Há 15 anos, portanto, desde 2010, o 20 de março, graças à Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, ganhou um novo sentido: passou a ser conhecido como o Dia Nacional de Atenção à Disfagia. O intuito é ampliar a divulgação sobre sintomas, consequências e tratamento da patologia, ainda pouco difundida de maneira geral na população brasileira, alertando sobre riscos e a importância de diagnóstico e tratamento precoces.

De acordo com pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) publicada pela Scielo, de 16% a 22% das pessoas acima de 50 anos, e de 70% a 90% das pessoas idosas no país sofrem da condição, que é a dificuldade e/ou a incapacidade de deglutir alimentos ou até mesmo a saliva de forma segura e adequada: um distúrbio que pode afetar diferentes partes do trato digestivo, desde a boca até o estômago.

disfagia é uma condição caracterizada pela dificuldade de engolir alimentos, líquidos, saliva ou medicamentos, e tem se tornado um problema crescente na saúde pública, especialmente devido ao envelhecimento da população. A condição pode afetar gravemente a qualidade de vida dos pacientes, gerando impactos físicos e emocionais..

A disfagia pode resultar de distúrbio na passagem do alimento da orofaringe para o esôfago (disfagia orofaríngea) ou na passagem pelo esôfago até o estômago (disfagia esofágica). A primeira, também chamada de ‘disfagia alta’, acontece durante a fase oral e/ou faríngea da deglutição; a segunda, ‘disfagia baixa’, ocorre quando os alimentos já estão na fase esofágica da deglutição”, explica Rebeca Torezim, coordenadora da equipe de fonoaudiologia do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP).

A otorrinolaringologista Luciana Fernandes Costa, da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL CCF), destaca que a disfagia impacta diretamente o prazer envolvido no ato de se alimentar-se, já que comer é uma atividade social importante.

É uma doença que pode levar ao isolamento social, visto que o ato de se alimentar torna-se difícil e, por vezes, constrangedor.” A médica também alerta que, se não tratada, a doença pode afetar o estado nutricional do paciente, resultando em emagrecimento e, em casos extremos, desnutrição.

Embora a disfagia seja uma condição séria, existem estratégias de prevenção. “Bons hábitos alimentares funcionam como medidas preventivas eficazes, como se alimentar sentado, com a cabeça levemente inclinada para a frente, e evitar distrações durante as refeições, como o uso de celulares ou assistindo à TV”, destaca a especialista.

A médica destaca, ainda, que manter uma boa higiene oral e cuidar da dentição também é essencial, pois dentes saudáveis facilitam o processo de mastigação e ajudam a prevenir infecções. Vale ressaltar que, para pacientes com doenças que aumentam o risco de disfagia, o acompanhamento médico precoce pode ser fundamental para mitigar os sintomas antes mesmo que se manifestem.

Alerta sobre conscientização e prevenção da disfagia

O envelhecimento natural é um fator relevante, pois com a idade o processo de deglutição pode se tornar mais desafiador. Além disso, condições clínicas, como  estão frequentemente associadas à disfagia, como a presença de doenças neurológicas, tais como acidente vascular cerebral; traumatismo cranioencefálico; Parkinson; Alzheimer e paralisia cerebral.

Câncer e outras doenças na região da cabeça e pescoço, doenças neurológicas e musculares, doenças pulmonares e tumores de sistema nervoso central; linfomas; doença pulmonar obstrutiva crônicaCovid-19. Pacientes com histórico de infecções pulmonares recorrentes ou pneumonia por aspiração ou que fizeram uso de ventilação mecânica invasiva também devem ficar alertas.

Os sintomas da doença variam conforme a causa subjacente, mas entre os mais comuns estão a sensação de alimento preso na garganta ou no peito, tosse ou engasgos durante ou após a deglutição, dor ao engolir, regurgitação de alimentos ou líquidos e perda de peso inexplicada. A aspiração de alimentos ou líquidos para os pulmões pode causar pneumonia, enquanto a dificuldade respiratória durante as refeições pode gerar um aumento da ansiedade e do estresse.

Pode causar sensação de ‘algo parado na garganta’, aumento de tosse e pigarro relacionado ao momento da refeição, e evoluir com broncoaspiração, que é a entrada de alimentos, líquidos, saliva, vômito nas vias aéreas, causando pneumonia, traqueobronquite, infecções pulmonares, obstrução de vias aéreas e até a morte”, salienta.

Segundo a especialista, os sintomas mais comuns são a dificuldade para engolir e engasgos frequentes; a pessoa percebe que pode estar desenvolvendo a condição caso apresente perda de peso acentuado, tempo aumentado para realizar refeições, e tosses e pigarros frequentes durante e/ou após comer.

É essencial que os pacientes busquem atendimento médico assim que perceber qualquer sintoma de disfagia. Se houver dificuldade persistente para engolir, tosse frequente durante as refeições, dor, perda de peso inexplicada ou rouquidão persistente, é fundamental procurar orientação médica”, orienta Dra. Luciana.

Diagnóstico precoce

A conscientização sobre a disfagia é essencial para permitir um diagnóstico precoce e a escolha do tratamento mais adequado, garantindo melhores resultados e uma maior qualidade de vida aos pacientes. O diagnóstico precoce é de extrema importância para evitar complicações graves, como desnutrição e infecções pulmonares, além de ajudar na escolha do tratamento mais eficaz.

Assim, é preciso ter atenção a certos sinais:

  • Dificuldade para mastigar e/ou engolir alimentos e líquidos;
  • Necessidade de engolir várias vezes a porção de alimento e/ou líquido colocado na boca, ou, até mesmo, a própria saliva;
  • Tempo de refeição mais longo que o habitual;
  • Dor para engolir;
  • Sensação de alimento parado na garganta;
  • Tosse ou pigarro constante durante e/ou após a alimentação;
  • Mudança na voz após engolir;
  • Mudança na cor da pele durante ou após a alimentação (palidez/cianose ou “pele roxa”);
  • Falta de ar;
  • Perda de peso ou inapetência;
  • Internações frequentes por pneumonia ou infecções respiratórias;
  • Resíduo alimentar na boca após engolir.

O diagnóstico é realizado multidisciplinarmente, com fonoaudiólogo, médico, gastroenterologista, otorrinolaringologista, nutricionista, entre outros. Inicialmente, é feita uma avaliação clínica, podendo ser indicados exames instrumentais (videonasofibroscopia da deglutição, feito por especialistas em otorrinolaringologia e fonoaudiologia; e a videodeglutograma, exame de imagem fonoaudiológico).

O fonoaudiólogo é o profissional capacitado para o diagnóstico funcional e a reabilitação das disfagias orofaríngeas, sendo imprescindível sua atuação para identificação de causas, indicação de reabilitação e orientação sobre as modificações necessárias (consistência dos alimentos mais seguras; exercícios necessários fortalecer e estimular os processos de deglutição; manobras para deglutição; organização de ambiente e demais estratégias que o profissional julgar importante)”.

Tratamento da disfagia

O tratamento depende de cada caso e da gravidade. Pode ser curável, mas alguns casos potencialmente não reabilitáveis são trabalhados por meio de intervenção fonoaudiológica, medidas adaptativas e compensatórias.

Para a disfagia esofágica, o tratamento é focado na origem do problema, o que pode ser feito com a prescrição de medicamentos que atuam na inibição da produção de ácidos para pessoas que apresentam refluxo, por exemplo. Caso haja a necessidade, podem ser indicados procedimentos que dilatam o esôfago ou cirurgia para quadros desenvolvidos por tumores”, detalha.

A disfagia orofaríngea pode levar à aspiração traqueal do material ingerido, de secreções orais, ou ambos. A aspiração pode causar pneumonia e, se recorrente, uma doença pulmonar crônica. Se prolongada, muitas vezes leva à alimentação inadequada, emagrecimento, à perda ponderal, desnutrição, redução da qualidade da vida e impacto social (privação do prazer de se alimentar). “Compartilhar a informação é de extrema importância. Qualquer dúvida, não existe em procurar um especialista”, conclui Rebeca.

A especialista ressalta que o tratamento para disfagia deve ser personalizado e adaptado conforme a causa e a gravidade da condição, dentre eles:

  • Mudanças na dieta: Alterações na consistência dos alimentos, como alimentos mais amolecidos, pastosos, líquidos espessados, podem ser recomendadas junto a uma adaptação dos utensílios utilizados para alimentação, por exemplo utilizando talheres de menor tamanho ou canudos para facilitar os processos envolvidos na alimentação. Nesse item ainda incluímos a manutenção do aporte calórico e proteico adequado aos pacientes, mesmo com uma dieta adaptada em consistência.

Vias alternativas de alimentação: Sondas ou a gastrostomia podem ser utilizadas em casos mais graves para garantir a hidratação e a alimentação.

• Terapia de deglutição: Os fonoaudiólogos, nossos parceiros no cuidado, podem promover a reabilitação através de exercícios e terapias específicas. Além de orientar manobras que podem ser úteis para facilitar a deglutição.

Medicamentos: Tanto para o manejo da doença de base quanto no ajuste da saliva quando em excesso.

• Tratamento cirúrgico: destinado aos pacientes com doenças específicas, no geral com maior impacto da disfagia na saúde global.

Com Assessorias

 

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