A tuberculose, embora seja uma das doenças mais antigas da humanidade, ainda representa uma luta global, mesmo podendo ser prevenida e tratada. De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Relatório Global da Tuberculose (TB), em 2022, foi registrado mundialmente o maior número de casos desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) iniciou o monitoramento, em 1995. Foram cerca de 7,5 milhões de pessoas diagnosticadas, mas a estimativa é que mais de 10 milhões foram acometidas.

No Brasil, o cenário é preocupante, pois o país é o primeiro das Américas no número de casos registrados. Em 2023, foram registrados mais de 110 mil novos casos, segundo dados do DataSus, do Ministério da Saúde. Em 17 de novembro é comemorado o Dia Nacional de Combate à Tuberculose. A data foi incorporada ao calendário para destacar a necessidade de prevenção e tratamento da doença no cenário brasileiro.

De acordo com Médicos Sem Fronteiras (MSF), desde 2020, há uma tendência de crescimento de novos casos na faixa etária de até 15 anos em todo o mundo e, sobretudo, no Brasil. A OMS estima que 1,25 milhão de crianças e adolescentes jovens (0-14 anos) adoeçam de tuberculose a cada ano, mas apenas metade dessas crianças é diagnosticada e tratada.

Dados recentes mostram um alto índice de subdiagnóstico, podendo haver até 50% a mais de casos neste grupo do que seria esperado com base em dados oficiais. No ano passado foram diagnosticados no Brasil 80 mil casos novos de TB, sendo 3.406 (3.6%) em crianças de até 15 anos”, diz a organização.

A situação no Brasil não foi avaliada em recente estudo divulgado em outubro por Médicos Sem Fronteiras (MSF) mostrando que crianças com tuberculose (TB) continuam sendo deixadas para trás no esforço global para acabar com a doença.

Leia mais

Epidemia de tuberculose: encarcerados têm 26 vezes mais riscos
Tuberculose em alta: doença tem diagnóstico e tratamento pelo SUS
Conheça as doenças que se confundem com tuberculose

MSF pede ação urgente para evitar mortes de crianças com tuberculose

Estudo feito pela organização em 14 países onde MSF trabalha mostra que muitos ainda não adotaram diretrizes da OMS para tratar a doença

O relatório “TACTIC: Testar, Evitar, Curar TB em Crianças” analisou as diretrizes políticas sobre a tuberculose em 14 países com alta carga de tuberculose – Afeganistão, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Guiné, Índia, Moçambique, Níger, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Serra Leoa, Somália, República do Sudão do Sul, Uganda.

O documento revela que muitos deles estão atrasados no alinhamento de suas políticas nacionais de combate à doença com as mais recentes diretrizes da OMS. Segundo MSF,  no Brasil, as diretrizes de tratamento e diagnóstico foram atualizadas de acordo com as últimas recomendações da OMS.

A tuberculose é curável, inclusive em crianças. A OMS atualizou as políticas para orientar os países a fornecer o melhor cuidado possível para crianças com tuberculose, que é uma das doenças infecciosas mais mortais do mundo”, disse Stijn Deborggraeve, consultor em diagnósticos da Campanha de Acesso de MSF.

OMS atualiza orientações e inclui uso de algoritmos para tratamento de crianças

Com base nas evidências científicas mais recentes, a OMS revisou suas orientações em 2022 para o gerenciamento de crianças e adolescentes com tuberculose e fez várias recomendações importantes, incluindo o uso de algoritmos de decisão de tratamento que permitem que muitas crianças sejam diagnosticadas com base apenas nos sintomas, na ausência de confirmação laboratorial, e a oferta de regimes orais curtos para tratar e prevenir a tuberculose em crianças.

Se adotadas e implementadas, essas orientações da OMS melhorariam drasticamente o diagnóstico e a qualidade do atendimento para crianças com tuberculose. MSF pede a todos os países que atualizem suas diretrizes nacionais para que estejam alinhadas com as recomendações da OMS para o cuidado de crianças com tuberculose e que aloquem os recursos necessários.

Também cobra que sejam desenvolvidos planos claros com prazos para implementar as políticas e aumentar o acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento da tuberculose em crianças. E pede aos doadores internacionais e agências de suporte técnico que forneçam financiamento suficiente aos países para apoiar as reformas e a implementação de políticas de tuberculose pediátrica. 

Pedimos aos países, doadores e agências técnicas que acabem com esse status quo mortal e intensifiquem seus esforços para garantir o diagnóstico e o tratamento oportunos da tuberculose em crianças. Não podemos mais nos dar ao luxo de ficar parados — cada atraso significa que mais crianças morrem desnecessariamente”, diz a entidade.

Apenas 5 dos 14 países adaptaram suas diretrizes para tratar crianças

Dos 14 indicadores de política medidos no relatório de MSF, apenas as políticas de um país estão totalmente alinhadas com as orientações da OMS, enquanto sete países têm mais de 80% de alinhamento e quatro países ainda estão abaixo de 50% de alinhamento. As maiores lacunas foram encontradas nas políticas relacionadas ao diagnóstico da tuberculose em crianças.

Por exemplo, apenas 5 dos 14 países adaptaram suas diretrizes para iniciar o tratamento da tuberculose em crianças quando os sintomas indicam fortemente a doença, mesmo que os testes bacteriológicos sejam negativos. Além disso, apenas 4 desses 5 países têm os recursos necessários para implementar essa orientação de forma eficaz.

Cathy Hewison, chefe do grupo de trabalho sobre tuberculose de MSF, lamenta que formulações de medicamentos para tuberculose adequadas para crianças ainda não estejam disponíveis em muitos países devido a barreiras burocráticas e lacunas de financiamento.

Como resultado, as crianças com tuberculose são forçadas a engolir medicamentos triturados e amargos, sem doses apropriadas baseadas no peso, colocando-as em grave risco de efeitos colaterais e falha no tratamento.

Esse descaso precisa acabar agora. Pedimos que governos, doadores e organizações de saúde globais ajam com urgência, garantindo que nenhuma criança morra ou sofra de uma doença evitável e tratável como a tuberculose. As ferramentas e tratamentos que temos devem chegar às crianças que mais precisam – agora”.

Resultados positivos em tratamento em Serra Leoa

Joseph Sesey, diretor clínico de MSF em Makeni, Serra Leoa, diz que logo que começaram a implementar as recomendações da OMS para crianças no distrito de Bombali, as equipes passaram a encontrar e tratar muito mais crianças com tuberculose. “Essas novas recomendações nos ajudaram a evitar o diagnóstico incorreto em crianças”, disse.

Segundo ele, os médicos que hesitavam em iniciar o tratamento da tuberculose em crianças sem resultados positivos para os testes de tuberculose agora se sentem mais confiantes em diagnosticar a doença apenas com base nos sintomas clínicos, utilizando as recomendações da OMS. Eu notei uma redução significativa nas mortes entre crianças com tuberculose em muitos centros de saúde.”

No entanto, o trabalho não para com as reformas políticas. Por exemplo, novos regimes mais curtos e totalmente orais são agora recomendados pela OMS tanto para o tratamento da tuberculose suscetível a medicamentos (DS-) quanto para a tuberculose resistente a medicamentos (DR-TB) em crianças, mas sua implementação nos países continua lenta. Além disso, embora novos medicamentos para tuberculose, adequados para crianças, estejam disponíveis para DS- e DR-TB, eles nem sempre são adquiridos pelos países.

Agenda Positiva

Curso gratuito sobre tuberculose para profissionais da atenção primária em saúde

De outubro a dezembro, o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), oferece um curso autoinstrucional e gratuito para capacitar e atualizar profissionais da saúde que atuam no manejo clínico de infecção latente de Mycobacterium tuberculosis (ILTB) em crianças e adultos.

Essa é a sexta edição do curso, que já capacitou mais de mil profissionais de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal. Com oito horas de duração, a formação vai abordar temas como diagnóstico da ILTB, rastreamento de contatos, tratamento e quimioprofilaxia, entre outros.

A iniciativa faz parte do projeto TB Ped, realizado em parceria com o Ministério da Saúde, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). 

O curso está aberto até 31 de dezembro de 2024. Para realizá-lo, basta acessar o link.

Com Assessorias

 

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *