Tropa da Solidariedade distribui quentinhas a moradores de rua do Rio

Conheça a história do rapper Shackal, líder da ropa da Solidariedade, que recolhe doações e as transforma em quentinhas para doação

Rapper Shackal lidera a Tropa da Solidariedade, recebendo e distribuindo doações de alimentos nas ruas do Rio (Foto: Divulgação)
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“A barriga não espera a cabeça raciocinar. Com fome fica difícil. Falar de amor, de vida, agora é dar comida para essas pessoas”, afirma o rapper Shackal, que já esteve em situação de rua. Hoje, ele lidera o projeto Tropa da Solidariedade. Desde o início de abril, o coletivo distribui, semanalmente, quentinhas orgânicas para pessoas em situação de rua no Centro do Rio de Janeiro e se prepara para chegar a outros bairros e comunidades, com apoio da sociedade civil organizada.

Esta semana, cerca de 3 mil quentinhas foram distribuídas a pessoas em situação de rua nas imediações da Lapa, Glória, Catete e Cinelândia, numa parceria entre a Tropa da Solidariedade, e o RioSolidario, obra social do Rio de Janeiro. Andando de um lado para o outro, sempre em contato direto com os moradores de rua, Shackal se mostrava realizado. “Volta e meia, nas nossas ações, ficava gente sem comer e hoje isso não aconteceu”.

Nascido na Rocinha, Shackal (Jorge Luiz Fernando dos Santos) teve uma trajetória ascendente como músico de 1992 a 2008, quando afundou na adição às drogas. Em um esforço de superação, e com a ajuda da planta medicinal africana ibogaína, em 2016 se recuperou inteiramente, e voltou ao convívio da família, retomando seu trabalho.

O rapper Shackal, que já viveu nas ruas por causa das drogas, coordena a Tropa da Solidariedade (Foto: Divulgação)

Ele próprio conheceu na pele o que é perder tudo, e sua história é a de superação, e seu objetivo é impulsionar pessoas em situação de risco. “Sei o que é passar fome, pois vivi nas ruas. Eu passei por tudo isso, e hoje tenho minha casa, tenho minha dignidade, luto pela minha dignidade a toda hora”, comenta.

É por isso que eu sonho, que eu luto, que eu acredito que a melhor forma de a gente contrapor, de resistir, de superar, de mostrar quem somos, é estar de pé, dignos, com saúde, força e esperança. Essas pessoas com sua casa, com alimentação ideal, com filho no colégio, com respeito e com dignidade, bem vestidas, com o semblante de esperança”, afirma o músico. 

Entrega de quentinhas pela Tropa da Solidariedade na Lapa (Foto: Divulgação)

3 mil quentinhas entregues na Lapa

O músico viu a urgência de retomar o quanto antes essas ações, ao ver às 7h da manhã pessoas na fila de um órgão público, aguardando seu tíquete para o almoço. “Quer dizer, não tem mais café da manhã. A pessoa está esperando na fila pra não perder o almoço. Sem esperança, sem respeito, sem humanidade. Igualzinho a botar todo mundo em uma câmara de gás. Nada diferente. Só estão matando de uma outra forma”, compara.

Um dos beneficiados na ação desta semana era um senhor de 60 anos, conhecido pelos colegas como Morgan Freeman carioca devido à semelhança com o ator americano. Ele aproveitava o almoço, enquanto mostrava seus chaveiros e lembranças que tentou vender em vão durante toda a manhã. “Irmão, não tem ninguém aqui. Esse rango caiu do céu”, disse, ao ver Shackal. “Agora deixa eu correr aqui que tem um grupo de gringos ali na praça e vou tentar vender alguma coisa”.

Além dos sem-teto, a ação encontrou muita gente nas ruas sem dinheiro para voltar para casa. Um retrato da quebra da cadeia produtiva da economia e do turismo, que alimentava o comércio ambulante da região e está afetada pela pandemia. A ação continua nesta quarta.

“Eu vim aqui para tentar vender meus produtos de beleza, mas não tem ninguém na Lapa. Foi a primeira vez que pedi comida na rua”, disse uma senhora, que não quis se identificar, acompanhada do filho. “Eu vou para Copacabana tentar alguma coisa lá. Mas vou a pé, não temos dinheiro para o ônibus”. Ela almoçou nas escadas da Sala Cecília Meireles e elogiou a comida.

Entrega de quentinhas pela Tropa da Solidariedade no Centro do Rio (Foto: Divulgação)

Quentinhas preparadas pelo RioSolidario na Favela do Batan

Compostas por arroz, feijão, farofa e um ensopado de peito de frango, cenoura e batata, as quentinhas foram preparadas numa das creches que o RioSolidario administra, na favela do Batan, Zona Oeste do Rio, numa ação para evitar que estragasse os alimentos estocados desde o início da pandemia. “Foi um desafio muito grande, pois nunca tínhamos feito tantas refeições. E deu tudo certo”, disse a diretora do Espaço de Educação Infantil BatanMajoi de Miranda, à espera do retorno às aulas em breve. “É uma causa nobre e juntamos as equipes de nossas três creches”.

O diretor-executivo do RioSolidario, Himalaia Galvão, ajudou na distribuição das quentinhas, sempre feita em filas organizadas para evitar aglomerações. “No RioSolidario nós temos meios e recursos para ajudar quem atua nos territórios. Não dá pra gente ficar de braços cruzados. A Tropa já está habituada com este tipo de ação e por isso essa parceria tem tudo para dar certo. Estamos num projeto piloto”.

Além da quentinha, foram distribuídos talheres de plástico e aplicado álcool em gel nas mãos de quem recebia. Ao término da ação, o rapper Shackal estava emocionado. “Essa é uma parceria especial. Começamos com a ajuda de pretos americanos, da minha conexão com o Brooklin. Agora já estamos com cestas básicas e tem até gente da Zona Sul pedindo”, conta.

Tropa da Solidariedade busca mais doadores para ampliar suas ações

Voluntários do Projeto Tropa da Solidariedade, coordenado pelo rapper Shackal (Foto: Divulgação)

A Tropa da Solidariedade distribui de 200 a 300 quentinhas por final de semana. A meta é no mínimo distribuir 1.500 quentinhas, mais de 500 cestas básicas, além de álcool gel e roupas, ajudando mais de duas mil famílias. No ano passado, foram distribuídas quentinhas orgânicas e itens de higiene como papel higiênico, álcool gel e máscaras para mais de cinco mil famílias moradoras da Lapa e do Centro.

O grupo de voluntários se reúne na Rua do Russell, na Glória, para a compra de alimentos de pequenos produtores na feira orgânica da praça, e segue para o Centro Cultural Casa de Luzia (Rua Evaristo da Veiga 149, esquina com Joaquim Silva, Lapa), para o preparo das quentinhas. Em torno das 13h o grupo sai para a distribuição. “Da terra pra mesa”, diz Shackal. 

À medida que a campanha for ganhando mais adesão, serão distribuídos também cestas básicas, com alimentos sem agrotóxicos, e material para o combate à Covid, como álcool gel, material de limpeza e máscaras. Também se pretende aumentar o raio de ação para moradores de favelas cariocas. Para isso é importante a doação, de qualquer quantia, que pode ser feita diretamente a partir do site. 

O projeto Tropa ganhou um espaço na Lapa para instalar sua sede, que oferecerá gratuitamente atividades educativas com enfoque social. O projeto está sendo legalizado graças a um financiamento coletivo ocorrido em março. Com sua sede, a Tropa começará a se estruturar para oferecer perspectiva de vida a milhares de pessoas através de um espaço voltado ao desenvolvimento de habilidades profissionais e artísticas, oferecendo acolhimento, cursos, palestras e uma estrutura potente para a realização de atividades culturais.

Para esta empreitada, Shackal conta com uma rede de voluntários e apoiadores, como os artistas ART.doavesso, BNegão, Cabelo, Carlos Bobi, Choice MC, Dora de Assis, Ernesto Piccolo, Felipe Ret, Jota Pepax, Lidia Viber, Marcelo Ment, MC Menor do Chapa, Mãolee, Pequeninica, Rafael Moreno, entre outros. A rede de restaurantes Ximenes Lapa, o Hotel Selina e o Rio Solidário também estão apoiando o projeto. Se tudo der certo e surgirem novos doadores, a ação pode virar permanente. Afinal, a fome não dá trégua.

Rapper Shackal compra alimentos de pequenos produtores na feira orgânica da Praça do Russell para fazer as quentinhas (Foto: Divulgação)

Selo para empresas que contratem moradores de rua 

A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou, em discussão única, na quarta-feira (5/5), o projeto de lei 3.527/21, da deputada Tia Ju (REP), que propõe a criação do selo “Empresa Amiga da População em Situação de Rua”. O objetivo é reconhecer empresas que proponham a contratação dessas pessoas.

A certificação será atribuída às empresas que realizarem a contratação de pessoas em situação de rua ou implementarem projetos de inclusão social através da capacitação profissional. O selo terá validade de dois anos, cabendo renovação bienal sem limite. As empresas poderão utilizar o selo em seus produtos ou em publicidades.

É inegável que a oportunidade de emprego é a meta prioritária a ser alcançada para garantir o acesso à cidadania plena. Afinal, um cidadão só é pleno se puder assegurar para si os recursos necessários para o seu sustento e para que tenha qualidade de vida”, justificou a autora.

O selo deverá ser solicitado à Secretaria de Estado de Trabalho e Renda do Rio de Janeiro (Setrab). O texto da nova lei seguirá para o governador Cláudio Castro, que tem até 15 dias úteis para sancioná-lo ou vetá-lo. O Poder Executivo deverá regulamentar a norma através de decretos.

Com Assessorias

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