Abril se despede com clima mais frio em grande parte do Brasil, resultado da atuação de uma frente fria e de uma forte massa de ar polar, que traz as temperaturas mais baixas do ano até o momento. A queda nas temperaturas, associada ao aumento da circulação de vírus respiratórios, acende um alerta para a saúde das crianças, principalmente em relação ao vírus sincicial respiratório (VSR).
Mesmo antes do inverno, o tempo frio favorece o crescimento de infecções como bronquiolite e pneumonia causadas pelo VSR — principal vírus associado à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças pequenas. Divulgado nesta quarta-feira (30/4), o novo Boletim InfoGripe da Fiocruz alerta, mais uma vez, para o cenário de aumento da circulação do VSR, que segue provocando o crescimento expressivo de casos de SRAG e hospitalizações entre crianças pequenas.
O estudo é referente a Semana Epidemiológica (SE) 17, período de 20 a 26 de abril, com maior alta registrada em estados das regiões Centro-Sul, Norte e Nordeste do país, alcançando níveis de incidência que variam de moderado a muito alto. 
Nas quatro últimas semanas epidemiológicas, o VSR foi responsável por mais da metade (57%) dos casos positivos de SRAG no Brasil, seguido do vírus da gripe, o influenza A, com 21,8% dos casos, e do rinovírus (20,3%). A taxa de infecção pelo Sars-CoV-2, o vírus da Covid-19, caiu para 3,1% dos casos. Por último, aparece o vírus influenza B, com 0,9% dos casos. 
Já quando se analisam os óbitos no período, o mais fatal é o vírus influenza A – a presença deste vírus entre os positivos foi de 46,4%. Em seguida, em 20,4% das mortes por vírus respiratórios, a causa foi o Sars-CoV-2 (Covid-19). Depois aparecem 12,8% para rinovírus; 14,7% para VSR e 2,4% para influenza B.

Frente fria acende alerta para aumento de casos de VSR

Especialista alerta para cuidados com infecções respiratórias em crianças, que já registram aumento antes da chegada oficial do inverno

Werther Brunow de Carvalho, pediatra do Hospital Santa Catarina Paulista, explica que infecções virais respiratórias são comuns entre março e junho, afetando principalmente os pacientes mais vulneráveis.

Um fator que exige atenção especial dos pais, sobretudo de crianças menores de 2 anos e, em especial, de bebês prematuros, é o VSR. Embora historicamente associado às estações mais frias, o vírus tem circulado de forma intensa no Brasil desde o verão, provocando aumento expressivo de doenças respiratórias.

A doença pode se manifestar como bronquiolite, pneumonia viral, pneumonia bacteriana ou quadros mais leves de infecções das vias aéreas superiores”, destaca.

Prevenção com máscara e vacinação

A Fiocruz recomenda que crianças e adolescentes com sintomas gripais permaneçam em casa e utilizem máscaras em ambientes fechados, como forma de conter a transmissão dos vírus respiratórios. Por conta da circulação desses vírus respiratórios sazonais, a pesquisadora Tatiana Portella, do Programa do Processamento Científico da Fiocruz e do Boletim InfoGripe, reforça a importância de cuidados para evitar a infecção.
Ela destaca a manutenção da etiqueta respiratória ao apresentar sintomas de gripe ou resfriado, com o uso de máscara em locais com maior aglomeração de pessoas e dentro dos postos de saúde. Tatiana ainda chama atenção que é fundamental que todas as pessoas elegíveis se vacinem contra o vírus da influenza o quanto antes.
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Dr Werther também recomenda medidas simples e eficazes, como manter os ambientes bem ventilados, reforçar a higiene das mãos, garantir hidratação adequada e evitar mudanças bruscas de temperatura.
Além disso, é importante manter o calendário vacinal atualizado, estimular bons hábitos alimentares e adotar a etiqueta respiratória, como cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar. A vacinação e os cuidados diários são as principais ferramentas para proteger a saúde das crianças”, finaliza o especialista.

Sintomas e sinais de alerta do VSR

Os primeiros sintomas do VSR são semelhantes aos de um resfriado comum, com tosse, obstrução nasal, coriza e, em alguns casos, chiado no peito. Em geral, duram entre 3 e 15 dias. No entanto, sinais como dificuldade para respirar e falta de ar indicam agravamento do quadro.

Como os sintomas iniciais são bastante corriqueiros, é essencial que um médico avalie a criança para um diagnóstico correto, evitando complicações como pneumonia, asma e agravamento da infecção”, explica o Dr. Werther.

Outros sinais que exigem atenção incluem febre (em cerca de um terço dos casos, geralmente abaixo de 39°C), dificuldade para se alimentar, principalmente entre o terceiro e o quinto dia da doença, e, em bebês menores de seis semanas, risco de apneia.

Quando procurar o hospital

O Dr. Werther ressalta que é fundamental observar sinais de alerta. “Se a tosse piorar a ponto de a criança não conseguir dormir, se o peito estiver se movimentando de forma ofegante, com retrações visíveis entre as costelas, é preciso buscar atendimento de emergência”, orienta.

A maioria das crianças com bronquiolite aguda pode ser tratada de forma ambulatorial, com medidas de suporte como aspiração das secreções nasais, elevação da cabeceira da cama e fracionamento das refeições. Nos casos mais graves, com comprometimento respiratório, pode ser necessária a internação hospitalar e, eventualmente, em unidade de terapia intensiva (UTI).

Vacinas e novos tratamentos contra o VSR

O Ministério da Saúde anunciou recentemente a incorporação da vacina Abrysvo contra o VSR ao Sistema Único de Saúde (SUS). A vacinação será direcionada a gestantes entre a 24ª e a 36ª semana de gestação, permitindo a transferência de anticorpos ao bebê ainda durante a gravidez. A medida tem o potencial de proteger cerca de 2 milhões de recém-nascidos.

Além da vacina, o anticorpo monoclonal nirsevimabe também foi aprovado para uso em bebês prematuros e em crianças com fatores de risco como cardiopatias graves, doenças pulmonares, fibrose cística e imunodeficiências. Administrado em dose única, o nirsevimabe impede a fusão do vírus às células, bloqueando sua replicação e garantindo proteção ao longo da temporada de circulação do VSR.

Aumento nas internações pelo vírus da gripe

A análise da Fiocruz também destaca o aumento da mortalidade de idosos por influenza A. Os cientistas também seguem observando, em diversos estados, a tendência de aumento das hospitalizações por SRAG associado ao vírus influenza. 

No entanto, apenas no Mato Grosso do Sul, no Amazonas e no Pará essas internações atingem níveis de incidência de moderado a muito alto. Nas demais unidades da federação, o número de novas internações por influenza, principalmente entre os idosos, ainda permanecem baixo.

Desde o início do ano, já foram notificados 45.228 casos de SRAG, sendo 19.420 (42,9%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório; 18.640 (41,2%) negativos; e ao menos 4.262 (9,4%) estão aguardando resultado laboratorial. Entre os casos positivos , observou-se 38,4% para VSR; 27,9% para rinovírus; 20,7% para Sars-CoV-2 (Covid-19) e 11,2% para influenza A; 1,6% para influenza B. 

Risco ou alto risco de aumento em 15 estados e no DF

A atualização mostra risco ou alto risco de SRAG – com sinal de crescimento na tendência de longo prazo – nos estados do Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins e no Distrito Federal.

Foi observado ainda manutenção do aumento de SRAG – com níveis de incidência de moderado a muito alto – em muitos estados das regiões Centro-Sul, Norte e alguns estados do Nordeste, atribuído principalmente ao VSR. Por outro lado, já é possível observar sinal de desaceleração desse crescimento no Distrito Federal e Goiás, e início de queda no Espírito Santo. 

O levantamento mostra que 18 das 27 capitais apresentam incidência de SRAG em nível de alerta, risco ou alto risco, com sinal de crescimento na tendência de longo prazo: Aracaju (Sergipe), Belém (Pará), Belo Horizonte (Minas Gerias), Brasília (Distrito Federal), Campo Grande (Mato Grosso do Sul), Cuiabá (Mato Grosso), Florianópolis (Santa Catarina), Goiânia (Goiás), Macapá (Amapá), Manaus (Amazonas), Natal (Rio Grande do Norte), Porto Alegre (Rio Grande do Sul), Porto Velho (Rondônia), Rio Branco (Acre), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), Salvador (Bahia), São Paulo (São) e Vitória (Espírito Santo).

Gráficos do InfoGripe.

 

 

Fonte: Fiocruz e Hospital Santa Catarina Paulista

 

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