A regra é clara: quem nunca sentiu dor de barriga em momentos de ansiedade ou estresse? Não é coincidência, visto que o cérebro e o sistema digestivo estão estritamente interligados. No intestino, estão presentes bactérias que compõem a “microbiota intestinal”.

Os tipos e as quantidades desses microrganismos são influenciados pelo padrão alimentar, visto que os produtos da digestão interagem com essas bactérias, fazendo com que produzam substâncias que interferem em vias sistêmicas do corpo, inclusive as relacionadas às funções cerebrais.

É o caso do triptofano, o aminoácido precursor da serotonina. Ou seja, é necessário para que tenha a formação e a liberação desse hormônio, o qual está relacionado com o bem-estar. Por isso, as emoções influenciam na sensação geral de prazer, bem como a alimentação impacta a saúde cerebral. 

Não à toa um dos primeiros sinais de desordens gastrointestinais é o desequilíbrio emocional, que leva a uma alteração de humor, pois 95% da serotonina são produzidos no intestino.

Por isso, a alimentação saudável, tanto do ponto de vista qualitativo quanto do ponto de vista quantitativo, auxilia na prevenção e no tratamento das doenças inflamatórias intestinais (DII).

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), as DIIs atingem mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo e a incidência média fica em torno de 7 para cada 100 mil habitantes, constatando progressivo aumento na ocorrência de novos casos.

A causa é multifatorial e engloba fatores genéticos e ambientais, como o estilo de vida ocidentalizado, incluindo padrão alimentar caracterizado pelo alto consumo de proteínas e gorduras saturadas e baixa ingestão de vegetais, frutas e fibras que favorecem o ambiente pró-inflamatório, além de fatores como urbanismo, melhoria da higiene, aumento do uso de antibióticos e ingestão de anticoncepcionais orais.

Todas essas condições interferem na microbiota do corpo como um todo, afetando as defesas naturais. As DII são divididas em dois subtipos: colite ulcerativa com acometimento, principalmente do cólon, e Doença de Crohn, que pode afetar qualquer região do trato gastrointestinal.

As pessoas comumente são acometidas por esses males no início da idade adulta, mas é possível ocorrer em qualquer fase da vida. Nos últimos anos, a prevalência tem aumentado, atingindo desde crianças até idosos.

Para colorir o mês de maio e marcar o World IBD Day (Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal, celebrado em 19 de maio), a campanha de conscientizaçãoMaio Roxo, visa conscientizar e alertar a sociedade para importância de diagnóstico precoce e tratamento dessas doenças.

A campanha é encabeçada pelas Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD), e Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil (GEDIIB).

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SOS: o que evitar na fase de ativação da doença

Os sintomas são intestino preso ou solto demais, gases, dores abdominais, acne, manchas pelo corpo, dor de cabeça, queda de cabelo. Por isso, quando o paciente estiver com a doença ativa, deve-se pensar em quais são os sintomas predominantes para que a dieta seja ajustada de forma a contribuir com a sua diminuição.

De acordo com a nutricionista e consultora da Jasmine Alimentos, Adriana Zanardo, é necessário pensar nos alimentos que têm fácil digestão para não demandar tanto do trato gastrointestinal, considerando que já está consideravelmente inflamado em decorrência da doença.

“Pensando nisso, alguns alimentos, apesar de serem saudáveis, podem ser reduzidos por um período até o restabelecimento da homeostase intestinal”, explica a nutricionista.

O ômega-6 é a família de ácidos graxos que, ao contrário do ômega-3, possui ação pró-inflamatória quando ingerido em quantidades elevadas, estando presentes em óleos vegetais e margarina. Segundo estudos, o risco de desenvolver colite ulcerativa é duas vezes maior em pacientes com alta ingestão de ômega-6.

Ainda, a sucralose, sacarina, aspartame, ciclamato e outros adoçantes artificiais podem aumentar o risco de DII. Da mesma forma, emulsificantes também podem aumentar o risco de desenvolvimento de colite devido à alteração da microbiota e da mucosa intestinal, com possível supercrescimento de Escherichia coli e proteobactérias, que, consequentemente, aumentam a inflamação e danos intestinais.

Alimentos fermentáveis, oligo, di, monossacarídeos e polióis possuem carboidratos de cadeia curta que são mal absorvidos e podem desencadear inchaço abdominal, dor, flatulência e diarreia.

Esses alimentos são: cebola, alho, ervilha, beterraba, couve, milho, couve-flor, maçã, pera, manga, melancia, pêssego, ameixa, abacate, leite de vaca, queijo fresco, ricota, feijão, grão-de-bico, soja, trigo, centeio, castanha de caju, pistache. Industrializados com xarope de milho, glicose, sacarose e polióis (xilitol, manitol e sorbitol) também causam sintomas.

Alimentando as boas bactérias intestinais: o que pôr à mesa 

Estudos apontam que 50% das pessoas que tiveram redução do consumo desse grupo de alimentos apresentaram melhora dos sintomas. Por isso, a analista de P&D da Jasmine Alimentos, Erika Rodrigues explica que devemos priorizar a tradicional comida de verdade.

“A base dessa alimentação deve conter verduras, como folhas em geral, alface, rúcula, agrião, legumes como abobrinha, brócolis e couve-flor e frutas. As leguminosas – ou seja, feijão, lentilha e ervilha – e as fontes de proteínas com quantidades menores de gorduras saturadas, como peixes e ovos, complementam o que chamamos de comida de verdade. Oleaginosas como castanhas-do-pará, castanha de caju e amêndoa também são muito importantes. As sementes de abóbora, de gergelim, de linhaça e os grãos e cereais integrais como arroz integral, quinoa, aveia são indispensáveis”, diz.

Outro nutriente relevante é a fibra, visto que a ingestão adequada deste nutriente colabora com a redução do risco das DII a longo prazo. Esse nutriente está presente em frutas, verduras, legumes, leguminosas, grãos e cereais integrais, além de sementes de linhaça e de chia.

Essa base de alimentação possui nutrientes e compostos bioativos que atuam diretamente na inativação de vias pró-inflamatórias, assim como na redução de substâncias relacionadas à inflamação, contribuindo para o controle da dor, cicatrização e reparação da mucosa. Ainda, atuam como pré e probióticos, proporcionando e preservando uma microbiota saudável, ou seja, crescimento e desenvolvimento de bactérias benéficas para a saúde intestinal.

“Em relação aos compostos bioativos, sabe-se que o polifenol e suas classes flavonóides, estilbenos, ácidos fenólicos e lignanas têm propriedades anti-inflamatórias e podem reduzir o estresse oxidativo decorrente de patologias, podendo contribuir para a melhoria dos sintomas das doenças inflamatórias intestinais. Em outras palavras, priorize o consumo de vegetais e frutas como cebola, brócolis, alho e frutas vermelhas que possuem ação antioxidante e efeitos anti-inflamatórios”, detalha a nutricionista Adriana Zanardo.

Por fim, cabe ressaltar que os alimentos de coloração vermelha e roxa como uva, morango, framboesa, mirtilo, açaí, goji berry e cranberry também têm propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. “Uma dica imprescindível é o consumo do açafrão, também conhecido como cúrcuma. Seu uso diário foi relacionado com a remissão clínica da colite em pacientes que mantiveram o tratamento medicamentoso indicado para o quadro”, explica Adriana.

Benefícios do mel para a saúde intestinal

De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, um intestino saudável depende de três elementos que estão interligados: a ingestão de água, o consumo de fibras e a prática regular de atividades físicas. 

“O bom funcionamento do intestino promove uma rotina mais leve e equilibrada, impactando diretamente a qualidade de vida de cada indivíduo. Mas a tendência nos dias de hoje é buscar aquilo que é mais prático. Dessa forma, muita gente acaba optando pelos alimentos processados”, relata Daniel Cavalcante, doutor em Tecnologia de Alimentos e CEO da Baldoni.

Por isso, é fundamental ter o entendimento da alimentação saudável como um fator determinante para a manutenção da saúde. Ele ressalta que um dos alimentos que ajudam na boa saúde gastrointestinal é o mel de abelha.

“O mel é um aliado não só do intestino, mas da saúde como um todo, sendo rico em nutrientes, capaz de contribuir para a atividade probiótica e regular o intestino, além de favorecer a regulação da pressão arterial, reduzir o risco de câncer e dos níveis de colesterol”, explica.

Ozonioterapia pode ajudar na imunidade

As as doenças inflamatórias intestinais são consequência de uma alimentação rica em gorduras, açúcar e sal, estresse, falta de atividade física e hidratação. Segundo Poliane Cardoso, fisioterapeuta especialista em Dermatofuncional, Medicina Funcional e Ortomolecular, elas geralmente começam em um ambiente onde está com a imunidade reduzida.

“A disbiose, desequilíbrio entre bactérias boas, acaba favorecendo as inflamações da flora intestinal. A ozonioterapia pode diminuir a inflamação. O procedimento vai limpar o intestino se for na via intestinal. Vai diminuir as dores, aumentar a imunidade, e agir tanto no processo inflamatório, quanto no aumento da imunidade e oxigenação”, afirma.

Receita caseira para limpar o intestino

Poliane Cardoso indica uma receita simples para começar a limpar o intestino em casa. O método se chama Detox Turbo, que inclui o uso de probióticos, um shot com cúrcuma, que é um potente anti-inflamatório da natureza, limão e água. Quem quiser, também pode colocar bicarbonato de sódio para alcalinizar o corpo.

“Indico consumir logo pela manhã, ajuda muito e utilizo para vários pacientes que precisam imunidade intestinal. Outra sugestão é cozinhar uma maçã vermelha com casca e tudo, sete minutos. Retire as sementes e pode comer.  Essas fibras, que são os prebióticos, são maravilhosos para a nossa saúde intestinal”, finaliza.

Com Assessorias

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