Brasileiras adiam o sonho de ser mães

Muitas mulheres que ainda não optaram pela maternidade recorrem ao congelamento de óvulos para preservar a fertilidade. Entenda como funciona

congelamento de óvulos
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Na semana destinada às celebrações pelo Dia das Mães, um dado chama atenção. É uma recente pesquisa do Ibope que indica que nos próximos dois anos, 79% dos brasileiros em idade fértil não pretendem ter filhos, sobretudo os moradores dos estados do Sul (87%). Até 2020, apenas 17% dos entrevistados declaram a intenção de ter um filho por meio de gravidez e somente 2% têm a intenção de adotar uma criança.

Foram entrevistadas no mês de março deste ano 1491 pessoas em idade fértil, sendo homens com idade entre 16 e 60 anos e mulheres com idade entre 16 e 45 anos, em 140 municípios do país, entre os dias 15 e 19 de março de 2018. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total das amostras.

Mas e se a mulher mudar de ideia e resolver ser mãe, em idade já considerada acima da barreira do “fertilmente viável”? Cada vez mais independentes, com sonhos, profissões renomadas e com a agenda cheia de compromissos, as brasileiras estão optando pela gravidez tardia, geralmente a partir dos 35 anos. Seguindo a tendência mundial, esse novo comportamento faz crescer a procura por congelamento de óvulos nas clínicas de reprodução humana.

Vencedor do GFI (Grant for Fertility Innovation) em 2017, considerado o maior prêmio de reprodução humana do mundo, Matheus Roque  afirma que o procedimento é muito procurado nas clínicas onde atua no Rio de Janeiro por mulheres em idade reprodutiva com o objetivo de preservar o seu potencial fértil.

Mestre em Reprodução Humana pela Universidade Autonoma de Barcelona e Doutorando em Ginecologia e Obstetrícia pela UFMG, ele afirma que atualmente, esta técnica possibilita a manutenção da autonomia reprodutiva feminina. Isso torna possível para a mulher preservar seu potencial reprodutivo, seja por indicação médica ou desejo pessoal.

Existe uma tendência mundial em que as mulheres estão adiando o momento para iniciarem a tentativa de engravidar. Isso faz com que as chances de gravidez diminuam e que aumente o número de pacientes inférteis. E a única maneira de tentar evitar os danos que a idade causa sobre o potencial reprodutivo da mulher, é através da preservação de fertilidade, com o congelamento de óvulos ou embriões”,  enfatiza.

De acordo com o especialista, a criopreservação é o processo de resfriamento celular a temperaturas abaixo de 0ºC com o objetivo de parar todas as atividades biológicas celulares, preservando-as para utilização futura. “O advento da técnica de vitrificação oocitária talvez tenha sido um dos passos mais importantes dados pela medicina reprodutiva nos últimos anos”, destaca o especialista.

Qualidade dos óvulos piora com o tempo

Com o passar dos anos, o relógio biológico feminino diminui a quantidade e a qualidade dos óvulos que a mulher possui, uma vez em que ela já nasce com todos os óvulos que terá durante toda a sua vida, até que chegue um certo limite e entre em menopausa.

Talvez ainda mais importante que a diminuição da reserva ovariana esteja o fato da piora da qualidade oocitária, que também ocorre com o passar dos anos. Esta piora leva a uma menor chance de gravidez, maiores riscos de abortamentos, malformações e síndromes com o avanço da idade. Estas alterações passam a ser mais significativas após os 36 anos de idade”, salienta o especialista.

Congelamento não tem prazo de validade

Segundo o ginecologista, o congelamento de óvulos não tem prazo de validade. Recentemente, a imprensa noticiou o caso de uma mulher americana de 26 anos que deu a luz à um embrião (óvulo e espermatozoide fecundados) congelado em 1992, há 24 anos. Assim que passou por esse procedimento, o óvulo mantém as suas características e não envelhece.

O objetivo do congelamento de óvulos é mostrar claramente às mulheres que as chances de gravidez de maneira natural ou com tratamentos caem drasticamente com o avançar da idade. Assim como ocorre um aumento no risco de aborto e de doenças genéticas com o avançar da idade”, ressalta.

Quem pode fazer?

O congelamento de óvulos é indicado para mulheres que desejam postergar ou não tenha definido se desejará uma gestação no futuro.  A idade ideal para isso acontecer é abaixo dos 36 anos, apesar de não existir uma contraindicação sobre esse fator. “Mesmo feito esse procedimento, há também a chance da mulher ter uma gravidez de forma natural, mas se isso não ocorrer, esses óvulos podem ser utilizados para uma reprodução assistida”, explica o especialista.

Mulheres com histórico de menopausa precoce entre os familiares e mulheres que desejam conservar sua fertilidade são aconselhadas a fazerem o congelamento de óvulos. Quem está em tratamento de câncer apresenta um risco aumentando a insuficiência ovariana ou menopausa precoce e também pode congelar seus óvulos para uma futura gestação.

“Os tratamentos oncológicos, principalmente a quimioterapia e radioterapia podem causar um dano aos ovários das pacientes e levar à diminuição da reserva ovariana, levando a uma antecipação da menopausa nestas pacientes. Assim, todas as pacientes em idade reprodutiva que irão submeter-se a tratamentos oncológicos têm a indicação formal de realizarem um tratamento de preservação de fertilidade – congelamento de óvulos/embriões – antes de submeterem-se aos tratamentos oncológicos”, ressalta Roque.

Como funciona?

A paciente passa por uma estimulação hormonal, recebendo uma alta carga de hormônios para estimular o amadurecimento de diversos óvulos durante o período de estímulo, que dura em média 9-10 dias. Dois dias após o último dia do estímulo é realizada a captura dos óvulos guiada por uma ultrassonografia transvaginal, procedimento no qual uma agulha é introduzida através do fundo vaginal até os ovários, onde os óvulos são aspirados.

O procedimento é feito com anestesia (sedação) e pode ser que ocorra uma cólica moderada, após o procedimento que dura cerca de 15-20 minutos e é feito em clínicas de reprodução humana. “Não há nenhum tipo de diferença entre a gravidez com óvulos frescos ou a gravidez com o óvulo congelado. Depois de descongelado, ele se torna igual ao óvulo encontrado no ovário em um ciclo natural ou durante um tratamento de Fertilização in vitro”,  finaliza  o médico.

 Fonte: Ibope e Dr Matheus Roque

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