Amado por uns, temido por outros, o café está entre as bebidas mais consumidas do mundo, e está presente em mais de 98% dos lares brasileiros sendo o combustível de muitas rotinas. Mas o café ainda divide opiniões quando o assunto é saúde. Com a chegada do Dia Mundial do Café, celebrado em 14 de abril, ouvimos especialistas a respeito dos benefícios dessa bebida que atravessa gerações – tem versões quentes e geladas – e continua presente no dia a dia dos consumidores.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), o Brasil segue como o segundo maior mercado de café do mundo, com uma média per capita de 6,26 kg por ano de café cru, que seria cerca de 1.430 xícaras por habitante. Além disso, entre novembro de 2023 e outubro de 2024, o volume consumido no país representou 40,4% da safra nacional. Com uma presença tão marcante no dia a dia, entender os impactos do café sobre a saúde é cada vez mais relevante.
Aliado da saúde do coração
O médico Álvaro Avezum, head do Centro Especializado em Cardiologia e diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, destaca que o consumo leve a moderado de café também está associado a benefícios cardiovasculares.
O consumo de 0,5 a 3 xícaras de café por dia, em comparação com não consumir, foi associado a uma redução de 12% na mortalidade por todas as causas, redução de 17% na mortalidade cardiovascular e redução de 21% no risco de acidente vascular cerebral (AVC)”, comenta.
Aliado do cérebro
Mais do que um aliado para começar bem o dia o café pode ter um papel importante na saúde do cérebro. Estudo publicado em 2021 na revista Alzheimer’s & Dementia acompanhou 263 pessoas com mais de 70 anos ao longo de cinco anos e revelou que aquelas que consumiam menos de 200 mg de cafeína por dia, o equivalente a cerca de duas xícaras de café, apresentaram o dobro de chances de desenvolver comprometimento cognitivo leve ou Alzheimer, em comparação com quem tomava doses mais elevadas da bebida.
A neurologista Viviane Felici, do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explica que a cafeína, princípio ativo do café, age como um estimulante do sistema nervoso central ao inibir a ação da adenosina, substância ligada à sensação de cansaço. Esse bloqueio favorece o estado de alerta e interfere positivamente na liberação de dopamina e norepinefrina, que influenciam o humor, memória e capacidade de atenção.
Há cada vez mais evidências de que o consumo regular e moderado de café pode estar ligado a um risco menor de doenças neurodegenerativas. O estudo publicado na Alzheimer’s & Dementia contribui com essa hipótese, ao mostrar uma possível conexão entre a cafeína e a redução do acúmulo de β-amiloide no cérebro, uma das marcas da doença de Alzheimer”, afirma a especialista.
Aliado da longevidade
Tomar café é um dos hábitos mais comuns da rotina dos brasileiros. Mas, além de seu sabor e aroma inconfundíveis, o café pode ser um grande aliado da longevidade e do bem-estar. Mais do que uma paixão nacional, o café pode ser um aliado na busca por uma vida mais longeva e de qualidade.
Os polifenóis presentes no café têm um papel essencial na proteção das células contra os danos oxidativos – ou danos celulares – , prevenindo o envelhecimento precoce. “O consumo moderado de café pode trazer benefícios para a saúde, especialmente no combate aos radicais livres, que estão diretamente relacionados ao envelhecimento celular”, explica a nutricionista Gisele Pavin.
O envelhecimento é um processo natural, mas pode ser conduzido de maneira mais saudável com escolhas alimentares adequadas. O café, por exemplo, contém antioxidantes que ajudam a reduzir o risco de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares. “Pensar em como vamos envelhecer é algo a ser avaliado todos os dias”, complementa Gisele.
Aliado na perda de peso
A nutricionista Alice Paiva, especializada em emagrecimento e alimentação funcional, traz à tona o que a ciência realmente diz sobre a bebida, e garante: “Se consumido com equilíbrio, o café pode ser um grande aliado do bem-estar e até da perda de peso”.
Rico em compostos antioxidantes como os polifenóis e a cafeína, o café melhora o foco, acelera o metabolismo e favorece a queima de gordura, especialmente quando associado a uma alimentação equilibrada e à prática de exercícios físicos.
Ele pode até funcionar como um pré-treino natural, aumentando a disposição e o rendimento físico. Além disso, ajuda a modular o apetite e a glicemia, sendo útil no controle da fome e na prevenção de picos de insulina — fundamentais para quem busca emagrecimento saudável”, revela Alice.
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Atenção ao consumo exagerado
Só precisamos aprender a consumi-lo com sabedoria
No entanto, o consumo consciente faz toda a diferença. Na hora de consumir, moderação é a palavra-chave. O médico Álvaro Avezum reforça que os efeitos do café variam conforme a quantidade ingerida, a sensibilidade individual e até o horário em que a bebida é consumida, lembrando que, segundo Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo diário de cafeína não deve ultrapassar os 400 mg.
Quando em excesso, a cafeína pode causar reações como taquicardia, arritmias, aumento da pressão arterial, refluxo e gastrite. Por isso, é importante considerar o perfil clínico da pessoa antes de indicar o consumo”, orienta.
A neurologista Viviane ressalta que os efeitos do café podem variar de pessoa para pessoa, influenciados por fatores como genética, idade, estilo de vida e tolerância individual. “Alguns indivíduos têm o metabolismo mais lento para a cafeína por conta de características genéticas, o que pode aumentar a sensibilidade. Já no envelhecimento, o organismo demora mais a eliminar a substância, o que pode acentuar reações como insônia e agitação”, completa.
Pessoas com maior sensibilidade à cafeína, como quem sofre de ansiedade, insônia, epilepsia ou problemas gástricos, devem ter atenção redobrada. Nesses casos, a substância pode afetar a eficácia de medicamentos anticonvulsivantes, agravar sintomas de ansiedade, prejudicar o sono e provocar desconfortos no trato gastrointestinal. Entre os idosos, que metabolizam a cafeína de forma mais lenta, o ideal é evitar a bebida no fim da tarde ou à noite.
A nutricionista Alice Paiva alerta que beber café puro e em jejum, por exemplo, pode irritar o estômago em pessoas sensíveis e até provocar azia. Outro ponto importante é o horário: “Tomar café à noite ou no fim da tarde pode atrapalhar o sono, já que a cafeína bloqueia a adenosina, substância responsável por induzir o descanso”. E, para quem sofre de ansiedade, a bebida deve ser vista com cautela, pois pode intensificar sintomas como palpitação e agitação”, adverte.
TPM e menopausa merecem atenção!
Durante o ciclo feminino, o café também merece atenção. Segundo Alice, em fases como TPM e menopausa, o excesso pode acentuar a irritabilidade, dores de cabeça, insônia e ondas de calor. Já em gestantes, o consumo seguro é de até 200 mg de cafeína por dia — algo entre uma a duas xícaras, no máximo — para não comprometer a saúde do bebê.
Existe diferença nos tipos de café?
A especialista também destaca que há diferenças nutricionais entre os tipos de café. “O coado, por exemplo, tem menor teor de compostos que afetam o colesterol. Já o café especial, além de mais saboroso, preserva melhor os antioxidantes e compostos funcionais, sendo uma escolha superior para quem busca saúde e experiência sensorial”, revela Alice.
Café e cacau pode?
Gisele Pavin diz que é possível tornar o caminho da longevidade ativa e saudável mais leve e saboroso ao incluir alimentos ricos em compostos benéficos, como o café e o cacau. Assim como o café, o cacau também é rico em polifenóis, que ajudam na prevenção de diversas doenças e contribuem para um envelhecimento mais saudável e são opções saborosas que contêm esses ingredientes benéficos e podem ser incluídos no dia a dia de forma equilibrada.
O importante é que, independentemente da fase da vida, sempre há tempo para cuidar da saúde e adotar hábitos que promovam qualidade de vida. Alguns gestos diários, como saborear uma xícara de café com equilíbrio, podem contribuir para o bem-estar e a longevidade”, afirma a gerente de Nutrição, Saúde e Bem-Estar da Nestlé Brasil.
Para quem não abre mão de sabor, Alice sugere uma estratégia funcional: “Trocar o açúcar por especiarias como canela ou cardamomo, que além de sabor agregam propriedades antioxidantes. E vale lembrar: quanto mais puro, melhor. Leite e adoçantes artificiais podem interferir na absorção dos nutrientes e até afetar a microbiota intestinal”, comenta a nutricionista.
Dicas para aproveitar o melhor do café
- Moderação é a chave: O consumo adequado pode trazer benefícios, enquanto o excesso pode causar desconfortos.
- Experimente diferentes formas de preparo: O café pode ser consumido quente, gelado ou combinado com leite e cacau para um toque especial.
- Opte pelo consumo sem açúcar: O consumo sem açúcar permite que você saboreie as notas olfativas do café (não sei se temos como justificar que o açúcar influencia a absorção dos antioxidantes)
Com Assessorias