Facilmente identificável no formato de “borboleta” ou da letra H, a tireoide é uma pequena glândula localizada perto da traqueia, logo abaixo do Pomo de Adão, na parte anterior do pescoço, popularmente conhecido como “gogó”.  Apesar de reduzida no tamanho, ela desempenha um papel enorme na regulação de várias funções corporais.

A tireoide é uma glândula endócrina, ou seja, atua na produção e liberação dos hormônios de intensa ação no metabolismo humano. Produz  T3 e a T4 (triiodotironina e tiroxina), dois dos hormônios mais importantes para o bom funcionamento dos músculos, órgãos, metabolismo e no equilíbrio do corpo.

Pedidos de socorro da tireoide ocorrem por todo o corpo e impactam o cotidiano do paciente. Os sintomas são variados e podem aparecer nos olhos, genitais, músculos, cabelos, humor e até mesmo na memória.

Famosos com comorbidades endocrinológicas já revelaram problemas com essa pequena notável, entre eles, Leandro Hassum, Paolla Oliveira e Camila Pitanga, além de apresentadores, músicos e atletas como Xuxa Meneghel, Fausto Silva, Preta Gil, Anitta, Ronaldo Fenômeno e Neymar.

“Figuras públicas têm grande responsabilidade e influência. O fato de haver algumas com patologias do gênero desperta interesse e desmistifica o tema. Entretanto temos de lembrar que cada caso é único, então só um especialista pode prescrever o tratamento”, finaliza o médico do São Luiz Jabaquara.

Quando a tireoide não funciona corretamente, pode resultar em dois tipos principais de distúrbios: o hipotireoidismo e o hipertireoidismo. Combinados, eles afetam de 5% a 15% de indivíduos no mundo, na maior parte mulheres e pessoas acima dos 45 anos de idade. Essas duas condições podem causar diversas disfunções no organismo, inclusive a saúde psíquica.

A endocrinologista Lorena Lima Amatodoutora pela USP e professora na Universidade Nove de Julho – explica que as duas doenças quando não diagnosticadas e tratadas ou se o paciente estiver usando a dosagem errada da medicação, podem levar à depressão, crise de pânico, estresse, irritabilidade e ansiedade.

“Nos casos em que a medicação não é suficiente, está indicada a cirurgia para a retirada da glândula tireoide e o radioiodo, tratamento com iodo radioativo, que destrói a glândula”, explica Dra. Lorena.

Entre as funções da tireoide, estão:

Regulação do metabolismo: A tireoide produz os hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina), que são responsáveis por controlar a velocidade do metabolismo. Esse processo afeta o funcionamento de quase todas as células do seu corpo.

Desenvolvimento e crescimento: Durante a infância e adolescência, os hormônios tireoidianos são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento do corpo, incluindo o desenvolvimento do cérebro.

Saúde do coração: A tireoide influencia o ritmo cardíaco e garante que o coração apresente um ritmo saudável.

Os principais distúrbios gerados pela alteração da tireoide

Sérgio Uchôa, coordenador do serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital São Luiz Jabaquara, da Rede D’Or, explica que a tireoide é fundamental para o controle da dinâmica do organismo. Doenças que a atingem podem ser funcionais ou nodulares.

“As primeiras estão relacionadas à produção excessiva ou insuficiente desses hormônios, chamadas de hipertireoidismo/hipotireoidismo, e ocasionam fortes alterações na saúde, manifestando-se habitualmente em pessoas com histórico genético/familiar”.

O hipertireoidismo está associado a aceleração do metabolismo, causando sintomas como perda de peso significativa, tremores, sudorese, insônia e palpitação exoftalmia (olhos saltados e aumentados), irritabilidade e instabilidade emocional. O tratamento é feito com medicamentos chamados antitireoidianos, que têm como objetivo diminuir a produção do hormônio da tireoide.

O hipertireoidismo tem distribuição mais homogênea entre indivíduos, dependendo da causa. De acordo com publicação de 2023, da Brazilian Journal of Health Review, a Doença de Graves, responsável por até 80% dos casos de hipertireoidismo, apresenta índices 5 a 10 vezes maior em mulheres do que em homens, sendo mais frequente entre os 20 e 40 anos.

Já o hipotireoidismo (queda na produção dos hormônios da tireoide) torna o metabolismo e o raciocínio mais lentos, causando sonolência, falta de ânimo, cansaço, discreto ganho de peso e inchaço. Também pode acarretar queda de cabelo, unhas frágeis, pele seca, constipação intestinal e impotência sexual.

Dados do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) mostram que a predominância de casos de hipotireoidismo em mulheres é de 10% e pode chegar a 15% na fase da menopausa, quando há perda da proteção dos hormônios femininos.

Em homens é menos frequente e sua prevalência é em torno de 3%. No Brasil, a incidência anual do hipotireoidismo em mulheres é de 4/1000 e nos homens de 0,6/1000.

O tratamento é feito com a reposição do hormônio tireoidiano chamado levotiroxina, medicação de baixo custo, disponível em todas as farmácias e que não provoca efeitos colaterais.

Hipotireoidismo na infância pode causar déficit de crescimento e sequelas cognitivas

Não são só os adultos que podem ter hipotireoidismo. A disfunção pode aparecer na infância e as causas principais são o hipotireoidismo congênito, que é quando a criança nasce sem a glândula tireoidiana, e a tireoidite de Hashimoto, a mais comum na fase adulta e chamada tireoidite autoimune.

A criança pode apresentar déficit de crescimento, sonolência e até puberdade precoce. Em bebês, o hipotireoidismo pode levar a sequelas cognitivas no sistema nervoso central que podem ser permanentes.

A identificação precoce da doença na criança é fundamental para um desenvolvimento saudável. Em bebês, o diagnóstico é feito pelo Teste do Pezinho, que deve ser realizado entre o terceiro e quinto dia após o nascimento para detectar o hipotireoidismo congênito.

“O tratamento é essencialmente com a reposição do hormônio tireoidiano, assim como é feito no adulto. No caso do hipotireoidismo congênito, quando a criança nasce sem a tireoide, ou quando é preciso retirar a tireoide é uma situação definitiva, ou seja, não tem cura”, explica a endocrinologista Lorena Lima Amato.

A especialista conta que é preciso cuidados para fazer uma reposição hormonal adequada na criança, já que é necessário tomar a reposição hormonal em jejum, respeitando 30 minutos antes da primeira refeição do dia.

“A partir de exames laboratoriais é possível deixar a dosagem hormonal em níveis adequados para permitir um desenvolvimento normal da criança”, disse Dra. Lorena, que é endocrinopediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com título da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM)

Lesões benignas na maioria dos casos

Além das alterações no funcionamento da glândula, por vezes é possível encontrar nódulos na tireoide. Na grande parte dos casos, trata-se de lesões benignas.
Entretanto, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que 16.660 casos novos de câncer de tireoide sejam diagnosticados para cada ano do triênio de 2023 a 2025. Sem considerar os tumores de pele não-melanoma, o câncer de tireoide ocupa a sétima posição entre os tipos de tumores mais frequentes no Brasil.

Celebrado no dia 25 de maio, o Dia internacional da Tireoide visa conscientizar a população sobre as complicações que podem acometer a glândula tireoide, como hipotireoidismo, hipertireoidismo, doenças autoimunes, nódulos benignos e câncer.

A data busca promover a educação sobre essas condições e incentivar a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado, visando uma melhor qualidade de vida para indivíduos com doenças na tireoide.

Falta de iodo na alimentação, o que fazer?

Sérgio Uchôa afirma que o risco do surgimento de deficiências na tireoide estava também atrelado à carência de iodo na alimentação. “No Brasil, a suplementação regular desse nutriente no sal resolveu essa variável. Mas ainda não é o bastante para que a sociedade negligencie o problema como um todo”, analisa o médico.

Os casos das doenças nodulares, chamados bócio nodular, consistem no aumento benigno do volume glandular. Em seu enfrentamento, é crucial que o paciente busque um endocrinologista ou cirurgião de cabeça e pescoço assim que notar quaisquer mudanças no seu bem-estar.

De trato mais complexo, eles se dividem em sólidos ou císticos, sendo volumosos e desconfortáveis, inchando o pescoço e dando a sensação de estrangulamento e limitação da deglutição. Diagnósticos malignos também podem trazer alterações na voz e respiração. Estima-se que entre 30 e 50% da população global podem apresentar nódulos nessa glândula, a maioria benigno.

“Em geral os cânceres de tireoide são lentos e indolores, possibilitando altas taxas de cura quando combatidos precoce e adequadamente. Nesse sentido, ao menor sinal de manifestação, inclusive de hiper e hipotireoidismo, uma consulta médica deve ser feita para investigar, detectar e sanar a questão”, destaca o profissional.

Hábitos de vida e alimentação saudáveis

Na semana em que é celebrado o Dia Internacional da Tireoide (25/5), o médico alerta sobre a importância da adoção de hábitos e alimentação saudáveis.

“Pratique exercícios, evite comidas inflamatórias, mantenha a hidratação e faça atividades para diminuir o estresse. São atitudes relativamente simples que podem controlar e até mesmo evitar a evolução de doenças da tireoide”, ressalta.

Realizar consultas e exames de rotina também são essenciais para a detecção precoce das doenças. Atualmente as melhores práticas de tratamento apontam as terapias cada vez mais conservadoras, preservando a glândula e evitando sua extração completa.

Técnicas sutis e menos invasivas, como ablação térmica dos nódulos e alcoolização guiadas por ultrassom são exemplos de medidas de recuperação rápida e sem deixar cicatrizes da retirada do tumor.

Há casos raros, já avançados, em que infelizmente é necessário tirar toda a tireoide, o que leva à perda da produção hormonal e obriga o paciente a realizar a reposição por meio de comprimidos diários.

“É possível viver bem com a reposição. No entanto é mais natural quando o órgão prevalece. Por isso, quanto mais cedo for a detecção, maior a chance de mantê-lo ao menos parcialmente, proporcionando mais qualidade de vida e autonomia à pessoa”, complementa Uchoa.

Com Assessorias

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