“A cada 30 segundos, alguém perde a vida para a hepatite (inflamação do fígado). A hepatite mata mais do que a Aids e só com articulação efetiva de todos os setores que os óbitos poderão ser evitados. Para que este quadro mude, é preciso curar cinco vezes mais do que agora”. O alerta foi do coordenador nacional de Hepatites, Mário Gonzalez, ao reforçar a importância do “Julho Amarelo”, mês de conscientização sobre as hepatites virais.
Embora sejam evitáveis e tratáveis, as hepatites afeta, cerca de 325 milhões de pessoas e causam 1,4 milhão de mortes por ano. Juntas, as hepatites B e C matam mais do que o vírus HIV no mundo. São a segunda maior causa de morte entre as doenças infecciosas, ficando atrás apenas da tuberculose. No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) estima que, atualmente, mais de 500 mil pessoas sejam portadoras da hepatite C e não tenham conhecimento disso.
A meta estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e ratificada pelo Brasil, em 2016. Para alcançar a meta da OMS, é preciso diagnosticar 90% dos portadores das hepatites virais e tratar 80% dos portadores da hepatite C, além de reduzir 65% da mortalidade.
A campanha “Julho Amarelo” foi instituída no Brasil, pela Lei nº 13.802, de 2019, para conscientizar a sociedade sobre os cuidados da população com relação às hepatites virais, que podem evoluir silenciosamente para cirrose hepática e câncer no fígado. No dia 28 de julho, é celebrado o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais, escolhido pela Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU).
A hepatite muitas vezes age de forma silenciosa. Por isso a importância da testagem rápida, uma das principais estratégias de combate à doença, disponível de forma gratuita nas unidades básicas de saúde do estado, nas maternidades e nos serviços especializados para tratamento das hepatites virais do Sistema Único de Saúde (SUS).
Como o Estado do Rio pretende atingir a meta da OMS?
Para reduzir a taxa de mortalidade por hepatites virais, a Gerência de Hepatites Virais da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) alerta sobre a importância de ampliar a oferta de testes rápidos para diagnóstico precoce da doença. Quanto antes iniciado o tratamento, menor o risco de evolução para cirrose hepática e câncer de fígado.
“O objetivo é eliminar as hepatites virais até 2030, com 90% dos portadores de hepatite C diagnosticados e 80% tratados com medicamentos oferecidos no Sistema Único de Saúde (SUS), que levam a mais de 95% de cura da infecção viral”, explica o secretário de Estado de Saúde, Dr. Luizinho.
Para reforçar as estratégias integradas de vigilância para erradicar as hepatites virais nos próximos sete anos, a SES-RJ realizou, na última terça-feira, (27/6), um evento preparatório para as ações municipais de eliminação dessas doenças até 2030 no Estado do Rio de Janeiro, para incentivar Os gestores municipais para que desenvolvam ações de ampliação de ofertas de testes rápidos, em populações mais difíceis de alcançar.
“Temos que oferecer ao paciente testes rápidos, tratamento, diagnóstico e cura num mesmo local. Outra ação importante é aumentar a realização dos testes na população privada de liberdade, pessoas acima dos 40 anos e idosos asilados, entre outros, além de facilitar o acesso aos locais de tratamento”, disse a coordenadora do Programa de Hepatites Virais da SES-RJ, Clarice Gdalevici.
Em comemoração ao “Julho Amarelo”, o tema do encontro foi “Prevenção, diagnóstico e tratamento – tudo no mesmo lugar”, que teve como propósito alinhar ações de ampliação dos testes rápidos de hepatite B e C, prevenção das hepatites, rastreio das doenças, diagnóstico e tratamento.
“Temos o compromisso de reforçar a importância dos testes para as hepatites B e C, que evoluem para doenças crônicas graves, como cirrose hepática e câncer de fígado. Quando diagnosticadas cedo, ambas têm controle e tratamento. Basta uma gota de sangue e o resultado sai em 30 minutos”, reitera a coordenadora.
A partir do dia 13, durante duas semanas, haverá oferta de testes rápidos no ambulatório geral do Iaserj Maracanã, entre outras ações.
Homens são mais atingidos pela hepatite B no RJ
Carlos Fernandes, da Gerência de Hepatites Virais da SES-RJ, apresentou novos dados epidemiológicos sobre as doenças no estado. Dados levantados pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) entre 2018 e 2022 mostram que a hepatite B acomete mais homens e mulheres com idade entre 30 a 44 anos – aproximadamente 58% dos casos ocorreram em pessoas do sexo masculino.
Em ambos os sexos, mais de 60% dos casos notificados foram em pessoas de 30 a 59 anos. Já o vírus C foi responsável por mais casos na faixa etária acima de 45 anos e os casos são distribuídos de forma semelhante entre os sexos.
“Para os casos de hepatites por classificação de sexo e faixa etária, os que apresentam maior prevalência estão na faixa de 30 a 44 anos. Nesta categoria, 393 são de mulheres; e 593, homens. No ano passado, a taxa de detecção (por 100 mil habitantes) do vírus B ficou em 3,4% e C, em7,75%”, destacou o técnico da Secretaria de Estado de Saúde.
Segundo dados do último Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais do Ministério da Saúde, de 2000 a 2021, foram notificados 718.651 casos confirmados de hepatites virais no Brasil. Destes, 168.175 (23,4%) são referentes aos casos de hepatite A; 264.640 (36,8%) aos de hepatite B; 279.872 (38,9%) aos de hepatite C; e 4.259 (0,6%) aos de hepatite D.
Doença silenciosa: maioria não sabe que está contaminada
A hepatite é uma doença que causa inflamação do fígado, com alterações leves, moderadas ou graves. Na maioria das vezes são infecções silenciosas, ou seja, não apresentam sintomas. “Grande parte dos infectados não sabe que está contaminado porque, na maioria dos casos, não há sintomas”, ressalta Clarice.
Entretanto, quando presentes, podem manifestar sintomas como cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.
As mais frequentes são as infecções causadas pelos vírus tipo A, B e C e o abuso do consumo de álcool ou outras substâncias tóxicas (como alguns remédios), ou pelo uso de alguns medicamentos, álcool e outras drogas, assim como por doenças autoimunes, metabólicas ou genéticas.
“A hepatite C tem 95% de chances de cura, com medicamentos. E o tipo B não tem cura, mas a vacina está incluída no calendário oficial, é tomada pelas crianças logo ao nascer e ao longo dos primeiros meses. Para aqueles que não tiverem tomado na infância, está disponível nos postos de saúde”, acrescenta a coordenadora.
Hepatite A – transmitida por água e alimentos contaminados ou de uma pessoa para outra;
Hepatite B e Hepatite C: os vírus da hepatite tipo B (HBV) e tipo C (HCV) são transmitidos, sobretudo, por meio do sangue. O vírus da hepatite B pode ser passado pelo contato sexual, reforçando a necessidade do uso de preservativo. Usuários de drogas injetáveis e pacientes submetidos a material cirúrgico contaminado e não-descartável estão entre as maiores vítimas.
Tratamento gratuito pelo SUS
A hepatite é uma doença evitável e tratável gratuitamente no Sistema Único de Saúde. Atualmente, o SUS já oferece o teste rápido para detecção da doença. A vacinação contra hepatite B está disponível no SUS. Por isso, a superintendente de Atenção Primária à Saúde da SES-RJ, Halene Cristina Dias Armada, reforçou o papel da atenção primária no processo de eliminação das hepatites virais.
“Temos que fomentar a descentralização do atendimento, ampliar os testes, simplificar o diagnóstico, realizar busca ativa, além de facilitar o acesso aos medicamentos. Outra estratégia relevante é estimular a vacinação das hepatites A e B, bem como incorporar novos tratamentos”, frisou.
Não existe vacina para a prevenção da hepatite C, mas existem outras formas de prevenção, como triagem em bancos de sangue e centrais de doação de sêmen para garantir a distribuição de material biológico não infectado; triagem de doadores de órgãos sólidos como coração, fígado, pulmão e rim; triagem de doadores de córnea ou pele.
Também devem ser cumpridas as práticas de controle de infecção em hospitais, laboratórios, consultórios dentários, serviços de hemodiálise; oferecer tratamento dos indivíduos infectados, quando indicado; abstinência ou diminuição do uso de álcool, não exposição a outras substâncias que sejam tóxicas ao fígado, como determinados medicamentos.
Da SES-RJ, com Redação
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