinha;
  • ·       Como se comunicar com clareza com os clientes;
  • ·       O que fazer em caso de emergência.

Com Assessorias

 

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