A cada 5 segundos um adulto perde a visão e uma criança fica cega em 1 minuto

Até 80% dos casos de cegueira são evitáveis ou curáveis, mas diagnóstico e tratamento precoce é fundamental. Conheça os fatores de risco

Ana Cristina Holanda de Freitas, oftalmologista há 30 anos, é diretora da Holanda Oftalmologia (Fotos: Divulgação)
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A visão é a janela para o mundo. Perder a visão pode significar uma grande mudança no sentido da vida. Muitas pessoas entram em depressão e desacreditam da possibilidade de retornar à sociedade com autoestima e autoconfiança. Os dados sobre a cegueira são alarmantes: a cada 5 segundos um adulto perde a visão, e a cada 1 minuto uma criança também é atingida pela cegueira

Os efeitos psicológicos associados podem sem desastrosos. Um estudo que contou com 146 pacientes de 17 estados do Brasil, mostrou que metade dos participantes que enfrentavam algum tipo de cegueira apresentou algum nível de ansiedade e depressão; destes, cerca de 50% com sintomas moderados ou graves. As doenças, consideradas o mal do século pela Organização Mundial de Saúde (OMS), impactam a vida social, econômica e profissional dos pacientes e familiares.

A cegueira também é um problema econômico e social. Em todo o mundo, mais de 90% das pessoas com deficiência visual vivem nos países pobres ou que estão em desenvolvimento. Regiões com boa economia e serviços de saúde têm apenas 0,3% da população com problemas de cegueira. Contudo, em regiões onde a economia e os serviços de saúde são precários essa taxa quadruplica.

De acordo com os estudos, mais de 1 milhão e meio de cegos no Brasil pertencem à população pobre ou remediada. Um estudo do Ibope, com apoio do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), mostra que 34% dos brasileiros adultos nunca foram ao oftalmologista. Diante deste cenário, o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual, em 13 de dezembro, ressalta a necessidade de conscientização sobre a prevenção para evitar condições que possam levar à perda de visão.

Envelhecimento da população aumenta problemas de visão

  • Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 80% dos casos de cegueira ou deficiência visual do mundo poderiam ser evitados por meio de ações preventivas com exames de rotina e tratamento precoce. Isso porque algumas causas de cegueira que são reversíveis. Contudo, é preciso atenção, diagnóstico correto e tratamento adequado desde o início.
  • Ainda segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), as principais causas de deficiência visual são os erros de doenças refrativas não corrigidas – como miopia, astigmatismo e hipermetropia -, catarata, glaucoma, tumores oculares e degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Outras causas que levam à cegueira e à perda do olho são infecções congênitas e retinopatia em bebês prematuros.

Além das doenças, a perda visual pode acontecer em casos de acidentes de trânsito, armas de fogo e até em atividades esportivas. Outro dado importante e que vale destacar é que as principais causas de cegueira estão relacionadas com problemas oculares que surgem com a idade e, consequentemente, envelhecimento. A mudança demográfica no Brasil aponta a necessidade de um cuidado mais específico a este ponto.

Em 1950, o país tinha 2 milhões de indivíduos com mais de 60 anos. Em 1965, este número chegou a 6,2 milhões. Na virada do século, o país tinha 13,9 milhões de idosos e atualmente, são quase 30 milhões, colocando o Brasil como o sexto país com maior número de idosos.

Nesta idade, problemas como catarata, glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular são mais comuns e podem causar a cegueira. Sem acesso a cuidados específicos, esses indivíduos acabam tendo a situação agravada e sendo atingidos de forma mais rápida e irreversível.

O envelhecimento populacional e mudanças no estilo de vida aumentam o número de pessoas com Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI), glaucoma e retinopatia diabética (RD), principais causas de deficiência visual e cegueira em idosos participantes de estudos conduzidos no final da primeira década dos anos 2000.

Até 80% dos casos podem ser prevenidos ou tratados

O número de pessoas com deficiência visual são altos no Brasil, mas a boa notícia é que eles podem ser curados. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 60% a 80% dos casos de cegueira são evitáveis e/ou tratáveis. Avanços da ciência e medicina tornaram possível o tratamento e prevenção de algumas causas de cegueira e, por isso, o acompanhamento da saúde da visão e rastreio de possíveis doenças se faz urgente.

“Atualmente, o mercado disponibiliza materiais e acessórios projetados para melhorar a qualidade de vida das pessoas com baixa visão. Existem diversos recursos e tecnologias inovadoras que podem auxiliar na vida diária, desde lupas e sistemas de iluminação especial, dispositivos de realidade aumentada, plataformas de Inteligência Artificial e outras que facilitam a realização de tarefas cotidianas para aqueles com visão reduzida“, completa a Dra Ana Cristina.

De acordo com o oftalmologista Alexandre Misawa, a oftalmologia é uma das especialidades que mais evoluiu nos últimos anos, não só em termos de diagnóstico, mas também em tratamentos. “Hoje, uma cirurgia de glaucoma, por exemplo, está muito mais avançada junto a tratamentos eficazes com menos efeito colateral. Já a terapia para catarata possui lentes intraoculares com capacidade de corrigir, além da catarata, o grau que o paciente tem, apresentando excelentes resultados visuais“, finaliza o especialista.
Como exemplo dos avanços recentes, Dr Arnaldo cita a aprovação recente da primeira terapia gênica na área de oftalmologia. Para doenças como DMRI e Retinopatia Diabética, a utilização de anticorpos monoclonais, que ficaram famosos por bons resultados na luta contra o câncer, tem proporcionado mais saúde e qualidade de vida aos pacientes.

Atenção aos problemas que mais levam à cegueira

Com o objetivo de alertar para a saúde dos olhos, Ana Cristina Holanda de Freitas, oftalmologista há mais de 30 anos, que atua na Maternidade de Campinas (SP) e é diretora da Holanda Oftalmologia, traça alguns cuidados que contribuem para que a pessoa se mantenha enxergando até o fim da vida.

Diabetes

“Foi diagnosticado com diabetes, procure um oftalmologista”. A frase assertiva e urgente da Dra. Ana Cristina indica a relação entre diabetes e a saúde ocular. O diabetes está associado a umas das principais comorbidades oculares: a retinopatia diabética (RD), uma das complicações microvasculares mais comuns do diabetes, sendo a principal causa de cegueira em adultos de 20 a 74 anos de idade

Especialista em retina e Retinopatia da Prematuridade, ela explica que a diabetes afeta o modo como o organismo processa a glicose e é fundamental que os diabéticos saibam como prevenir danos oculares.

A RD danifica os pequenos vasos sanguíneos da retina – o tecido sensível à luz no fundo do olho,  responsável pela formação das imagens enviadas ao cérebro. À medida que progride, leva à perda de visão de forma acelerada e é irreversível.  Por ser assintomática em seus estágios iniciais, o paciente pode não perceber.

“Por isso é crucial realizar exames oftalmológicos regulares, conforme prescrição médica, para diagnosticar precocemente e tratar a retinopatia diabética a tempo. O diabético deve manter os níveis de açúcar no sangue sob controle, monitorar a pressão arterial e seguir uma dieta saudável”, destaca.

Glaucoma

O glaucoma é a perda de fibras do nervo óptico e causa a redução do campo de visão periférica, isto é, de fora para dentro, de forma lenta e irreversível. Pessoas com histórico familiar dessa condição devem estar especialmente atentas e realizar exames oftalmológicos regulares para detecção precoce e tratamento adequado. A recomendação é que a partir dos 40 anos o exame que analisa se há o aumento da pressão do olho – um dos sintomas mais comuns do glaucoma – deva ser feito nas consultas ao oftalmologista.

Um cuidado bastante importante é quanto ao uso de colírios com corticoide, que infelizmente, pela legislação atual não necessitam de receita médica para ser adquirido nas farmácias. Procurado ingenuamente por pessoas que buscam tirar a vermelhidão da vista, o uso desse tipo de medicação por tempo prolongado pode gerar glaucoma.

Degeneração macular

A degeneração macular ocorre em idosos. Caracterizada pela perda da visão funcional, a doença atinge a visibilidade do centro do olho, restando a visão apenas no entorno da vista. A ida periódica ao oftalmologista pra quem tem a partir de 60 anos é recomendada para que não se atinja o estágio em que o tratamento não faça mais efeito.

Entre os fatores causadores e de risco da degeneração macular estão o consumo de cigarro, exposição ao sol cumulativa ao longo da vida, doenças cardiovasculares, obesidade, ingestão de alimentos ultraprocessados, hipertensão e algumas anormalidades genéticas.

Catarata

Se não tratada com cirurgia, a catarata gera cegueira. No entanto, por meio da cirurgia a visão é facilmente reversível quando o paciente não tem outras patologias. “Quando o paciente tem acesso à cirurgia, a chance de sucesso é grande, a recuperação da visão é rápida e com pouco sofrimento”, frisa a médica, que é oftalmologista há 30 anos pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, com doutorado na USP de Ribeirão Preto-SP.

Traumas

A Dra. Ana Cristina Holanda chama a atenção ainda para a prevenção de acidentes domésticos e no local de trabalho. “Não ignore o uso de equipamentos de segurança para precaução de lesões oculares. Na idade adulta, os traumas na vista causados por distração e falta de cuidado são importantes fatores que causam cegueira irreversível”, salienta.

Diagnóstico precoce ajuda a evitar perda da visão

De acordo com especialistas, a melhor forma de fazer a prevenção dessas patologias é detectar precocemente por meio de exames oftalmológicos de rotina como medir a pressão do olho e fazer a avaliação da retina e assim, evitar a perda de visão.

“Também é importante a proteção contra raios ultravioleta e usar óculos de sol de boa qualidade e procedência”, ressalta o oftalmologista Alexandre Misawa, que atua no  HSANP – hospital referência na Zona Norte da Grande São Paulo.

Ele lembra que a avaliação oftalmológica deve ser feita anualmente a partir dos 40 anos de idade. Já em crianças os exames preventivos devem ser realizados com um, quatro e sete anos de idade. “Caso ela tenha algum grau ou alteração, a avaliação pode ser efetuada de maneira individual”, salienta Dr Alexandre.

Os principais exames para garantir uma boa saúde ocular são: medida da pressão e avaliação do fundo do olho para a descoberta de problemas oftalmológicos. “Hoje, consideramos que ceratocone também é uma enfermidade que causa baixa visão. Tanto o exame de detecção quanto o tratamento são simples”, complementa o especialista.

Cuidado com a visão deve começar na infância

Arnaldo Furman Bordon, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Retina, diz que é importante lembrar que o cuidado com a visão infantil é essencial, uma vez que é nesta faixa etária que são diagnosticadas doenças genéticas como as Distrofias Hereditárias da Retina (DHRs).

Trata-se de um grupo de doenças oculares raras transmitidas de pais para filhos com diferentes padrões de herança genética e que, apesar de não provocarem alterações na estrutura do olho, provocam a degeneração das células da retina, causando a perda progressiva da visão.

Por isso, estar atento aos problemas visuais que podem ocorrer em cada fase da vida e procurar um especialista para orientar sobre a melhor medida preventiva ou sobre o tratamento mais indicado são formas eficientes de prevenir a cegueira.

“É fundamental a inclusão de exames oftalmológico na rotina dos pais e cuidadores. “Nas crianças, os sintomas podem ser mais sutis, o que reforça a necessidade do rastreio constante”, completa.

Chefe do Setor de Retina e Vítreo do Hospital Oftalmológico de Sorocaba, ve diretor da OftalmoFurman – São Paulo, ele ainda ressalta que em todas as fases da vida o check-up constante da saúde da visão é importante, especialmente em pacientes que já contam com outras doenças que são fator de risco, como o diabetes.

“A retinopatia diabética é um grande exemplo onde o diagnóstico precoce evita a perda da visão na maioria dos casos. Para todo diabético o exame regular ao médico oftalmologista é fundamental, mesmo que a pessoa esteja enxergando bem”, reforça Arnaldo.

Falta de acesso a oftalmologista pelo SUS

No entanto, o acesso ao oftalmologista é uma questão pública e precisa de atenção. É importante salientar os esforços públicos para tal, mas, também, atentar para a necessidade de informação. A população precisa e deve saber que tem direito a este cuidado.

Um projeto de Lei, 258/15, que institui a obrigatoriedade de que os cuidados com a saúde ocular sejam mais efetivos na rede pública de saúde e a necessidade de desenvolvimento de ações de fortalecimento da atenção primária oftalmológica no âmbito do Sistema Único de Saúde, foi arquivado em dezembro de 2002, no final da legislatura no Senado Federal.

“Já está claro que a cegueira evitável precisa ser erradicada. Para mudar essa realidade é necessário a inclusão das visitas ao oftalmologista ao check-up anual desde a infância. Prevenção e tratamento precoces proporcionam melhores resultados visuais, o que impacta diretamente a qualidade de vida dos pacientes”, finaliza dr. Arnaldo.

Dicas para manter uma visão saudável

Abaixo, o oftalmologista Alexandre Misawa dá algumas dicas para manter uma visão saudável:

• Boa alimentação;

• Hábitos de vida saudáveis como a prática de exercícios físicos;

• Uso regular de óculos de sol de boa qualidade;

• Utilização regular de óculos de grau de boa qualidade;

• Exames de rotina em dia, principalmente quem tem doenças oftalmológicas na família.

Deficiência visual em números

  • A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 10% da população mundial tenha algum tipo de deficiência e viva com algum impedimento de longo prazo, ocasionado por natureza física, mental, intelectual e/ou sensorial, que impede sua participação plena e efetiva na sociedade, em igualdade de condições.
    A Organização Mundial da Saúde estima que a cegueira afete 39 milhões de pessoas em todo o mundo e que cerca de 246 milhões sofram de perda moderada ou severa da visão. Pelas estimativas da OMS, o Brasil tem mais de 1,2 milhão de cegos.
  • Dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Brasil tem cerca 45 milhões de pessoas (23.9% da população) nesta condição. Dentre essas, aproximadamente 6,5 milhões têm deficiência visual, sendo 500 mil pessoas cegas e 6 milhões com baixa visão.
  • No estudo do IBGE em 2019, 35 milhões de pessoas sofriam com problemas de visão, o que corresponde a 19% do total da população.Os números apontam que 1.577.016 indivíduos são cegos, o equivalente a 0,75% da população nacional.
  • Um levantamento realizado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) no ano de 2019 estimou que 1,5 milhão de brasileiros são cegos, o que representava  aproximadamente 0,75% da população total em 2018..
  • Com Assessorias

 

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