À frente do Instituto Estadual do Cérebro (IEC) – um hospital que é referência para cirurgias de alta complexidade no cérebro e atende exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) – , um dos mais famosos neurocirurgiões do Brasil, Paulo Niemeyer Filho, acredita que a cirurgia chegou a um ponto limite no tratamento de tumores cerebrais e que novos tratamentos, como imunoterapia e terapias genéticas, vão substituir a necessidade de operações. A quimioterapia e a radioterapia também estão com os dias contados.

Eu acho que a cirurgia, de maneira geral, chegou a um ponto quase que limite. A cirurgia é baseada na visão, você pode ver. E tudo que você pode ver, você já pode fazer. A dificuldade hoje é como evitar que volte. E isso está sendo resolvido com a imunoterapia, com a genética. Na hora em que isso estiver mais desenvolvido, a cirurgia vai murchar”, disse o médico.

Inaugurado em julho de 2013, o IEC foi o primeiro hospital público dedicado inteiramente a neurocirurgias eletivas do sistema nervoso central. O serviço oferece tecnologia de ponta, com recursos exclusivos e profissionais altamente capacitados, realizando procedimentos de alta complexidade. Também realiza pesquisas e estudos clínicos, como o que avalia novas terapias no combate ao câncer – veja mais aqui.

O trabalho pioneiro desenvolvido no IEC e os avanços tecnológicos empregados na instituição para o tratamento de tumores cerebrais foram abordados na  série de reportagens ‘Trilhas da Mente’, com o doutor Drauzio Varella, no programa ‘Fantástico’, da TV GloboA produção focou no cérebro, órgão de um 1,5 kg que controla a nossa vida, da memória às emoções, do raciocínio às funções vitais, por meio dor mais de 300 trilhões de conexões feitas pelos neurônios.

O doutor Drauzio Varella e o doutor Paulo Niemeyer Filho no Instituto do Cérebro. — Foto: Fantástico

O doutor Drauzio Varella e o doutor Paulo Niemeyer Filho no Instituto do Cérebro (Foto: Reprodução da internet)

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Cheiro de borracha era sintoma de tumor cerebral em adolescente

Neste domingo (20), o último episódio da série trouxe as histórias de um estudante adolescente e uma jovem cozinheira, ambos moradores do interior do Estado do Rio de Janeiro, que passaram por cirurgias no IEC para tratar tumores que cresceram silenciosamente dentro da cabeça. No hospital, são feitas, diariamente, de oito a dez cirurgias no cérebro, a maioria delas, de alta complexidade. Tumores que cresceram silenciosamente dentro da cabeça. 

Um adolescente sente um cheiro estranho e logo depois perde a consciência. Lucca Chalita, de 16 anos, começou a sentir um cheiro semelhante à borracha queimada aos dez anos, na escola. A família procurou médicos em Campos (RJ), no Norte Fluminense, mas demorou até desconfiarem que o cheiro era um sinal de que o cérebro estava doente. O diagnóstico era epilepsia, causada por uma desorganização dos neurônios que produzem descargas elétricas demais.

Os sintomas são confusão mental, no caso dele no olfato, perda de consciência e movimentos musculares involuntários, que são chamados de convulsão”, comenta Isabella D’andrea Meira, neurologista e neurofisiologista, coordenadora do Centro de Epilepsia do IEC.

A cirurgia era necessária. Há um ano e meio, o caso de Lucca vem sendo estudado no Instituto do Cérebro. Em maio do ano passado, ele passou cinco dias em observação, sem medicamentos, em uma sala monitorada 24 horas. Os dados foram coletados e analisados para ajudar os médicos a formular o roteiro da cirurgia.

Era preciso dissecar o tumor que ficava na ponta do lobo temporal, uma região do cérebro onde esse tipo de intervenção costuma ter bons resultados para epilepsia. Também era indicado retirar estruturas já atingidas, em uma área muito sensível. A cirurgia era muito arriscada, mas a equipe clínica e cirúrgica repassou cada detalhe.

Uma semana depois, Lucca voltou para retirar os pontos. A chance de ficar sem crise era de mais de 95%, provavelmente sem medicação também. Antes da cirurgia, ele passou por testes neuropsicológicos que mostravam que o cérebro já tinha começado a se reorganizar. A equipe do instituto está otimista que Lucca não vai ficar com sequela.

Para quem descobre um tumor no cérebro, saber que existe futuro é o mais importante. Ao lado da família, Lucca fez uma lista de coisas para fazer: pular de paraquedas, subir o Pico da Bandeira e nadar com tubarões.

Cozinheira de Três Rios teve tumor benigno no cérebro

Uma jovem acorda com uma dor de cabeça que não para de piorar. Imagine chamar a atenção por onde passa porque você não para de crescer. Ou porque seu rosto foi tomado por espasmos incontroláveis. Moradora de Três Rios, Monalisa da Silva Martiniano, de 28 anos, acordou no fim do ano passado e foi trabalhar.

Durante o expediente, uma dor de cabeça muito forte ficou insuportável. “Foi quando eu… meu rosto paralisou. Eu não conseguia sentir o lado esquerdo”, disse Monalisa. Foi até a UPA da cidade e voltou para casa com uma medicação para enxaqueca. De volta à UPA, mais algumas tentativas de medicamento e nada da dor passar.

Monalisa, então, foi então encaminhada para o hospital da cidade, onde uma tomografia revelou um tumor de quase seis centímetros. Em menos de 15 dias, ela estava no centro cirúrgico do IEC. O resultado da biópsia saiu do laboratório de neuropatologia do próprio instituto. No futuro, esse laboratório e as salas de cirurgia podem não ser mais necessárias para o tratamento de cânceres cerebrais.

O neurocirurgião Paulo José da Mata Pereira explica que o tumor estava obstruindo a passagem do líquor, líquido cerebral que protege o cérebro, leva nutrientes e remove resíduos. A obstrução aumentava a pressão intracraniana, causando dor de cabeça e pressionando o nervo óptico. Monalisa corria risco de ficar cega e até de entrar em coma. Os médicos tinham pressa em operar.

A profundidade do tumor fazia a cirurgia ser muito delicada. A equipe médica removeu um fragmento de osso do crânio e afastou um dos hemisférios para acessar o local. A região é responsável pelos comandos de movimento e pela sensibilidade, existindo risco de sequelas. Uma semana depois da cirurgia, Monalisa recebeu a visita do Dr. Paulo Niemeyer Filho. Ela estava curiosa sobre o tempo da cirurgia, que durou três horas. O tumor era benigno, e ela estava curada.

Quando recebeu o diagnóstico, Monalisa estava se programando para viajar com a família para Porto de Galinhas (PE). A cozinheira contou que teve um sonho em que via a mão de um Deus muito grande colocando algo em seu cérebro. Deus falava que ia pará-la. E parou.

Em Três Rios, dois meses depois da cirurgia, Monalisa voltou a cozinhar, ainda devagarinho e com alguém ao lado. Ela não está com a memória totalmente recuperada e ainda sente formigamentos e dores de cabeça. A recuperação do susto não é só dela, mas de toda a família, especialmente da irmã Michele, que acompanhou tudo de perto. Passado o susto, Monalisa vai precisar de acompanhamento com exames pelos próximos anos. Mas é assim mesmo: para quem tem a vida toda pela frente.

Com informações da TV Globo

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