Diante do uso excessivo da voz, como quando falamos demais ou gritamos muito, é normal a rouquidão aparecer. Ela é um sinal de que houve alteração na qualidade da voz, seja na intensidade, tom ou no timbre vocal. Apesar de comum, se o sintoma permanecer por duas semanas ou mais, a situação deve despertar preocupação pois pode indicar a presença de doenças.
Entre as sérias enfermidades está o câncer de laringe, que tem 90% de chances de cura quando descoberto precocemente. A doença é mais prevalente no público masculino e, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são estimados 6.570 casos em homens e 1.220 em mulheres, totalizando 7.790 casos no território nacional por ano.
É o que alertam especialistas da Academia Brasileira de Laringologia e Voz (ABVL), da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa) e do Hospital Paulista de Otorrinolaringologia durante a semana dedicada ao Dia Mundial da Voz (16 de abril).
“A rouquidão muitas vezes é negligenciada pela população, principalmente quando falamos do público masculino, que não tem o hábito de frequentar o médico constantemente como a mulher. Eles são o principal grupo de risco para esse tipo de câncer”, explica a presidente da ABLV, Adriana Hachiya.
Parkinson, AVC e refluxo também podem causar alterações na voz
Há uma estimativa de que milhares de pessoas tenham distúrbio de voz no Brasil. Alguns fatores que podem interferir de forma crônica na capacidade vocal e qualidade das interações entre os indivíduos.
Além do câncer de laringe, doenças podem estar associadas à rouquidão, desde uma simples gripe e resfriado, até o refluxo gastroesofágico, tumores benignos e lesão nas cordas vocais, que se caracterizam principalmente pela presença de nódulos na região, e doenças neurológicas, como a doença de Parkinson e o AVC (acidente vascular cerebral).
Entre todas as doenças que podem se desenvolver na laringe, o câncer é a principal preocupação e, para que haja sucesso no tratamento, é preciso ter um diagnóstico rápido, como alerta Domingos Tsuji, otorrinolaringologista e coordenador do Voice Center do Hospital Paulista.
“A voz humana é um instrumento complexo e versátil, no qual a laringe desempenha um papel fundamental: o de gerar a voz por meio das vibrações das cordas vocais. No entanto, infelizmente, todos os anos, mais de 5.500 pessoas morrem de câncer de laringe. Apesar dos números, estima-se que 90% dos casos possam ser curados se diagnosticados precocemente”.
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Outros sintomas junto com a rouquidão
A persistência da rouquidão é mais comum em pessoas que trabalham com a voz, como cantores, locutores e professores, mas não é exclusivo do grupo. Ela pode atingir qualquer um e também vir acompanhada de outros sintomas, como irritação ou dor de garganta, pigarro, tosse com ou sem secreção, sensação de que há algo preso na garganta, cansaço vocal, entre outros.
“O comportamento vocal pode influenciar o aparecimento de problemas em profissionais ou pessoas comuns. Hábitos como falar alto, sussurrado, com esforço, ou em um tom de voz que é diferente do seu tom original (mais grave ou mais agudo), bem como, falar em locais ruidosos, bem como, não tomar água, fumar ou beber, aumentam a chance de doenças que afetam a voz”, destaca a médica Adriana Hachiya.
Segundo a fonoaudióloga Ana Carolina Constantini, coordenadora do Departamento de Voz da SBFa, muitos dos sintomas são negligenciados, bem como seus impactos, retardando o diagnóstico e tratamento adequado.
“Rouquidão, falhas na voz e cansaço para falar por mais de 15 dias, sem motivo aparente como infecções de garganta ou uma demanda atípica e temporária de esforço, não são esperados e precisam ser investigados”, destaca a profissional.
Diagnóstico e tratamento
Diante deste risco, é importante estarmos atentos e conscientes das características de nossa voz para saber quando e quais profissionais procurar para uma investigação adequada. Quando a rouquidão ultrapassa 15 dias de duração é primordial procurar um otorrinolaringologista, que é o especialista mais indicado para diagnosticar o problema.
O médico vai fazer uma avaliação do histórico clínico e realizar exames como a laringoscopia, que permite observar a laringe e faringe com o auxílio de um aparelho, testes laboratoriais e fazer uma investigação radiológica e biópsia, caso necessário.
Dependendo da causa da rouquidão o médico pode indicar o uso de medicamentos, mudança de hábitos alimentares ou comportamentais ou outros recursos terapêuticos como a fonoterapia.
“Se houver suspeita de câncer de laringe, o paciente será encaminhado para uma biópsia. Se comprovado um câncer, será definido o melhor tratamento para o paciente, dependendo da gravidade da doença e incluir uma cirurgia endoscópica, radioterapia, quimioterapia ou cirurgias maiores como a laringectomia total”, esclarece a médica Adriana Hachiya.
