Conhecida no passado como bronquite e efisema pulmonar, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) reúne um grupo de doenças respiratórias caracterizadas pela obstrução das vias aéreas. A doença pulmonar é progressiva, ou seja, que piora com o tempo, sendo responsável por comprometer a saúde e a qualidade de vida e levar à morte.

Em agosto deste ano, o ator Ron Cephas Jones, que interpretou William Hill em This Is Us, morreu devido à DPOC, segundo os tabloides americanos. Em dezembro de 2022, o ator Pedro Paulo Rangel morreu aos 74 anos devido a complicações da doença, após quase dois meses internado numa clínica do Rio de Janeiro.

O consumo de tabaco é o principal fator de risco para a DPOC. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo é responsável por mais de 70% dos casos de DPOC em países ricos e de 30 a 40% dos casos nos países com renda média e baixa. A enfermidade atinge cerca de 210 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo cerca de 6 milhões no Brasil.

Mas os dados da OMS estão baseados nas estatísticas de mortalidade, o que configura um subdiagnóstico. Sendo assim, na prática, o número de afetados pode ser muito maior.  Segundo estimativa da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), apenas 12% das pessoas com DPOC recebem o diagnóstico e a falta dele contribui para o agravamento dos casos.

Apesar de ser a terceira causa de morte no mundo, ainda é uma doença negligenciada

A DPOC é a terceira principal causa de morte em todo o mundo. Em 2020, as doenças do aparelho respiratório (CID-10) foram responsáveis por 148.773 óbitos, ficando acima das mortes por causas externas (acidentes e violências) e abaixo das doenças do aparelho circulatório, doenças infecto-parasitárias e neoplasias, segundo informações do Sistema de Informação de Mortalidade do DATASUS.

A incidência de doenças respiratórias crônicas está crescendo em todos os países. Além da DPOC, elas incluem morbidades como asma e rinite alérgica. A questão, porém, é que a DPOC é ainda considerada uma doença negligenciada. Dados do Projeto Latino-Americano de Investigação em Obstrução Pulmonar (Platino) apontam que cerca de 80% das pessoas não sabem que têm DPOC, apenas 12% são diagnosticadas e somente 18% seguem as recomendações médicas.

Com apenas metade dos casos de doenças crônicas identificados em todo o mundo, o que inclui DPOC, aproximadamente uma em cada 10 pessoas com condições crônicas é tratada com êxito. A pneumologista Fernanda Miranda, professora na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás e presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia de Goiânia, alerta para o perigo das subnotificações da doença.

“Entre as razões para esta subnotificação está o fato de que fumantes não costumam valorizar seus sintomas, pois acham ‘normal’ apresentar cansaço aos esforços ou ter tosse e secreção, principalmente no período da manhã. No entanto, estes já são sintomas da doença e devem ser cuidadosamente avaliados por um pneumologista”, destaca.

A doença não tem cura, mas é prevenível e tratável, com medicamentos e reabilitação pulmonar. Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) evidenciam que a DPOC é a quinta maior causa de internação na rede pública, entre pacientes com mais de 40 anos, o que representa cerca de 200 mil hospitalizações e um gasto anual aproximados de R$ 100 milhões.

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Saiba mais sobre a DPOC

Neste Dia Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), 15 de novembro, o Portal ViDA & Ação reúne uma série de informações relevantes e orientações de especialistas para enfrentar o problema. Confira! 

A DPOC é uma doença inflamatória crônica que leva à obstrução das vias aéreas e causa sintomas respiratórios que piora a qualidade de vida da pessoa com a doença. Enfisema e bronquite crônica fazem parte do quadro de DPOC, com maior predomínio de uma ou outra condição de acordo com cada paciente. O enfisema geralmente se refere à destruição dos pequenos sacos de ar (alvéolos) no final das vias aéreas dos pulmões. Já a bronquite crônica é uma inflamação das vias aéreas.

“Suas características mais comuns são a obstrução dos brônquios e destruição dos alvéolos, que limitam o fluxo de ar pelo pulmão, podendo ser caracterizada como bronquite crônica ou enfisema pulmonar – enfermidades que fazem parte da DPOC”, afirma Fernanda Miranda.

Complicações da doença

A DPOC acomete principalmente indivíduos após os 40 anos de idade e com histórico de tabagismo ou outras exposições nocivas r pode ser manifestada como bronquite e enfisema – quando o pulmão vai sendo destruído e essa destruição é irreversível. Trata-se de uma doença sorrateira, que faz com que a maioria dos pacientes só leve a sério os sintomas em casos de exacerbações, visto que a falta de ar ao fazer pequenos esforços, a tosse crônica e limitação para atividade física são minimizadas e associadas à velhice.

Entre as complicações causadas pela doença está a sobrecarga do coração, que pode falhar e levar o indivíduo à desnutrição. Por ser uma doença catabolizante, a DPOC causa emagrecimento e sarcopenia (perda de massa muscular). Em razão da dispneia (falta de ar) ser um sintoma muito desafiador aos acometidos pela doença, os pacientes geralmente sofrem de ansiedade. Isso porque, conforme a doença progride, a falta de ar torna-se cada vez mais intensa, ocorrendo até com mínimos esforços, como ao tomar banho ou vestir-se.  

Principais sintomas

Por ser uma doença crônica e progressiva, à medida que a DPOC progride, as pessoas têm mais dificuldade em realizar as suas atividades diárias normais, muitas vezes devido à falta de ar, um dos principais sintomas da DPOC. A dispneia aos esforços pode progredir até para atividades simples do dia a dia, como tomar banho. Outro sintoma é a tosse crônica, geralmente produtiva, com expectoração de muco ou catarro, e algumas vezes o pigarro.

  1. “Também é muito comum o chiado no peito, que se apresenta como um som agudo ou sibilante ao respirar, além da sensação de aperto, desconforto ou opressão no peito e sensação de que o ar não está fluindo adequadamente durante a respiração”, diz a pneumologista.

Sintomas semelhantes também podem ocorrer na asma. Pessoas com DPOC também apresentam maior risco de outros problemas de saúde como doenças cardiovasculares, maior risco de infarto e cardiopatias, músculos fracos, ossos quebradiços (osteoporose) depressão e ansiedade.

Pneumologista no São Cristóvão Saúde, Nelson Morrone Junior conta que, ao longo de sua trajetória profissional, se deparou com muitos casos de DPOC. “O principal sintoma é a falta de ar, geralmente progressiva e por vezes acompanhada de tosse. Também são observados expectoração, ora esbranquiçada, ora amarelada ou esverdeada, pigarro, chiado no peito e uma constante sensação de cansaço”.

Causas e fatores de risco

O tabaco é a principal causa da DPOC em função dos efeitos da fumaça de cigarro nos pulmões, mas a doença também pode ser associada à exposição de outras substâncias tóxicas, como a poeira da construção civil sem equipamento de proteção e a inalação frequente de fumaça ou outros produtos químicos, e ainda à combustão de biomassa (fogões a lenha), que provocam alterações progressivas na estrutura e função do pulmão.

Além disso, a tuberculose e outras infecções respiratórias graves podem causar DPOC, assim como a asma, que, apesar de ser uma doença crônica com evolução benigna quando tratada, pode evoluir para um quadro de DPOC com complicações quando não acompanhada adequadamente. A DPOC evolui progressivamente ao longo do tempo, muitas vezes resultante de uma combinação de fatores de risco:

  • Tabagismo ativo ou passivo;
  • Exposição ocupacional a poeiras, fumos ou produtos químicos;
  • Poluição do ar ambiente : queima de biomassa (madeira, estrume animal, resíduos de culturas) ou carvão é frequentemente utilizado para cozinhar e aquecer em países de baixa e média renda;
  • Eventos como crescimento deficiente no útero, prematuridade e infecções respiratórias frequentes ou graves na infância que impedem o crescimento pulmonar máximo;
  • Asma na infância, quando não diagnosticada e tratada corretamente.
  • Condição genética rara chamada deficiência de alfa-1 antitripsina, que pode causar DPOC em uma idade jovem.

Diagnóstico

Espirometria é o principal exame e SUS oferece

O pneumologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Rafael Faraco, diz que a maioria das pessoas com DPOC desconhece ter a doença. “O diagnóstico precoce é fundamental para o início imediato do tratamento e com isso prevenir complicações”, afirma.

A gravidade da DPOC é avaliada de acordo com o nível de obstrução do fluxo respiratório e da intensidade dos sintomas ao longo do último ano de avaliação do paciente. “O diagnóstico é feito pela prova de função pulmonar e exames de imagem, como radiografia do tórax e tomografia computadorizada do tórax”, revela o médico especialista.

O diagnóstico envolve uma avaliação médica completa, incluindo histórico clínico, exame físico e exames complementares, sendo a espirometria o mais importante para identificar e monitorar a DPOC.Apesar de não ter cura, a DPOC pode ser tratada e controlada desde que o paciente consiga aderir ao tratamento prescrito pelo médico”, completa Fernanda Miranda.

Deve-se suspeitar de DPOC se uma pessoa apresentar um ou mais sintomas e com o diagnóstico confirmado por um teste respiratório denominado espirometria, que mede o funcionamento dos pulmões.

A espirometria consiste em um teste de função pulmonar que mede o volume de ar que uma pessoa pode inalar e exalar, bem como a velocidade com que o ar é expelido dos pulmões. Durante o exame, o paciente sopra em um aparelho chamado espirômetro, que registra os volumes e fluxos de ar.

A espirometria fornece informações sobre a função pulmonar, como a capacidade vital forçada (CVF) e o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1). Com base nesses parâmetros, é possível avaliar a presença e a gravidade da obstrução das vias aéreas, o que auxilia no diagnóstico da DPOC.

“Esse exame será solicitado ao paciente em casos de suspeita da doença e com base em sintomas apresentados pelo paciente. Pessoas com fatores de risco, como fumantes, ex-fumantes, pacientes com tosse crônica ou dispneia inexplicada devem realizar uma vez por ano. No Brasil, a espirometria está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para a população, sendo oferecida em centros de saúde, hospitais e clínicas conveniadas ao setor público”, ressalta Fernanda Miranda.

Segundo a pneumologista, os principais métodos de diagnóstico também incluem:

  1. Radiografia de tórax: ajuda a excluir outras condições pulmonares e a identificar possíveis complicações.
  2. Testes de função pulmonar: além da espirometria, outros testes podem ser realizados para avaliar a função dos pulmões e a gravidade da obstrução das vias aéreas.
  3. Exames de sangue: podem ser solicitados para verificar a dosagem de alfa-1 antitripsina (uma proteína envolvida na proteção dos pulmões).

Mantenha sua saúde em dia com exames periódicos e consultas com especialistas.

Tratamento inclui cessação do tabagismo

As pessoas que vivem com DPOC devem receber informações sobre a sua condição, tratamento e cuidados pessoais para ajudá-las a permanecerem tão ativas e saudáveis quanto possível. O tratamento pode possibilitar o controle dos sintomas, a melhora da qualidade de vida e a prevenção de crises.

Como tratamento, há a recomendação de medidas não farmacológicas, como a cessação do tabagismo, e também o uso de medicamentos broncodilatadores, que dilatam os brônquios mantendo-os mais abertos facilitando a entrada e a saída de ar dos pulmões.; Isso é importante para aliviar os sintomas e permitir as atividades diárias das pessoas.

Em alguns casos, inclui-se a reabilitação pulmonar, com fisioterapia, por meio de exercícios respiratórios e motores que melhoram a respiração, a capacidade de realizar tarefas do cotidiano, e reduzem o risco de descompensação da doença. Em casos mais graves algumas pessoas ficam muito limitadas e necessitam da utilização de oxigênio suplementar, em terapia domiciliar.

“É uma doença que causa grande sofrimento ao paciente e aos seus familiares, mas o tratamento normalmente não tem grandes efeitos colaterais”, complementa Dr. Nelson. 

Dr. Faraco explica que mudanças no estilo de vida podem ajudar a melhorar os sintomas e reduzir o risco ou velocidade de progressão da doença. Parar de fumar é imprescindível e fundamental. Cessar o tabagismo, não apenas o ativo, mas também o fumo passivo, evitar poluentes ambientais, fumaça (queima de biomassa) e manter-se fisicamente ativo são medidas primordiais para todas as pessoas com DPOC.

Além disso, vacinação contra pneumonia e vírus da gripe estão na lista de cuidados. As vacinas também exercem importante papel na proteção contra infecções pulmonares, como a dose anual de vacina contra a gripe, a vacina contra a pneumonia, as vacinas contra a Covid-19, vacina contra coqueluche e herpes zoster,  bem como os reforços, de acordo como o preconizado pela Sociedade Brasileira de Imunizações.

Agenda Positiva

Dia Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)

Nesta quarta-feira (15/11), a Câmara dos Deputados será iluminada de laranja em referência ao Dia Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Profissionais de saúde do mundo inteiro se mobilizam na terceira quarta-feira do mês de novembro para conscientizar a população para os fatores de risco e  a importância na prevenção da doença.

Desenvolvida pela Iniciativa Global para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, organização internacional sem fins lucrativos que reúne profissionais de saúde e pesquisadores, a data em 2023 destaca o tema “Respirar é Vida – Agir Mais cedo”, chamando a atenção para a importância do diagnóstico e intervenções precoces. A data reforça a importância do combate ao tabagismo, principal fator de risco dessa condição, contribuindo com 80% dos casos da doença, que é atualmente a terceira principal causa de mortes no mundo.

Com Assessorias

 

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