Não basta ser pai, tem que participar. Cada vez mais o conceito de “paternidade ativa” se torna presente na vida de milhares de crianças, adolescentes e adultos.  Para o carioca Thiago Queiroz, de 38 anos, pai de três filhos – Dante, 7, Gael, 5 e de Maya, 1 – “tirando os super poderes de amamentar e parir, o homem tem que fazer exatamente a mesma coisa que a mulher na criação dos filhos”.

“Os homens têm plenas condições e devem fazer as mesmas coisas que as mulheres. Muitos caras se chocam quando falo isso, são caras que estão ali no meio do caminho, ou que não querem saber de assumir um papel mais ativo e presente da sua paternidade”, diz o criador do portal Paizinho, Vírgula!.

Para Heloísa Capelas, especialista em desenvolvimento humano e diretora do Centro Hoffman, “paternidade ativa é dividir, compartilhar e não apenas ajudar. Quem diz que está “ajudando”, não está consciente de que o papel do pai é dividir”. Segundo ela, muitos pais vêm evoluindo e derrubando alguns paradigmas machistas que os impede de assumir responsabilidade perante os filhos, de ser mais presentes em casa e mais parceiros.

No entanto, Heloísa defende que a mudança na cabeça de quem é pai precisa ser mais profunda, ir além. E alerta para a necessidade de despertar nos pais a consciência da Paternidade Ativa. “Se estiver consciente desses paradigmas limitantes, ele estará pronto para quebrá-los e realmente assumir seu papel de pai ativo. Ele terá uma relação muito mais profunda e mais ampla na criação do filho”, ressalta a especialista.

Divisão de tarefas imposta pela sociedade atrapalha

Mesmo com tantas ações e iniciativas a favor da paternidade ativa nos dias de hoje, Thiago acredita que ainda é uma pequena parcela de homens que está mudando e que ainda há um longo caminho a ser percorrido na sociedade.

Temos olhado para a nossa ‘bolha’, vendo melhoras, e às vezes ficamos até muito esperançosos. A gente está ajudando na evolução, isso realmente está acontecendo, mas ainda a passos muito curtos. Se você tirar um pouco a cabeça da ‘bolha’, olhar para fora, você vai ver que ainda tem muita coisa a fazer, ainda tem muito pai que se recusa trocar fralda de filho, ou que se recusa a trocar fralda de cocô, só troca fralda de xixi, que não faz absolutamente nada em casa se a mulher não pede.”

Segundo ele, pensar em ajudar em casa, em auxiliar nas tarefas, ainda é “ficar no meio do caminho, ou simplesmente em cima do muro”. E explica:

“Quando um homem e uma mulher se casam e tem filhos, logo existe uma tendência natural de divisão de tarefas imposta pela sociedade, mesmo que inconscientemente. A mulher começa a cuidar da autonomia do bebê, ou seja, ensina a vestir, a tomar banho, a ir ao banheiro, etc. Já o homem começa a se colocar no papel de provedor, de ajudante em apenas algumas situações e de herói que aponta o mundo, que abre as portas da rua para a criança”, ressalta.

Para o influenciador, muito desta dificuldade dos homens em se abrirem para relações afetivas, pode ser explicado na forma como o gênero masculino foi socializado:

É o homem que não pode dizer ‘eu te amo’ para outras pessoas, para outro homem. Não pode demonstrar fragilidade. Não pode dar sinais de afeto para outros homens. Tem que ser forte. Não pode chorar. Chorar é coisa de menina e ser menina é fraco na nossa sociedade. Demonstrar carinho, cuidado e afeto é fraqueza, dentro desse contexto de socialização. Então acho que essa é uma grande dificuldade que os homens têm hoje em dia”, conta Thiago.

‘Eu tinha pensamentos machistas e homofóbicos”

Thiago conta que também teve dificuldades durante esse processo. “Para muitos de nós a paternidade é uma porta que se apresenta aberta e você escolhe passar por ela ou não, né? Então escolhi entrar, abrir essa porta, passar por ela e explorar toda essa riqueza infinita de nuances e sentimentos que nunca havia explorado antes”, conta ele.

Ao se ‘consagrar como pai com a chegada de seu primeiro filho, Dante, Thiago quis que “tudo fosse diferente do que tinham feito com ele”. Começou a ler e estudar sobre criação com afeto, uma forma mais empática e afetiva de criar filhos com vínculos seguros.

Era um cara completamente diferente do que sou hoje. Tinha pensamentos bastante machistas e homofóbicos inclusive, mas me abri para a sensibilidade. Quando meu filho nasceu eu queria que fosse tudo diferente do que tinha como referência como pai, aquela figura provedora que não se envolvia afetivamente com os filhos. No momento que peguei meu filho no colo pela primeira vez, senti a ficha caindo. Não fazia o menor sentido eu querer seguir os mesmos padrões que tinha na cabeça. Foi aí que mergulhei de cabeça na paternidade e que de quebra mudou tanta coisa na minha vida e na minha mente, o olhar, a desconstrução”, conta o influenciador.

Foi aí que criou o grupo Criação com Apego no Facebook, hoje com mais de 32 mil pessoas, mas que na época tinham cerca de 50 pessoas. O conteúdo gerado foi fazendo tanto sucesso que Thiago criou o portal Paizinho, Vírgula!, um dos mais influentes sobre paternidade no Brasil. O site reúne também textos escritos por outros pais colaboradores e colunas escritas por especialistas em diversas áreas do cuidado e desenvolvimento infantil, como Pedagogia e Psicologia.

Atitudes que fazem a diferença

Para o criador de conteúdo, um dos mais importantes resultados desse trabalho está em conseguir de alguma forma tocar as pessoas e fazer a diferença. Thiago lembra uma ocasião que recebeu uma mensagem de uma mãe o agradecendo por seu trabalho. Ela estava muito feliz e emocionada porque tinha tentado de tudo para o marido dela mudar e o livro de uma certa forma o ajudou.

Ele não fazia nada com o filho, era super distante, não fazia nada em casa, era aquele tradicional. Quando ele acabou de ler o meu livro conversou com ela e pediu desculpas. Não quero dizer ‘oh, sou o salvador de casamentos’, mas acho que meu conteúdo foi um caminho para aquele cara entender o que ele deveria ter feito. Foi uma história bem marcante pra mim”, conta o influenciador.

 

Experiências de outros pais e outras realidades também são mostradas no site, trazendo vários tipos de paternidades, diferentes vivências. Um dos episódios do podcast Tricô de Pais trouxe Cézar Sant´Anna, homem trans e pai da Fernanda e convidado da live do #PapodePandemia do Portal ViDA & Ação deste sábado (8).

O Tricô de Pais surgiu com a insatisfação do criador de conteúdo por ter um público ainda majoritariamente feminino e desejar chegar cada vez mais nos homens para provocar reflexões importantes. No podcast, Thiago e mais dois pais, Thiago Berto e Victor Ourives, conversam sobre diversos temas de paternidade e masculinidade. 

Mostramos a vivência de um pai que é negro e as preocupações que ele tem com o filho negro, ou quando tem um filho branco, numa família inter racial, como essa dinâmica acontece, além de pais que são dragqueens. A gente está sempre buscando uma diversidade nesse diálogo porque acho que isso contribui muito. Você não é só pai e pronto, são vários tipos de paternidades diferentes e isso é muito bonito de se olhar e de se dialogar sobre”.

Na tentativa de cada vez mais alcançar mais pessoas e levar as reflexões sobre criação dos filhos, Thiago lançou em 2018 seu primeiro livro Abrace Seu Filho e seu trabalho tem reverbado nas redes sociais. No Instagram já são mais de 117 mil seguidores. No canal do YouTube, onde trata de temas como criação com afeto, disciplina positiva e paternidade, são mais de 62 mil inscritos.  No podcast são mais de 50 mil downloads mensais. Já no site, são cerca de 50 mil pageviews por mês.

Com Assessorias

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