A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da cúpula do G20, nesta segunda-feira (18), no Rio de Janeiro, já teve adesão de 82 dos 193 países do mundo que fazem parte da Organização das Nações Unidas (ONU) – veja a lista completa abaixo. O número ultrapassou a estimativa inicial do governo brasileiro, que considerava que cerca de 70 países seriam desenvolvidos o suficiente para poder ajudar os demais.
Uma das prioridades do Brasil como presidente temporário do G20, a Aliança Global espera alcançar 500 milhões de pessoas com programas de transferência de renda em países de baixa e média-baixa renda até 2030, expandir as refeições escolares de qualidade para mais 150 milhões de crianças em países com pobreza infantil e fome endêmicas.
O programa prevê iniciativas de saúde materna e primeira infância para mais 200 milhões de mulheres e crianças de até 6 anos, além de programas de inclusão socioeconômica que visam atingir 100 milhões de pessoas adicionais. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), entre 713 milhões e 757 milhões de pessoas podem ter enfrentado a fome em 2023 – uma em cada 11 pessoas no mundo e uma em cada cinco na África.
A referência ao ano 2030 é por causa da data máxima prevista pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 2 das Nações Unidas, que consiste em um apelo global para “acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e a melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável” no mundo.

‘Rio é a síntese dos contrastes do Brasil e do mundo’, diz Lula

Em seu discurso, Lula apresentou a cidade anfitriã como um símbolo de contrastes e chamou atenção para as desigualdades sociais. “De um lado, a beleza exuberante da natureza sob os braços abertos do Cristo Redentor, um povo diverso, vibrante, criativo e acolhedor. De outro, injustiças sociais profundas. O retrato vivo de desigualdades históricas e persistentes”.

O presidente destacou a urgência de combater a fome no mundo. “A Aliança nasce no G20, mas seu destino é global. Que esta cúpula seja marcada pela coragem de agir. Por isso, quero declarar oficialmente lançada a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. É muito importante o que vamos discutir aqui, e eu tenho certeza que, se nós assumirmos a responsabilidade por esses assuntos, poderemos ter sucesso em pouco tempo”.

A iniciativa visa mobilizar esforços globais para reduzir as disparidades sociais, em um cenário no qual, segundo Lula, gastos militares mundiais chegam a US$ 2,4 trilhões, o que ele classificou como inaceitável:

São mulheres, homens e crianças cujo direito à vida, à educação, ao desenvolvimento e à alimentação são diariamente violados. Compete aos que estão aqui, em volta desta mesa, a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade. Este será o nosso maior legado.

Veja aqui o discurso na íntegra

Argentina é último país do G20 que ainda não aderiu

Entre os 19 países que integram o G20, a Argentina, de Javier Milei – aliado de primeira hora do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump – anunciou a adesão à Aliança após a divulgação da primeira listagem oficial. Além dos 82 países, anunciaram a adesão as uniões Europeia e Africana, que são membros do bloco do G20; 24 organizações internacionais; nove instituições financeiras e 31 organizações filantrópicas e não governamentais.

Javier Milei, presidente da Argentina, foi o único líder do G20 que não aderiu à Aliança Global (Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil)

Neste domingo (17), o secretário-geral da ONU, António Guterres, ao ser questionado sobre a postura do governo Milei no G20, pediu para que todos os países terem consensos em torno de temas para combater a desigualdade.

Faço esse apelo a todos os países, agora que estão em curso as negociações do G20, para que tenham espírito de consenso, para que exibam bom senso e que encontrem as possibilidades de transformar essa reunião do G20 num êxito, com decisões que sejam relevantes para a ordem internacional. Se o G20 se divide, ele perde importância a nível global. E, do meu ponto de vista, é algo indesejável para um mundo que já tem tantas divisões geopolíticas”, disse o secretário-geral.

Existe a expectativa ainda se Milei irá concordar com outras iniciativas do Brasil no G20, como a proposta para taxação dos super ricos e de medidas contra as mudanças climáticas.

Mais de R$ 140 bi já estão garantidos pelo Banco Mundial

Antes mesmo da aprovação , 41 países, 13 organizações internacionais públicas e instituições financeiras e 19 grandes entidades filantrópicas já anunciaram uma série de medidas, o que permitiu elaborar o Sprint 2030 e medir o alcance inicial da aliança.

O objetivo é arrecadar bilhões em crédito e doações por meio de bancos multilaterais de desenvolvimento para implementar esses e outros programas. O volume total de recursos financeiros canalizados para a Aliança Global ainda não foi estimado, mas o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) já anunciou financiamento adicional de US$ 25 bilhões, o equivalente a cerca de R$ 140 bilhões.

O Banco Mundial será parceiro da aliança, contribuindo com dinheiro não reembolsável e empréstimos com juros baixos e prazos adequados. Entre os países que já anunciaram reforço de iniciativas contra a fome, grande parte é do Sul Global, ou seja, nações pobres ou em desenvolvimento, notadamente na África e na América do Sul. Há anúncio também de países europeus, como Alemanha, França e Reino Unido. 

‘Dar o anzol e ensinar a pescar’

A Aliança terá governança própria vinculada ao G20, mas que não será restrita às nações que integram o grupo. A administração ficará a cargo de um Conselho de Campeões e pelo Mecanismo de Apoio. O sistema de governança deverá estar operacional até meados de 2025. Até lá, o Brasil dará o suporte temporário para funções essenciais.

Entre as ações estão os “Sprints 2030”, medidas iniciais anunciadas pela Aliança Global na tentativa de erradicar a fome e a pobreza extrema por meio de políticas e programas em grande escala.

Durante o G20 Social – evento na semana passada que antecedeu a Cúpula de Líderes -, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, explicou que o conjunto de ações é emergencial, por isso, o nome sprint, que significa corrida em inglês. “Precisamos correr”, disse o ministro.

Segundo Dias, além de “dar o anzol e ensinar a pescar”, é preciso dar o alimento para quem está em situação de insegurança alimentar. “Com fome não se aprende, não se  tem o resultado adequado em educação, não se vai buscar o emprego.”

Também durante o G20 Social, o representante do Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas no Brasil, Daniel Balaban, reforçou a ideia de que a Aliança Global não trata de levar comida para os países.

Estamos falando em levar políticas públicas de desenvolvimento para que esses países saiam da situação em que se encontram e possam desenvolver sua sociedade, fazendo com que as pessoas abaixo da linha da miséria retornem à cidadania e participem do desenvolvimento dos países.”

Cooperação

A adesão, que começou em julho e segue aberta, é formalizada por meio de uma declaração, que define compromissos gerais e específicos, os quais são alinhados com prioridades e condições específicas de cada signatário. A proposta foi idealizada pelo Brasil com o objetivo de acelerar os esforços globais para erradicar a fome e a pobreza, prioridades centrais nos  Ao todo, 55 delegações estão participando do evento no Museu de Arte Moderna (MAM).

O G20 é composto por 19 países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além da União Europeia e da União Africana. Os integrantes do grupo representam cerca de 85% da economia mundial, mais de 75% do comércio global e cerca de dois terços da população do planeta.

A Aliança Global não é meramente uma articulação para doação de recursos para países mais pobres. É um conjunto de iniciativas que passam também pelo comprometimento de combater a fome internamente e pela troca de conhecimentos, de forma que iniciativas que deram certo possam ser compartilhadas pelo mundo.

O ponto principal é que cada país tenha soberanamente o seu plano nacional, que se tenha a definição de países que podem, a partir do plano, cumprir suas metas de combate à fome e à pobreza, e outros que, além de cumprir o seu plano, vão poder colaborar com o conhecimento e financeiramente, com outros países em desenvolvimento”, descreveu.

Veja a lista dos países e organizações que aderiram à Aliança.

1. Alemanha

2. Angola

3. Antígua e Barbuda

4. África do Sul

5. Arábia Saudita

6. Armênia

7. Austrália

8. Bangladesh

9. Benin

10. Bolívia

11. Brasil

12. Burkina Faso

13. Burundi

14. Camboja

15. Chade

16. Canadá

17. Chile

18. China

19. Chipre

20. Colômbia

21. Dinamarca

22. Egito

23. Emirados Árabes Unidos

24. Eslováquia

25. Estados Unidos

26. Espanha

27. Etiópia

28. Federação Russa

29. Filipinas

30. Finlândia

31. França

32. Guatemala

33. Guiné

34. Guiné-Bissau

35. Guiné Equatorial

36. Haiti

37. Honduras

38. Índia

39. Indonésia

40. Irlanda

41. Itália

42. Japão

43. Jordânia

44. Líbano

45. Libéria

46. Malta

47. Malásia

48. Mauritânia

49. México

50. Moçambique

51. Myanmar

52. Nigéria

53. Noruega

54. Países Baixos

55. Palestina

56. Paraguai

57. Peru

58. Polônia

59. Portugal

60. Quênia

61. Reino Unido

62. República da Coreia

63. República Dominicana

64. Ruanda

65. São Tomé e Príncipe

66. São Vicente e Granadinas

67. Serra Leoa

68. Singapura

69. Somália

70. Sudão

71. Suíça

72. Tadjiquistão

73. Tanzânia

74. Timor-Leste

75. Togo

76. Tunísia

77. Turquia

78. Ucrânia

79. Uruguai

80. Vietnã

81. Zâmbia

82. Argentina

83. União Africana

84. União Europeia

Organizações Internacionais:

1. Agência de Desenvolvimento da União Africana – Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (Auda-Nepad)

2. CGIAR

3. Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal)

4. Comissão Econômica e Social para Ásia Ocidental (Cesao)

5. Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

6. Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD)

7. Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)

8. Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida)

9. Instituto de Pesquisa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Social (UNRISD)

10. Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA)

11. Liga dos Estados Árabes (LEA)

12. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)

13. Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido)

14. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)

15. Organização dos Estados Americanos (OEA)

16. Organização Internacional do Trabalho (OIT)

17. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

18. Organização Mundial do Comércio (OMC)

19. Organizacão Mundial da Saúde (OMS)

20. Organização Pan-Americana da Saúde (Opas)

21. Programa Mundial de Alimentos (WFP)

22. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)

23. Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat)

24. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma)

Instituições Financeiras Internacionais:

1. Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB)

2. Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB)

3. Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF)

4. Banco Europeu de Investimento (BEI)

5. Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)

6. Grupo Banco Mundial

7. Grupo Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB)

8. Novo Banco de Desenvolvimento (NBD)

9. Programa Global de Agricultura e Segurança Alimentar (GAFSP)

Fundações Filantrópicas e Organizações Não Governamentais:

1. Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab (J-PAL)

2. Articulação Semiárido Brasileiro (ASA)

3. Fundação Bill & Melinda Gates

4. Brac

5. Children’s Investment Fund Foundation

6. Child’s Cultural Rights & Advocacy Trust Agency

7. Citizen Action

8. Education Cannot Wait

9. Food for Education

10. Instituto Comida do Amanhã

11. Fundação Getúlio Vargas (FGV)

12. GiveDirectly

13. Global Partnership for Education

14. Instituto Ibirapitanga

15. Instituto Clima e Sociedade (iCS)

16. Câmara de Comércio Internacional

17. Leadership Collaborative to End Ultrapoverty

18. Maple Leaf Early Years Foundation

19. Fundação Maria Cecília Souto Vidigal

20. Oxford Poverty and Human Development Initiative (OPHI)

21. Pacto Contra a Fome

22. Fundação Rockefeller

23. Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri)

24. SUN Movement

25. Sustainable Financing Initiative

26. Their World

27. Trickle Up

28. Village Enterprise

29. World Rural Forum

30. World Vision International

31. Instituto Fome Zero

Com informações da Agência Brasil (atualizado para incluir a Argentina)

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