O ator Craig Russell,  de 47 anos, foi diagnosticado com câncer cerebral após sentir dor aguda com assobio na cabeça e longas crises de enxaqueca. Ouvir a palavra câncer sempre gera uma grande sensibilidade no ambiente. Esse estigma social acomete milhares de pessoas ao redor do mundo, mas seu impacto maior é sobre os pacientes que recebem o diagnóstico, sendo ainda mais intenso quando se trata de tumores cerebrais.

O câncer cerebral, embora não seja uma grande preocupação de saúde pública, causa medo devido às suas sequelas e impacto emocional significativo, além de muitos pacientes com câncer em outras partes do corpo desenvolverem metástase cerebral. Em 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) registrou 308.102 novos casos de tumores primários do sistema nervoso central (SNC) e 251.329 mortes relacionadas à doença.

Na soma, o câncer é a principal causa de morte no mundo com quase 10 milhões de mortes atribuídas à doença, destacando-se entre os tipos mais comuns o de mama, pulmão, cólon e reto e próstata. Os tumores cerebrais, embora incomuns, mas não raros, podem variar de benignos a neoplasias agressivas e ocupam atualmente entre a 8ª e a 9ª posição entre os de maior incidência na população mundial.

Mas existe chance de cura?

Falar sobre câncer pode gerar um grande medo entre as pessoas, fazendo com que algumas delas até evitem citar a doença. Quando se trata de uma doença no cérebro, esse cenário é ainda mais complicado e requer maior atenção e cuidado”, afirma o médico oncologista Ramon Andrade de Mello, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia e pós-doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra).

Segundo ele, em todos os casos, é necessário ter um acompanhamento correto com especialistas, para avaliar e decidir quais métodos de tratamento são mais adequados. “Claro que existem variações, sendo necessário realizar exames detalhados para acessar resultados precisos, descobrir se o tumor é benigno ou maligno e, só então, entender a gravidade de cada caso”, complementa o oncologista.

Associar cura ao tratamento de câncer requer considerar muitos aspectos físicos que são variáveis ao longo da vida de cada paciente. “É necessário fazer uma análise precisa de cada caso, e entender a gravidade e estágio de cada pessoa. Os tumores infiltrativos são capazes de se espalhar para o interior dos órgãos, então, por mais que haja a extração do tumor principal, podem surgir novas recidivas”, explica o oncologista.

Cuidados com a saúde mental do paciente

Receber um diagnóstico de câncer cerebral impacta todos os aspectos imagináveis da vida do paciente. Além de ter que iniciar um tratamento oncológico que, na maioria das vezes, é extremamente exaustivo, essas pessoas lidam com diversas outras questões físicas e mentais.

Descobrir um câncer nunca é fácil, mas descobrir um câncer com baixo índice de cura é ainda pior. Isso afeta todos os campos da vida do paciente, incluindo o tratamento oncológico. Para tornar esse tratamento mais seguro, é sempre recomendado o acompanhamento psicológico”, diz o Dr. Ramon Andrade.

Mesmo nos casos onde já foi realizada a extração do tumor principal, algumas pessoas ainda são ‘assombradas’ pelo medo da reincidência cancerígena. “Por isso, a psicoterapia é tão importante nesse processo, e deve ser conciliada à uma estratégia de acompanhamento segura, com ressonância e exames neurológicos, mesmo após o tratamento final”, destaca.

O médico destaca que é necessário estar atento a essa possibilidade ao longo da vida. “Os exames de rotina exercem um papel fundamental no controle de novas recidivas, se tornando indispensáveis para os pacientes por toda a vida. Além disso, quanto antes é descoberto um novo foco da doença, maiores são as chances de longevidade e alternativas de tratamentos”, finaliza.

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Evolução tecnológica no tratamento de tumores cerebrais

Apesar dos desafios, as inovações tecnológicas na área de neurocirurgia oncológica, com técnicas microcirúrgicas e novas tecnologias de ponta, estão mudando a realidade e os desfechos dos pacientes com tumor cerebral.

Hoje a Medicina caminha para uma precisão do diagnóstico que leva a um tratamento mais personalizado. Essa tendência gera um ganho de eficácia, ou seja, o aumento nas taxas de sucesso com redução de efeitos colaterais porque quando você trata todo paciente de câncer da mesma forma, a eficácia evidentemente não será igual para todos porque cada indivíduo pode ser impactado de forma diferente”, explica médico neurocirurgião Iuri Neville, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo do HCFMUSP.

A neuro-oncologia, campo da medicina que se dedica ao estudo de tumores do sistema nervoso central, também tem caminhado nessa direção, ou seja, uma medicina que busca tratamentos cada vez mais personalizados e seguros.

Abordagem e medicações personalizadas

Um exemplo desse novo cenário é o lançamento de novas medicações mais eficazes e que prometem um tratamento mais individualizado. A nova droga já vem sendo administrada nos EUA e deverá chegar ao Brasil no próximo ano.

A abordagem do tratamento dos tumores cerebrais tem mudado muito rapidamente nos últimos anos em relação a aspectos cirúrgicos, diagnósticos e tratamentos”, afirma o professor Carlos Gilberto Carlotti Júnior, professor titular da Divisão de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto e reitor da Universidade de São Paulo (USP).

Ele coordenou este mês dois cursos de atualização em neurocirurgia e de anatomia microcirúrgica aplicada às cirurgias de glioma, aneurisma e epilepsia. Segundo ele, os cursos fazem parte de um movimento que visa oferecer cursos de atualização em neurocirurgia, iniciada este ano, diante dos avanços da medicina de precisão com tratamentos personalizados.

É uma oportunidade para que os profissionais de saúde tenham acesso aos novos conhecimentos, principalmente da biologia molecular dos tumores cerebrais e novas tecnologias na neurocirurgia oncológica”, destacou o médico.

Com Assessorias

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