Maio Roxo alerta para doenças inflamatórias intestinais

Doença de Crohn e retocolite ulcerativa não têm cura. Especialistas explicam principais diferenças entre elas, como diagnosticar e tratar

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A Federação Europeia de Associações de Crohn e Colite Ulcerativa (EFCCA) estima que as doenças intestinais atingem cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo. Segundo a Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD), ainda não se sabe qual a incidência no país. Mas estima-se que existam mais de 2 milhões de pacientes com Doença Inflamatória Intestinal (DII) nos Estados Unidos.

No Brasil, não existem dados precisos sobre prevalência dessas enfermidades. Entretanto, estudos indicam que no Estado de São Paulo existem 52,5 casos por 100 mil habitantes, dos quais 53,8% são portadores de retocolite ulcerativa e 46,2% de doença de Crohn. Segundo os dados mais recentes da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, essas doenças já atingiam mais de 13 em cada 100 mil habitantes no país em 2018.

Pesquisa Datafolha (2017), encomendada pela AbbVie, indicou que aproximadamente dois terços dos brasileiros  associam a dor de barriga ou diarreia  a uma simples virose.  Poucos associam a dor de barriga frequente e persistente a doenças mais sérias, como câncer, doença de Crohn e retocolite ulcerativa.

O fato de se tornarem mais comuns a cada ano fez as Doenças Inflamatórias Intestinais ganharem um mês próprio de alerta e conscientização: o Maio Roxo. O Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal (DII), instituído em 19 de maio, marca o mês da campanha, que tem como objetivo promover maior conscientização sobre as DIIs e a melhoria na qualidade de vida dos pacientes.

A iniciativa tem por objetivo chamar a atenção da sociedade sobre essas
enfermidades, mostrando a importância do diagnóstico precoce e
do tratamento correto – elementos fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, afirma Marco Paschoalin, diretor médico da AbbVie Brasil, companhia que apoia as iniciativas de Maio Roxo.

Impacto na qualidade de vida e medo de câncer

Estas doenças podem levar à incapacidade física e a hospitalizações recorrente. Um estudo recente divulgado por uma indústria farmacêutica com presença no Brasil apontou o impacto das DIIs na saúde e na qualidade de vida causado pelo desconforto intestinal, como queda no rendimento do trabalho e perda de eventos.

A pesquisa da UC Narrative, realizada on-line pela The Harris Poll, entre junho de 2020 e 31 de março de 2021, com 85 pacientes que vivem com retocolite ulcerativa, apontou que 28% não foram a eventos com seus filhos pelos efeitos da doença; 9% afirmaram ir entre 15 e 19 vezes ao banheiro em dias de crise e 6% têm urgência em ir ao banheiro.

A doença gera transtornos à vida profissional: 28% faltaram ao trabalho entre 4 e 9 vezes por conta dos sintomas, e 55% relataram que sentem muita dor ou se distraem com as necessidades diárias e não conseguem se concentrar no trabalho. 

A mesma pesquisa mostrou que o risco potencial e o medo de desenvolver câncer foi citado por 59% dos entrevistados. Já 44% apontaram a necessidade de uma colectomia, procedimento cirúrgico para remover a totalidade ou parte do cólon.

Risco de desenvolver úlcera e precisar de cirurgia

Dor abdominal, cólica e diarreia são alguns dos sintomas das doenças inflamatórias intestinais, um grupo de enfermidades crônicas, que provocam um impacto significativo sobre a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. As mais conhecidas são a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa ou retocolite ulcerativa. 

Apesar de as DII acometerem indivíduos de todas as idades, elas são mais frequentes em jovens, com pico principal entre os 15 e 35 anos. Outro pico observado é numa faixa etária mais avançada, entre os 55 e 75 anos. Os homens e as mulheres parecem ser afetados em igual proporção — apenas nota-se que a doença de Crohn tem um ligeiro predomínio em mulheres.

O médico Luiz Carlos Nascimento Bertoncello, gastroenterologista do Vera Cruz Hospital, explica que as DIIs são doenças crônicas que se manifestam por meio de lesões no intestino ou ao longo do sistema digestivo. Quando mais graves ou avançadas, podem se transformar em úlceras e levar o paciente a internações ou cirurgias.

Segundo ele, muitos pacientes que convivem com doenças crônicas, como é o caso das doenças inflamatórias intestinais, estão enfrentando problemas para continuar com o seu tratamento. “Falar sobre o impacto das DIIs no dia a dia destes pacientes é uma forma de apoiar essas pessoas ao longo da sua jornada”, afirma Marco Paschoalin.

Doenças sem cura e de causas desconhecidas

De acordo com Paulo Mafra, médico gastroenterologista que integra o corpo clínico do Hospital Dona Helena, de Joinville (SC), as causas das DII ainda são desconhecidas. Alguns fatores, segundo o profissional, desencadeiam uma inflamação muito grande nas paredes do intestino, levando às DII.

A doença ocorre após uma resposta do sistema imunológico do indivíduo, provavelmente relacionada com fatores genéticos; fatores ambientais (vírus e bactérias); dieta com consumo exagerado de comidas industrializadas, com alto índice de gordura; tabagismo e estresse”, aponta.

Bertoncello alerta que quem tem este tipo de problema deve realizar exames com frequência, pois possui maior risco de desenvolver câncer intestinal, posteriormente. Por isso, o Maio Roxo é um movimento tão relevante e que reforça a importância do diagnóstico precoce e tratamento das doenças envolvidas, sendo as principais delas Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa”, explica

Diferença entre doença de Crohn e retocolite ulcerativa

Paulo Mafra explica que a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa não têm cura e explica as principais diferenças entre elas. A doença de Crohn afeta predominantemente a parte distal do intestino delgado (íleo) e o intestino grosso (cólon), mas pode acometer qualquer parte do trato gastrointestinal.

Diferentemente da doença de Crohn, em que todas as camadas da parede intestinal podem estar envolvidas e na qual pode haver segmentos de intestino saudável, normal, entre os segmentos doentes; a retocolite ulcerativa se caracteriza por acometer o cólon e o reto, atingindo mais a camada mucosa, provocando uma doença mais contínua.

Os sintomas vão se relacionar muito com a extensão e a gravidade da doença. Os mais comuns são a diarreia, que pode ter, às vezes, sangue, muco ou pus; dores abdominais; cansaço; perda de peso não intencional; febre; evacuações com sangue; diminuição de apetite; e problemas na região peri-anal e no ânus”, elenca o médico.

Ele lembra ainda que, às vezes, essas doenças, apesar de acometerem o intestino, também têm manifestações fora dele, as chamadas manifestações extra-intestinais, atingindo, por exemplo, as articulações, a pele, os olhos e o fígado.”

Bertoncello ainda diz que, na retocolite ulcerativa, a parte que sofre alterações é o cólon, o maior segmento do intestino grosso. Já na doença de Crohn, a inflamação pode ocorrer em qualquer parte do tubo digestivo, desde a boca até o ânus.

Ambas podem ser progressivas, se não tratadas, e causam muito desconforto na vida dos pacientes, atrapalhando seu estudo e seu trabalho. Podem causar um prejuízo significativo, além de serem potencialmente graves, podendo levar a perfurações no trato digestivo”, reforça.

Colonoscopia e biópsia no diagnóstico

Não existe exame específico para identificar as DII, mas os pacientes podem ser submetidos a exames laboratoriais, de imagem e endoscópicos, como a colonoscopia. “O diagnóstico vai ser baseado numa boa avaliação clínica, numa boa anamnese do paciente”, frisa Dr Paulo Mafra.

A colonoscopia, um procedimento feito pelo ânus, para avaliação do intestino grosso e do final do delgado — o íleo terminal —, é um dos principais exames para investigação dessas doenças e para diferenciação entre elas”, aponta.

Além da visualização pelo exame, há coleta de biópsias que auxiliam na melhoria do diagnóstico. É possível ainda fazer exames radiológicos, como tomografia computadorizada, ressonância magnética, enteroscopia e, em alguns casos, até o exame da cápsula endoscópica. 

O diagnóstico da DII é feito baseado na história clínica do paciente, sendo a diarreia crônica um sintoma frequente, geralmente acompanhado por sangue, dores abdominais, fraqueza e perda de peso. Além de exames laboratoriais, que sugerem um processo inflamatório, é realizada a colonoscopia, exame mais importante para gerar o diagnóstico.

A expressão destes sintomas, porém, não é constante. Eles alternam entre períodos de crise e períodos estáveis, que é quando o mal-estar parece estar curado e faz com que muitas pessoas não procurem uma investigação médica adequada para o tratamento”, alerta.

Tratamento inclui corticoide, cirurgia e mudança de hábitos

Ainda segundo o especialista, doenças inflamatórias que não têm cura podem ser amenizadas ou mesmo controladas. Hoje, grande parte dos pacientes com DII tem sua inflamação controlada com a medicação, sem nenhum sintoma por logo período de tempo. Tem uma vida completamente normal, sem dor ou qualquer outra queixa”, afirma Bertoncello.

O tratamento das doenças inflamatórias intestinais é principalmente medicamentoso. O objetivo é diminuir os sintomas da fase aguda e depois manter o controle da doença ao longo da vida, com acompanhamento clínico.

Usamos algumas drogas, como os derivados salicílicos, os corticosteróides, os imunossupressores e os agentes biológicos. Além dos antibióticos, que utilizamos mais nos quadros infecciosos, como os que cursam com abcessos e fístulas anais”, detalha Paulo, sublinhando que o tratamento cirúrgico geralmente é reservado para as situações mais complexas.

Complicações graves podem ocorrer caso o paciente não trate a DII. Por isso, a importância do diagnóstico precoce. “No caso da retocolite ulcerativa, se não tratada, pode gerar colites graves, perfuração intestinal, megacólon tóxico, que é uma distensão exagerada do intestino (podendo levar à formação de úlceras e de perfuração do mesmo), sangramento retal e o risco aumentado de neoplasia, de câncer de intestino”, alerta o gastroenterologista. 

Na doença de Crohn, podem ocorrer complicações infecciosas como os abscessos intra-abdominais, e o paciente também pode apresentar perfurações intestinais. “Pode ocorrer estenose, o estreitamento da parede do intestino, obstrução intestinal, além do aparecimento de fístulas anais”, completa.

Terapia Infusional no controle das doenças

Os tratamentos geralmente são feitos pela ingestão de medicamentos orais, combinada com a terapia infusional, que nada mais é do que a aplicação de medicamentos intravenosos (na veia) ou subcutâneos (sob a pele) de forma rotineira. O objetivo é eliminar e controlar a inflamação por longo período de tempo, bem como proporcionar bem-estar e melhora da qualidade de vida dos pacientes, também diminuindo internações e cirurgias.

A terapia infusional especializada deve ser introduzida dependendo da gravidade da inflamação, bem como na falha da terapia convencional. É importante salientar que quanto mais precoce o início do tratamento, melhores são os resultados”, explica Bertoncello, que coordena o procedimento.

Desde setembro do ano passado, o Vera Cruz Hospital, em Campinas, conta com um Centro de Infusão, cujo tratamento para DIIs tem sido o segundo mais procurado da instituição, atrás apenas de artrite. Apesar de estar apenas no início de suas atividades, já foram feitos, pelo menos, 1,2 mil tratamentos.

O ambulatório acolhe pacientes de toda a região, encaminhados por especialistas, que tenham necessidade de terapia infusional para várias especialidades, como ortopedia, neurologia, dermatologia, reumatologia, endocrinologia, gastroenterologia, coloproctologia, pediatria, entre outras.

Esse tipo de procedimento nos permite um atendimento especializado, com segurança, supervisionado pela equipe médica e de enfermagem. O tratamento é humanizado, com instalações modernas e tecnologia atualizada, fazendo com que o profissional médico tenha a certeza de que seus pacientes estão recebendo um atendimento diferenciado e de excelência”, garante.

Com Assessorias

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