Dificuldade para engolir, perda de peso inexplicável, queimação no peito, rouquidão e indigestão frequente 

Abril é o mês da campanha Abril Azul Claro, de conscientização sobre o câncer de esôfago, um tumor que tem como principais fatores de risco o tabagismo, consumo excessivo de álcool, obesidade e refluxo gastroesofágico.  Segundo projeção da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS)  para o ano de 2050 o número de casos anuais de câncer de esôfago pode saltar dos atuais 511 mil para 922 mil em 2050, um aumento de 80%.

Em âmbito mundial, de acordo com a  há pouco mais do dobro de número de casos entre os homens: 366 mil entre eles e 145 mil novos casos anuais entre as mulheres.  No Brasil, são esperados 10.990 novos casos em 2025, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), sendo três vezes mais comum em homens comparado com as mulheres.

Nos Estados Unidos, apenas 18% dos casos são diagnosticados no estágio inicial, quando a doença está localizada (restrita ao esôfago). Nestes casos, em que há diagnóstico precoce de câncer de esôfago, a sobrevida em cinco anos é de 48,1%, mais do que o dobro de chances de sucesso no tratamento quando comparado com a população em geral com diagnóstico desta doença.

“Aumentar as taxas de diagnóstico precoce é a principal medida para redução da mortalidade por câncer de esôfago”, afirma o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e diretor do Hospital de Base, de Brasília. Um alerta importante é que, ainda segundo o NCI, quatro entre dez casos de câncer de esôfago são diagnosticados já com a ocorrência de metástase – quando  o câncer se espalha para outros órgãos, reduzindo as chances de tratamento.

Confira 5 sinais câncer de esôfago

Conhecido também por sintomas inespecíficos e que podem ser confundidos com outras condições gastrointestinais, os sinais do câncer de esôfago geralmente são percebidos apenas em estágios avançados da doença.

Devido à progressão silenciosa da doença, é fundamental estar atento a esses sinais e procurar avaliação médica ao menor indício de sintomas persistentes”, afirma o especialista.

Para antecipar o diagnóstico é importante estar atento aos sinais de alerta. Confira 5 sinais do tumor que, se estiverem presentes, não devem ser ignorados:

  1. Dificuldade para engolir (disfagia) – Os alimentos sólidos são os primeiros a se tornarem difíceis de engolir e, com o tempo, até líquidos podem se tornar um desafio.
  2. Perda de peso inexplicável – Quando a perda de peso não tem uma causa aparente é importante investigar. A causa pode ser a dificuldade de se alimentar devido ao impacto da doença no metabolismo.
  3. Dor, pressão ou queimação no peito – Os pacientes podem apresentar sensação de dor no tórax, semelhante à azia ou desconforto ao engolir.
  4. Rouquidão ou tosse persistente – As alterações na voz ou tosse que não melhora, podem ser sinais relacionados ao tumor.
  5. Indigestão ou azia frequente – Sintomas parecidos com refluxo e gastrite podem ser sinais de alerta, principalmente em pessoas com fatores de risco.

O diagnóstico do câncer de esôfago pode ser feito por meio de uma biópsia, geralmente durante um exame de endoscopia digestiva alta. Outros exames de imagem como tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) podem ser solicitados para avaliar a extensão do tumor.

Câncer de esôfago está associado ao consumo de tabaco e álcool, alerta SBOC
Assintomático na fase inicial, este tumor pode ter sintomas parecidos com os de refluxo, o que retarda a percepção do paciente e a busca por orientação, impactando a possibilidade de diagnóstico precoce e as chances de cura

Posicionado como o sexto tipo de neoplasia mais comum entre os homens e o 15º entre as mulheres, o câncer de esôfago afetou cerca de 11.390 brasileiros em 2022, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Esse tipo de tumor é considerado grave e afeta, principalmente, pessoas a partir dos 50 anos, sendo mais incidente nas regiões Sudeste e Sul do país. Neste Mês de Conscientização do Câncer de Esôfago, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) chama atenção para a doença e faz um alerta em relação aos sintomas: eles podem ser confundidos com os de refluxo, o que muitas vezes resulta em diagnóstico tardio.

 

É importante esclarecer à população que o carcinoma epidermoide é um dos tipos mais frequentes de câncer no esôfago, sendo responsável por mais de 90% dos casos da doença. Segundo a Juliana Florinda de Mendonça Rêgo, do Comitê de Tumores Gastrointestinais Alto da SBOC, esse tumor está principalmente associado ao consumo de tabaco e álcool. “Ele se manifesta nas células escamosas, que fazem parte do revestimento do terço superior e médio do esôfago”, detalha a oncologista clínica.

Já o adenocarcinoma, outro entre os tipos mais incidentes, origina-se nas glândulas secretoras de muco presentes sobretudo no terço inferior do esôfago. “Em sua maioria, o adenocarcinoma está relacionado ao esôfago de Barrett — uma mudança anormal das células presentes na porção inferior do esôfago –, à esofagite de refluxo crônica, à obesidade e ao fumo”, explica Dra. Juliana.

Sintomas escondidos e diagnóstico

Em sua fase inicial, o câncer de esôfago tende a ser assintomático. Os sintomas surgem progressivamente quando a doença já se encontra em estágios mais avançados. Os principais são: dificuldade para engolir alimentos sólidos (disfagia) e, dependendo do avanço da doença, até mesmo alimentos líquidos; dor ao engolir (odinofagia); refluxo, que muitas vezes atrapalha e mascara o diagnóstico; dor atrás do esterno (osso do peito); perda de peso provocada pela dificuldade de se alimentar; náuseas e vômitos; azia; rouquidão; tosse; falta de ar; e hemorragia digestiva.

O diagnóstico é feito por meio da endoscopia digestiva alta e, se detectado o câncer de esôfago, outros exames podem ser solicitados como PET-CT, tomografia computadorizada, broncoscopia e ultrassonografia. Definir em qual estágio da doença o paciente se encontra é fundamental para a escolha correta do tratamento. “A ressecção tumoral é indicada na grande parte dos casos, seja por meio da ressecção endoscópica ou pela realização da cirurgia de esofagectomia”, diz a especialista da SBOC. Cirurgia, radioterapia e quimioterapia, associadas ou não, são métodos importantes no tratamento desse tipo de câncer.

Como com toda doença, a melhor forma de se prevenir do câncer de esôfago é mantendo bons hábitos de vida. É importante reforçar que o fumo e o consumo de bebidas alcoólicas são fatores de risco. Adotar uma dieta saudável e balanceada, além da prática de exercícios físicos, é de extrema importância para a saúde de todos e ajuda na prevenção deste e outros diversos tipos de câncer”, conclui Dra. Juliana.

Refluxo e esôfago de Barrett são fatores de risco

Assim como outros tipos de câncer, o câncer de esôfago ocorre quando as células sofrem alterações no DNA, levando à multiplicação descontrolada de células malignas. No caso específico do câncer de esôfago, as evidências associam o surgimento da doença à irritação crônica deste órgão, a partir de causas como tabagismo, obesidade, etilismo, hábito de consumir bebidas líquidas em altas temperaturas, alto consumo de ultraprocessados e baixo consumo de frutas e vegetais.

Outros fatores de risco são a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e histórico de alterações pré-cancerosas nas células do esôfago (esôfago de Barrett). Deve haver atenção especial também por parte das pessoas submetidas a tratamento de radiação no tórax ou na parte superior do abdômen.

De acordo com Rodrigo Nascimento Pinheiro, o tumores no esôfago poderiam ser evitados. “O câncer é uma doença multifatorial, ou seja, diversos elementos contribuem para seu surgimento, como fatores genéticos hereditários, hábitos de vida e condições clínicas pré-existentes. Por isso, a prevenção pode ser um caminho importante para reduzirmos esses números”.

O especialista faz outro alerta sobre os males do tabagismo. “A indústria do tabaco busca constantemente atingir a população mais jovem. Primeiro vieram os cigarros saborizados e mentolados, e depois os dispositivos eletrônicos, como o vape, que podem ser ainda mais prejudiciais do que o próprio cigarro tradicional”, alerta o especialista.

Este tumor apresenta dois subtipos mais comuns: o carcinoma escamocelular, também conhecido como carcinoma de células escamosas e o adenocarcinoma.. Juntos, eles representam mais de 90% dos casos.

O tratamento cirúrgico para pacientes com câncer de esôfago consiste na realização de esofagectomia, que é a remoção total ou parcial do tumor, com margem de segurança (área adjacente com tecido normal). Em alguns casos, pode haver a indicação de sessões de radioterapia ou quimioterapia (terapias neoadjuvantes, ou seja, antes da cirurgia).

As diferentes formas de cirurgia podem ser realizadas tanto por via aberta/convencional ou de maneira minimamente invasiva. Porém, quando se emprega a minimamente invasiva – por endoscopia ou laparoscopia, as incisões são bem menores, resultando em menor risco de sangramento, menos dor e mais rápida recuperação”, destaca Pinheiro.

Cirurgia, fase de diagnóstico e sobrevida em cinco anos

A escolha da terapêutica mais adequada para tratar o câncer de esôfago se baseia no estadiamento (fase em que a doença é diagnosticada, que vai de 0 a IV) e nas condições de saúde geral do paciente. A cirurgia costuma ser indicada para portadores de tumores em estágios iniciais e tem objetivo curativo. Para tumores em estágio 0 ou I (iniciais) pode-se recomendar a remoção do tumor por esofagectomia ou via ressecção (retirada) endoscópica da mucosa.

Dependendo das características, pode-se indicar, ainda, quimioterapia e radioterapia (prévias ou posteriores ao procedimento). Para tumores em estágios II e III, quando houve disseminação para linfonodos e para órgãos próximos, geralmente, indica-se a quimioterapia associada com radioterapia, seguida de cirurgia. Mas, em caso de tumores pequenos, pode-se realizar o tratamento cirúrgico isolado.

Já para tumores em estágio IV, com metástases à distância, busca-se aliviar os sintomas e retardar a progressão da doença com tratamentos não cirúrgicos. Em estágios muito avançados é possível indicar um procedimento cirúrgico com intuito paliativo, visando melhorar a qualidade de vida do paciente. É o caso, por exemplo, da cirurgia para colocação de sonda de alimentação.

Radioterapia é opção de tratamento curativo para pacientes com câncer de esôfago inicial e localmente avançado

A depender do estágio do tumor e das condições clínicas do paciente, a radioterapia pode ser utilizada como forma curativa (especialmente quando o tumor está restrito ao esôfago ou espalhou para os linfonodos), neoadjuvante ou paliativa

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil deve registrar 10.990 novos casos de câncer de esôfago em 2025, sendo o sexto câncer mais frequente entre os homens. A doença é 2,8 vezes mais comum no sexo masculino. O mês de abril é dedicado à conscientização sobre essa neoplasia, que apresenta dois subtipos mais comuns: o carcinoma escamoso e o adenocarcinoma.

O tratamento do câncer de esôfago depende do estágio da doença e das condições clínicas do paciente. A radioterapia pode ter uma finalidade curativa para tumores malignos do esôfago em estágios iniciais e localmente avançados. “Em alguns casos, a radioterapia pode ser indicada como tratamento isolado e, em outros, pode ser combinada com quimioterapia e cirurgia”, explica o radio-oncologista Erick Rauber, diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT). 

Entre as abordagens de radioterapia em câncer de esôfago, ela pode ser neoadjuvante, com a finalidade de reduzir o tamanho do tumor antes da cirurgia, aumentando as chances de ressecção completa e ainda pode ser indicada a radioterapia paliativa em casos de doença no estágio 4 (quando há metástase), para aliviar sintomas severos de dificuldade para engolir e dor, melhorando assim a qualidade de vida do paciente.

Há também situações em que a radioquimioterapia (combinação de radioterapia e quimioterapia) pode ser o tratamento principal, sobretudo quando a cirurgia não é viável devido à localização do tumor ou ao avanço da doença. “Dentre os tipos de radioterapia, a de feixe externo é a mais utilizada, direcionando energia de alta intensidade para destruir as células cancerígenas. Também existe a braquiterapia, na qual a radiação é aplicada internamente, próxima ao tumor”, relata Rauber.

Indicações da Radioterapia

A radioterapia pode ser utilizada em diferentes cenários do tratamento do câncer de esôfago:

  • Radical: Combinada com quimioterapia, em pacientes que não têm condições clínicas para cirurgia. Nesses casos, o objetivo é controlar o tumor e oferecer chance de cura sem intervenção cirúrgica. Ou ainda, quando o tumor desaparece após essa etapa, eliminando a necessidade da cirurgia,
  • Neoadjuvante: para reduzir o tamanho do tumor antes da cirurgia, aumentando as chances de ressecção completa.
  • Paliativa: no estágio 4, para aliviar sintomas como dificuldade para engolir e dor, melhorando a qualidade de vida do paciente.

Possibilidade de tratamento sem cirurgia

Um estudo recente publicado na Lancet Oncology 2025 apresentou dados de que pacientes com câncer de esôfago localmente avançado podem ser acompanhados sem cirurgia quando apresentam resposta clínica completa após quimiorradioterapia, ou seja, tumor sumiu após o tratamento.  O estudo mostrou ainda que a sobrevida global dos pacientes sob monitoramento não foi inferior àqueles submetidos à cirurgia.

A pesquisa analisou 309 pacientes, dos quais 198 foram acompanhados sem cirurgia e 111 passaram por esofagectomia após a quimiorradioterapia. Após 2 anos de acompanhamento, os resultados mostraram que 74% dos pacientes no grupo que fez quimiorradioterapia estavam vivos, contra 71% no grupo submetido à cirurgia, evidenciando não inferioridade na sobrevida global. “Os dados deste estudo são fundamentais para trazer discussões clínicas e pode ainda ser uma possibilidade. No entanto, a decisão entre quimiorradioterapia e cirurgia deve ser feita com cautela, considerando a individualidade de  cada caso.”, explica Erick

Os tipos, suas causas, sintomas e diagnóstico

O carcinoma de células escamosas ocorre com mais frequência na parte superior e no meio do esôfago e está fortemente relacionado ao tabagismo, ao consumo excessivo de álcool e à alimentação industrializada, especialmente com excesso de embutidos. Já o adenocarcinoma acomete predominantemente o terço inferior do esôfago e tem grande relação com a obesidade. Os sintomas do câncer de esôfago costumam ser inespecíficos e podem ser confundidos com outras condições gastrointestinais.

Geralmente, são percebidos apenas em estágios avançados da doença. A dificuldade para engolir (disfagia) é um dos primeiros sinais, iniciando-se com alimentos sólidos e progredindo para líquidos. Outros sintomas comuns incluem dor, pressão ou queimação no peitotosse persistente ou rouquidãoperda de peso inexplicável e agravamento da indigestão ou azia. “Devido à progressão silenciosa da doença, é fundamental estar atento a esses sinais e procurar avaliação médica ao menor indício de sintomas persistentes”, finaliza Rauber.

Com Assessorias

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