Esclerose múltipla: por que as mulheres são as mais atingidas?

Mulheres têm duas ou três vezes mais chances de desenvolver esclerose múltipla que os homens. Médicos explicam possíveis fatores de risco

Claudia Rodrigues (esquerda) e Guta Stresser falam abertamente sobre a esclerose múltipla (Foto: Reprodução/SAÚDE é Vital)
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O Brasil inteiro acompanha há tempos a doença que afeta as atrizes brasileiras Cláudia Rodrigues e Guta Stresser. Entre as famosas, Ana Beatriz Nogueira e Ludmila Dayer também sofrem de esclerose múltipla. As atrizes americanas Christina Applegate, estrela da série “Samantha Who?”, Selma Blair, de filmes como “Legalmente loira” e “Segundas intenções”, e Jamie-Lynn Sigler, conhecida por seu trabalho na série “Família Soprano”, também revelaram ter sido diagnosticadas nos últimos anos.

De acordo com o Ministério da Saúde, 2,8 milhões de pessoas em todo o mundo convivem com EM, sendo que no Brasil, 40 mil pessoas vivem com a condição, segundo a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (Abem). A National Multiple Sclerosis Society aponta que a possibilidade de mulheres desenvolverem a enfermidade é duas ou três vezes maior na comparação com os homens. A doença costuma atingir mais mulheres entre 20 e 40 anos de idade.

“As doenças autoimunes tendem a afetar mais jovens e mulheres. Isso ocorre, pois o organismo da mulher é mais reativo e sofre mais com fatores hormonais. A esclerose múltipla é mais prevalente na população branca, por isso é mais comum na Europa e América do Norte”, conta Frederico Jorge, neurologista do Hospital Santa Catarina – Paulista.

A esclerose múltipla é uma enfermidade autoimune e potencialmente incapacitante, que inflama a mielina, membrana que envolve os neurônios, e compromete as sinapses, causando sintomas como perda de visão, perda de força muscular, dificuldade de engolir, entre outros. Essa condição neurológica complexa afeta principalmente o sistema nervoso central, incluindo o cérebro, cerebelo e a medula espinhal, causando múltiplas lesões.

“Essas cicatrizes acontecem através de um processo autoimune, em que o próprio sistema de defesa do indivíduo deixa de atacar vírus ou bactérias, e atinge o próprio corpo. Nesse caso, a mielina: capa de gordura que recobre o nervo, fazendo com que os impulsos nervosos se tornem mais lentos”, explica.

Mais sobre a esclerose múltipla

De acordo com Carlos Roberto Caron, o professor de Neurologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (Fempar), a doença é crônica e autoimune do sistema nervoso central, podendo afetar a comunicação entre o cérebro e o corpo. Por isso, os sintomas podem variar amplamente entre os pacientes.

Por ser uma doença que atinge diferentes áreas do sistema nervoso central, pode se apresentar em cada pessoa de maneira diferente e, normalmente, com mais de um sintoma no mesmo paciente.

O neurologista afirma que a causa da doença vem de uma combinação de fatores, incluindo predisposição genética e fatores ambientais, tais como infecções virais, deficiência de vitamina D, tabagismo e obesidade.

esclerose múltipla tem como causas uma predisposição genética associada a fatores externos, que incluem infecções virais (como o vírus Epstein-Barr), níveis baixos de vitamina D prolongadamente, exposição ao tabagismo Em caso de sintomas, procure um médico especialista.

Doença não tem nada a ver com as vacinas

O médico neurologista Lauro Figueira Pinto, do Mater Dei Santa Genoveva, reforça que, “apesar das preocupações, NÃO há evidência de aumento de risco de esclerose múltipla com as vacinas usadas regularmente”. Ele explica que a EM é uma doença considerada rara e, por isto, não vemos grandes agrupamentos com graves fatores de risco.

“Acredita-se que a esclerose múltipla é causada por uma combinação de fatores, incluindo predisposição genética, infecções virais, viver em climas mais frios, deficiência de vitamina D, tabagismo e obesidade”.

Desenvolvida por conta de fatores genéticos, a doença possui alguns gatilhos ambientais observados, especialmente, na adolescência, como baixos níveis de vitamina D, infecções virais do vírus Epstein-Barr (vírus da mononucleose) e exposição ao tabagismo e obesidade, em especial na adolescência, como conta Frederico Jorge, neurologista do Hospital Santa Catarina – Paulista.

Diferente das doenças hereditárias, a esclerose múltipla não apresenta uma causa objetiva, fazendo com que ela se manifeste de forma variada. “Isso porque, além de autoimune, suas causas variam desde a herança genética, até fatores ambientais, como infecções virais e outros ainda não bem estabelecidos”, alerta Luciane Rodrigues, neurologista da Hospital Metropolitano Vale do Aço, explica mais sobre este processo.

Sintomas iniciais podem passar despercebidos

Os sintomas podem se manifestar e regredir ou causar danos permanentes, entre eles estão cansaço extremo e fraqueza muscular; dificuldades para andar; alterações na sensibilidade, como formigamento e dormência de braços e pernas; esquecimento ou confusão mental; problemas de coordenação, dificuldades de equilíbrio, incontinência ou retenção urinária, espasmos, visão turva e perda de visão.

Seus primeiros sintomas podem passar despercebidos e a doença pode avançar por anos com sintomas sensitivos (formigamentos e dormências), visuais (visão dupla ou borrada), motores (perda de força muscular), cognitivos e mentais (problemas de memória e atenção ou alterações de humor) que vem e vão com espaçamento de tempo.  

Ele ainda alerta que caso se note algum desses sintomas, “deve-se procurar, com o máximo de brevidade, por um profissional médico que possa avaliar se os sintomas estão relacionados a uma doença como a Esclerose Múltipla”, diz. Para isso, normalmente são feitos exames de Ressonância Magnética de Encéfalo, exames de sangue ou até mesmo de líquor.

“O mais importante é lembrar que o diagnóstico precoce, o acompanhamento médico regular e o tratamento adequado podem ajudar a controlar os sintomas de forma muito satisfatória, melhorando muito a qualidade de vida dos pacientes no longo prazo”, salienta Caron.

Sintomas da doença

Os sinais mais comuns, nos estágios iniciais, são alterações agudas na visão, sensibilidade, força e/ou coordenação, que podem se desenvolver rapidamente e melhorar ao longo de semanas. Os quadros variam dependendo do paciente e do local afetado. Dentre os eles, os principais estão:

• Dificuldade para andar;

• Fadiga;

• Formigamento de um lado do corpo;

• Incontinência urinária;

• Perda de força, equilíbrio e coordenação;

• Perda de visão e visão duplicada;

• Rigidez muscular e espasmos.

Diagnóstico pode ser muito demorado

Herval Ribeiro Neto, neurologista do Hospital Albert Einstein e especialista em esclerose múltipla, afirma que esta é uma doença neurológica que pode ser grave não só por ser progressiva e pelo risco de sequelas neurológicas irreversíveis, mas também por muitas vezes demorar a ser diagnosticada.

A doença exige diagnóstico e tratamento precoces para evitar consequências mais graves a longo prazo, como dor, fadiga, perda cognitiva e limitações físicas.  Daí o porquê do forte engajamento dos pacientes nas redes sociais e da importância de a doença precisar ser tão amplamente conhecida pela sociedade.

“O paciente tem episódios de sintomas característicos da doença, mas que podem ser transitórios e levarem tempo para reaparecerem, acabam adiando a procura a um especialista e consequentemente, o diagnóstico. Uma vez que o diagnóstico é fechado, o tratamento tem que ser iniciado quanto antes para evitar a progressão da doença. As perdas neurológicas podem se tornar irreversíveis se o início do tratamento for tardio”, completa o especialista.

Diagnóstico complexo

Segundo Dr Lauro, devido à natureza sintomática desses indicadores, é comum que alguns diagnósticos sejam equivocados e atribuídos a questões oftalmológicas, estresse ou problemas nos nervos periféricos.

O diagnóstico da esclerose múltipla é complexo e, geralmente, requer a avaliação de um neurologista experiente. Não há um único exame isolado que possa confirmar a presença da doença. Em vez disso, o diagnóstico é baseado em uma combinação de história clínica, exame neurológico e exames subsidiários.

Entre os principais exames utilizados para auxiliar na confirmação estão a ressonância magnética craniana e das colunas cervical e dorsal, que podem evidenciar lesões típicas, e o exame do líquor, que pode revelar a presença de anticorpos produzidos próximos ao cérebro.

A partir das suspeitas sobre os sintomas iniciais, os médicos conduzem uma investigação e utilizam exames de ressonância magnética para confirmação do diagnóstico.

A relação entre esclerose múltipla e a visão

Segundo Marcelo Brito, médico oftalmologista, entre os diversos sintomas que podem surgir, um dos mais notáveis é a baixa súbita da visão, muitas vezes acompanhada de alterações no campo visual. “A ligação entre a esclerose múltipla e a visão é crucial para o diagnóstico e manejo da doença, já que a perda de visão muitas vezes é um dos primeiros sinais de alerta”.

De acordo com o oftalmologista, as mais afetadas por essa doença são mulheres jovens. “Embora a esclerose múltipla possa atingir pessoas de qualquer idade e gênero, as mulheres jovens parecem estar mais suscetíveis a experienciar os sintomas visuais iniciais”.

O diagnóstico precoce da esclerose múltipla é crucial para iniciar o tratamento adequado o mais rápido possível. Exames neurológicos e oftalmológicos detalhados, juntamente com testes de imagem, auxiliam os médicos a confirmar o diagnóstico.

Os três tipos de esclerose múltipla

1. O mais comum, responsável por aproximadamente 85% dos casos, é o surto-remissão ou remitente-recorrente. Tende a ser caracterizada pela ocorrência de surtos, com melhora.

2. 10% dos pacientes terão a forma progressiva primária, quando ocorre uma gradativa piora dos surtos.

3. Por fim, 5% dos diagnosticados têm a forma progressiva com surtos, que tem como principal característica a progressão da desmielinização e o comprometimento precoce dos axônios, parte do neurônio responsável pela condução dos impulsos elétricos.

Agosto Laranja

O mês de agosto, revestido de laranja, chama atenção para a conscientização e mobilização na luta contra a Esclerose Múltipla. O propósito é dar visibilidade a esta doença que traz impactos incapacitantes e significativos na vida das pessoas, e contribuir para a disseminação de informações sobre fatores de risco e diagnóstico precoce. O Dia Nacional de Conscientização da Esclerose Múltipla acontece em 30 de agosto.

Conhecer mais sobre a doença é o primeiro passo para um diagnóstico precoce, oferecendo uma trajetória mais suave aos pacientes e reforçando a mensagem de que a informação é a arma mais eficaz contra as doenças crônicas.

 “É importante a conscientização sobre a Esclerose Múltipla porque conhecer mais sobre ela faz com que, na vigência de sintomas compatíveis, se procure o quanto antes o apoio médico para um diagnóstico precoce”, conclui Caron.

Ao aumentar a visibilidade da doença, espera-se promover a empatia, a compreensão e o suporte necessários para que as pessoas com esclerose múltipla possam viver suas vidas com qualidade e dignidade, superando as adversidades impostas por essa condição neurológica.

O Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla é, portanto, uma oportunidade para disseminar informações sobre essa condição e sensibilizar a sociedade para os desafios enfrentados pelos pacientes e seus familiares.

Com Assessorias

 

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