No Brasil, a tuberculose ainda representa um grande desafio para a saúde pública. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram registrados mais de 84 mil novos casos novos casos da doença no ano passado, e mais de 5.900 mortes. Com o Dia Nacional de Combate à Tuberculose, celebrado em 17 de novembro, profissionais de saúde e entidades ligadas ao tema se mobilizam para alertar sobre essa doença infecciosa, que está entre as mais antigas e persistentes no país.
O coeficiente de incidência da doença no país é de 39,7 casos novos por 100 mil habitantes e o coeficiente de mortalidade é de 2,8 óbitos por 100 mil habitantes. O Brasil tem metas estabelecidas para reduzir a incidência e a mortalidade, visando eliminar a doença como um problema de saúde pública até 2030. Como um dos 30 países com alta carga de tuberculose, o país integra a estratégia global pelo fim da tuberculose da Organização Mundial de Saúde (OMS), que almeja reduzir em 90% a incidência e em 95% as mortes causadas pela doença até 2035.
É uma doença prevenível e tratável, apesar de o risco de adquirir a doença seja maior nas pessoas imunossuprimidas, não é exclusiva, podendo atingir inclusive pessoas saudáveis”, explica o pneumologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Rafael Faraco.
Entre os maiores obstáculos no combate à doença estão o tratamento longo (seis meses), muitas vezes abandonado, e o surgimento de cepas resistentes aos medicamentos. “O tratamento é realizado com antibióticos administrados em um semestre para garantir a cura e evitar resistência bacteriana. Abandonar o tratamento após uma melhora inicial é prejudicial para o paciente e potencialmente perigoso para toda a comunidade”, explica o especialista.
A tuberculose é uma doença altamente transmissível e, caso não tratada, ou se o tratamento for realizado da forma incorreta, ela pode se tornar grave ou até mesmo resistente. Pessoas com baixa imunidade ou adoecidas também são suscetíveis a desenvolverem quadros clínicos instáveis.
Um dos principais sintomas que deve ser observado, é a tosse prolongada por três semanas ou mais. Ela pode ser seca ou produtiva, que é quando há muco. Febre vespertina, suor noturno e emagrecimento também são sinais de alerta.
Podem surgir complicações, como dificuldade respiratória, eliminação de sangue ao tossir (hemoptise), colapso do pulmão, acúmulo de pus na pleura, infecção generalizada, desnutrição, infertilidade, doença inflamatória na pelve, alterações menstruais e até a tuberculose miliar”, explica Marta Fragoso, infectologista do Hospital Vita.
Leia mais
Tuberculose: queda na cobertura da vacina BCG aumenta riscos
Tuberculose em alta: doença tem diagnóstico e tratamento pelo SUS
Epidemia de tuberculose: encarcerados têm 26 vezes mais riscos
Tuberculose: aumento nos casos em crianças preocupa
Diagnóstico precoce e tratamento assertivo
A doença é causada pela micobactéria Mycobacyerium tuberculosis (bacilo de Koch) e, além de afetar principalmente o pulmão e a pleura (membrana que reveste os pulmões), , pode atingir outros órgãos, como ossos, sistema nervoso, linfonodos, intestinos e o sistema genitourinário.
Ela é infectocontagiosa e com transmissão direta. Pequenas gotas expelidas por uma pessoa contaminada é o suficiente para que a contaminação ocorra. A transmissão ocorre por partículas liberadas no ar, especialmente em ambientes fechados e mal ventilados.
Assim como o diagnóstico rápido é essencial, identificar possíveis resistências a antibióticos também faz parte do tratamento assertivo. O diagnóstico precoce da tuberculose é de extrema importância, pois além de prevenir que a pessoa acometida tenha piora no quadro clínico, ele evita que a contaminação siga ocorrendo e que a doença seja confundida com outras enfermidades.
Segundo a infectologista, ao ter suspeita clínica, deve-se solicitar o exame de raio-x de tórax, além da coleta de escarro matinal para os testes microbiológicos e microscópicos que comprovam o diagnóstico. Ao ter a suspeita confirmada, inicia-se o tratamento, que é feito com antibióticos específicos. “As medicações são associadas por tempo prolongado, sendo de seis a nove meses, dependendo da forma de apresentação da tuberculose”, destaca a Dra. Marta.
A farmacoeconomia também é consequência, pois tratar um paciente de forma ambulatorial e domiciliar possui menos gastos do que tratamentos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Entretanto, a médica destaca que ao apresentar sintomas, a pessoa deve buscar atendimento médico e iniciar o isolamento respiratório.
Com o tratamento correto, a transmissão respiratória é eliminada em até 15 dias. A fim de manter a saúde pública estável e para que as ações de combate sejam realizadas, é importante que os casos confirmados sejam notificados à Vigilância Epidemiológica, assim é possível realizar o rastreio dos contatos e tratamento ou profilaxia.
Prevenção pode ser feita com vacina
Dentre as formas de prevenção, estão as mais simples e básicas e que também diminuem outras doenças, como a ventilação dos locais, o não compartilhamento de copos e itens pessoais e de higiene, além de evitar aglomerações. Apesar destas maneiras, a principal acontece logo nos primeiros dias de vida.
Uma das formas mais importantes de prevenção é a vacina BCG (Bacilo de Calmette-Guérin, bactéria enfraquecida que serve para produzir a vacina), que protege a criança das formas mais graves da doença, como a tuberculose miliar e a meningite tuberculosa. Esta vacina deve ser aplicada já na maternidade, logo após o nascimento, em dose única, no braço direito e deixa uma pequena cicatriz”, explica a infectologista.
A prevenção da tuberculose inclui várias medidas importantes, principalmente para proteger populações em risco:
Vacina BCG: No Brasil, a vacina BCG é administrada gratuitamente em recém-nascidos e oferece proteção contra as formas graves de tuberculose, como a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar. Embora não evite todas as formas da doença, a vacina reduz a gravidade em crianças.
Ventilação e Higiene: A bactéria Mycobacterium tuberculosis se espalha por meio do ar em locais fechados, pouco ventilados e com grande circulação de pessoas. Manter espaços bem ventilados, evitar aglomerações e cobrir a boca ao tossir ou espirrar são ações importantes para prevenir a propagação.
Tratamento da Infecção Latente: Pessoas que vivem em contato próximo com infectados podem receber tratamento preventivo para evitar que a infecção latente evolua para a forma ativa da doença. Esse tratamento é especialmente indicado para pessoas com HIV, imunossuprimidos e trabalhadores da saúde.
Detecção e Tratamento Precoces: Identificar e tratar precocemente os casos de tuberculose ativa ajuda a interromper a cadeia de transmissão.
Essas práticas, somadas ao acompanhamento e educação sobre a importância do tratamento completo, são cruciais para reduzir a incidência da tuberculose.
Com Assessorias