Há dois anos, em 12 de dezembro, um grupo de pessoas foi infectado e ficou doente por causa de um vírus que nunca havia infectado seres humanos. O SARS-CoV-2, vírus que causa a Covid-19, espalhou-se ao redor do mundo, provocando mais de 267 milhões de casos de infecção nesses dois anos de pandemia, incluindo 49 milhões de casos nos Estados Unidos e já matou mais de 620 mil pessoas no Brasil.
E as variantes? Por que e como aparecem? Especialistas da Mayo Clinic explicam que o genoma viral muda ou sofre mutações dentro de cada hospedeiro conforme o vírus se espalha. Essa alteração genética, denominada mutagenicidade, pode afetar a facilidade de disseminação do vírus, a gravidade da Covid-19 depois de infectado ou o nível de imunidade de uma vacina ou infecção anterior.
“As alterações mais preocupantes são monitoradas conforme se tornam mais proeminentes em diferentes regiões geográficas do mundo. Pesquisadores e médicos observam essas variantes (como a delta ou ômicron) para que possam descobrir como as mutações nessas variantes afetam os testes ou o atendimento ao paciente”, afirma a Mayo Clinic, em nota à imprensa.
Ainda de acordo com a instituição, um vírus se reproduz ao copiar o seu código genético e ao formar novas partículas de vírus para infectar o maior número possível de células hospedeiras. “No caso do SARS-CoV-2, o vírus armazena o seu código genético como RNA. Ele prioriza a velocidade da cópia em detrimento da precisão e mutações podem aparecer em cada rodada de replicação”.
A partir da infecção e ao longo dos primeiros dias, as partículas do SARS-CoV-2 podem duplicar de número a cada seis horas. Conforme a replicação do RNA acontece, os erros acontecem. Esses erros são chamados mutações. Se as mutações mudarem o vírus de modo a contribuir com a propagação ou com a infecção das células, elas podem levar a uma nova cepa de vírus, chamada de variante.
As mutações no genoma viral, especialmente as instruções para as proteínas de pico que contribuem com as células infectadas pelo SARS-CoV-2, podem resultar em uma partícula viral com capacidade superior de evitar o sistema imunológico, com maior resistência a tratamentos medicamentosos anteriores ou que possam infectar as células de forma mais eficiente. Mas outros erros de cópia podem prejudicar a reprodução do vírus ou não ter efeito nenhum.
Eventualmente, a menos que precauções sejam adotadas, uma variedade de partículas virais se espalha para o próximo hospedeiro, onde o vírus começa a tentar novamente.
“A pessoa fica infectada por uma população de vírus. Cada vírus individual pode ser diferente dos outros porque as mutações acontecem em locais aleatórios”, afirma Richard Kennedy, Ph.D., imunologista e codiretor do Grupo de Pesquisa de Vacinas da Mayo Clinic.
Com milhões de infecções pelo SARS-CoV-2, os cientistas, provavelmente, observarão a maioria das opções de mutações, escreveu Andrew Badley, M.D., especialista em doenças infecciosas da Mayo Clinic, em uma publicação recente. Ele é presidente da Força Tarefa de Pesquisas sobre o SARS-CoV-2 e COVID-19 da Mayo Clinic, que supervisiona as atividades de pesquisa relacionadas à Covid-19 da instituição.
No comentário, o Dr. Badley salienta que é essencial rastrear e coletar informações sobre essas mutações, além de avaliar os impactos sobre a efetividade de propagação do vírus, a gravidade da doença nas pessoas e se as novas variantes resistem aos atuais tratamentos e terapias experimentais para a Covid-19.
Nem todas as mutações preocupam os cientistas; não se esqueça de que algumas aparecem e depois desaparecem se não contribuírem com a disseminação do vírus. Mas algumas contribuem com a disseminação direta e indireta. Como parte da resposta imunológica, o corpo produz uma variedade de anticorpos, todos ligados a um pequeno pedaço de proteína viral.
Se houver a mutação do vírus, a proteína produzida a partir dessas instruções pode mudar o suficiente para que o anticorpo não possa se ligar a ela ou se ligue com menos força. E isso, escreve o Dr. Badley, poderia reduzir ou anular os efeitos benéficos das terapias que dependem em grande medida dos anticorpos: terapias com anticorpos monoclonais e, até certo ponto, a vacinação.
Mutações podem reduzir precisão dos testes
Igualmente importantes são as mutações nos locais utilizados em testes de diagnóstico molecular, escreve Joseph Yao, M.D., microbiologista e especialista em testes diagnósticos da Mayo Clinic. Estas mudanças poderiam diminuir a exatidão ou precisão dos testes, o que dificultaria ainda mais a detecção das infecções. E isso provocará indiretamente a disseminação do SARS-CoV-2.
Os efeitos conhecidos das variantes são um aumento potencial da transmissibilidade do vírus, até mesmo ao ponto de reinfecção das pessoas vacinadas ou que se recuperaram de uma infecção anterior pelo SARS-CoV-2. As novas variantes podem aumentar a hospitalização e mortes ou a infecção de pessoas jovens ou idosas se comparadas às variantes anteriores.
Elas também podem exigir testes adicionais, escreve o Dr. Yao, inclusive o sequenciamento do genoma viral com maior frequência para manter a vigilância sobre as variantes e garantir que os testes diagnósticos atuais permaneçam precisos.
Vacinas previnem a reduzem hospitalização
Em todo caso, os especialistas da Mayo concordam: mais vale prevenir do que remediar. Os especialistas da Mayo Clinic afirmam que, independentemente da variante, a prevenção da infecção funciona. As vacinas reduzem e previnem a hospitalização e morte de acordo com o conhecimento atual. Se uma pessoa puder receber a vacina ou se estiver em condições de receber a dose de reforço, deverá fazer isso o mais rápido possível.
“A utilização de máscara, o distanciamento social e a higienização das mãos diminuem as chances de exposição, seja qual for a variante”, afirma o Dr. Kennedy. “Se seguirmos todas as recomendações para a utilização de máscara, o distanciamento social e a higienização das mãos, além de tomarmos a vacina contra a Covid-19, teremos muito mais camadas de proteção para nos mantermos a salvo.”