A incontinência urinária é um problema que atinge cerca de 10 milhões de brasileiros, de acordo com estimativas do Ministério da Saúde (MS). Porém, idosos apresentam ainda mais chance de ter algum grau dessa condição, caracterizada pela perda involuntária de urina, o que afeta profundamente pelo bem-estar físico e emocional. Cercada por tabus e falta de informação, a incontinência urinária é uma condição comumente associada ao público feminino, mas atinge também homens, principalmente acima dos 60 anos.
Muitas pessoas associam a perda involuntária de urina a algo normal dentro do processo de envelhecimento. O quadro, entretanto, pode impactar negativamente a qualidade de vida, sobretudo de mulheres e idosos, e tem tratamento, como alerta a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) no Dia Mundial da Incontinência Urinária, lembrado nesta sexta-feira (14) para promover a conscientização sobre a doença, a prevenção e o tratamento.
Um levantamento realizado pela entidade com base em dados do Ministério da Saúde informa que, de 2020 a 2024, foram realizados mais de 29,3 mil procedimentos cirúrgicos para tratar escapes de urina. O número é considerado baixo por especialistas, já que a estimativa é que cerca de 45% das mulheres e 15% dos homens com mais de 40 anos tenham incontinência urinária.
Condição pode levar ao isolamento social
De acordo com a SBU, na terceira idade, a perda de urina está associada ao enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico, à diminuição da capacidade de armazenamento da bexiga, ao aumento da próstata (no caso dos homens) e a problemas neurológicos, ao diabetes e à ingestão de determinados medicamentos, dentre outras razões.
A incontinência urinária masculina ocorre quando os músculos ou nervos responsáveis pelo controle da bexiga não funcionam corretamente, o que leva à perda involuntária de urina, conforme explica o médico urologista e professor do curso de Medicina da Uniderp, Ari Miotto Junior.
De acordo com a SBU, os escapes de urina podem ocorrer, ainda que em pequenas quantidades, após a pessoa espirrar, rir, tossir, exercitar-se, fazer esforços e até mesmo pela vontade súbita de urinar – algumas vezes, a pessoa sequer consegue chegar ao banheiro a tempo. Diante de quadros como esses, muitos acabam recorrendo ao uso de fraldas e absorventes ou até recusam o convívio social.
É importante destacar que a incontinência urinária masculina pode variar em intensidade, desde pequenos vazamentos até a perda total do controle da bexiga”, esclarece o especialista.
Obesidade é um dos fatores de risco
Entre os fatores de risco, que podem influenciar no surgimento da incontinência urinária, além do envelhecimento, destacam-se histórico familiar; tabagismo; diabetes e exercícios de alto impacto (quando não há avaliação e acompanhamento adequados).
Um dos principais problemas, além do desgaste dos músculos, é a obesidade. O excesso de peso pressiona a bexiga e os músculos da pelve, o que pode levar à incontinência urinária, especialmente a de esforço.
Lesões na medula espinhal, doenças cardiovasculares (infarto e AVC) ou até distúrbios neurológicos como Parkinson e esclerose múltipla também podem afetar o controle da bexiga, devido a danos nos nervos ou nos músculos envolvidos na micção.
Essa condição pode ser causada por diversos fatores, como problemas de próstata (como hiperplasia benigna ou câncer), cirurgias pélvicas e urológicas, principalmente para tratamento de câncer de próstata.
Por isso, a saúde da próstata deve ser acompanhada de perto, não somente como prevenção ao câncer, mas também em razão do crescimento benigno da glândula (hiperplasia prostática benigna), que costuma causar sintomas urinários, podendo levar à incontinência.
Alterações hormonais nas mulheres
Mulheres idosas apresentam risco elevado dos escapes de xixi quando comparado aos homens: cerca de 23% das mulheres entre 60 e 79 anos manifestaram incontinência urinária, contra 5% de casos na mesma faixa etária em homens. O índice aumenta ainda mais em pessoas com mais de 80 anos: 32% em mulheres e 7% em homens.
Alterações hormonais (principalmente em mulheres) também podem propiciar aumento de quadros de incontinência urinária. Isso ocorre em virtude da diminuição dos níveis de estrogênio após a menopausa e pode enfraquecer os músculos da pelve e uretra.
Já durante a gravidez, a disfunção está relacionada a questões como alterações hormonais, relaxamento dos músculos do assoalho pélvico, crescimento do útero e compressão da bexiga. Nesse caso, a prevenção passa por um bom acompanhamento médico, pelo fortalecimento do assoalho pélvico com exercícios específicos e pelo controle do ganho de peso.
O preparo do corpo para o parto, com orientações sobre a melhor forma de proteger a musculatura perineal, também contribui para reduzir o risco de incontinência no pós-parto.
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Sinais da incontinência urinária masculina
Os principais sinais da incontinência urinária masculina incluem:
- Vazamento de urina ao tossir, espirrar ou rir;
- Urgência urinária, com necessidade de urinar de forma repentina e frequente;
- Perda de urina durante a prática de atividades físicas;
- Sensação de que a bexiga não esvaziou completamente após a micção;
- Vazamentos involuntários que ocorrem durante a noite.
Tipos de incontinência urinária
A incontinência urinária pode ser dividida em três principais categorias:
– incontinência urinária por esforço – tipo mais comum, caracterizado pela perda urinária ao fazer esforços como tossir, rir, espirrar, exercitar-se ou carregar peso. Corresponde a cerca de 40 a 70% dos casos de incontinência urinária em mulheres.
– incontinência urinária de urgência – identificada pela vontade súbita e incontrolável de urinar. É também chamada de bexiga hiperativa.
– incontinência mista – associa os dois tipos de incontinência urinária.
Medidas simples podem evitar o problema
A incontinência urinária é uma condição que pode ser tratada de forma eficaz, especialmente com o diagnóstico precoce. Segundo a SBU, a incontinência urinária pode ser prevenida ou minimizada por meio de medidas simples.
Para idosos, a prática regular de atividades físicas no intuito de fortalecer a autonomia física e cognitiva e a musculatura pélvica e hábitos saudáveis, incluindo controle do peso, alimentação equilibrada e consumo adequado de líquidos, são considerados fundamentais.
Além disso, evitar o tabagismo e tratar condições como diabetes, hipertensão, obesidade e doenças neurológicas ajudam a reduzir os riscos.
Para as mulheres idosas, o controle do peso, exercícios para o fortalecimento da pelve e, em alguns casos, tratamentos médicos adequados, são fundamentais para melhorar a qualidade de vida e reduzir os sintomas. Mas é possível ainda apostar na redução da ingestão de líquidos, evitar consumo de cafeína, além de ter rotina e horários predeterminados para ir ao banheiro”, orienta Mauricio Ventura, geriatra do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE).
Como tratar a incontinência urinária?
O tratamento da incontinência urinária depende da causa subjacente da condição e da gravidade dos sintomas. Ainda segundo a SBU, atualmente, há diversas opções de tratamento recomendadas, de acordo com cada caso. Entre as opções, estão:
- Mudanças no estilo de vida: A adoção de hábitos saudáveis, como a perda de peso, redução da ingestão de líquidos antes de dormir e evitar bebidas em excesso (café, álcool) pode ajudar a controlar os sintomas. Urinar periodicamente, não fumar, evitar produtos à base de cafeína, tratar a constipação são outras medidas;
- Exercícios do assoalho pélvico (fisioterapia pélvica): Técnicas como os exercícios de Kegel, que visam fortalecer os músculos da pelve, podem ser eficazes para melhorar o controle da bexiga. Também pode ser empregada estimulação elétrica dos músculos do assoalho pélvico;
- Medicamentos: Em alguns casos, medicamentos que ajudam a relaxar a bexiga ou melhorar a função muscular podem ser prescritos.
- Cirurgias: Quando a incontinência é mais grave e não responde a outros tratamentos, intervenções cirúrgicas, como a instalação de sling (esfíncter artificial) ou reparo das estruturas da bexiga, podem ser necessárias.
- Terapias comportamentais: A reabilitação da bexiga, que consiste em treinar a bexiga para aumentar a capacidade e o controle da micção, também pode ser indicada;
- Toxina botulínica na bexiga (em casos de bexiga hiperativa).
Uma nova tecnologia para o tratamento da bexiga hiperativa já vem sendo utilizada com sucesso em outros países e tem previsão de chegar ao Brasil em 2026. Trata-se de um dispositivo implantado no nervo tibial (próximo ao tornozelo) para estímulo crônico da bexiga e controle da incontinência urinária de urgência”, destacou a Sociedade Brasileira de Urologia.
‘Saia do Molhado’
Campanha encoraja pessoas a procurar especialistas e tratar problema
Ao longo de todo o mês de março, a SBU promove uma nova edição da campanha ‘Saia do Molhado’, alertando sobre a necessidade de deixar a vergonha de lado e procurar tratamento para a incontinência urinária. Nas redes sociais, por meio de posts, lives e vídeos com especialistas, a campanha da SBU visa a esclarecer as principais dúvidas sobre o tema.
Há previsão ainda de que diversos urologistas participem de mutirões de cirurgias e de exames de urodinâmicas, indicados para quadros de escapes de urina, em diversos estados brasileiros. O objetivo da campanha é encorajar as pessoas a procurar um especialista para avaliação e tratamento adequado.
Com Agência Brasil e Assessorias