A internação da ministra Marina Silva, de 67 anos, na última terça-feira (15/04), após passar mal durante um evento público, trouxe à tona uma queixa que atinge milhares de pessoas no dia a dia: a tontura repentina por queda de pressão arterial. “O termo ‘labirintite’ é muito usado popularmente para descrever qualquer episódio de tontura. Mas, na medicina, a tontura é um sintoma, não um diagnóstico.
tontura é um dos sintomas neurológicos mais comuns, afetando cerca de 30% da população mundial em algum momento da vida. Apesar de sua frequência, muitas pessoas ainda enfrentam diagnósticos imprecisos e tratamentos inadequados, inclusive por achar que tudo se resume a palavra popular “labirintite”.
Por trás de uma tontura ou crise vertiginosa, podem existir mais de 40 causas diferentes, envolvendo problemas no labirinto, no nervo do labirinto (nervo vestibular, em áreas do cérebro responsáveis pelo equilíbrio e coordenação (como o cerebelo) e até mesmo questões hormonais, metabólicas e efeitos colaterais de alguns medicamentos.

O que muita gente chama de ‘labirintite’ pode, na verdade, ter outra causa. Uma delas é um defeito da pressão arterial, gerando o que se chama a Lipotimia”, explica o neurologista Saulo Nader, especialista em tontura pela USP, membro da Bárány Society, a sociedade internacional de tontura e vertigem.

De acordo com Nader, a Lipotimia é uma sensação de quase desmaio, inclusive pode evoluir para perda de consciência, a síncope, em alguns casos. Ela costuma ocorrer com sensação de tontura, sudorese, frio e escurecimento visual, como se fosse desmaiar, mas não desmaia. Exatamente o que a ministra relatou sentir.

Saiba mais sobre Lipotimia no Youtube

Influencer que teve leucemia relata tontura

Recentemente, a empresária e influenciadora Fabiana Justus, de 38 anos – que se recupera de uma leucemia diagnosticada em 2024 – compartilhou um episódio preocupante com seus seguidores: uma crise de labirintite logo após o treino. Ela precisou ser socorrida pelo marido e por uma funcionária. O tratamento do câncer no sangue torna esse episódio ainda mais importante de ser observado com atenção e, segundo especialistas, também pode ser uma sequela permanente da leucemia.
Tratamentos como quimioterapia, alterações imunológicas, anemia, desidratação ou até efeitos de alguns medicamentos podem desencadear episódios detontura ou vertigem. Além disso, o corpo está em constante adaptação — e qualquer sinal fora do comum merece investigação”, diz o Doutor Tontura.
Fabiana Justus se emociona ao visitar as cataratas de Foz do Iguaçu com a família (Foto: Reprodução das redes sociais)

Segundo o neurologista, vale lembrar que a principal causa de “tudo rodando”, ou seja, de uma vertigem, é a VPPB (Vertigem Posicional Paroxística Benigna), uma doença do labirinto que se corrige sem precisar de remédios, com manobras feitas no próprio atendimento.

As três principais causas de tontura

Conheça as três principais causas da tontura, de acordo com o médico neurologista Saulo Nader:

  • VPPB (Vertigem Posicional Paroxística Benigna): Caracterizada por episódios breves de vertigem ao mudar a posição da cabeça. Essa condição é frequentemente causada por pequenos cristais deslocados no ouvido interno e pode ser tratada com manobras específicas, sem a necessidade de medicação.
  • TPPP (Tontura Perceptual Postural Persistente): Uma tontura crônica que pode ser desencadeada por fatores emocionais e visuais, como ambientes movimentados. O tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar, incluindo terapia cognitivo-comportamental e reabilitação vestibular.
  • Doença de Ménière: Caracterizada por episódios de vertigem, zumbido e perda auditiva. O manejo inclui mudanças na dieta, medicações e, em alguns casos, procedimentos específicos.

 

O que é a enxaqueca vestibular?

Especialistas da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) também destacam a enxaqueca vestibular, uma das causas mais comuns e negligenciadas da tontura, podendo afetar até 1% da população em algum momento da vida, segundo a Bárány Society, entidade internacional especializada em distúrbios vestibulares.
Caracterizada por episódios recorrentes de tontura acompanhados ou não de dor de cabeça, essa condição impacta significativamente a qualidade de vida dos pacientes, interferindo em atividades cotidianas e no desempenho profissional.

O grande problema da enxaqueca vestibular é o subdiagnóstico. Muitas vezes, o paciente passa anos buscando respostas sem saber que a tontura recorrente está relacionada à enxaqueca. Identificar esse quadro precocemente é essencial para oferecer um tratamento adequado e melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, explica Márcio Salmito, otorrinolaringologista e presidente da Academia Brasileira de Otoneurologia (ABON), braço acadêmico da ABORL-CCF.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), distúrbios vestibulares são responsáveis por cerca de 30% das queixas de tontura em consultas médicas, sendo uma das principais razões para visitas ao pronto atendimento. Apesar da alta prevalência, a tontura ainda é frequentemente subestimada, o que pode atrasar diagnósticos importantes.

Lívia Nôleto, otorrinolaringologista membro da ABORL-CCF, a correlação entre tontura e dor de cabeça precisa ser amplamente discutida, pois esses sintomas afetam a produtividade e o bem-estar de milhões de pessoas. “Nosso objetivo é ampliar esse conhecimento para que o diagnóstico seja mais ágil e o tratamento, mais eficaz”, destaca.

De 21 a 27 de abril, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) realiza a Semana da Tontura 2025, com o tema Tontura é coisa séria”. O objetivo da campanha é conscientizar a população e os profissionais de saúde sobre a necessidade de um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz para essa condição, que pode estar associada a diversas doenças, incluindo a enxaqueca vestibular.

Atenção aos sinais da tontura

A pronta recuperação de Marina Silva é um lembrete importante: a saúde precisa ser levada a sério, principalmente quando o corpo emite sinais claros de que está sobrecarregado.

As razões mais comuns são bem mais frequentes do que se imagina:

– Medo ou dor intensa;

– Estresse excessivo;

– Calor extremo;

– Levantar-se bruscamente (hipotensão ortostática);

– Situações simples como urinar, engolir ou tossir;

– Problemas cardíacos, que seria o mais grave.

Dr Saulo Nader ressalta ainda que a Lipotimia pode acontecer em qualquer idade. É importante: em alguns casos, ela é sinal de algo mais sério. Vale sempre buscar ajuda se algo assim está ocorrendo e te incomodando.

Não aceite um diagnóstico raso de é só uma ‘labirintite’, sem uma investigação adequada. Seu corpo fala, e ele merece ser escutado com profundidade. Se você sente tontura com frequência, tem episódios de escurecimento da visão ou já chegou perto de desmaiar, vale procurar um médico com expertise em tontura ou um cardiologista. A tontura não deve ser normalizada, pois ela é um sinal de que algo no seu corpo precisa de atenção”, alerta o neurologista, conhecido nas redes sociais como @doutortontura.

Dicas para lidar com a tontura

Segundo ele, a maioria dos casos de tontura pode ser tratada com sucesso quando corretamente diagnosticada. O Doutor Tontura traz algumas dicas para
  1. Evite a automedicação: Tomar medicamentos sem orientação pode mascarar os sintomas e dificultar o diagnóstico correto.
  2. Busque um diagnóstico preciso: A “labirintite” é frequentemente usada como um termo genérico, mas existem diversas condições que causam tontura. Um diagnóstico adequado é essencial para o tratamento eficaz.
  3. Considere a reabilitação vestibular: Exercícios específicos podem ajudar a reeducar o sistema de equilíbrio, sendo uma parte crucial do tratamento em muitos casos.
  4. Mantenha-se hidratado: A desidratação pode agravar os sintomas de tontura. Beber água regularmente é fundamental.
  5. Esteja atento aos gatilhos emocionais: O estresse e a ansiedade podem intensificar os episódios de tontura. Práticas de relaxamento e, se necessário, acompanhamento psicológico, podem ser benéficos.

O Dr. Saulo Nader enfatiza que “tontura não é frescura” e que os pacientes devem ser ouvidos e tratados com seriedade. Com o diagnóstico correto e o tratamento adequado, é possível recuperar a qualidade de vida.

Agenda Positiva

‘Tontura é coisa séria’: campanha alerta para os cuidados

Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) destaca a importância do diagnóstico precoce e tratamento adequado para a condição

Durante a Semana da Tontura 2025, serão promovidas palestras, divulgação de conteúdos educativos e iniciativas voltadas para médicos, pacientes e a comunidade em geral. O foco será capacitar profissionais de saúde e esclarecer a população sobre as principais causas da tontura, com ênfase na enxaqueca vestibular e outros distúrbios vestibulares.

A Semana da Tontura 2025 é aberta a médicos, pacientes, familiares e todos os interessados no tema, sendo uma oportunidade única para aprofundar o conhecimento sobre essa condição e garantir que mais pessoas recebam o tratamento adequado.

A otorrinolaringologista Thays Avelino, membro da ABORL-CCF e também idealizadora da iniciativa, destaca que a participação ativa de todos – médicos, pacientes e familiares – é essencial para transformar a forma como a tontura é percebida e tratada.

Queremos informar, capacitar e incentivar a busca por um atendimento médico qualificado. Por isso, reforçamos a necessidade de um olhar atento para os sintomas, garantindo um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz o quanto antes”, explica.

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *