Enquanto o Brasil envelhece rapidamente, uma condição silenciosa ameaça a qualidade de vida dos idosos: a disfagia. Caracterizada pela dificuldade em engolir alimentos, líquidos e até a própria saliva, a condição pode levar a desnutrição, pneumonias recorrentes e perda acelerada de peso, afetando não apenas a saúde física, mas também o bem-estar emocional e a autonomia dos indivíduos.

O envelhecimento populacional é uma das mudanças demográficas mais marcantes do século XXI. No Brasil, a população acima de 60 anos deve alcançar cerca de 37% até 2050, segundo o IBGE. Segundo o último Censo do IBGE, a população com mais de 65 anos aumentou 57% em apenas 12 anos. Apesar desse crescimento expressivo, o país ainda não está devidamente preparado para lidar com os desafios do envelhecimento.

Este cenário exige atenção especial a condições comuns dessa faixa etária, como a presbifagia e disfagia – dificuldade de engolir alimentos e líquidos. O problema, que pode passar despercebido em seus estágios iniciais, é influenciado tanto pelo envelhecimento natural do corpo quanto por doenças que afetam significativamente a população idosa, como o AVC, Parkinson e as demências.

Dados indicam que cerca de 30% das pessoas acima de 60 anos, mesmo aquelas independentes e saudáveis, apresentam algum grau de dificuldade para engolir determinados alimentos. Em idosos com doenças neurológicas como AVC, Parkinson ou Alzheimer, esse índice pode chegar a 70%. No entanto, o tema segue pouco debatido e, muitas vezes, negligenciado até que as complicações se tornem severas.

A alimentação não pode ser vista apenas como uma necessidade nutricional, mas como um pilar central da qualidade de vida”, afirma Juliana Venites, fonoaudióloga e especialista em gerontologia. “O ato de comer envolve autonomia, prazer e socialização. Quando há dificuldades para engolir, o impacto vai muito além da saúde física”.

Perda de dentes é outro agravante

Além das dificuldades diretamente relacionadas à deglutição, há ainda outro fator agravante: a perda de dentes. A ausência de um acompanhamento odontológico adequado ao longo da vida pode comprometer a mastigação e reduzir ainda mais a ingestão de proteínas, essenciais para a manutenção da massa muscular.

A perda de força nos músculos do corpo também afeta os músculos responsáveis pela deglutição. O idoso come menos, perde mais massa muscular e se torna ainda mais frágil. É um ciclo perigoso que precisa ser interrompido”, alerta Cristina Zerbinati Carro, fonoaudióloga hospitalar e especialista em disfagia.

O cuidado integrado como solução

A boa notícia é quedisfagia pode ser diagnosticada e tratada. Fonoaudiólogos desempenham um papel fundamental na reabilitação, por meio de exercícios específicos e adaptações na alimentação. Além disso, nutricionistas e dentistas são aliados essenciais para garantir que os idosos tenham condições adequadas para se alimentar de forma segura e saudável.

Com o Dia Nacional de Atenção à Disfagia, celebrado em 20 de março, especialistas reforçam a necessidade de conscientização sobre o tema. “Se queremos um envelhecimento saudável, precisamos incluir a saúde da deglutição na pauta. Garantir que os idosos possam se alimentar sem riscos é uma questão de dignidade e qualidade de vida”, conclui a Dra. Venites.

Diante do aumento da expectativa de vida e das taxas de envelhecimento, a presbifagia e a disfagia precisam ser reconhecidas como prioridade em políticas de saúde pública. Investimentos em prevenção, diagnóstico precoce, tratamentos acessíveis e conscientização são passos fundamentais para mitigar os impactos da condição”, destaca a fonoaudióloga Carolina Silvério, vice-coordenadora do Departamento de Disfagia da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.

Ela exemplifica uma ação simples no campo da prevenção, como o desenvolvimento de cartilhas educativas estimulando a população ao exercício preventivo e de manutenção da estrutura muscular responsável pela deglutição.

O impacto do envelhecimento na deglutição

Mesmo em idosos saudáveis, o envelhecimento provoca mudanças fisiológicas na estrutura da deglutição. A musculatura responsável pelo ato de engolir enfraquece e os reflexos tornam-se mais lentos, aumentando o risco de aspiração de alimentos e saliva para os pulmões e consequente pneumonia aspirativa. Essas alterações podem dificultar não apenas a ingestão de alimentos, mas também comprometer a qualidade de vida.

Além do envelhecimento natural, condições como o Acidente Vascular Cerebral (AVC), Parkinson e demências aumentam significativamente a prevalência de disfagia na terceira idade. Estima-se que até 50% dos pacientes com AVC e cerca de 80% dos idosos com Parkinson enfrentem dificuldades para deglutir. Esses números são um alerta para a necessidade de diagnóstico precoce, tratamento adequado e políticas públicas.

Implicações da disfagia: riscos e impactos na saúde

  • Desnutrição e desidratação: A dificuldade para engolir compromete a ingestão de alimentos e líquidos, levando a quadros de desnutrição e desidratação.
  • Pneumonia aspirativa: A aspiração de partículas de alimento ou líquidos para os pulmões pode causar infecções graves, sendo uma das principais causas de morte relacionada à disfagia.
  • Comprometimento psicológico: O medo de engasgar e as restrições alimentares podem levar ao isolamento social e à depressão, prejudicando o bem-estar emocional do idoso.

O papel da Fonoaudiologia: diagnóstico e tratamento

A presbifagia e a disfagia na terceira idade não são apenas reflexos do envelhecimento, mas sinal de que o cuidado com a saúde deve ser ampliado e integrado. A Fonoaudiologia se apresenta como uma aliada indispensável, contribuindo para um envelhecimento mais saudável e com maior qualidade de vida. A atuação do fonoaudiólogo inclui:

  • Avaliação e diagnóstico: Avaliações específicas com esse idoso comendo, além de exames direcionados, como a videofluoroscopia, ajudam a identificar alterações na deglutição.
  • Terapia personalizada: Estratégias como exercícios para fortalecimento muscular, mudanças na consistência alimentar e uso de técnicas de compensação minimizam os riscos e restauram a capacidade de deglutição.
  • Educação e prevenção: Orientações para cuidadores e familiares são fundamentais para garantir a segurança e a qualidade de vida dos pacientes.

 

Com Assessorias

 

 

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