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ONU monta casas provisórias para vítimas de enchentes no RS

Quase um mês após o início das fortes chuvas no Rio Grande do Sul, mais de 65 mil pessoas ainda estão em centros de acomodação temporária. Para desafogar os abrigos e socorrer sobretudo refugiados que vivem no estado, agora duplamente atingidos, a Organização das Nações Unidas (ONU) vai montar 208 Unidades de Habitação Emergenciais, semelhantes às 2 mil casas provisórias usadas por refugiados venezuelanos na Região Norte do Brasil.

Esta semana, as estruturas para montagem das unidades, colchonetes e cobertores fornecidos pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) chegaram à área afetada, vindas do armazém da organização em Boa Vista (RR). De acordo com a agência, as unidades serão instaladas de acordo com as demandas do governo federal e do governo estadual para atender a população afetada pelas enchentes.

As casas provisórias da ONU têm quase 3 metros de altura, por 5 de comprimento e 3 de largura; pesam 140 quilos e podem ser montadas em até quatro horas. Cada casa pode receber até cinco pessoas de uma mesma família. A estrutura é resistente para suportar chuva, vento e outras intempéries. A cozinha é montada na área externa, onde também funcionam banheiros comunitários. Uma das unidades está exposta no Museu da Imigração, em São Paulo.

“Não é uma solução de longo prazo, mas propicia o esvaziamento dos abrigos temporários montados pelos órgãos públicos, para que possam ser utilizados da melhor forma possível”, diz Miguel Pachioni, da Acnur.

Unidade de moradia emergencial é utilizada em Boa Vista para acolher refugiados (Foto: Divulgação ACNUR)

O representante do Acnur ressalta que as estruturas são uma solução temporária, com uma duração média prevista de cinco anos. Pachioni explica que essas estruturas visam aliviar a sobrecarga dos abrigos improvisados e melhorar a qualidade do alojamento para a população afetada pelas enchentes, oferecendo mais privacidade às famílias.

Mais itens de necessidade básica

Outros itens de necessidade básica dos estoques da ACNUR em Boa Vista (RR), Colômbia e Panamá, como galões de água, mochilas, fraldas para adultos, lonas, lâmpadas solares, mosquiteiros e kits sanitários e de higiene, estão a caminho do Rio Grande do Sul. Os materiais foram recomendados pelo governo, de acordo com a maior necessidade atual.

Uma equipe especializada em gestão de abrigos foi mobilizada para as áreas de desastre e está coordenando o recebimento de itens de socorro enviados pelo ACNUR. A equipe também está fornecendo assistência técnica para melhorar o funcionamento dos abrigos, especialmente em Porto Alegre, capital do estado.

Além disso, o ACNUR, junto a parceiros, está priorizando a reemissão de documentos perdidos. Além do trabalho de prevenção de violência baseada em gênero, a ACNUR apoiará ainda a recuperação das comunidades, por meio de apoio psicossocial e incentivos à reconstrução econômica.

O ACNUR também está apoiando a comunicação com as diversas comunidades impactadas para que as pessoas refugiadas e migrantes tenham acesso, em seu idioma, às informações fornecidas pela Defesa Civil e autoridades locais sobre as recomendações de proteção e os riscos associados aos locais onde vivem.

Devido à dificuldade de acesso aos locais mais afetados e buscando maior eficiência na sua resposta, o ACNUR está apoiando o Governo Estadual do Rio Grande do Sul e o Comitê Estadual de Migrantes e Refugiados na avaliação do impacto das inundações e na identificação das necessidades destas populações.

Estado do RS abriga mais de 21 mil venezuelanos

Rio Grande do Sul é um dos estados brasileiros com maior presença de pessoas refugiadas e migrantes, especialmente venezuelanos e haitianos, muitos vivendo em áreas de risco. Segundo dados do governo federal, o estado abriga mais de 21 mil venezuelanos que foram relocados de forma voluntária de Roraima, desde abril de 2018.

Cerca de 43 mil refugiados e pessoas em necessidade de proteção internacional estão sendo direta ou indiretamente afetados pelas inundações, sendo que 35 mil já estavam entre os grupos mais vulneráveis do estado, com base nos dados do Governo Federal (CAD-Único/SUAS).

Muitos moravam nas regiões e bairros mais tomados pelas enchentes. Organizações lideradas por pessoas refugiadas no Rio Grande do Sul têm coletado e distribuído doações e voluntariado no contexto de emergência.

Preocupação dos refugiados com o futuro

Casas utilizadas pela ONU para abrigar refugiados em Boa Vista (RR) irão para o RS (Foto: Divulgação Acnur)

ACNUR e a Agência da ONU para as Migrações (OIM) estão visitando abrigos para avaliar as necessidades de pessoas refugiadas, outras em necessidade de proteção internacional e migrantes para avaliar suas demandas e apoiar os casos mais urgentes. Os entrevistados expressaram preocupação com seu futuro, especialmente sobre para onde retornarão e quando.

Mais ajuda é necessária para fornecer socorro vital às famílias que perderam tudo. Estima-se que são necessários US$ 3,21 milhões (R$ 16 milhões) para apoiar a resposta do ACNUR às necessidades emergenciais, incluindo assistência financeira direta para as pessoas impactadas e itens de primeira necessidade.

A agência busca angariar esse dinheiro por meio de doações que podem ser feitas por pessoas físicas ou empresas. Quem deseja apoiar a resposta do ACNUR na emergência das inundações no Rio Grande do Sul pode doar por meio do link.

Eventos climáticos extremos no Brasil têm sido mais frequentes e devastadores nos últimos anos, incluindo secas na região amazônica e chuvas severas em estados do Norte e Nordeste. Esta não é a primeira vez que o ACNUR contribui com ajuda humanitária frente a uma crise climática no Brasil. Anteriormente, a Agência da ONU para Refugiados atuou em outras recentes crises relacionadas ao clima no Brasil, como nos casos do Acre,  Bahia e Manaus.

Mesmo atingidas, ONGs continuam a atuar

Refugiados são alojados em abrigos temporários após enchentes devastadoras no estado do Rio Grande do Sul (Foto: Vanessa Beltrame / Acnur)

A Agência da ONU para Refugiados colabora com governos e parceiros para salvar vidas em contextos adversos com ajuda e expertise humanitários. No Rio Grande do Sulo ACNUR está contribuindo com autoridades e parceiros locais para apoiar a ajuda humanitária de acordo com as demandas existentes, complementando o trabalho feito pelo governo e outros atores.

Em resposta às devastadoras enchentes, a equipe do ACNUR monitora a situação local, focando no apoio à gestão dos abrigos provisórios e nas necessidades da população, incluindo pessoas brasileiras, refugiadas e migrantes que estão deslocadas em necessidade de proteção internacional, sem distinção de nacionalidade.

O ACNUR reconhece a importante atuação de dois parceiros fundamentais no estado – Aldeias Infantis SOS e Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados (SJMR) – cujas equipes e estruturas também foram severamente impactados pela catástrofe. Mesmo assim, seguem atuando para prover ajuda imediata e assistência às populações residentes.

O SJMR não parou o trabalho humanitário: retirou 130 famílias refugiadas das áreas de risco na cidade de São Leopoldo (RS) que ficou totalmente ilhada, com bairros inteiros submersos, sofrendo com a falta de abastecimento e de serviços básicos. “Estamos nos desdobrando para atuar nessa frente importante de acolhimento e escuta em um tempo tão sensível”, afirma Elias Gertrudes, coordenador do escritório local do SJMR.

Muitas outras cidades ainda estão sem água e luz. A Unisinos (universidade conveniada à cátedra Sérgio Vieira de Melo do ACNUR) abriu suas portas para acolher vítimas da enchente e abriga cerca de 2 mil pessoas, entre brasileiras, refugiadas e migrantes diretamente afetadas pelas enchentes.

Entenda a emergência climática no RS

Em meio à maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul, que já impactou mais de 2 milhão de pessoas, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e organizações parceiras estão colaborando com autoridades públicas e da sociedade civil para minimizar os efeitos desta catástrofe e ajudar a população afetada pelas inundações.

As fortes chuvas que começaram em 26 de abril desencadearam enchentes pelo estado, forçando milhares a deixarem suas casas. As inundações são o maior desastre climático no sul do Brasil, atingiram 93% das cidades e áreas rurais no estado e causaram 163 mortes até este sábado (25) e deslocaram cerca de 580 mil pessoas

“A realidade das mudanças climáticas, evidenciada por eventos extremos como as torrenciais chuvas no Rio Grande do Sul, tem causado perda de vidas e estragos materiais irreparáveis para as populações que passam a viver com insegurança e incertezas”, afirma a agência.

No Rio Grande do Sul, muitas pessoas que vivem nas áreas mais atingidas pelas águas tiveram as suas residências danificadas ou destruídas, além de pertences e documentos perdidos. Estradas e rodovias foram interditadas, ruas estão inundadas e voos, suspensos

Comércios, pequenos negócios e outras atividades de geração de renda destruídos pelas águas, incluindo pessoas refugiadas, também foram arruinados. Algumas comunidades se encontram isoladas e impossibilitadas de trabalhar.

A ACNUR alerta para a situação preocupante no estado. A previsão do tempo para os próximos dias indica chuvas e ventos fortes, tempestades e possível queda de granizo em partes do território.

“A previsão é de que as chuvas no Sul se estendam por mais alguns dias, acompanhadas por frio e ventos fortes. Os efeitos da tragédia, no entanto, ainda devem perdurar por muito tempo. Mas, juntos, podemos fazer a diferença pelo Rio Grande do Sul”, afirma a Acnur.

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70% dos refugiados fogem de tragédias climáticas

Desastres climáticos já superam as guerras quando o assunto é deslocamentos forçados nos países. Segundo a ACNUR, 70% dos refugiados vêm de áreas atingidas por tragédias climáticas. As mudanças climáticas são fator desencadeador de instabilidade, levando a deslocamentos populacionais.

Em todo o mundo, as mudanças climáticas afetam desproporcionalmente os refugiados e outras pessoas necessitadas de proteção internacional, que já vivem em áreas vulneráveis suscetíveis aos efeitos de eventos climáticos extremos e recorrentes.

Mas o financiamento para lidar com os impactos das mudanças climáticas é insuficiente para atender as necessidades daqueles deslocados à força e das comunidades que os acolhem. “Nossas equipes estão trabalhando com parceiros na preparação, no entanto, a falta de financiamento está dificultando investimentos significativos em medidas de mitigação”, afirma a agência.

Sem ajuda para se preparar e responder a esses impactos, incluí-los nos planos nacionais de adaptação e para se recuperar das consequências climáticas severas, eles correm o risco de novos deslocamentos forçados.

Em abril de 2024, o ACNUR lançou seu primeiro Fundo de Resiliência Climática para construir a resiliência de refugiados, comunidades deslocadas e seus anfitriões à crescente intensidade de eventos climáticos extremos relacionados às mudanças climáticas.

Outras regiões do mundo afetadas por eventos climáticos

No Afeganistão, inundações repentinas e chuvas intensas, que começaram em 10 de maio, causaram extensos danos e perdas de vidas no norte, nordeste e oeste do país. Milhares de casas e hectares de terras agrícolas foram danificadas ou destruídas, e mais de 300 pessoas morreram. O ACNUR tem respondido com outras agências da ONU, avaliando necessidades e distribuindo tendas de emergência, itens não alimentares e kits de roupas.

Com parceiros, o ACNUR também está monitorando preocupações de proteção, incluindo casos relatados de separação familiar, e está oferecendo apoio psicológico. Voluntários treinados pelo ACNUR têm disseminado informações sobre os serviços disponíveis. Novas inundações ainda estão sendo relatadas e grandes áreas permanecem isoladas devido a estradas e pontes danificadas.

A situação em toda a África Oriental também continua sendo motivo de grande preocupação. No Quênia, mais chuvas intensas nesta semana inundaram partes do campo de Kakuma, afetando abrigos e instalações públicas, incluindo clínicas de saúde e escolas. O ACNUR e parceiros estão distribuindo itens de socorro, ajudando a evacuar os mais afetados para áreas seguras e reabilitando abrigos danificados.

No Burundi,ACNUR, com o governo e parceiros, está assistindo os mais afetados através de realocações para locais temporários, fornecimento de água limpa, assistência financeira para necessidades urgentes e distribuição de materiais escolares para crianças.

No Sudão do Sul, Sudão e Somália, mais chuvas são esperadas, e os rios continuarão a transbordar nas próximas semanas. Um grande número de refugiados e deslocados está abrigado em locais que podem ser severamente impactados.

Com informações do ACNUR

 

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