De fritar os miolos: calor extremo pode afetar a saúde cognitiva

Altas temperaturas aumentam risco até de AVC e Alzheimer. Efeito da mudança climática atinge mais idosos, revela estudo

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A exposição prolongada ao calor extremo pode causar danos à saúde cognitiva dos idosos, em especial àqueles que residem em bairros pobres, sem acesso a equipamentos de refrigeração, como ar condicionado. É o que revelou um estudo publicado em agosto deste ano no Journal of Community Epidemiology and Health. O impacto de longos períodos sob altas temperaturas foram diretamente associados ao declínio cognitivo dessa faixa da população. O achado é mais um fator de preocupação pelas mudanças climáticas que atingem todo o planeta.

Sob a perspectiva médica, o neurologista David Tanne, diretor do Instituto de AVC e Cognição e do Centro de Ensino para AVC do Rambam Health Care Campus, hospital referência em Haifa, Israel, explica: “a literatura médica descreve comocalor extremo aumenta o risco de comprometimento cognitivo e até mesmo de acidente vascular cerebral. Esse declínio cognitivo, semelhante à doença de Alzheimer, já foi observado em ratos de laboratório”.

“Quando as temperaturas externas são altas, a qualidade do sono, crítica para as funções saudáveis ​​do sistema corporal e da estrutura cerebral, é afetada negativamente. O declínio cognitivo, então, pode não se manifestar imediatamente, mas exposições repetidas ou prolongadas ao calor extremo podem ser prejudiciais, desencadeando uma série de eventos no cérebro, os quais podem esgotar a reserva cognitiva”, destaca Tanne, que é presidente da Associação Neurológica de Israel.

O aumento de ondas de calor e de frio tem vários impactos na sociedade em todo o mundo, que vão desde o desconforto térmico até o aumento de incêndios florestais, problemas de saúde e da mortalidade de animais, plantas e dos seres humanos, especialmente, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade. Estudos recentes demonstram um aumento de quase 70% na mortalidade de idosos devido ao calor intenso, algo visto recentemente em países como Espanha, Canadá e Portugal.

O especialista do Rambam reforça que “ainda são necessárias mais pesquisas de modo que possamos compreender melhor os efeitos nocivos à saúde da exposição ao calor intenso em longo prazo, mas que os achados até aqui demonstram um sinal adicional de alerta à saúde, com mais essa consequência direta das mudanças climáticas que o mundo tem vivido”.

Calor intenso no Brasil

calor intenso é uma das consequências do aquecimento das águas do Oceano Pacífico, fenômeno chamado de El Niño, que tem ganhado cada vez mais força, mostrando já no início da primavera como os brasileiros enfrentarão a estação mais quente do ano, a partir de dezembro. Mas a verdade é que a ocorrência de eventos extremos de temperatura no país, inclusive, está cada vez mais recorrente.

Um estudo recente conduzido por pesquisadores do Instituto do Mar, da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), mostrou que toda a costa brasileira já está sofrendo algum impacto das mudanças climáticas em relação à temperatura do ar, com os litorais das regiões Sudeste e Sul sendo mais impactadas do que das regiões Norte e Nordeste.

Coordenada por Ronaldo Christofoletti, professor do IMar/Unifesp, a pesquisa identificou que, nos litorais de RS, SP e ES, a frequência de ocorrências diárias de extremos máximos de temperatura e das ondas de calor, caracterizada por dias consecutivos de extremos máximos de temperatura, tem aumentado ao longo do tempo.

Nos últimos 40 anos, a ocorrência de eventos extremos de temperatura quase dobrou em SP (84%), dobrou no RS (100%) e quase triplicou no ES (188%). O número de eventos por ano é variável, dependendo de condições específicas como pelos fenômenos La Niña e o El Niño, responsável pela onda de calor que o país vivencia nesta semana.

Agenda Positiva

Organizações cobram informações e políticas públicas emergenciais

Na primeira semana de setembro, um ciclone extratropical devastou o Rio Grande do Sul. Foram contabilizadas 48 mortes e, segundo estimativa da Confederação Nacional de Municípios (CNM), o prejuízo financeiro foi de R$ 1,3 bilhão. Agora, é a onda de calor extremo, anunciada pelo governo federal. Os meteorologistas apontam novos níveis de aquecimento das águas dos oceanos, mudanças climáticas, e consequentemente, pioras a longo prazo no meio ambiente.

A Rede Por Adaptação Antirracista, uma articulação formada por organizações da sociedade civil, alerta para as mudanças climáticas relacionadas às chuvas, enchentes e ondas de calor que, neste ano, atingirão marcas extremas ocasionando risco à vida e à saúde da população.

A ong apresentou ofícios para o ministros do Governo Federal, governadores e prefeitos alertando sobre a gravidade dos fenômenos climáticos extremos no Brasil. Por meio dos documentos, a Rede solicita informações sobre respostas emergenciais em políticas públicas direcionadas aos impactos das mudanças climáticas.

Diante desse cenário, em continuidade às recomendações realizadas nos espaços de incidência para contribuições ao Plano Clima e o Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas, a Rede busca reforçar a importância de criação de espaços participativos e consultivos junto às organizações negras, ambientalistas e de direitos humanos e, sobretudo, lideranças representantes de comunidades profundamente impactadas pelos efeitos das mudanças climáticas.

Para Joice Paixão, porta-voz da Rede e coordenadora da Associação Gris Espaço Solidário, “é importante que os governos, especialmente em nível local, estejam preparados e alertas para esses fenômenos que, a cada dia, serão mais frequentes”. Agravado o cenário de emergência climática pelo qual o país está submetido, há uma necessidade posta de construir políticas públicas urgentes, especialmente de adaptação, para garantia de uma reparação integral das comunidades impactadas por eventos climáticos extremos.

“A adoção de uma perspectiva baseada no respeito aos direitos humanos e centralidade das pessoas atingidas é indispensável para que a efetiva justiça climática seja alcançada, a qual deverá considerar mecanismos de garantia de justiça racial e de gênero, não apenas recomendações protocolares de emergência”, afirma Joice.

Sobre a Rede Por Adaptação Antirracista

A Rede Por Adaptação Antirracista é uma articulação da sociedade civil brasileira (entre organizações do movimento negro, ambientalista, de pesquisa, reforma urbana e dos direitos humanos) que, por meio de uma carta assinada por mais de 140 organizações, pede por políticas de adaptação climática antirracistas, com reivindicações concretas ao poder público e ao setor privado para combater o racismo ambiental e climático.

A Rede considera o conceito de adaptação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)de que a adaptação à mudança do clima relaciona-se ao processo de ajuste de sistemas naturais e humanos ao comportamento do clima no presente e no futuro, e, ampliando esse conceito, aponta para a responsabilidade de atualizar e tornar efetivo o Plano Nacional de Adaptação do Brasil e de eliminar as desigualdades raciais, étnicas, de gênero, geracionais e sociais, assegurando o desenho e implementação de políticas nacionais. A carta-manifesto elaborada pela Rede em maio de 2023 está disponível neste link.

Com Assessorias

 

 

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