Terapia ocupacional ajuda a retardar avanço da Esclerose Múltipla

Técnicas ajudam paciente a se ‘reconectar’ com o próprio corpo. Entenda ainda os benefícios da inteligência neuromuscular e dos cuidados odontológicos

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Dificuldade para caminhar, fraqueza muscular, incapacidade de executar movimentos, fadiga, problemas de fala e até bloqueios para pensar e compreender. Esses são alguns dos sintomas enfrentados pelos pacientes que têm Esclerose Múltipla (EM), uma doença crônica em que o sistema imunológico agride a bainha de mielina, comprometendo o sistema nervoso e impedindo a transmissão das mensagens do cérebro para diversas partes do corpo.

Embora a causa da doença ainda seja desconhecida, a Esclerose Múltipla é foco de muitas pesquisas e estudos no mundo todo, o que possibilita uma constante e significativa evolução na qualidade de vida dos pacientes. Uma das possibilidades para retardar o avanço da EM é a Terapia Ocupacional.

“O grande desafio do terapeuta é a conservação de energia do paciente, uma vez que a esclerose múltipla é progressiva e não tem cura. O paciente precisa do exercício proposto pela terapia, mas ele não pode chegar à exaustão”, explica a terapeuta ocupacional Syomara Cristina Szmidziuk, que tem mais de 30 anos de experiência no tratamento e reabilitação de pacientes.

Como se reconectar com seu corpo

A terapeuta explica que o ideal é usar técnicas que ajudem a entender como se reconectar com o próprio corpo, pois, com a doença, muitas vezes o paciente perde a noção de onde estão os membros necessários para determinado movimento, como quadril, pernas, braços e mãos.

“A Esclerose Múltipla afeta cronicamente as funções do corpo. O que para nós é simples, como escovar os dentes ou fechar um botão, para o paciente é um trabalho muito exaustivo, pois, com a doença, o corpo vai ficando sem força e rígido”, complementa. “É um dilema entre conservar energia e manter o paciente ativo física e cognitivamente”, acrescenta.

A terapia ocupacional ensina o paciente a entender o próprio corpo e a conservar energia na rotina diária. Isso é feito a partir da seleção das atividades e da maneira com que cada uma será realizada. “Às vezes o excesso de exercício, por exemplo, pode ser o fato desencadeador de uma crise. O terapeuta vai ensinar o paciente a planejar o gasto de energia no seu dia a dia”, afirma.

No processo de enfrentamento da esclerose múltipla, o terapeuta ocupacional ajuda ainda a identificar técnicas que possam simplificar as atividades diárias, mantendo as habilidades motoras e emocionais. “Com o Método Perfetti, por exemplo, é possível reconectar corpo e mente”, pontua.

Como funciona o Método Perfetti?

O Método Perfetti (ou reabilitação neurocognitiva) é baseado no processo de reaprendizagem dos músculos.  O método foi criado pelo neurologista e psiquiatra italiano Carlo Perfetti nos anos 1970, e tem como objetivo melhorar a qualidade dos movimentos de cada paciente de forma personalizada. Não apenas recuperá-los, mas melhorá-los e aprimorá-los com o passar do tempo. É preciso ir muito além, com coragem e determinação da equipe de terapeutas e do próprio paciente e sua família.

Para que a reabilitação seja efetiva, é preciso reeducar o próprio cérebro, ou seja, ativar as áreas cognitivas. O Perfetti está baseado em ativar áreas do cérebro e suas conexões para gerar movimento. E como fazer isso? Por meio do reaprender, fazendo novas conexões neurológicas, que é a neuroplastia. Assim, a atividade dirigida permite criar estratégias para que o cérebro grave essa nova informação, de forma ativa e duradoura.

Uma das técnicas utilizadas é o reconhecimento de posição, em que o paciente está de olhos fechados e reaprende a conectar músculo e pensamento. Não apenas as funções musculares são reativadas paulatinamente, mas também as capacidades cognitivas como a atenção, a percepção, a memória, a imagem motora e a resolução de problemas.

Só assim é possível reintegrar a relação entre corpo e mente e recuperar as habilidades que foram perdidas com a lesão ou doença. O Perfetti é sempre aplicado por um terapeuta e utiliza exercícios e objetos do cotidiano, adaptados para que o paciente possa interagir com eles.

Inteligência neuromuscular para pacientes com esclerose múltipla?

A inteligência neuromuscular é a ciência aplicada nos tratamentos de reabilitação, que estuda e trata de todas as propriedades do músculo esquelético e do músculo liso presentes em vários tecidos do nosso organismo, como, por exemplo, como eles se contraem, como eles aumentam de volume (hipertrofia), como eles se atrofiam (diminuem de volume), como são as suas reações às inflamações etc. Estas propriedades são trabalhadas nos tratamentos de reabilitação de pacientes com doenças neuromusculares degenerativas, como a Esclerose Múltipla.

“O tratamento neuromuscular na esclerose múltipla é fundamental para o ganho de massa muscular, sobretudo nos músculos cujo os nervos sofreram processo desmielinizante”, afirma Beny Schmid, médico patologista neuromuscular, chefe do Laboratório de Patologia Neuromuscular e Professor Adjunto de Patologia Cirúrgica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que utiliza as técnicas de inteligência neuromuscular.

Este conhecimento é colocado à disposição de sua equipe multidisciplinar, que conta com especialistas nos ramos da neurologia, patologia neuromuscular, psiquiatria, psicologia, fisioterapia aquática, fisioterapia motora, fonoaudiologia, musicoterapia, educação física e terapia educacional. “O tratamento multidisciplinar promove uma melhora expressiva na qualidade de vida, na autonomia e no aumento da longevidade das pessoas que possuem Esclerose Múltipla”, ressalta o especialista.

Cuidados odontológicos também são necessários

O conhecimento acerca da esclerose múltipla é fundamental, inclusive na Odontologia, uma vez que a condição ocasiona limitações que prejudicam, inclusive, o processo de higienização bucal, como alerta o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp).

Segundo a cirurgiã-dentista Graziela Pellegrini de Oliveira, membro da Câmara Técnica de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais do Crosp, o ideal seria que todo paciente, quando recebesse o diagnóstico de esclerose múltipla, fosse encaminhado ao cirurgião-dentista para que, nesse momento, já iniciasse um acompanhamento odontológico focado em orientação e prevenção em saúde bucal.

“A gente sabe que isso nem sempre acontece e que, na maioria das vezes, quando o paciente nos procura é porque já existe uma dificuldade na higiene bucal. Consequentemente, observa-se uma condição oral precária. As sequelas na visão, fadiga, dor e, principalmente, as dificuldades motoras fazem com que a escovação seja prejudicada”.

A especialista explica que os cuidados odontológicos com o paciente devem ser individualizados, levando em consideração a fase da doença, as medicações que ele faz uso e o grau de comprometimento nas suas habilidades e autonomia.

De acordo com ela, pacientes em início de doença são orientados com relação à higiene oral. Já aqueles casos em fases mais avançadas, nas quais os pacientes necessitam de um suporte maior, é possível lançar mão das tecnologias assistivas. “Escovas adaptadas e fio dental em forquilha são alguns exemplos para que, com esse suporte, o paciente possa manter sua autonomia e que para que, quando isso não for mais possível, as orientações se voltem aos cuidadores”.

Além disso, a especialista lembra da importância de inserir o cirurgião-dentista na equipe multidisciplinar que acompanha esse paciente, pois isso fará toda diferença nas condutas e estratégias de acompanhamento e prevenção, visando a melhora de sua qualidade de vida e bem-estar.

Com Assessorias

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