Em meio às celebrações pelo Dia Internacional da Mulher (8 de março), torna-se essencial discutir a presença feminina em diversas profissões, especialmente em áreas historicamente dominadas por homens. A medicina legal e a perícia médica são exemplos disso. Embora a participação das mulheres na medicina brasileira tenha aumentado significativamente nas últimas décadas, sua presença na perícia médica ainda é reduzida.

As mulheres já representam 49,92% dos médicos do Brasil em 2023, com projeção de ultrapassarem os 50% em 2024, tornando-se maioria na profissão, de acordo com a Demografia Médica 2024, realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

No entanto, na especialidade de medicina legal e perícia médica, a realidade é diferente: dos 2.292 médicos legistas titulados em 2022, apenas 26% eram mulheres, enquanto os homens correspondiam a 74%. Além disso, há uma distribuição geográfica desigual desses especialistas, com maior concentração na Região Sudeste (47%) e menor na Região Norte (5,8%).

Para Caroline Daitx, especialista em medicina legal e perícia médica, esses números evidenciam a necessidade de políticas voltadas à equidade de gênero e à renovação geracional na especialidade, que atua na interface entre a saúde e o direito, em áreas como investigação criminal, avaliação de danos físicos e mentais e emissão de laudos técnicos.

O crescimento da presença feminina na medicina é um avanço notável, mas a baixa representatividade na perícia médica revela desafios estruturais que precisam ser enfrentados. A baixa participação feminina pode estar relacionada a barreiras institucionais, falta de incentivos específicos e até mesmo desafios culturais que dificultam o ingresso e a permanência das mulheres nesse campo”, opina.

A médica legista ressalta que o reconhecimento das profissionais que atuam na perícia médica é essencial para inspirar novas gerações de médicas a seguirem esse caminho. Segundo ela, o Dia Internacional da Mulher é um momento oportuno para refletirmos sobre como podemos criar ambientes mais inclusivos e igualitários, garantindo condições justas de trabalho e oportunidades de crescimento para as mulheres na perícia médica.

Mais do que uma celebração, deve ser um momento de debate e ações para eliminar obstáculos e construir um futuro em que homens e mulheres tenham igualdade de oportunidades em todas as áreas da medicina“, destaca.

Hematologia tem 60% de mulheres, mas só 30% em cargos de liderança

Já na hematologia, o número de profissionais femininas supera os 60%. Dados recentes da pesquisa “Desigualdade na Medicina: Um Olhar sobre a Hematologia”, conduzida pela Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), mostram que, apesar de as mulheres representarem cerca de 50% dos estudantes de medicina, apenas 30% ocupam cargos de liderança na hematologia.

Além disso, 60% das médicas relatam enfrentar discriminação de gênero e 45% apontam a falta de mentoria como um obstáculo significativo em suas trajetórias. Outro dado preocupante é a disparidade no financiamento para pesquisas: mulheres recebem apenas 25% dos recursos destinados à pesquisa em hematologia, limitando seu acesso a oportunidades de inovação na área. No aspecto salarial, 37,7% dos entrevistados reconhecem que há uma desigualdade nos rendimentos entre homens e mulheres.

Nos últimos anos, tenho acompanhado uma transformação significativa na medicina e na hematologia, impulsionada pelo aumento de mulheres na profissão. Vejo esse crescimento como uma conquista, mas também como um desafio que exige adaptação e comprometimento”, diz a diretora de Ações Sociais da ABHH, Violete Petitto Laforga.

Promoção da equidade de gênero na Medicina

Também representante da entidade na Comissão Nacional em Defesa dos Direitos no Trabalho da Mulher Médica da Associação Médica Brasileira (Conadem), ela reforça a importância da atuação conjunta para promover mudanças concretas.

A luta por igualdade de gênero deve ser um compromisso coletivo, implementado de forma estruturada, com ações institucionais e educacionais que promovam um ambiente mais justo e inclusivo para todas as mulheres da medicina.

Neste Dia Internacional da Mulher, a ABHH  destaca sua atuação na promoção da equidade de gênero na medicina, em especial na hematologia. Por meio do Comitê de Equidade, a entidade tem desenvolvido uma série de iniciativas para garantir maior representatividade feminina na especialidade e combater desigualdades estruturais.

Com o apoio da ABHH, promovemos iniciativas inclusivas e discutimos ações para valorizar e respeitar todas as profissionais. Ainda há muito a ser feito, mas estamos comprometidos em construir um futuro mais igualitário e justo para as mulheres na medicina”, finaliza a Dra. Violette.

Com Assessorias
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