Um estudo inédito promovido pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) mostrou que o uso de filtro solar não prejudica a absorção de vitamina D pelo organismo. Para os pesquisadores, a atual “epidemia de hipovitaminose D” deve ser causada por insufiiciência no consumo de alimentos que contêm a vitamina e, principalmente, dos hábitos de lazer e de trabalho em ambientes fechados, “característicos da sociedade moderna que não se expõe ao sol no seu cotidiano”.
O estudo identificou que a utilização do fotoprotetor e exposição leve ao sol não afeta a capacidade de síntese cutânea de vitamina D. “A síntese de vitamina D depende de doses muito baixas de UVB em pequenas áreas do corpo. A radiação atinge a pele através do vestuário leve e couro cabeludo, áreas que não são completamente cobertas pelo filtro solar”, comenta Helio Miot, da Diretoria da SBD.
Atualmente na Região Sul tem sido registrada baixa incidência solar, o que preocupa os médicos da região, pois nos próximos meses é possível que haja uma baixa considerável na produção de vitamina D. Com chegada da próxima estação onde o clima encontra-se fresco e úmido, o deficit da vitamina D colabora para resfriados e gripes.
Hábitos interferem nos níveis de vitamina D
A vitamina D é um importante hormônio produzido a partir da alimentação e, principalmente (90%) pela pele, a partir da exposição leve à radiação UVB. Desempenha importantes funções no organismo, principalmente no metabolismo ósseo, imunidade e resistência à insulina.
Diversas condições clínicas e de hábitos interferem nos níveis de vitamina D, como dietas restritivas, obesidade, sedentarismo, diabetes mellitus, hepatopatia, nefropatia. Pessoas que não se expõem diretamente ao sol e pacientes acamados são os mais vulneráveis. A espessura da pele exposta (reduzida em idosos), a má-absorção do intestino (como ocorre em pacientes que fizeram cirurgia bariátrica) e os medicamentos de uso regular são outras causas.
De acordo com a SBD, boa parte da população mundial apresenta níveis plasmáticos de vitamina D insuficientes e até deficientes. Isso tem originado políticas de suplementação da indústria alimentar (por exemplo, laticínios, sucos industrializados), ou mesmo suplementação oral em populações de risco (por exemplo, idosos).
A causa de muitas doenças
Carência de vitamina D seria culpa de dermatologistas
O uso regular de filtro solar nas áreas diretamente expostas ao sol para prevenção ao câncer da pele, queimaduras e fotoenvelhecimento tem sido criticado por alguns profissionais como importante causa da hipovitaminose D na população devido à redução de sua síntese cutânea, culpando o dermatologista e sua recomendação do uso de filtro solar.
“Até o momento, nenhum estudo havia sido conduzido para avaliar e subsidiar recomendações de uso de filtro solar, especialmente, em populações de risco para hipovitaminose D”, ressalta a Sociedade de Dermatologia.
Os resultados da pesquisa mantêm a indicação da fotoproteção regular frente à exposição moderada ao sol e confirmam que a exposição solar mais segura para a pele deva ocorrer fora dos horários de pico do UVB (10h-16h), sob vestuário adequado, sem risco de vermelhidão (o que degrada a vitamina D da pele) e sem compromisso da síntese de vitamina D.
Mais sobre a pesquisa
Os participantes foram divididos em três grupos: confinados da exposição solar por 24h, expostos a doses baixas de sol (10-15 min que não chegam deixar a pele avermelhada) com e sem fotoprotetor tópico (FPS 30). Os seus níveis de vitamina D no sangue foram medidos na manhã antes da exposição solar e também na manhã seguinte, permitindo o cálculo da variação desses níveis, no intervalo de 24h.
A pesquisa revelou que a variação dos níveis plasmáticos de vitamina D foi maior para o grupo exposto com filtro solar do que para o grupo confinado, mostrando que ocorreu síntese efetiva de vitamina D após breve exposição ao sol, mesmo com filtro solar.
O trabalho foi apresentado durante o II Simpósio Nacional de Cabelos e Unhas, em agosto de 2017, no Rio de Janeiro, e foi coordenado pelos dermatologistas Flávio Luz (secretário-geral), Clívia Carneiro, Hélio Miot (1o secretário) e Sandra Durães, com o apoio da equipe do laboratório de análises clínicas da Universidade Federal Fluminense (UFF) e envolveu 95 voluntários, entre dermatologistas, alunos e participantes espontâneos.
“A diferença da variação dos níveis plasmáticos de vitamina D entre o grupo exposto com filtro solar e o grupo exposto sem o filtro não atingiu diferença significativa, indicando que não houve diferença substancial entre a exposição solar leve com e sem filtro solar”, explica Hélio Miot.
Fonte: SBD e Máximo Asinelli, com Redação