Hanseníase pode ser tratada em casa com apoio do SUS

Segundo país no ranking mundial da hanseníase, Brasil registra mais de 30 mil novos casos todos os anos. Saiba como diagnosticar e tratar a doença

Brasil é um dos países com maior aumento de casos de hanseníase no mundo (Reprodução de internet)
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De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil é o segundo país com mais casos de hanseníase no mundo, atrás apenas da Índia. Conforme descrito no Boletim Epidemiológico de Hanseníase de 2021, em 2020, foram reportados à Organização Mundial da Saúde (OMS) 127.396 novos casos no mundo. Desses, 15,1% ocorreram nas Américas, sendo cerca de 18 mil notificados no Brasil. Conforme o documento Estratégia Global para Hanseníase 2016 – 2020, da OMS, os países Índia, Brasil e Indonésia notificaram, por ano, mais de 200 mil novos pacientes acometidos pela doença.

No Paraná, por exemplo, em 2021 foram registrados 222 casos da doença, sendo que mais de 80% foram as formas mais graves, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA/PR).  hanseníase é uma enfermidade que está na lista de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN) e existe um grande risco de endemia oculta da doença no país. Por isso, informar e conscientizar a população é de extrema importância.

A campanha “Janeiro Roxo“, de conscientização sobre a hanseníase, promovida pelo Ministério da Saúde, com participação da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), incentiva o diagnóstico precoce e o tratamento da doença.

“A doença tem um alto potencial de causar incapacidade e deformidades físicas. Mas também é potencialmente curável se tratada desde o início. Por isso, é importante que a população conheça os sinais e problemas da doença”, explica Sandra Durães, coordenadora do Departamento de Hanseníase da SBD.

No Brasil, o tratamento para a hanseníase é gratuito e oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os pacientes podem se tratar em casa, com supervisão periódica nas unidades básicas de saúde. O tratamento precoce promove a cura. Ao primeiro sinal de lesões cutâneas com diminuição da sensibilidade na pele, é preciso procurar atendimento médico nas Unidades de Pronto Atendimento ou nas equipes de saúde da família.

Segundo ela, embora em 2020 tenha havido uma queda de quase 40% dos diagnósticos de novos casos, esses dados na verdade refletem a pandemia de Covid-19, onde a acessibilidade e a adesão a tratamentos continuados ou prolongados foi duramente afetada em múltiplas doenças, como hipertensão arterial, diabetes, câncer de colo do útero e também a hanseníase.

Sinais e sintomas da hanseníase

Segundo o Ministério da Saúde, a hanseníase, antigamente chamada de lepra ou mal de Lázaro, é uma doença infectocontagiosa, transmissível e de caráter crônico. Causada pela bactéria Mycobacterium leprae, a doença se caracteriza por alteração, diminuição ou perda da sensibilidade térmica, dolorosa, tátil e força muscular, principalmente em mãos, braços, pés, pernas e olhos.

Ela pode apresentar evolução lenta e progressiva e, quando não tratada, pode causar deformidades e incapacidades físicas, muitas vezes irreversíveis e deixar lesões permanentes na pele e nos nervos periféricos de mãos e pés, principalmente. É preciso estar atento à perda de sensibilidade, formigamento ou falta de força nas mãos ou pés. Em 95% dos casos, a pele é comprometida.

“Encostar em uma panela quente ou andar com uma pedra no sapato se tornam questões perigosas quando se perde a sensibilidade, pois podem causar uma infecção profunda e levar à perda dos dedos das mãos ou dos pés”, afirma Sandra.

Entre os sinais e sintomas que podem surgir, estão manchas esbranquiçadas, amarronzadas e avermelhadas na pele, com mudanças na sensibilidade dolorosa, térmica e tátil; sensação de fisgada, choque, dormência e formigamento ao longo dos nervos dos membros; perda de pelos em algumas áreas e redução da transpiração; inchaço e dor nas mãos, pés e articulações; dor e espessamento nos nervos periféricos; redução da força muscular, sobretudo nas mãos e pés; e caroços no corpo, entre outros.

Formas de transmissão e diagnóstico

A hanseníase pode afetar qualquer pessoa, de ambos os sexos e de qualquer idade desde que a pessoa tenha um longo período de exposição à bactéria mycobacterium leprae. Essa bactéria é transmitida principalmente pelas vias áreas superiores, por meio de contato próximo e prolongado com uma pessoa doente sem tratamento.

A transmissão ocorre através de gotículas de saliva eliminadas na fala, tosse ou espirro de pessoas não tratadas e em fases mais adiantadas da doença. Com o início do tratamento, a transmissão é interrompida. Em geral, é preciso uma relação próxima e frequente para que a doença se instale, por isso, todas as pessoas que convivem com o doente devem ser examinadas e testadas.

A doença caracteriza-se por alteração, diminuição ou perda da sensibilidade térmica, dolorosa, tátil e força muscular. Também são encontradas manchas em qualquer parte do corpo, principalmente em mãos, braços, pés, pernas e olhos e pode gerar incapacidades permanentes. A maioria das pessoas tem resistência à bactéria, sendo uma doente a cada dez contaminadas.

Segundo a SBD, o diagnóstico da hanseníase é essencialmente epidemiológico e clínico, realizado por meio da análise histórica e das condições de vida do paciente e dos exames geral e dermatoneurológico, para identificar manchas, lesões ou áreas da pele com alteração de sensibilidade ou comprometimento de nervos periféricos, com alterações sensitivas.

A baciloscopia é um exame auxiliar e pode ser positiva ou negativa dependendo da fase da doença, por isso seu resultado negativo não afasta a possibilidade do paciente estar contaminado, entretanto, o atual fluxo de diagnóstico além da baciloscopia se baseia principalmente em sintomas clínicos e dados epidemiológicos.

Diagnóstico pode ser feito no posto de saúde

Lissia Palma, dermatologista do Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Itu, gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, destaca que a hanseníase é uma doença de pele e, principalmente, de nervos.

“A mancha na pele é um demonstrativo, mas os mais afetados são os nervos, que quando danificados ficam expostos a muitas complicações que comprometem a qualidade de vida, como, por exemplo, a dificuldade para andar e o movimento de pega das mãos”, explica.

É importante que uma unidade de saúde seja acionada em casos de suspeita e de sintomas como manchas na pele, perda de sensibilidade ou movimento. A recomendação se estende para o caso de haver parentesco com algum paciente da doença, especialmente se morarem na mesma residência há mais de cinco anos.

“Quando uma pessoa é infectada, toda a família necessita realizar o tratamento. É muito importante que todos se cuidem para evitar que outras pessoas sejam contaminadas”, reforça.

A especialista esclarece também que o contágio acontece por meio do compartilhamento de ambientes e contato com indivíduos infectados por pelo menos cinco anos, ou seja, uma longa exposição. A transmissão ocorre por meio de gotículas de saliva eliminadas na fala, tosse e espirro.

Por enquanto, a principal forma de prevenção é o diagnóstico precoce. Essa doença tem cura e o tratamento é disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Dra. Lissia aponta que alguns pacientes relatam efeitos colaterais como vômito e náusea, o que poderia responder pela taxa de descontinuidade do tratamento.

“O paciente acaba não tomando o medicamento e essa adesão é muito importante, pois não é uma escolha somente do paciente, é uma escolha de todos que estão a sua volta, principalmente familiares. São as pessoas que o paciente mais gosta para quem ele pode transmitir”, finaliza.

Agenda Positiva

No último domingo de janeiro é comemorado o Dia Mundial contra a Hanseníase e no dia 31 de janeiro é celebrado o Dia Nacional de Combate e Prevenção da HanseníaseNo mês de conscientização e combate à hanseníase, o Cejam adere à campanha Janeiro Roxo, oficializada pelo Ministério da Saúde em 2016, e promove ações e palestras informativas em unidades sob sua gestão.

 

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