‘Minha filha perdeu de ano depois de sofrer bullying na escola’

73,21% das escolas já passaram por algum tipo de episódio de bullying. Racismo, xenofobia, homofobia e preconceito de classe também crescem

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A adolescente M, de 16 anos, foi reprovada no segundo ano do Ensino Médio de um colégio particular no Rio de Janeiro porque sofreu bullying por parte de colegas da turma e acabou se desmotivando com os estudos. “Conversei inúmeras vezes com a coordenação pedagógica, mas nada foi feito. Nem uma repreensão aos alunos envolvidos. Apesar do pedido de transferência pelo psiquiatra dela, a escola recusou a mudá-la para outra unidade da mesma rede”, disse a mãe, R. O caso de M não é único.

Um estudo recente chama atenção para o problema nesse Dia Mundial de Combate ao Bullying (20 de outubro). Levantamento realizado pela Meira Fernandes, empresa especializada em soluções para escolas particulares, apontou que 73,21% das instituições de ensino passaram por algum tipo de episódio de bullying. Em cerca de 15% das escolas, foram registrados mais de 10 casos de diversas naturezas.

“Nossa pesquisa só reforça, infelizmente, o atual momento que estamos vivendo nas escolas. De quando estávamos com aulas remotas/digitais a incidência de bullying era algo em torno de 57,14% nos registros de professores e coordenadores, porém, saltou espantosamente nos últimos meses nas aulas presenciais em mais de 16% – chegando nos 73,21%, o que torna a discussão e as ações de prevenção ainda mais emergenciais”, aponta Mabely Meira Fernandes, diretora jurídica da empresa.

De maneira on-line e presencial, a pesquisa foi respondida por mantenedores e ouviu 1.500 escolas que atualmente possuem mais de 51.500 matrículas espalhadas por diversas regiões e estados do país durante o primeiro semestre de 2023. O levantamento apresentou números que chamam a atenção de coordenadores pedagógicos e mantenedores da educação no Brasil.

Motivações são quase sempre absurdas

Um dado importante da pesquisa é a motivação dos casos ocorridos, o que se tornou alvo de muitas discussões mediante a série de ataques que aconteceram nas escolas espalhadas em todo país durante o primeiro semestre de 2023 e em anos passados.

Motivações diversas – de natureza quase sempre absurdas – alcançaram 43%, seguidas de perto pela mais praticada e intensa de todas que é a violência psicológica, com mais 30%.

Casos de racismo também vêm crescendo nas escolas e já superam os 10%, seguido por eventos de depreciação de classe social com 5,36%, xenofobia e homofobia, ambos com 1,79% dos relatos consequentemente

A pesquisa evidenciou ainda a idade dos casos de bullying, que tem uma grande penetração na tenra adolescência, que é quando o aluno entra no Ensino Fundamental II, entre 11 e 15 anos, onde o processo acelera e toma proporções assustadoras. Dos casos reportados 62,50% deles estão acontecendo no chamado Fundamental II. Quando somado aos casos do Fundamental I são mais de 77% de todas as situações de bullying nas escolas.

“Sem dúvida quando olhamos os números e os gráficos, vemos um pico de casos na soma do Fundamental I e II. No infantil, os números são pequenos em média 3,5% e no médio com cerca de 10%, ou seja, na inocência dos pequenos e no início da consciência da maturidade, os casos de bullying começam a se esvaziar. Claro que não podemos descuidar das pontas, porém, o trabalho e atenção precisa estar centrada no Fundamental”, complementa Mabely Meira Fernandes.

Mortes decorrentes por casos de bullying

A preocupação das escolas particulares é real já que as consequências e os impactos estão evidentes e ganhando proporções alarmantes nos últimos meses, mas além dos fatos amplamente divulgados e das infelizes ocorrências do primeiro semestre, outro dado da pesquisa que reforça que este seja o tema das escolas nos próximos anos é sobre o conhecimento de mortes em decorrência de casos de bullying.

Quando perguntamos aos mantenedores e coordenadores “Você, enquanto gestor escolar, tomou conhecimento ou foi informado sobre casos concretos de suicídio em decorrência de bullying na sua escola ou escolas da região?”, mais de 41,07% dos respondentes disseram que sim – que tomaram conhecimento de casos nas regiões onde atuam.

Não à toa, mais de 75% disseram que este é um assunto de grande prioridade para as instituições de ensino nos próximos meses (dando 10 – em uma escala de 0 a 10). A maioria reforçou a necessidade e atenção da gestão, professores e pais em torno dos temas da saúde mental e bullying. Quando somadas as notas entre 8 a 10, a amostra de prioridade da questão sobe para 92,86% dos participantes, o que torna urgente e prioritária a discussão sobre o tema.

Professores e funcionários também estão sob forte pressão

Além dos alunos, o corpo docente/administrativo dentro das escolas está sob forte pressão e os resultados da pesquisa apontam que 85,71% dos professores, coordenadores, assistentes e profissionais das escolas estão procurando a direção das instituições com relatos cada vez mais frequentes de depressão, síndrome do pânico, ansiedade e outras doenças que abalam a saúde mental da base da educação brasileira.

O que é um número muito próximo quando analisados os alunos isoladamente, já que 91,07% das escolas tem registrado os mesmos casos/sintomas com os estudantes – números que são extremamente altos e preocupantes.

Os relatos são os mais impensados possíveis, casos de bulimia com 2% das ocorrências, síndrome do pânico com 6%, automutilação com 6%, fobia social com 2% e outros tantos são as consequências – mas os grandes vilões são sem dúvida a ansiedade com 63% dos relatos e a depressão com 17% – somadas as duas doenças equivalem a 80% dos relatos do agravamento da saúde mental nas instituições de ensino.

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Como as escolas estão enfrentando o problema?

A reação das escolas particulares tem sido rápida e muitas das entidades respondentes, 60,71% delas afirmaram que tem implementado programas que visem a saúde mental de alunos, professores e demais colaboradores.

“As escolas particulares realmente estão engajadas, preocupadas e investindo para prover a seus alunos, professores e corpo administrativo acompanhamento e apoio; porém, o segmento precisa acelerar a atenção a saúde mental – 40% delas disseram em nosso estudo que não tem programas específicos e isso quando pensamos em um país com dimensões continentais como o Brasil equivale a mais de 17.100 escolas”, observa o sócio-diretor Husseine Fernandes.

Já quando a pesquisa faz um recorte específico e isola a questão do bullying76,79% das escolas afirmam ter algum tipo de programa de combate ao problema sendo desenvolvido na rotina da instituição.

Encontro de saúde mental, bullying e suicídio na escola

Além da pesquisa, a Meira Fernandes firmou uma parceria com o Instituto Ame Sua Mente (uma das entidades mais respeitadas sobre o tema) para promover um encontro presencial com a participação de mais de 120 escolas com palestras e discussões de como desenvolver campanhas eficazes de combate ao bullying, saúde mental e desdobramentos que podem ser causas prévias até de suicídio de jovens e adolescentes.

O encontro trouxe Gustavo Estanislau, médico psiquiatra, especialista em Psiquiatria da Infância e da Adolescência pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre, organizador do livro “Saúde Mental na Escola: o que os educadores devem saber”.  Como pesquisador do tema  e membro do Grupo de Estudo de Adições Tecnológicas (GEAD) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ele tratou questões delicadas e importantes sobre desenvolvimento de campanhas, orientações efetivas para medidas antibullying para alunos, medidas de como agir para o corpo diretivo da escola e também para os pais – como eles precisam agir e amparar seus filhos em situações como esta.

“Nossa empresa tem como objetivo estar junto aos mantenedores e orientá-los em todas as áreas para que suas escolas sejam fortes e um efetivo porto seguro para pais e responsáveis – para nós é impossível ignorar esses tipos de situações sem prover aos nossos parceiros e clientes informação, orientação e conteúdo de qualidade. O resultado foi muito importante, pois não são apenas os alunos que estão sofrendo os impactos dessas questões”, diz Husseine Fernandes.

Com Assessorias

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