Tuberculose: queda na cobertura da vacina BCG aumenta riscos

Segunda doença infecciosa que mais mata depois da Covid, tuberculose fez 1,3 milhão de vítimas em 2022

Tosse seca crônica é um dos principais sinais da tuberculose (Foto: Divulgação Sabin)
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Descoberta no século XIX, a tuberculose pode ser prevenida, tem cura e seu tratamento pode ser feito gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas essa doença infecciosa, altamente contagiosa, segue como uma epidemia silenciosa em boa parte do Brasil. Até o início da pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2 (Covid-19), a tuberculose foi a principal causa de morte provocada por um único agente infeccioso.

No ano passado foi a segunda doença infecciosa que mais matou em todo o mundo, depois da covid-19. Ela é também a principal causa de morte de pessoas com o vírus da Aids (HIV) e uma das principais relacionadas à resistência antimicrobiana. Só o Brasil notifica a cada ano cerca de 4,5 mil mortes em decorrência da tuberculose, segundo o Ministério da Saúde. Em 2021, o Brasil bateu o recorde de cinco mil mortes pela doença e, no ano passado, 78 mil novos casos foram identificados, um aumento de quase 5% em relação ao ano anterior.

Dez milhões de pessoas foram diagnosticadas com tuberculose no mundo em 2021, o que representou um aumento de 4,5% em relação a 2020. Dessas, 1,6 milhão morreram, incluindo 187 mil entre as pessoas vivendo com HIV. Já em 2022, estima-se que foram 1,3 milhão de mortes por tuberculose, incluindo 167 mil pessoas com HIV. Foram registrados 7,5 milhões novos casos da doença no mundo, segundo levantamento divulgado este mês pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em locais com condições insalubres de habitação e alta densidade demográfica ocorre uma transmissão maior, porque os mecanismos de prevenção acabam dificultados. Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul concentram 46% de todos os casos de tuberculose e 40% das mortes no mundo. Na América Latina, Brasil, Peru e Colômbia são países com alta incidência de tuberculose.

50% da população desconhecem riscos

Nesse cenário, há, ainda, outro agravante: até hoje a tuberculose é bastante desconhecida ou ignorada no Brasil. Cerca de 50% da população não sabe que ela existe, ou acredita se tratar de uma enfermidade do século passado. Além disso, cerca de 50% dos profissionais da saúde não sabem diagnosticá-la ou tratá-la. Os dados são de estudos internos do Ministério da Saúde.

Apesar das estatísticas elevadas, existe vacina contra a tuberculose, disponível no país desde a década de 1970 na rede pública, e tratamento eficaz pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mas a queda na cobertura vacinal representa aumento do risco de casos graves e óbito pela doença.

“Apesar de ser uma doença descoberta há séculos, com uma vacina segura e eficaz, diagnóstico rápido e cura, a tuberculose ainda afeta milhares de pessoas mundo afora e segue ocasionando óbitos, inclusive no Brasil”, alerta o médico infectologista do Sabin Diagnóstico e Saúde, Alexandre Cunha.

O médico alerta que nos últimos anos, houve uma redução importante da cobertura vacinal da BCG. Até 2018, o índice de vacinação estava acima do patamar de 95%. Porém, desde 2019, a cobertura não ultrapassa os 88%.

“A vacina BCG (bacilo Calmette-Guérin) é a principal medida preventiva. Disponível gratuitamente no SUS, o imunizante protege contra formas mais graves da doença e deve ser aplicado ainda na infância, entre o nascer e até completar 5 anos de idade”, complementa o médico.

Hospital da Mãe no Rio aplica vacina BCG em bebês recém-nascidos

 
Com altas taxas de tuberculose, o Estado do Rio de Janeiro vem buscando novas estratégias para enfrentar a doença, entre elas, a ampliação da cobertura vacinal da BCG. Em setembro, o Hospital Estadual da Mãe, em Mesquita, na Baixada Fluminense, iniciou a aplicação da vacina BCG em todos os recém-nascidos da unidade. A maternidade, que é recordista em partos normais com uma média de 600 nascimentos por mês, é a primeira da rede estadual a oferecer a BCG logo após o nascimento, em parceria com a prefeitura de Mesquita.
Agora, as famílias que já tinham um posto do Detran-RJ à disposição para emitir a identidade dos bebês, passam a contar também a contar com a BCG e o teste do Pezinho ampliado para 54 doenças, que é realizado após mais de 72 horas de internação. As famílias já deixam a unidade com a caderneta de vacinação atualizada para esta importante vacina.
A aplicação da vacina BCG é fundamental logo nos primeiros dias de nascimento para a prevenção da tuberculose.  A vacinação não requer qualquer cuidado prévio e pode ser realizada em crianças com até 2 quilos após o nascimento. A administração da vacina, na maioria das vezes, não causa reação no local da aplicação. É importante não colocar nenhum produto, medicamento ou curativo, pois trata-se de uma resposta esperada e normal à vacina.
“Em nosso estado, apesar dos esforços do governo estadual e dos municípios, as taxas de vacinação estão aquém do ideal. Para reverter isso, a Secretaria de Estado de Saúde busca parcerias e realiza ações efetivas, como cursos, seguindo proposta do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para Ações de Vacinação de Alta Qualidade (AVAQ) e fortalecer as equipes de imunização e de atenção primária à saúde. A meta é promover, até 18 de outubro, oficinas de qualificação das equipes em todos os 92 municípios”, afirmou a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello.

Doença é tratável e curável, mas a cura depende do diagnóstico precoce

Causada pelo bacilo de Koch, uma bactéria chamada Mycobacterium tuberculosis, a tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões, mas também pode acometer outros órgãos, como ossos, rins e meninges (membranas que envolvem o cérebro), podendo se tornar fatal se não tratada adequadamente.

É transmitida por meio da inalação de aerossóis (tosse ou espirros) contendo o bacilo proveniente da via respiratória de um indivíduo doente. A transmissão acontece por via respiratória, por meio da tosse, fala ou espirros de uma pessoa infectada, pelas gotículas da saliva do paciente contaminado. O bacilo é sensível à luz solar e a circulação de ar ajuda na dispersão de partículas, por isso é importante manter ambientes ventilados e com luz natural para diminuir o risco de transmissão.

Entre os sintomas mais comuns da tuberculose estão a tosse seca e prolongada no início, depois com presença de secreção por mais de quatro semanas, às vezes com sangue ou com catarro por três ou mais semanas,  transformando-se, em geral, em uma tosse com pus ou sangue.

O paciente ainda pode apresentar cansaço excessivo, febre baixa, sudorese noturna, falta de apetite, palidez, emagrecimento acentuado, rouquidão, fraqueza e prostração, além de dor e dificuldade ao respirar, quando a doença acomete a pleura, a membrana serosa que reveste a parede interna do tórax e envolve os pulmões. Os casos graves podem levar a colapso do pulmão e acúmulo de pus na pleura.

Ao observar esses sintomas é fundamental procurar um médico. “O diagnóstico é rápido e muito assertivo, feito por exames como a baciloscopia e, exames de biologia molecular, como PCR e também de cultura, todos realizados com amostra de escarro. Além de exames de imagem, como radiografia e tomografia de tórax”, completa Dr Alexandre.

Na fase latente, cada paciente pode contaminar até 15 pessoas

A fase latente da doença, quando ainda não apresenta sintomas, pode se estender por anos, até que a pessoa tenha uma queda de imunidade e a doença se manifeste.  Estima-se que cada paciente contaminado seja capaz de transmitir a tuberculose para outras 15 pessoas.

Após seu período latente, a doença pode evoluir de forma grave e rápida. Por isso, é fundamental que se faça o diagnóstico de maneira precoce e se inicie o tratamento o quanto antes, por meio de antibióticos, com duração de 6 meses.

O tratamento garante 100% de eficiência se não houver abandono ou interrupção. O tratamento pode ser longo, mas é de extrema importância que as pessoas o façam até o final para que a bactéria possa ser combatida e não crie resistência.

Dificuldade em combater a doença em países populosos e pobres

Durante a 55ª edição do Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, no Rio de Janeiro, o médico patologista Jorge Sosa, associado da Associação Médica Peruana de Patologia Clínica (AMPPC), disse que a OMS não vem conseguindo atingir suas metas para enfrentamento da doença na região.

“Em 2015 a OMS lançou uma estratégia para diagnóstico e tratamento de tuberculose mais consolidada. Mais tarde, no quinquênio 2018 – 2022, a meta era tratar 40 milhões de pessoas, o que se tornou impossível devido à pandemia da Covid-19. Dessa forma, os tratamentos conseguiram alcançar um pouco mais da metade do objetivo, e 26,3 milhões de pacientes receberam tratamento”, comentou ele, em sua exposição sobre resistência antimicrobiana molecular de Mycobacterium tuberculosis”.

Segundo o especialista, o Brasil ainda tem o agravante de ter cerca de mil casos, todos os anos que apresentam resistência ao tratamento. Por essa razão, há uma recomendação de priorizar testes de resistência a fluoroquinolonas e outros agentes, como a bedaquilina. “Para a investigação de resistência a medicamentos contra a doença, é importante incluir indivíduos de todas as faixas etárias, bem como outras mostras clinicamente relevantes para o diagnóstico da tuberculose”.

O médico patologista Juan Carlos Gomez, também membro da AMPPC, tratou de diagnósticos moleculares de tuberculose pulmonar e extra-pulmonar. O especialista reforçou a ideia de que é o laboratório que deve comandar o diagnóstico e escolher quais os melhores métodos que deverão ser adotados caso a caso.

Com Assessorias

 

 

 

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