Depois de acompanhar 200 mil mulheres por 16 anos, a pesquisa da Ovarian Cancer Research Alliance (OCRA), de Nova York, concluiu que a maioria dos casos de câncer de ovário têm origem nas trompas de falópio, portanto, sua remoção passa a ser mais indicada do que a já conhecida laqueadura
Há apenas um mês foi anunciada a nova recomendação do Instituto de Pesquisa do Câncer de Ovário de Nova York (OCRA): mulheres que já não pensam em ter mais filhos devem considerar a retirada de suas trompas de falópio, em vez de simplesmente fazer a laqueadura.
A orientação assusta, mas é fundamentada num importante dado da Sociedade Americana do Câncer (ACS): a maioria dos casos de carcinomas serosos de alto grau (tipo mais comum de câncer de ovário) nascem nas trompas.
O estudo da OCRA foi publicado na The Lancet, respeitada revista científica de medicina, e foi conduzido no Reino Unido, com 200 mil mulheres, acompanhadas por 16 anos.
A expectativa era de que o estudo indicasse que a detecção precoce da doença seria capaz de baixar a taxa de mortalidade, o que não foi o caso e gerou grande decepção na comunidade médica. Porém, ficou evidente que a remoção das trompas pode, sim, reduzir essa taxa.
Para se ter uma ideia da situação no Brasil, as estruturas de pesquisa atuais do Instituto Nacional de Câncer (Inca) prevêem o surgimento de mais de 7,3 mil casos de câncer de ovário por ano, o que revela uma taxa de 6,62 casos novos a cada 100 mil mulheres.
Quem pode ou deve fazer a remoção das trompas?
O ginecologista e obstetra pela USP e médico do Hospital Albert Einstein, Igor Padovesi, explica que, por ora, a atual recomendação tem foco em mulheres que vão fazer outra cirurgia abdominal qualquer, como vesícula, apêndice, cirurgias intestinais, bariátrica etc.
“Essas mulheres podem conversar com seus médicos sobre isso e, oportunamente, removerem suas trompas como forma eficaz de evitar esse câncer agressivo e de alta mortalidade”, diz o especialista, lembrando que a opção é pertinente a mulheres que, decididamente, não têm mais a intenção de engravidar.
Os tumores de ovário estão entre os que mais afetam as mulheres. É a segunda neoplasia ginecológica mais comum, atrás apenas do câncer de colo do útero, e é o mais letal entre os cânceres ginecológicos. Entre as brasileiras, esse é o 7º tipo de câncer com maior incidência e em escala global é a 8ª neoplasia mais comum, podendo chegar a 300 mil casos novos por ano.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são estimados 6650 casos por ano no Brasil. Um levantamento realizado pelo INCA mostrou que os estados com as maiores incidências da doença em 2020 foram Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Distrito Federal.
Os dados do Inca reforçam a importância de se falar abertamente sobre a possível retirada das trompas. “Já há alguns anos existe essa recomendação a mulheres que desejam se submeter à esterilização definitiva, mas a imensa maioria dos médicos ainda não está atualizada sobre essa proposta”, revela Dr. Igor.
A avaliação positiva do ginecologista em relação à chamada salpingectomia oportunista ganha maior peso quando se trata de pacientes que têm propensão comprovada a desenvolver a doença. “A esse perfil de mulheres a remoção das trompas de falópio já é recomendada há muitos anos”, diz ele, reforçando que se trata de um procedimento de baixo risco.
Sem rastreamento, câncer de ovário raramente tem diagnóstico precoce
Com 6 mil novos casos por ano segundo o INCA, câncer de ovário está no top 10 de doenças mais comuns entre brasileiras
“Não tem um programa de rastreamento de câncer de ovário para mulheres da população geral, justamente porque tem muitos tumores ovarianos benignos e, ao fazer exames de imagem ou de sangue em mulheres sem sintomas, acaba se indicando muitas cirurgias desnecessárias e que apresentam complicações”, destaca a ginecologista Sophie Derchain, e membro da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Oncológica da Febrasgo.
Segundo ela, como os cânceres de ovário muitas vezes aparecem rapidamente, raramente são detectados em estágios iniciais, e fazer exames periódicos não diminui a mortalidade das mulheres rastreadas.
Conceitualmente, o câncer de ovário é uma neoplasia invasiva (maligna) das gônadas femininas, ou seja, uma replicação desordenada de células malignas que invadem primeiro o ovário e depois podem se espalhar para o órgãos da pelve e abdome superior, assim como as vísceras como o fígado ou o pulmão.
A especialista da Febrasgo esclarece, contudo, que é importante entender que, na maior parte das vezes, mulheres que apresentam um tumor ou cisto no ovário não têm câncer, mas sim uma lesão funcional ou benigna.
Perimenopausa e pós-menopausa
No calendário da saúde, 8 de maio destaca-se como o Dia Mundial da Conscientização sobre o Câncer de Ovário. As campanhas que despertam atenção para datas como essa são fundamentais para ampliar o alcance de informações a respeito da prevenção e tratamento do câncer.
A doença não costuma apresentar sintomas em sua fase inicial, porém, quando está no estágio avançado, sintomas como inchaços abdominais, perda de peso, dor pélvica e alterações dos hábitos intestinais e urinários são mais comuns.
O câncer de ovário atinge principalmente mulheres na perimenopausa e na pós-menopausa e pode ter seu risco aumentando caso exista histórico de incidência em parentes de 1º grau, nuliparidade (condição em que a mulher é incapaz de reproduzir), idade fértil atrasada, menarca precoce, menopausa atrasada, histórico pessoal ou familiar de câncer de mama, endometrial ou de cólon.
Sobre a melhor forma de prevenção, a médica diz: “Não é possível prevenir todos os tipos de cânceres de ovário, mas, gravidezes, lactação, menopausa precoce, uso de contraceptivo hormonal são associados a diminuição do risco”, afirma.
A origem dos carcinomas de ovário está relacionada a células que chegam ao ovário pela tuba uterina. Assim, ao indicar uma laqueadura como método contraceptivo, pode ser oferecida a salpingectomia (retirada da tuba).
“Hoje se preconiza retirar a tuba quando a mulher tem uma indicação de histerectomia por doença benigna. Por fim, algumas mulheres apresentam alterações genéticas e, assim, em toda mulher com carcinoma de ovário é solicitado um painel genético que identifica essas mutações”, finaliza.
Manual Câncer Sem Tabus
Como parte de sua missão de impulsionar a promoção de saúde, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) dispõe do manual Câncer sem Tabus – Cartilha para Prevenção e Controle do Câncer no Brasil para download gratuito em seu site. O material conta com dados nacionais sobre câncer de ovário e outros tipos de tumores.
Com Assessorias