Infelizmente, não há nenhum tratamento que seja capaz de reverter completamente o quadro da doença de Alzheimer, mas quando diagnosticada precocemente, é possível retardar o seu avanço. Existem medicamentos, como os inibidores da acetilcolinesterase e a memantina, que têm como objetivo aliviar alguns dos sintomas cognitivos e comportamentais.

No entanto, é importante ressaltar que, para a maioria dos pacientes, esses medicamentos não trazem melhoras importantes e sustentadas. Apesar disso, alguns pacientes podem experimentar melhorias significativas, tornando relevante a consideração de um teste terapêutico.

Além disso, alguns medicamentos antipsicóticos são frequentemente prescritos para manejar alterações importantes no comportamento decorrentes da doença de Alzheimer. É de grande importância a abordagem não-farmacológica para ajudar a gerenciar comportamentos e oferecer suporte a pacientes e cuidadores.

“Quanto antes for descoberta, maiores serão as chances de controlar os sintomas, proporcionando uma melhor qualidade de vida para o paciente”, diz  o médico Fernando Freua, neurologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Nesta quinta-feira (21/09), é celebrado o Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer, causa mais comum da demência em idosos. Além do tratamento medicamentoso, existem algumas atividades que também podem trazer benefícios para o paciente, como musicoterapia, psicoterapia, terapia ocupacional, fisioterapia e atividades físicas leves.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-Rio), no Sistema Único de Saúde (SUS), os pacientes com Alzheimer têm acesso a consultas, exames e medicamentos gratuitos, tanto na Atenção Primária quanto na atenção especializada. Há também programas de reabilitação neurológica e apoio a cuidadores.

Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer

Demência é um termo usado para representar um grupo de doenças em que o indivíduo perde gradativamente a cognição e a capacidade de realizar atividades diárias, desde o planejamento até a execução de uma tarefa simples, o que torna difícil manter uma vida independente.

Segundo o médico Fernando Freua, as demências de caráter neurodegenerativo, como o Alzheimer, possuem os mesmos fatores de risco das doenças cardiovasculares: alimentação desbalanceada, colesterol, glicemia e hipertensão mal controlados, sedentarismo e idade avançada.

“A demência pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas o Alzheimer é mais comum na terceira idade, quando os fatores genéticos podem contribuir para o desenvolvimento da doença”, conta o médico.

O Alzheimer é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta a memória, o pensamento e a capacidade de realizar tarefas simples do dia a dia. A maioria dos pacientes é diagnosticada a partir dos 65 anos, porém a doença pode começar mais cedo.

A causa exata da doença de Alzheimer ainda não é totalmente compreendida, mas acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida. Embora existam formas familiares da doença, que têm uma componente genética mais forte, a maioria dos casos não é diretamente hereditária.

Sintomas, diagnóstico e prevenção

Os sintomas iniciais incluem esquecimento, especialmente de informações recentes, e dificuldade em realizar tarefas cotidianas. Com a progressão, os sintomas podem incluir confusão, desorientação no tempo e espaço, dificuldades de comunicação, julgamento prejudicado, mudanças de humor e comportamento e, eventualmente, dificuldades severas de memória e perda da capacidade de cuidar de si mesmo.

Segundo Freua, o diagnóstico precoce é fundamental para eleger o melhor tratamento e garantir mais qualidade de vida para quem enfrenta essa condição. Os sintomas da doença podem variar bastante, mas existem alguns sinais de alerta que merecem atenção.

“No início, o paciente com Alzheimer apresenta lapsos de memória recente que prejudicam o dia a dia, trazendo dificuldade de aprendizado e de tomada de decisões, perda de interesse nas atividades que antes eram prazerosas e mudanças de humor. Nesse estágio inicial é muito importante buscar um diagnóstico”, afirma o especialista.

O diagnóstico é feito com base na avaliação clínica, histórico médico e testes de avaliação cognitiva. Exames de imagem, como ressonância magnética, também podem ser usados, incluindo para descartar outras condições, mas não são necessários para confirmar o diagnóstico.

Não há uma prevenção certa para o Alzheimer, mas algumas medidas podem reduzir o risco, como manter uma dieta saudável, exercitar-se regularmente, evitar o tabaco, limitar o consumo de álcool, controlar o peso, e manter a mente ativa através de leituras, jogos e outras atividades intelectuais.

Manter um estilo de vida saudável, com uma boa alimentação e atividade física regular, pode ajudar a retardar a progressão da doença. Também é importante manter a mente ativa e engajada.

Número de casos de demência cresce no Brasil

Projeção nacional é de que os casos cheguem a 5,5 milhões até 2050

Um artigo publicado na revista científica Journal of Gerontology, por duas pesquisadoras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aponta que ao menos 1,76 milhão de brasileiros com mais de 60 anos vivem com alguma forma de demência, sendo que de 40% a 60% desses casos são de Alzheimer.

O total de diagnósticos em 2019 foi cerca de 20% maior do que o de quatro anos antes, quando se estimava haver 1,48 milhão de pessoas com demência no Brasil. E esse número deve continuar crescendo, podendo chegar a 2,78 milhões no final desta década e a 5,5 milhões em 2050.

No Brasil, um estudo sobre a prevalência de demência em idosos estimou que mais 2,3 milhões de pessoas apresentando algum tipo de comprometimento cognitivo. Na América Latina, espera-se um aumento de 200% no número de casos de demência até 2050, o dobro da estatística projetada para os Estados Unidos.

“O alerta da comunidade científica é claro ao apontar que os números crescem progressivamente. O diagnóstico de demência impacta socialmente com a sobrecarga imposta às famílias e cuidadores, no valor do tratamento, mesmo subsidiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É um problema de saúde pública que toda a sociedade precisa compreender”, diz o porta-voz e presidente da ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer), o neurologista, Rodrigo Rizek Schultz.

Agenda Positiva

Eventos traz dados globais e nacionais sobre Alzheimer

Com objetivo de analisar as projeções com base nos dados obtidos por meio de pesquisas científicas realizadas no Brasil nos últimos dez anos, acontece nesta quinta-feira (21), Dia Mundial de Conscientização da Doença de Alzheimer, o primeiro Big Data ABRAz.  O evento, inédito no Brasil, reunirá estatísticas sobre comprometimento cognitivo leve, impacto do estigma da demência tanto para a pessoa diagnosticada quanto para a família, custos diretos e indiretos da falta de um diagnóstico preciso e precoce, além da estimativa de brasileiras e brasileiros diagnosticados.

O projeto inovador consolida dados sobre a doença de Alzheimer no Brasil, com o objetivo de produzir conhecimentos e insights que auxiliem na tomada de decisões e ações estratégicas para criar políticas públicas eficazes para as organizações sobre o diagnóstico das demências. A compilação e leitura desses números são uma forma da diretoria científica da ABRAz trazer à luz uma nova leitura sobre o diagnóstico da doença de Alzheimer e outras demências que afetam a população brasileira.

Mais sobre o evento – O evento conta com a presença da médica endocrinologista, Alessandra Rascovski; da geriatra e diretora científica da ABRAz, Carla Núbia Nunes Borges; da geriatra e presidente da ABRAz regional São Paulo, Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira; do neurologista e diretor científico da ABRAz regional São Paulo, Fábio Henrique de Gobbi Porto que é especializado em neurologia cognitiva e do comportamento; Florindo Stella; psiquiatra; Ivan Hideyo OkamotoGustavo Bruniera, Jerusa Smid e José Campos Filho, neurologistas do Hospital Israelita Albert Einstein;, Norberto Frota; neurologista; Paulo Henrique Ferreira Bertolucci.

O primeiro Big Data ABRAZ será realizado no Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein – Campus Cecília e Abram Szajman, Auditório Camilla Bueno – Rua Comendador Elias Jafet, 755 – Entrada pelo piso L04 – Morumbi – São Paulo – em 21 de setembro, às 8h30. O Big Data tem o patrocínio da Libbs Farmacêutica, Apsen Pharma, Novo Nordisk Farmacêutica do Brasil, EMS e Aché Laboratórios Farmacêuticos.

Palavra de Especialista

Demência: como enfrentar esse desafio com informação, prevenção e tratamento

Estilo de vida saudável, educação e cuidado com a audição são os pilares fundamentais para prevenir doenças neurodegenerativas

Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira, geriatra e presidente da ABRaz Regional São Paulo (Foto: Divulgação)

Por Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira, geriatra e presidente da ABRAz Regional São Paulo*

O Brasil enfrenta o desafio de cuidar de uma população que envelhece cada vez mais, graças aos avanços do sistema de saúde. Porém, esse envelhecimento vem acompanhado de um aumento das doenças crônicas, entre elas as neurodegenerativas, que afetam o cérebro. Estima-se que, até 2050, haverá 150 milhões de pessoas com demência no mundo, sendo a maior parte em países de baixo e médio desenvolvimento socioeconômico, onde os casos podem crescer cinco vezes.
 

O estudo “Prevalência de Demência e Comprometimento Cognitivo Sem Demência em uma Amostra Nacional Grande e Diversificada”, desenvolvido pela ELSI-Brasil (sigla para Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros), encontrou, no Brasil, uma prevalência de 1,8 milhão de pessoas com demência e 2,4 milhões com algum tipo de comprometimento cognitivo. Coordenado pela psiquiatra e epidemiologista, Cleusa Ferri, a pesquisa foi e publicada, em junho de 2023, pelo The Journals of Gerontology.
 

O levantamento foi realizado em cinco regiões geopolíticas do país, em cidades de diferentes portes. Com base nos resultados do censo demográfico, estima-se que em 2019 havia 1.757.480 pessoas com 60 anos ou mais vivendo com demência no Brasil e pelo menos outros 2.271.314 convivem com algum tipo de comprometimento cognitivo.
 

Apenas 1,2% dessas pessoas recebem o diagnóstico adequado, sendo que a maioria já está em estágios avançados da doença. Um número gigantesco de pessoas que sem diagnóstico estão à margem dos cuidados e tratamentos existentes, e disponíveis no SUS, com grande impacto para a sua saúde e bem-estar além de afetar a toda a família.
 

O objetivo do estudo foi estimar a prevalência de demência e Comprometimento Cognitivo Leve (CCL), sem demência, na população brasileira de 50 anos ou mais, usando dados da Pesquisa Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros. O levantamento analisou os fatores associados à demência e ao CCL, como idade, sexo, escolaridade, região geográfica, estado civil, renda familiar, atividade física, tabagismo, consumo de álcool, depressão e doenças crônicas. Como ainda, comparar os resultados com outros estudos nacionais e internacionais sobre a epidemiologia da demência e do CCL.
 

O Brasil carecia de estudos que retratassem sua realidade. Tínhamos apenas estudos populacionais em pequenas cidades, em sua maioria no sudeste do país. Usando dados de 5.249 os participantes foram categorizados como tendo função cognitiva normal ou demência com base em uma combinação do estado cognitivo e funcional do indivíduo. Além disso, os pesquisadores conseguiram um retrato mais fidedigno da realidade brasileira, o que possibilitará o desenvolvimento de políticas públicas e ações mais condizentes com as necessidades do país neste quesito.

A melhor maneira de evitar as doenças neurodegenerativas é adotar um estilo de vida mais saudável. A Lancet Commition, uma comissão mundial, com os maiores nomes da pesquisa em demência, identificou 12 fatores de risco que podem ser modificáveis e em quais fases da vida a intervenção teria maior impacto.
 

Entre eles, estão o estímulo cerebral por educação ainda na infância, a prática de atividade física, a atenção à perda auditiva na meia idade, o controle da pressão arterial, do peso e do diabetes. Além disso, é importante reduzir o consumo de álcool e eliminar o tabagismo, tratar a depressão e evitar traumatismos cranianos, isolamento social e poluição ambiental. Esses hábitos podem fazer a diferença para proteger o cérebro das demências.
 

A pesquisa do braço Brasileiro da Lancet Commition, com base na população brasileira em seus diversos cenários étnicos e sociodemográficos, revelou que o potencial de prevenção em nosso país, seria aproximadamente 48%. Os fatores com maior importância nesse cenário são o baixo nível de escolaridade, perda auditiva, hipertensão arterial e obesidade. Nosso país tem urgência de um plano de enfrentamento e redução de riscos para as demências.

 

Educação

A Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, analisou quais são os fatores que podem aumentar ou diminuir o risco de uma pessoa ter um Comprometimento Cognitivo Leve (CCL), que é uma alteração na capacidade mental, que ainda não compromete o cotidiano, mas que pode ser um prenúncio do desenvolvimento de uma demência. A educação é um dos fatores que pode diminuir o risco de ter um CCL. Pessoas que tinham uma média de 11,5 anos de educação tinham 5% menos probabilidade de desenvolver, em comparação com aquelas com apenas dez anos de estudo. O levantamento não diferenciou o tipo de ensino (regular ou superior).
 

Uma forma de preservar a saúde do cérebro e evitar o declínio cognitivo associado ao envelhecimento é manter o órgão em constante atividade e desafio. Isso ficou demostrado na pesquisa de Columbia, que envolveu dois mil voluntários com mais de 70 anos. Segundo os resultados, as pessoas que continuaram fazendo atividades que estimulam o cérebro reduziram em 20% o risco de deterioração cognitiva.
 

O estímulo do cérebro também tem um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem, pois envolve uma série de processos cerebrais que permitem ao indivíduo adquirir novas informações e experiências. Por meio do estímulo, o cérebro consolida a formação conceitual de ideias que serão utilizadas no processo de aprendizagem da pessoa.
 

Existem diversas formas de estimular o cérebro, como ouvir músicas, ver fotos, ler revistas, colaborar nas tarefas cotidianas. Essas ações favorecem a plasticidade neuronal, que é a capacidade do cérebro de se adaptar e se modificar, em resposta às mudanças na atividade neuronal. É importante que os exercícios sejam atividades que agradem ou interessem à pessoa para manter a motivação.

 

Audição

A saúde do cérebro pode ser afetada pela perda auditiva. A conclusão é de um estudo com dados do biobanco do Reino Unido, que analisou 437 mil pessoas, com média de idade de 56 anos, por 12 anos. Publicado pela revista Lancet (periódico científico sobre medicina) em 2022, a pesquisa observou que 25% da população tinha déficit auditivo e que apenas 11% usavam aparelho auditivo. O risco de demência foi 42% maior entre aqueles que tinham déficit auditivo e não usavam aparelho. Para aqueles que usavam aparelhos auditivos o risco foi igual àqueles que ouviam bem.
 

O estudo avaliou a interferência de fatores como solidão, isolamento social e depressão que também são fatores de risco para demências e notaram que menos de 11% do risco seria por esses fatores secundários. Portanto diagnosticar e tratar déficits auditivos com o uso de aparelhos que ajudam a ouvir é uma medida muito importante para a redução de riscos de demência.

 

Hipertensão arterial e obesidade

A hipertensão arterial e a obesidade são condições que aumentam o risco de demência, especialmente entre as pessoas de 45 a 65 anos de idade. Os fatores combinados podem prejudicar o fluxo sanguíneo para o cérebro, causando danos às células nervosas.
 

A obesidade também está associada ao alto nível de colesterol, resistência à insulina e inflamação, que pode formar placas nas artérias que dificultam a circulação do sangue, mas também podem interagir com o gene APOE4 (um dos genes implicados no risco da Doença de Alzheimer). Um estudo publicado na revista “Lancet Neurology” revelou que a obesidade, a hipertensão e o alto nível de colesterol são fatores que elevam as chances de uma pessoa desenvolver demência.
 

Horizonte

Um novo patamar se abre para as pessoas que vivem com demência e suas famílias. Após anos de frustração, novas alternativas terapêuticas surgiram. Esses medicamentos têm o potencial de modificar os processos fisiopatológicos da doença, eliminando as placas amiloides que se formam no cérebro. Apesar dos progressos recentes no tratamento farmacológico, as demências ainda não têm cura. A comunidade científica acolheu com entusiasmo por ser a primeira intervenção bem-sucedida nos mecanismos fisiopatológicos, mas também olha com cautela, devido a questões de segurança medicamentosa, a necessidade de um diagnóstico preciso, a aplicação nas fases muito precoces da doença e acessibilidade ao produto.

As novidades com relação aos tratamentos e a maior precisão no diagnóstico usando biomarcadores chacoalham o mundo científico, enchem as famílias das pessoas com demência de esperança. Mas as ações de prevenção ainda são a melhor forma de enfrentar a questão das demências, com maior impacto e otimizando programas já existentes, o que implica em menores custos.

*Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira é geriatra e presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) Regional São Paulo.

Fonte: SMS-Rio e ABRAz

 

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