Apesar dos avanços nas últimas décadas, como a luta antimanicomial e a adoção de um modelo assistencial extra-hospitalar, a saúde mental no Brasil enfrenta desafios que vão além da falta de psiquiatras e psicólogos na saúde pública. O estigma ainda é a maior barreira a ser vencida no Brasil.
As pessoas escondem o diagnóstico por medo de serem rotuladas de ‘loucas’. A própria família esconde o portador de doença mental da sociedade. A pior barreira ainda é o preconceito”, observa Na avaliação da psicóloga Adalgisa Lopes, presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG).
Não é incomum ouvir relatos de pessoas que se referem à depressão como ‘falta de fé’ ou fraqueza. Para Adalgisa essa ligação dos transtornos mentais com a falta de religiosidade acontece porque há um conceito antigo de que a psicologia seria a ciência da alma. O resultado desse estigma é uma baixa adesão aos tratamentos. No Brasil, apenas 5% da população faz psicoterapia.
Para se apropriar do assunto e obter vantagens, há um número enorme de pastores, padres e curandeiros que dizem que depressão é falta de fé. E nisso, as pessoas, além de sofrerem com a doença, se sentem culpadas”, conta.
No topo do ranking
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), somos o país com a maior proporção de pessoas ansiosas no mundo (9,3% da população) e o segundo país das Américas com maior prevalência de depressão. Apesar disso, não falamos sobre saúde mental o suficiente para o assunto deixar de ser tabu.
Precisamos falar sobre o tema de forma mais aberta, ampla e constante. Vislumbramos uma abertura quando pessoas com notoriedade, como a ginasta Rebeca Andrade, a tenista japonesa Naomi Osaka e a ginasta norte-americana Simone Biles, tocam no assunto. Quando isso acontece, joga-se luz sobre o tema”, observa a psicóloga.
Acesso limitado
Segundo ela, todos nós temos que falar sobre saúde mental, porque ninguém está livre de passar por algum transtorno, seja ele por questões hereditárias ou pelas contingências da vida diária.
A humanidade sempre teve grandes dificuldades em lidar com as diferenças. Os familiares sentem muita dificuldade em compreender um comportamento diferente e tentam normatizar. Cria-se uma ilusão de que a pessoa só é diferente e negligencia-se o cuidado, permitindo o agravamento da doença, como, por exemplo, a evolução de uma depressão a uma tentativa de autoextermínio”, observa Adalgisa.
A limitação das redes de atenção à saúde do SUS, que possuem um número pequeno de profissionais da área, também contribuem para a deterioração da saúde mental do brasileiro. “O acesso à psicoterapia só é possível pela rede particular, e até mesmo os planos de saúde não priorizam a contratação de profissionais para atender a alta demanda”, observa Adalgisa.
8 dicas para melhorar sua saúde mental
A psicóloga detalha uma série de cuidados e hábitos diários que podem ajudar a prevenir e enfrentar os transtornos mentais. Confira:
Cuide si mesmo: Manter atividades de autocuidado é crucial, dedique tempo para atividades que você gosta e que promovam relaxamento e bem-estar.
Atividade física: Faça atividades simples que estimulem a mente e o corpo, como uma caminhada. Trinta minutos de caminhada todos os dias ajudam a produzir serotonina, fortalecem os músculos, melhoram a saúde e aumentam a imunidade.
Boa alimentação e hidratação: Uma alimentação rica em nutrientes promove uma mente saudável e um bom nível de energia vital. A hidratação adequada regula o fluxo sanguíneo e ajuda na irrigação cerebral, facilitando o raciocínio e a concentração.
Priorize o sono: Pratique a “higienização do sono”, evitando telas pelo menos 30 minutos antes de dormir. Insônia e sono irregular, que não promovem descanso, são sinais de que sua saúde mental está em alerta.
Cuide dos seus relacionamentos: Fique alerta se você começar a recusar convites e evitar amigos e familiares. Os relacionamentos são muito importantes para a nossa saúde mental, pois nos dão suporte e motivação necessários ao nosso bem-estar.
Evite excesso de trabalho: O trabalho é muito importante para nossa identidade na vida, mas o excesso gera estresse, rouba nosso tempo e energia, afastando-nos de amigos, da família e de uma vida social relaxante.
Estabeleça metas realistas: As metas devem nos estimular a desenvolver certas atividades e alcançar objetivos possíveis de serem cumpridos. Metas muito altas geralmente são inatingíveis e geram frustrações e sensação de incapacidade.
Peça ajuda: Se você estiver se sentindo deprimido e tendo pensamentos que possam colocar em risco sua saúde, procure ajuda profissional.