A audição desempenha um papel de extrema importância na vida dos seres humanos, estando presente em sua  comunicação, aprendizado e na  conexão com o mundo ao redor. A perda da audição tem se tornado uma preocupação global crescente.  De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1,5 bilhão de pessoas apresentam algum grau de surdez, e até 2050,  cerca de 2,5 bilhões de pessoas poderão apresentar algum grau de deficiência. A OMS estima que até 2050, uma em cada quatro pessoas terá problemas auditivos no mundo.

Na região da Américas, em torno de 217 milhões de pessoas vivem com perda auditiva, ou seja, 21,52% da população. Estima-se que até 2050, esse número possa subir para 322 milhões. No Brasil, é estimado que 10 milhões de habitantes já possuam algum tipo de comprometimento auditivo, com cerca de 2,7 milhões deles sofrendo de surdez profunda segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em grande parte dos casos a perda auditiva é causada devido à superexposição a ruídos e altos sons. A OMS alerta que ruídos acima de 75 decibeis (dB) são prejudiciais, e estudos do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) indicam que aproximadamente 1 bilhão de pessoas estão em risco devido à exposição excessiva ao ruído, especialmente em ambientes como shows, festas e locais de trabalho.

No Dia Mundial da Audição (3 de março), o Portal Vida e Ação ouviu vários especialistas sobre a perda auditiva, um problema de saúde comum que pode impactar profundamente a qualidade de vida. De acordo com a perda da audição, se não tratada adequadamente, pode até gerar problemas psicológicos, como a depressão, devido ao isolamento social decorrente da dificuldade de ouvir e se comunicar melhor.

Fones de ouvido e hastes flexíveis

Cada vez mais jovens, adolescentes e crianças estão sujeitos à perda auditiva. Um dos principais vilões da saúde auditiva são os fones de ouvido. A recomendação da OMS é que estes acessórios sejam utilizados por até uma hora por dia e em uma altura que, quando estiver com o aparelho, consiga ouvir o que as pessoas estão falando ao redor. Além disso deve-se evitar o uso deles em ambientes com muito ruído de fundo, como metrô ou restaurantes.

O risco de perda auditiva devido à exposição prolongada e excessiva à música alta, seja pelo uso de fone de ouvidos ou por frequentar eventos com som em alto volume”, afirma o médico otorrinolaringologista Bruno Barros, especialista pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia na capital paulista.

Outro perigo é o uso de hastes flexíveis – os populares ‘cotonetes’ – para limpeza dos ouvidos. O médico afirma que o uso das hastes pode empurrar mais a cera para dentro do conduto auditivo causando obstrução, o que pode gerar perda auditiva condutiva.

Ainda segundo a OMS o ouvido é capaz de se “auto limpar”, já que qualquer tipo de sujeira que tente entrar nele fica presa na cera. Ao contrário do que se pensa a cera não é sujeira. Ela contém substâncias com ação antibacteriana e age como um lubrificante natural.

Genética, doenças e envelhecimento da população

Além da exposição a ruídos e sons estrondosos, como música alta nos fones ou máquinas, que podem danificar a audição ao longo do tempo, a surdez pode ser causada por diversas razões.

Fatores genéticos, problemas herdados ou ainda ligados a síndromes desde o nascimento, como infecções na gravidez, por meio de doenças como rubéola, sífilis e citomegalovírus, além de doenças e infecções, como meningite, otites ou até mesmo diabetes e hipertensão”, menciona o médico Yasser Jebahi, otorrinolaringologista da Paraná Clínicas.

Existe ainda o próprio envelhecimento natural, que diminui a capacidade auditiva no decorrer do tempo. O Ministério da Saúde aponta que o aumento da surdez no país está associado a fatores como o envelhecimento da população e a exposição inadequada a ruídos ao longo da vida​.

No Brasil, os homens podem começar a apresentar mais sinais da perda por volta dos 60 anos de idade. Já as mulheres, ficam na média dos 65 anos. A condição pode surgir como um zumbido passageiro ou mesmo a perda total da audição, e um dos fatores relacionados a essa aparição é o avanço da idade.

Como reconhecer os sinais da perda auditiva

A perda auditiva pode ser silenciosa, muitas vezes surgindo de forma gradual. Por isso, é fundamental que as pessoas se atentem a qualquer alteração, como dificuldade para compreender conversas ou zumbido constante nos ouvidos”, alerta Fernando Balsalobre, otorrinolaringologista membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).

O otorrinolaringologista Fernão Bevilacqua explica que os sintomas mais perceptíveis podem incluir repetições de frases, pouca compreensão dos sons ao redor e perguntas sobre conversas recentes.

As perdas auditivas podem ter um início lento e progressivo, e às vezes, pode ser que as condições de saúde do indivíduo sejam imperceptíveis naquele momento. Por isso a idade pode acabar sendo um fator responsável pela perda, uma vez que acontece naturalmente”, afirma.

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Como evitar a surdez?

Metade dos casos poderia ser evitado ou minimizado com o tratamento adequado e formas simples de prevenção

Os dados sobre surdez e perda auditiva no Brasil e no mundo reforçam a importância de se conscientizar sobre os cuidados da saúde auditiva, muitas vezes negligenciada pela população em geral, mas essencial para a manutenção da qualidade de vida.

Diante do cenário alarmante, é fundamental a adoção de medidas preventivas, como também,  a realização de exames regulares, para preservar a saúde do ouvido e prevenir a sua perda precoce.  No geral, a perda auditiva poderia ser evitada, em grande parte dos casos, por meio da identificação precoce dos sintomas e com mudanças de hábitos simples ao longo da vida.

A audição deve ser monitorada ao longo de toda a vida. Além de evitar exposições excessivas ao som, é essencial realizar exames periódicos, como a audiometria, que pode detectar problemas auditivos antes mesmo que os sintomas mais evidentes apareçam”, ressalta o otorrinolaringologista.

Prevenção do som alto e cuidados com a higiene do ouvido

A principal dica dos especialistas para evitar a surdez é se proteger de ruídos, reduzindo o volume dos fones de ouvido, evitando exposição prolongada a sons altos e usando protetores auriculares em locais barulhentos. O tratamento rápido e adequado de infecções comuns de ouvido, como a otite, também ajuda a evitar problemas mais graves.

Pessoas que trabalham em ambientes com ruídos altos, como aeroportos, metrôs, canteiros de obra, entre outros, além de quem possui o hábito de ouvir música alta nos fones de ouvido ou presencialmente em festivais e shows, precisam avaliar a audição com um otorrino ou fonoaudiólogo. Ou, se preferirem, usarem equipamentos de proteção auricular para prevenir danos mais severos”, conclui o especialista.

Além disso, a manutenção de uma boa saúde auditiva também envolve cuidados com a higiene do ouvido. O uso inadequado de cotonetes, por exemplo, pode levar à formação de cerúmen impactado, que pode causar desconforto e até afetar a audição.

É importante detectar e tratar infecções adequadamente e manter atenção sempre que perceber que após gripes, resfriados ou dores no ouvido, a audição não voltou a ficar nítida”, alerta o médico otorrinolaringologista Bruno Barros.

É importante, ainda, tomar cuidados com as medicações, pois alguns remédios podem afetar a audição. Por isso é recomendável sempre seguir a orientação médica e evitar a automedicação. Outra dica importante é manter a vacinação sempre em dia. Vacinar-se contra sarampo, rubéola, caxumba e meningite ajuda a evitar complicações que podem afetar a audição.

Por último, manter um estilo de vida saudável, controlando doenças como diabetes e hipertensão também protege os ouvidos. “A perda auditiva, além de um problema em si, pode ser um sinal de alerta para outras condições. Buscar ajuda cedo ajuda a evitar complicações maiores e melhora muito a qualidade de vida”, concluiu o especialista da Paraná Clínicas.

Zumbido no ouvido pode ser sinal de surdez

A importância do diagnóstico precoce para um tratamento eficaz

Reconhecer os sinais de que a audição não vai bem é o primeiro passo para entender que a pessoa precisa de uma consulta com o especialista. Entre os sintomas recorrentes na população adulta, a ABORL-CCF evidencia a dificuldade para entender conversas, costume de aumentar o volume de aparelhos eletrônicos, falar alto, pedir para as pessoas ficarem repetindo falas, ter zumbido no ouvido, ficar em isolamento social, como sendo os principais.

O médico Yasser Jebahi, otorrinolaringologista da Paraná Clínicas, explica ainda que existe uma relação direta entre o zumbido no ouvido e a surdez. O zumbido (ou tinnitus) pode ser um aviso de problemas auditivos. Ele acontece quando as células do ouvido interno estão danificadas, algo que também pode causar perda auditiva.

Algumas condições como exposição a ruídos, envelhecimento e até doenças como a Doença de Ménière (que causa tontura e perda auditiva) podem trazer zumbido. “Embora nem sempre o zumbido signifique surdez, ele pode ser um alerta de algo maior e deve ser avaliado por um médico”, alerta o especialista.

Para todas as idades

Muitas pessoas têm, por hábito, procurar auxílio médico apenas quando os primeiros sinais da surdez já aparecem. Entretanto, os exames de prevenção são indicados em todas as fases da vida, mesmo em menor frequência. Em bebês, o teste da orelhinha é feito para identificar problemas congênitos.

Embora a perda auditiva possa ser agravada com o avanço da idade, é importante seguir com exames médicos desde o nascimento, para saber se a audição pode ou não estar sendo afetada de alguma forma. Nas crianças os exames, como a audiometria, devem ser realizados quando houver sinais de atraso na fala ou dificuldade na escola.

Pode existir uma perda auditiva de origem genética, uma síndrome, processos inflamatórios, infecciosos, tumores, acidentes, traumas, entre outras causas desde cedo. Por isso, independentemente da idade, é preciso fazer uma anamnese completa no paciente para direcionar a pesquisa sobre a possível perda auditiva e como lidar com ela”, explica Bevilacqua.

De acordo com o médico Yasser Jebahi, otorrinolaringologista da Paraná Clínicas, , a identificação precoce de problemas auditivos é essencial para determinar a prevenção de casos mais graves de surdez e os sinais são bem específicos em cada fase da vida.

Bebês fazem o teste da orelhinha logo após o nascimento. Já para crianças, sinais como atraso na fala ou dificuldade em entender palavras devem ser investigados. No caso dos adultos, eles devem buscar avaliação médica se perceberem dificuldades em ouvir ou necessidade de aumentar o volume de aparelhos. Por último, os idosos precisam de exames regulares, já que a perda auditiva nessa fase é comum”, afirma.

Audiometria identifica tipo e grau de surdez 

Detectar o problema de forma precoce é essencial para definir o melhor tratamento e prevenir que a perda auditiva se agrave. A melhor forma de cuidar da saúde auditiva é consultar um otorrinolaringologista e realizar exames regulares.

Ouvir é primordial para uma boa capacidade de comunicação e de relacionamento social. Quanto mais cedo um problema é identificado, maiores são as chances de tratamento e melhora da qualidade de vida”, finaliza o especialista.

O médico otorrinolaringologista realiza exames detalhados, como a audiometria, para identificar o tipo e o grau de surdez. Com base nos resultados, é possível definir a melhor abordagem, seja ela médica, cirúrgica ou por meio de dispositivos auditivos e terapias complementares com outras especialidades.

No caso dos adultos, também é importante realizar exames após a audição passar por experiências com sons de alta intensidade. Em adultos a audiometria tonal e vocal verifica a capacidade de ouvir sons e entender a fala.

Se não houver queixas de problemas auditivos, o indicado é que os exames em crianças e jovens sejam feitos a cada dois ou três anos. Com queixas ou exposição a ruídos, exames anuais são recomendados. Já nos idosos, exames anuais são indicados, mesmo sem sintomas.

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Quando é preciso usar aparelho auditivo

Uma forma de proporcionar maior qualidade de vida para aqueles que possuem alguma deficiência na audição é através do uso de aparelhos auditivos. Estudo publicado na revista The Lancet Healthy Longevity, em janeiro, aponta que o uso de aparelhos auditivos pode ajudar a reduzir em até 25% o risco de uma morte prematura.

Caso a perda auditiva seja decorrente de um processo inflamatório ou infeccioso, ou ainda devido a um tumor, podem existir chances de tratamento. Mas no caso da surdez por avanço de idade, o ideal é começar o quanto antes o uso de aparelho de amplificação sonora, caso o paciente esteja apto a usá-lo.

A recuperação auditiva irá depender do fator etiológico, mas de forma geral, não tem como recuperar sem se fazer nada. É um processo que faz parte do envelhecimento biológico, e não existe vitamina ou nutriente na alimentação, por exemplo, que possa prevenir o problema”, conta Bevilacqua.

Além disso, o maior erro de muitas pessoas com suspeita de perda de audição, segundo o otorrinolaringologista, é adiar o uso do aparelho, pensando que o problema ainda não atrapalha o suficiente na rotina e que dá para se virar sem o equipamento. “Mas a realidade é que, quanto mais cedo você colocar o aparelho, mais fácil a adaptação ao uso será”, pondera.

Implante coclear

Em casos em que a perda da audição já está instalada, uma alternativa cada vez mais usada é o implante coclear, um equipamento eletrônico computadorizado muito sofisticado, que substitui totalmente a cóclea, que é a região onde ficam as células da audição, de pessoas que tem deficiência auditiva severa ou profunda.

O implante estimula diretamente o nervo auditivo através de pequenos eletrodos que são colocados dentro da cóclea e o nervo leva estes sinais para o cérebro, assim é possível voltar a escutar”, finaliza o especialista. Em casos de perdas iniciais ou moderadas, a indicação é do uso dos aparelhos auditivos. Reabilitar todo tipo de perda auditiva é essencial para manter uma comunicação efetiva e qualidade de vida.

 

Conheça os principais tipos de surdez e como tratá-los

No Dia Mundial da Audição (3 de março), a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) e a Sociedade Brasileira de Otologia (SBO) esclarecem que a surdez pode ocorrer em diferentes níveis e formas, sendo classificada em três principais tipos: condutiva, neurossensorial e mista.

Surdez condutiva

Esse tipo acontece quando há um bloqueio ou problema na condução do som através do ouvido externo, ou médio até o ouvido interno. As causas podem incluir infecções no ouvido, presença de cera, secreção persistente atrás do tímpano, perfuração do tímpano, otosclerose, tumores, malformações da orelha e/ou dos ossículos do ouvido (martelo, bigorna e estribo).

A boa notícia é que, na maioria dos casos, a surdez condutiva tem terapias e pode ser reversível, segundo destaca o especialista da ABORL-CCF e presidente da SBO, Robinson Koji Tsuji.

O tratamento varia conforme a causa e pode incluir a remoção da cera, uso de antibióticos para infecções ou até procedimentos cirúrgicos atuando diretamente nas causas, como por exemplo: reparando uma perfuração do tímpano ou reconstruindo os ossículos do ouvido. Podendo também ser utilizado aparelhos auditivos em algumas situações com ótimos resultados.”, declara.

Surdez neurossensorial 

A surdez neurossensorial ocorre devido a danos nas células sensoriais do ouvido interno (cóclea) ou no nervo auditivo, como envelhecimento, exposição prolongada a ruídos altos, doenças genéticas e ao uso de medicamentos ototóxicos, ou seja, que contém substâncias que podem causar danos ao sistema coclear. Esse tipo de perda auditiva, geralmente, é irreversível, mas pode ser tratada com o uso de aparelhos auditivos ou, em casos mais graves, com implantes cocleares.

Tsuji explica que o implante coclear é um aparelho eletrônico digital que cumpre o papel de converter os estímulos sonoros em estímulos elétricos e estimular diretamente o nervo auditivo dentro da cóclea.

Ao fazer o implante, o paciente sentirá um ganho significativo na qualidade de vida, pois terá a sua audição restaurada, garantindo melhora da capacidade de comunicação e de relacionamento social, entre outras questões da rotina diária. Após a cirurgia, o paciente terá que fazer uma terapia fonoaudiológica por alguns meses e acompanhamento com o otorrino para conquistar esses resultados positivos”, esclarece.

Surdez mista

A surdez mista é uma combinação de surdez condutiva e neurossensorial. Nesse caso, o paciente apresenta tanto problemas na condução do som quanto danos nas células ou no nervo auditivo. Entre os fatores que desencadeiam a situação, estão infecções crônicas no ouvido, otosclerose, traumas ou lesões no ouvido.

Esse tipo de surdez pode ser mais complexo de tratar. “O tratamento depende do grau da perda auditiva em cada componente. Cirurgias podem ser indicadas para tratar a parte condutiva, enquanto aparelhos auditivos ou implantes cocleares podem auxiliar na surdez neurossensorial”, afirma o médico da ABORL-CCF.

Dicas de cuidados com a saúde auditiva

1. Evite exposição a ruídos altos:  Se possível, use protetores auditivos em ambientes ruidosos.

2. Realize exames auditivos periódicos A detecção precoce de problemas auditivos é essencial.

3. Mantenha a higiene adequada dos ouvidos: Nunca insira objetos no canal auditivo.

4. Preste atenção em sinais de perda auditiva: Dificuldade em ouvir conversas ou zumbido nos ouvidos pode ser um sinal de alerta.

Com Assessorias

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