A cada 39 segundos, morre uma criança vítima de pneumonia no mundo. A doença foi responsável pela morte de 802 mil crianças, em 2018, segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS). E, seguindo as tendências atuais, dados divulgados em 2020 pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) apontam que 6,3 milhões de crianças podem perder a vida em função da doença até 2030. A doença também é responsável por cerca de 20% dos óbitos anuais em todo o mundo.
No Brasil, esse índice pode chegar a 11% das mortes em crianças com idade inferior a um ano e 13% na faixa etária de um a quatro anos. Cerca de 15 milhões de crianças são hospitalizadas, anualmente, nos países em desenvolvimento como o Brasil. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) a pneumonia ainda é uma das principais causas de morte em crianças de até 5 anos de idade.
Com as restrições de pandemia sendo diminuídas, as crianças estão mais vulneráveis às infecções respiratórias. Segundo dados da plataforma Sivep-Gripe (Sistema de Informação de Vigilância da Gripe), do Ministério da Saúde, 89.826 crianças foram internadas com quadros respiratórios entre janeiro e agosto deste ano, contra 76.975 em 2020 (de janeiro a dezembro). Se dividir por faixa etária, as crianças de 0 a 4 anos foram as mais afetadas, com um aumento de 35% entre um ano e outro.
No Hospítal Sabará, especializado no atendimento em crianças e adolescentes até 18 anos, o índice de internação por pneumonia é bastante elevado. Nos dois últimos anos, os casos de pneumonia ficaram entre as quatro principais causas de internação em crianças com idade até 2,6 anos, perdendo apenas para asma, bronquite e diarreia. Entre os meses de janeiro e setembro de 2021, foram 177 internações e 477 crianças atendidas no Pronto Socorro, um número reduzido devido à pandemia.
No entanto, com o fim das restrições de circulação, a vacinação da Covid-19 para as crianças ainda sem previsão de data para liberação e mudanças bruscas de temperatura, esse número pode aumentar significativamente e em pouco tempo. “O fato de as crianças estarem em casa, houve uma enorme redução nas doenças respiratórias”, explica a pneumologista Maria Helena Bussamra.
Entenda os sintomas
A pneumonia é uma das causas da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), muito presente também nos quadros graves de Covid-19. Para falar sobre a importância da prevenção da doença e criar mecanismos para acabar com as mortes evitáveis por pneumonia infantil até 2030, a OMS instituiu o dia 12 de novembro como Dia Mundial da Pneumonia.
A pneumonia é uma infecção nos pulmões que pode ser causada por bactérias, vírus ou fungos, sendo que o Streptococcus pneumoniae, ou pneumococo, é o responsável por 60% dos casos de pneumonia. A intensidade da doença varia de leve a muito grave, dependendo do fator causador e das condições da criança.
Febre persistente por mais de 72 horas, tosse, apatia e dor torácica são alguns dos sintomas que podem acender um alerta e indicar pneumonia. Crianças de todas as idades podem desenvolver pneumonia, mas as menores são mais suscetíveis.
“A bactéria ou vírus pode atingir o que chamamos de parênquima pulmonar, ou seja, o pulmão. Quando o órgão infecciona, a doença se manifesta. Se esses quadros de febre e excesso de secreção persistirem, é importante buscar atendimento especializado”, explica Paulo Cesar Kussek, médico responsável pelo Serviço de Pneumologia do Hospital Pequeno Príncipe.
Outras doenças respiratórias também podem evoluir para pneumonia. E a doença precisa ser tratada com antibióticos para curar. “Complicações podem acontecer; apesar de existir vacina, a pneumonia mata milhares de crianças com até 5 anos. Por isso, diagnosticar precocemente pode fazer toda a diferença”, alerta o pneumologista.
Prevenção é feita com vacinas
O recomeço das atividades, como volta às aulas, o contato com outras pessoas e o aumento na circulação também têm influenciado para o maior surgimento de casos de doenças respiratórias.
“Antes da pandemia, a maior parte dos diagnósticos aconteciam entre março e abril. Agora, com a retomada das aulas presenciais e a mudança de estação acontecendo ao mesmo tempo, os atendimentos aumentaram de forma expressiva”, revela o médico. Também é preciso estar atento a pneumonias recorrentes. “Se isso acontecer com frequência, é sinal que existe outra doença por trás”, conclui.
A boa notícia é que já existe vacina para prevenção da doença. “Na rede pública, temos a Pneumo 10; e na particular, a Prevenar 13, indicadas para serem aplicadas no primeiro ano de vida”, diz o especialista. Além desses imunizantes, é importante manter os outros do calendário vacinal em dia. O médico menciona que eles auxiliam a melhorar o sistema imunológico por via cruzada. “Manter os ambientes limpos, ventilados e sem excesso de umidade são atitudes aliadas à prevenção”, informa.
A maior parte das pneumonias é leve e responde bem aos tratamentos, desde que diagnosticada rapidamente, e não costuma deixar sequelas. Os principais sintomas são: tosse com produção de expectoração; dor torácica, que piora com os movimentos respiratórios; mal-estar geral; falta de ar e febre.
MITOS E VERDADES
Para esclarecer as principais dúvidas sobre essa doença, a a pneumologista Maria Helena Bussamra, do Hospital Sabará, respondeu os mitos e verdades sobre a pneumonia infantil e deu algumas dicas do momento ideal para procurar um especialista.
1- As crianças são mais vulneráveis a pneumonia?
Verdade. Qualquer pessoa pode desenvolver a doença e em qualquer idade, entretanto, as crianças com até cinco anos de idade, estão entre as mais vulneráveis.
2) Gripe pode causar pneumonia?
Gripe é provocada por vírus e a pneumonia também pode ser ocasionada por vírus, mas a mais frequente é por bactérias.
3) A pneumonia pode ser considerada uma doença grave?
A pneumonia é uma infecção respiratória grave, caracterizada por tosse, febre e secreção. A doença é responsável por altas taxas de internações e mortalidade, especialmente entre crianças menores de cinco anos.
4) Quais sãos os principais fatores de risco para o desenvolvimento de pneumonia em crianças?
Os principais fatores de risco são baixo peso no nascimento, desnutrição, falta de aleitamento materno (pelo menos nos seis primeiros meses de vida), poluição ambiental, exposição à fumaça de cigarro (fumantes passivos) e falta de imunização adequada contra (sarampo, varicela, coqueluche, gripe, Haemophilus influenza e tipo b, pneumococos).
5) Os sintomas da pneumonia podem ser confundidos com os da gripe?
Tosse, febre alta, dores pelo corpo e mal-estar são sinais típicos de gripe, mas também podem ser sintomas da pneumonia. Geralmente os sinais da gripe passam em três a quatro dias. Se os sintomas durarem mais que isso e surgir falta de ar, tosse com secreção e dor no peito, há possibilidade de ser pneumonia e um médico/pediatra deve ser consultado.
6) Quais são os principais sintomas da pneumonia em crianças?
Os principais sintomas são tosse constante, febre, gemência, dificuldade para se alimentar, apatia, prostração e aumento da frequência respiratória. As crianças que manifestarem esses sinais devem ser levadas para atendimento médico imediato para tratamento adequado.
7) Quais as principais causas de pneumonia em crianças?
A pneumonia é causada por diversos agentes infecciosos, incluindo vírus, bactérias e fungos, e pode ser transmitida de algumas maneiras. A bactéria Streptococcus pneumoniae ou pneumococo é a principal causa de pneumonia e de doença invasiva preveníveis através de vacinação.
8) A vacinação é a forma mais eficiente de prevenção da pneumonia bacteriana em crianças?
A forma mais eficiente de prevenir contra a pneumonia causada pelo pneumococo é a vacinação. O Calendário de Vacinação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) recomenda a administração de duas doses da Vacina Pneumocócia 10-valente (conjugada) idealmente aos 2 meses e aos 4 meses de idade e uma dose de reforço aos 12 meses.A vacina Pneumocócia 10-valente (conjugada) está disponível gratuitamente nos postos de saúde para crianças menores de cinco anos.
9) Há outras formas de prevenção contra a pneumonia na infância?
Além da vacinação, outras formas de prevenção da doença em crianças são: lavar as mãos regularmente, garantir uma nutrição saudável.
10) – Quando os pais devem procurar um especialista?
Quando uma criança que tem febre, tosse e dificuldade para respirar e que não passa merece sempre deve ser avaliada por um médico.
Com Assessorias