O Brasil é o segundo país que passa mais tempo conectado à internet, segundo dados da pesquisa Hootsuite divulgados no ano passado. O número de usuários de redes sociais cresceu (9%) em 2018, sendo o principal ingresso para novos internautas acessarem a internet. A pesquisa ainda revela que o brasileiro fica em média mais de 9 horas na internet todos os dias, atrás apenas das Filipinas.
Em meio ao avanço do novo coronavírus e à necessidade da quarentena, a maioria da população iniciou o uso excessivo do celular e computador, deixando as pessoas ainda mais expostas à luz azul emitida por aparelhos eletrônicos. O efeito nocivo disso é bem conhecido pelos especialistas: o uso diário e prolongado destes aparelhos pode trazer sérios problemas oftalmológicos.
Os especialistas são unânimes quanto à necessidade de aumentar os cuidados com os olhos – e com os óculos – nesse momento de pandemia e de mudança de hábitos. Muito tem se discutido, por exemplo, sobre a importância de ter um tratamento especial para filtrar luz azul (e assim manter os olhos protegidos dos raios UV emitidos pelos aparelhos eletrônicos e telas).
Por isso, neste Dia Mundial da Saúde Ocular, celebrado em 10 de julho, especialistas alertam para a necessidade de ficar atento aos cuidados com essa exposição em excesso à luz azul, presente nos equipamentos eletrônicos modernos, que podem causar danos à visão.
O oftalmologista Luis Alexandre Rassi Gabriel, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, explica que luz azul é o comprimento de onda presente em todas as luzes brancas, porém, o espectro azul é o mais danoso para a retina.
Quanto maior o brilho da luz branca, maior a quantidade de luz azul. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, ela não está presente apenas em aparelhos eletrônicos, mas em qualquer luz branca. O sol, por exemplo, é o maior emissor de luz azul que temos”, afirma.
Um efeito conhecido dessa luz nas pessoas é a influência no sono. “Como a luz azul tem maior incidência na retina, que ajuda na produção do hormônio melatonina, quando se usa o celular na cama, por exemplo, antes de dormir temos um sono de menor qualidade. O ideal é ficar em ambientes com luz amarela pelo menos uma hora antes de ir deitar, pois essa cor é mais natural e agride menos os olhos”, explica o especialista.
Segundo ele, não há um tempo diário recomendado para uso dos eletrônicos, pois o dano que pode causar vai depender da intensidade do brilho da tela e da retina de cada pessoa, que possuem resistências distintas. Luis Alexandre revela que há diferentes filtros que podem ser colocados em óculos e lentes de contato para diminuir o efeito da luz azul.
Contudo, esses filtros não vêm nas lentes como os que protegem contra a luz ultravioleta, é necessário conversar com seu oftalmologista e descobrir o mais adequado a cada caso. Dependendo do paciente diferentes indicações são feitas, existem pelo menos oito tipos”, ressalta.
O especialista alerta que a questão do uso dos aparelhos eletrônicos afetar mais a visão quando se está com a luz ambiente desligada é um folclore e salienta que ainda não dá para precisar o impacto negativo do mundo digital na nova geração. “O uso das tecnologias se tornaram comuns de 20 anos para cá. Então, só daqui a cerca de 25 anos para se analisar isso ainda, pois as degenerações na retina costumam aparecer a partir dos 50 anos das pessoas”, analisa.
Dicas para evitar a luz azul
Para evitar o impacto negativo desta luminosidade à visão, o médico dá algumas dicas:
Optar por luz amarela nos ambientes, atualmente temos opções de led amarelo também.
Quanto mais distante a luz estiver é melhor, então se for possível, pode-se colocá-la mais alta para ficar mais fraca.
Outra dica é ativar o modo noturno dos eletrônicos, disponível em muitos celulares e computadores. Automaticamente o brilho da tela diminui quando se registra 18 ou 19 horas, por exemplo.
Pedir para o oftalmologista filtro para luz azul no óculos ou lentes de contato e diminuir o máximo que conseguir o brilho dos aparelhos eletrônicos.
Porta de entrada para o novo coronavírus
É bom ainda lembrar que os olhos representam uma preocupação em relação à Covid 19, já que alterações oculares também foram constatadas como sintomas da doença.
É importante que as pessoas procurem um oftalmologista caso apresentem qualquer sintoma, por mais inocente que possa parecer como ardor, coceira, edema nas pálpebras, olho seco, fotofobia, sensação de areia nos olhos e visão embaçada”, afirma Anderson Salgueiro,
oftalmologista da Clinica Neurovida .
O alerta vale também para os pacientes já possuem doenças oculares crônicas para que não deixem de acompanhá-las, evitando complicações que possam ser permanentes. Segundo ele, o especialista deve ser procurado quando houver qualquer alteração, já que a automedicação pode piorar a doença ou ainda provocar efeitos colaterais graves e indesejáveis.
Quem usa lentes de contato deve ficar atento. Elas são uma importante porta de entrada para infecções virais nos olhos, entre elas o novo coronavírus. Com isso deve-se aumentar ao máximo a limpeza e conservação das lentes e redobrar os cuidados ao colocar e retirar”, destaca o especialista.
Anderson Salgueiro adverte que, nesse período de pandemia somente as pessoas realmente dependentes das lentes de contato devem usá-las, como os míopes em alto grau e portadores de ceratocone. “Os óculos são uma opção segura, sendo uma proteção importante, pois impedem o contato de secreções e dificultam a colocação das mãos nos olhos, o que diminui a chance de contágio”, ressalta.
Falta de exames de rotina atrapalha
O Dia Mundial da Saúde Ocular (10/7), criado para ampliar a conscientização sobre a conexão da visão com a saúde geral, é uma ótima oportunidade para os oftalmologistas alertarem que o diagnóstico de problemas oculares não pode ser deixado de lado, principalmente pelo fato de também estarmos ainda mais expostos à luz de telas por conta de trabalho e aprendizado digitais.
Além da importância de ter um tratamento especial para filtrar luz azul (e assim manter os olhos protegidos dos raios UV emitidos pelos aparelhos eletrônicos e telas), para quem usa óculos, a correta higienização desses acessórios e a atenção aos materiais ideais são outras preocupações. As lentes anti-embaçamento, por exemplo, são uma excelente opção, especialmente em virtude do uso obrigatório de máscaras faciais.
Com o isolamento social, as principais movimentações do dia a dia tiveram de ser radicalmente reduzidas, inclusive aos consultórios médicos. No entanto, a falta de exames de rotina e check ups podem ter impactos negativos a longo prazo. Especialistas alertam para os motivos de ficar atento a sintomas e incluir consulta com oftalmologista na check list.
Diagnósticos de glaucomas e cataratas, por exemplo, não devem ser adiados, mas sim planejados com cautela para que não causem mais danos à visão. A miopia, por exemplo, já é considerada uma epidemia mundial e há milhares pacientes que têm o problema e desconhecem. Segundo o IBGE, 19% da população brasileira tem algum tipo de deficiência visual, o que é um número bastante expressivo.
A falta de um diagnóstico correto para os olhos, por exemplo, pode trazer danos a longo prazo à retina e, a curto prazo, incômodos como dor de cabeça e dificuldade de leitura para o adulto e a criança”, afirma César Lipener, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
Importância do diagnóstico precoce
No ano passado, o primeiro relatório mundial sobre visão publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) chamou atenção para um dado preocupante. Mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo estão vivendo com deficiência visual por não receberem os cuidados dos quais necessitam para condições como miopia, hipermetropia, glaucoma e catarata.
O dia 10 de julho, Dia Mundial da Saúde Ocular, serve como um alerta para a importância das visitas de rotina a um especialista, mesmo quando não há presença de nenhum sintoma específico nos olhos. Esses cuidados devem ser tomados desde cedo. Os pais devem ficar atentos aos problemas de visão de seus filhos. Anderson Salgueiro lembra da importância do “teste do olhinho” feito já na maternidade. Já a primeira consulta ao oftalmologista deve ocorrer aos 3 anos de idade.
É muito importante que a primeira consulta ao oftalmologista seja por volta dos 3 anos, mesmo que a criança não esteja alfabetizada ou os responsáveis não percebam nada de estranho. Assim, o médico pode descartar várias patologias, como alergias, glaucoma precoce, catarata congênita, estrabismo, e, se houver algum problema, começar o tratamento, sem maiores prejuízos a saúde ocular”, destaca.
De acordo com o oftalmologista, o diagnóstico precoce de qualquer doença é essencial para que um tratamento adequado impeça as sequelas que diferentes doenças oculares podem causar. Deve-se ter atenção também a criança alérgica e o hábito de coçar os olhos. Este pode causar até descolamento de retina. “A visão é muito importante no nosso dia a dia, por isso não devemos desprezar qualquer sintoma ou dúvida que possa existir, procure um especialista sempre que necessário e cuide de sua saúde visual”, ressalta.
Um exame oftalmológico pode detectar mais de 270 condições médicas diferentes – desde diabetes a doenças cardíacas. Segundo especialistas, é imprescindível consultar o oftalmologista pelo menos uma vez por ano, pois o acompanhamento médico e a rotina de exames podem prevenir e diagnosticar problemas precoces. Mas neste momento, é preciso estar atento e seguir as recomendações das organizações de saúde, caso seja necessária uma consulta médica.
7 motivos para cuidar dos olhos de forma simples e segura
Uma das principais recomendações para cuidar bem da saúde ocular em tempos de pandemia é manter as mãos sempre limpas e evitar levá-las aos olhos. De acordo com Débora Sivuchin, oftalmologista da Johnson & Johnson Vision, é importante seguir as orientações fornecidas pelas autoridades de saúde pública.
Nesse momento é importante conscientizarmos toda a população com informações relevantes sobre prevenção na propagação do novo vírus. Para os usuários de lentes de contato, a rotina não precisa mudar, desde que as recomendações de cuidados sejam seguidas rigorosamente”, afirma a especialista.
Há muito o que fazer em casa para ajudar a sua saúde ocular e o bem-estar geral, até que possa ser feita uma visita ao oftalmologista. A oftalmologista lista sete motivos para cuidar dos olhos de maneira simples e segura. Confira:
- Olhos secos, dores de cabeça e visão turva, são alguns dos sinais de que você passa muito tempo exposto a tela digital
- Certifique-se de seguir a regra 20-20-20 para dar uma pausa nos olhos: a cada 20 minutos, olhe para uma distância de 20 pés (6 metrôs) por 20 segundos
- Além disso, mantenha a tela do computador a uma distância de 50 centímetros afastada do rosto e ligeiramente abaixo do nível dos olhos.
- Parece que você está sempre olhando para uma tela? Lembre-se de fazer uma pausa para piscar.
- Tem vontade de esfregar os olhos? Use um lenço de papel em vez dos dedos.
- Concentre-se na saúde geral para melhorar a saúde ocular – comer corretamente, ser ativo, conhecer o histórico familiar – também pode ter um impacto em uma visão saudável.
- Imprima o quadro deste link e coloque em uma parede a cerca de 6 metros da tela do computador.
Com assessorias