Um surto de norovírus tem assustado moradores e turistas de cidades do litoral paulista neste verão. Mas um velho conhecido da população, o rotavírus, costuma marcar ponto sempre que chega a estação mais quente e mais chuvosa do ano. Marcado pela alta incidência de chuvas, o verão também costuma ser muito associado a surtos de rotavírus, um dos principais causadores da diarreia aguda.
Esse problema de saúde é provocado pela ingestão de alimentos, bebidas e água contaminados por microrganismos como bactérias, vírus e parasitas. O rotavírus é o agente mais frequente de diarreia grave em crianças menores de cinco anos de idade e as infecções pela doença provocam mais de 200 mil mortes por ano no mundo, de acordo com o Ministério da Saúde.
Os principais sintomas da doença são febre alta, vômitos e diarreia grave. O vírus causa alterações tanto estomacais – com vômitos importantes e numerosos -, como intestinais, causando diarréia aquosa, malcheirosa, volumosa e com alta frequência.
O rotavírus é um dos principais vírus que causam sintomas de gastroenterite graves na população, principalmente em crianças e é uma doença altamente transmissível e que evolui rapidamente.
É comum que as crianças evacuem muito, às vezes mais de 20 ou 30 episódios. A consequência disso é que a criança que evacua e vomita muitas vezes ficará desidratada rapidamente, apresentando sintomas como sonolência, prostração, coração batendo rápido, diminuição de lágrimas ao chorar e diminuição da urina”, diz a médica pediatra do Espaço Zune, Giselle Pulice.
Reidratação oral deve ser iniciada o quanto antes
Apesar de existir um exame de fezes para a detecção do vírus, o mais indicado é iniciar o tratamento o quanto antes. Para a pediatra, quando os pais perceberem aumento no número de evacuações e vômitos, já é indicado iniciar a hidratação com soros de reidratação oral. Se a criança não aceita o soro de reidratação oral, ou em qualquer sinal de desidratação, é importante ir ao pronto socorro para que essa hidratação seja realizada via endovenosa, que é mais eficiente.
Quando a criança está hidratada, calculamos a quantidade de líquidos que deve ser reposto de acordo com a idade e peso e vamos reidratando oralmente de acordo com a perda em cada episódio de diarreia ou de vômito. Mas, quando a criança já está desidratada, é importantíssimo ir a um ambiente hospitalar e receber hidratação via endovenosa, que é muito mais eficiente.
O médico irá avaliar a necessidade de remédios antieméticos e antidiarreicos, que devem ser usados com cautela. Bebês pequenos com rotavírus costumam ter muita assadura devido fezes mais ácidas, as pomadas de assadura são essenciais nesse período”, alerta a médica.
Cuidados com a criança vacinada para evitar contaminação
A transmissão se dá por via fecal-oral, por meio do contato pessoa a pessoa, ingestão de água e alimentos contaminados, contato com objetos contaminados e propagação aérea por aerossóis.
Por isso, os cuidados básicos de higiene com alimentos, destinação correta do lixo e com a qualidade da água consumida são algumas das maneiras mais eficientes de se proteger contra a doença. Além disso, o rotavírus pode ser encontrado em altas concentrações nas fezes de crianças infectadas ou recém vacinadas. A troca das fraldas nos 30 dias após a vacinação precisa de atenção e cuidados de higiene redobrados.
Para os pais e cuidadores, o contato com a criança vacinada tem riscos de contaminação. Ao receber as gotinhas da vacina, a troca das fraldas nos 30 dias após a vacinação precisa de atenção e cuidados de higiene redobrados, já que as fezes da criança estão contaminadas. O indicado é que apenas um cuidador faça essas trocas para evitar que a doença se espalhe na família.
Segundo informações da Agência Einstein, o esquema de vacinação do SUS contra o rotavírus humano é de duas doses, exclusivamente via oral aos dois e quatro meses de idade, sendo que a primeira dose pode ser administrada a partir de um mês e 15 dias e, a segunda dose, pode ser administrada a partir de três meses e 15 dias até sete meses e 29 dias. Na rede particular, a vacina é administrada em três doses, aos dois, quatro e seis meses.
“A vacina age das duas maneiras: protege a criança de se contaminar e também ameniza os sintomas em caso de contaminação. As crianças vacinadas, quando expostas, tem sintomas mais brandos. No Brasil existem dois tipos de vacinas: a vacina do SUS é monovalente, ou seja, protege contra um tipo mais comum do rotavírus, enquanto nas redes particulares de vacinação é possível vacinar com o tipo pentavalente, ou seja, contra os cinco principais tipos do vírus”, ressalta a pediatra Giselle Pulice.
Alerta sobre alimentação durante surto de diarreia
Especialista pontua ainda sobre cuidados com a comida para se evitar rotavírus
A nutricionista Carolina Nobre, que atende em Goiânia, pontua como deve ser a alimentação para aqueles que estão na crise da diarreia. “Devem preferir as frutas sem casca e menos maduras e alimentos com mais amido como batata, arroz e macarrão. Além de vegetais cozidos. Evitar frituras, molhos, leite e derivados, frutas com casca, vegetais crus e todo e qualquer tipo de alimento industrializado”, destaca.
Ela também salienta a necessidade de se hidratar. “Uma boa hidratação é muito importante nesses casos, pois na diarreia, além de água, se perde também muitos eletrólitos como sódio e potássio. A hidratação deve ser feita com água filtrada, água de coco e ainda com bebidas ou sachês com repositores hidroeletrolíticos. Em alguns casos, pode ser indicado o uso de soro endovenoso, cuja prescrição é médica”.
Cuidados pré e pós contaminação
Para quem tomar medicamentos durante o surto diarreico, Carolina Nobre orienta sobre o que fazer depois. “Geralmente o uso de antibiótico é necessário durante a crise diarreica. O antibiótico mata as bactérias ruins, mas também mata as bactérias boas que colonizam nosso intestino. Por isso, sempre recomendo o uso de probiótico 30 dias depois de suspender o uso do antibiótico. Essa orientação serve para repor a microbiota intestinal que foi muito acometida pelas crises de diarreia intensa”.
A nutricionista aponta formas para diminuir as chances de se contaminar com a doença. “ A primeira é sempre lavar bem as mãos com água e sabão antes de manipular ou comer qualquer alimento. Durante esse período de surto é bom evitar comer fora de casa, pois a pessoa que manipula o alimento pode estar contaminada e não saber por ainda não ter desenvolvido os sintomas. Sugiro também sempre evitar comer alimentos crus, seja em casa ou fora, pois como o alimento não foi submetido a cocção fica mais difícil matar os microrganismos”.
Higienizar os alimentos corretamente também diminui as chances de contrair essa e outras doenças. “As frutas, legumes e verduras devem ser levados em água corrente e em seguida imersos em uma bacia cobertos com solução clorada entre 10 e 15 minutos. Ela pode ser feita com água sanitária ou hipoclorito de sódio de 1,0%, sendo duas colheres de sopa do produto para cada litro de água. Em seguida enxaguar um a um em água corrente e própria para consumo”, explica a especialista. “Lembrando que água com vinagre não é suficiente para eliminar os microorganismos e o detergente não deve ser utilizado para esta finalidade”, completa.
Já para fortalecer o organismo para que se evite ser contaminado pelo surto de DDA, Carolina Nobre destaca o consumo de alguns alimentos. “De uma forma geral, uma alimentação saudável e colorida que garanta todos os nutrientes, em especial zinco, selênio e vitamina A para o corpo. Alguns são: carnes vermelhas, castanhas e oleaginosas como fontes de zinco, castanha do Pará, feijão e ovos como fonte de selênio e abóbora cabotiá e cenoura como fontes de vitamina A”.
Cuidados para evitar contaminação
- Manter a vacinação em dia;
- Lavar sempre as mãos das crianças e adultos, com água limpa e sabão, antes e depois de utilizar o banheiro e preparar ou manipular alimentos;
- Usar álcool quando não for possível a lavagem das mãos;
- Tomar cuidado com a limpeza e troca de fraldas de bebês vacinados por 1 mês;
- Aumentar o consumo de líquidos;
- Evitar contato com pessoas e crianças com diarreia;
- Descartar fraldas e lixo corretamente, evitando a contaminação de solo e água;
- Lavar e desinfetar as superfícies, utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos e conservar alimentos perecíveis na geladeira;
- Aleitamento materno seguindo as recomendações do Ministério da Saúde (exclusivamente até os seis meses e continuada até os dois anos de idade, pois os anticorpos da mãe também protegem o bebê).
Com Assessorias